quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Guilherme Boulos, do MTST, é preso pela PM em desocupação violenta na zona leste de SP




Brasil - Alegação da PM, de que participação de Boulos em protestos anteriores influencia prisão, revela ato político.

Rede Brasil Atual, em Carta Maior

São Paulo – O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) Guilherme Boulos foi detido pela Polícia Militar na manhã de hoje (17), após ação de reintegração da Ocupação Colonial, na região de São Mateus, zona leste de São Paulo. A PM alegou desobediência para justificar a prisão. Arbitrariamente, também citou  a participação de Boulos em atos contra o governo Temer.

"Temos horas de filmagens suas de outras manifestações e ocupações e sabemos que você é liderança, você está detido por desacato, obstrução da via, obstrução da justiça e incitação de violência", disse um integrante da Tropa de Choque, em fala colhida pelo coletivo Jornalistas Livres.  Ele foi levado ao 49º DP, onde presta depoimento.

Em nota, o MTST afirma ser "absurda" a detenção de Boulos, que tentava buscar uma solução que evitasse o conflito. "Foi uma detenção absolutamente ilegal. Ele estava na tentativa de interceder para evitar o conflito. O MTST não tem atuação na região. O Guilherme tentava apenas mediar. Nada mais", diz Felipe Vono, advogado do MTST, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

As cerca de 700 famílias da Ocupação Colonial queriam o adiamento da reintegração para que pudessem ser inscritas em programas de habitação da prefeitura. Uma ação do Ministério Público que também pedia o adiamento foi ignorada pela PM, antes mesmo de ser apreciada pela Justiça. 

"Não aceitaremos calados que além de massacrem o povo da ocupação Colonial, jogando-os nas ruas, ainda querem prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajuda-los", diz o MTST, que também denuncia a perseguição política aos movimentos sociais.

A bancada do PT na Assembleia Legislativa emitiu nota de repúdio à violência policial determinada pelo governo Alckmin e à prisão arbitrária do líder do MTST. "Além de negar o direito constitucional à moradia o governo Alckmin patrocina cenas lamentáveis de violência, ataca e despeja nas ruas mais 700 famílias neste no momento de recessão e desemprego que assola o país, numa demonstração de insensibilidade com a situação da população carente", diz a nota. O líder da bancada, José Zico, está tentando contato com o governador, enquanto os deputados Alencar Santana e Luiz Turco se dirigem à ocupação.

Ainda detido, Boulos afirma foi uma prisão política. "Foi uma prisão política, evidente. Alegaram incitação à violência. Eles despejam 700 famílias com violência, e eu que incitei?", questiona o líder do MTST.

Confira o vídeo do Jornalistas Livres que mostra a resistência dos moradores que, com pedras, tentam conter o ataque da polícia, armada com bombas e balas de borracha e protegida por escudos.

Portugal. RICARDO SALGADO VAI SER INTERROGADO EM TRIBUNAL


O ex-presidente do BES Ricardo Salgado vai ser interrogado por um juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), após hoje ter sido ouvido por um procurador do Ministério Público, no âmbito da 'Operação Marquês', indicou a PGR.

Após ter interrogado Ricardo Salgado, o procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) "requereu ao juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal o interrogatório judicial do arguido ao tendo em vista a aplicação de medida de coação diversa do termo de identidade e residência", indicou a Procuradoria-Geral da República (PGR) numa nota enviada à comunicação social.

Carlos Alexandre é o juiz do TCIC encarregado do processo 'Operação Marquês', relacionado com investigações a crimes económico-finaceiros.

Ricardo Salgado foi constituído arguido por suspeitas da prática de factos suscetíveis de integrarem os crimes de corrupção, abuso de confiança, tráfico de influência, branqueamento e fraude fiscal qualificada.

Segundo a PGR, a 'Operação Marquês' conta com "20 arguidos, 15 pessoas singulares e 5 coletivas", entre as quais o ex-primeiro-ministro José Sócrates, o ex-ministro socialista Armando Vara e o empresário Carlos Santos Silva, entre outros.

Dois anos após o início da investigação, que a 20 de novembro de 2014 fez as primeiras detenções, a investigação do Ministério Público deverá estar concluída em março.

CC/FC // JPF - Lusa

PROMETO QUE TALVEZ


Miguel Guedes – Jornal de Notícias, opinião

Estranho Mundo este em que a maior responsabilidade da classe política perante os seus eleitores passa pelo cumprimento das promessas. Mais importante que a diferença entre bem e mal, mais relevante do que a boa execução das medidas, bem maior do que a percepção e avaliação dos resultados, é da eficácia da "check-list" que reza a história. Mesmo que subam os impostos de uns em detrimento dos impostos da riqueza de outros, mesmo que o emprego não aqueça e o crescimento da economia não alavanque, ainda que se cortem salários ou pensões, o gozo supremo que dá quando se cumprem mais de metade das promessas secundárias ou de vão de escada. Foi assim em tantos governos dos últimos 20 anos. No prometer é que está o ganho, promete-paga porque se pagas pareces cumprir.

Um indicador de cumprimento de promessas é muito redutor quando ninguém tem grandes dúvidas de que parte substancial do Poder Político eleito em democracia preferiria ocultar o seu programa eleitoral dos eleitores, abstendo-se de o discutir, se pudesse. Seria o fim de tantas eras de edição actualizada, do copy-paste revisto do programa anterior, bem-vindos ao golpe de misericórdia para a paciência dos democratas. A forma como as ideias políticas e societárias são objectos não identificados ou alucinações menos próprias para consumo no debate eleitoral e no cumprimento das legislaturas fazem da apropriação do chavão mais inócuo a principal bandeira programática. E também por isso é que em cada eleição tudo parece transformar-se num "reality-show" com a sondagencracia no comando do sistema. Se existes, logo és; como tem sido útil para o voto útil e para o freio do voto em convicção. Vota-se, tantas vezes, pela tendência. Agora, aprecia-se pelo índice de cumprimento.

Por cumprir está o desígnio. Os portugueses continuam a acreditar que os políticos são incumpridores de promessas e, infelizmente, ainda bem. O novo estudo do ISCTE que demonstra que os governos da últimas décadas cumpriram cerca de 60% das promessas escritas nos programas eleitorais (o primeiro Governo de António Guterres, minoritário, terá cumprido 85% e José Sócrates cerca de 80%) não engrandece por si só a classe política portuguesa. É possível fazer igual e o seu contrário com a mesma taxa de eficácia. "Read my lips". Basta perguntar a qualquer ditador sobre a vantagem da eficácia das promessas cumpridas e vê-lo soletrar um sorriso. Antes mentissem.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e advogado

Operação Marquês. Ricardo Salgado constituído arguido por suspeita de corrupção


O ex-banqueiro Ricardo Salgado foi constituído arguido por corrupção e mais 4 crimes na Operação Marquês. A confirmação é da Procuradoria-Geral da República.

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, está desde as dez da manhã a ser interrogado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) no âmbito da Operação Marquês como arguido A confirmação é da Procuradoria-Geral da República (PGR).

A PGR acabou de emitir comunicado a confirmar que Salgado é arguido na Operação Marquês pelos crimes de “corrupção, abuso de confiança, tráfico de influência, branqueamento e fraude fiscal qualificada”.

Em causa estarão as várias ligações do Grupo Espírito Santo ao chamado caso Sócrates, nomeadamente através do empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Carlos Santos Silva.

A confirmar-se a constituição de arguido, será a terceira vez que Ricardo Salgado terá essa condição processual. A primeira vez que foi ouvido como arguido (tendo sido inclusive detido para interrogatório) foi em julho de 2014 no âmbito do processo Monte Branco, passando a ser oficialmente suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais. A segunda ocasião ocorreu precisamente um ano depois mas já no âmbito do caso BES e a lista dos crimes imputados ao ex-líder executivo do BES foi mais extensa: corrupção ativa no sector privado, burla qualificada, falsificação de documento, falsificação informática, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.

No que diz respeito à Operação Marquês, Ricardo Salgado tem estado na mira do Ministério Público a propósito da origem dos fundos que foram depositados nas contas suíças de Carlos Santos Silva, o alegado testa-de-ferro de José Sócrates. A equipa do procurador Rosário Teixeira suspeita que boa parte dos mais de 20 milhões de euros reunidos por Santos Silva tenham tido origem em sociedades do Grupo Espírito Santo (GES), nomeadamente a Espírito Santo Enterprises — o famoso saco azul do grupo liderado por Ricardo Salgado.

Tais transferências, tal como o Observador já noticiou, terão sido uma alegada contrapartida por eventuais benefícios concedidos pelo Governo de José Sócrates em diferentes negócios que beneficiaram o GES.

As investigações no âmbito da operação Marquês correm há mais de dois anos e devem estar concluídas em março deste ano.

Ana França / Luís Rocha - Observador

PORTUGAL VOLTOU A SER O PRINCIPAL FORNECEDOR DE ANGOLA



Portugal voltou a ser o país que mais vende a Angola, no terceiro trimestre de 2016, após vários meses de liderança da China, que por sua vez comprou mais petróleo angolano no mesmo período, face ao anterior.

De acordo com o documento estatístico do comércio externo do terceiro trimestre, do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, libertado apenas este mês e ao qual a Lusa teve hoje acesso, Portugal vendeu a Angola, entre julho e setembro de 2016, mais de 74.394 milhões de kwanzas (421,8 milhões de euros) em bens e serviços.

Trata-se de um aumento de 21,4% face ao trimestre anterior, mas um registo que ainda fica 12,5% abaixo face tendo em conta as vendas feitas por Portugal no mesmo período, mas de 2015, ano que marcou o agravamento da crise angolana devido à quebra nas receitas com a venda de petróleo.

A quota de Portugal nas importações totais angolanas subiu desta forma para 14,8%, logo seguido pelos Estados Unidos, com uma quota de 12,6% e vendas, no mesmo período, de 63.200 milhões de kwanzas (358 milhões de euros), e da China, com um quota de 12,4% e 62.362 milhões de kwanzas (353 milhões de euros).

No total, as importações angolanas caíram quase 20%, face ao mesmo período de 2015, para 502,9 mil milhões de kwanzas (mais de 2.500 milhões de euros).

No plano inverso, a China mantém-se, como há vários anos, na liderança das exportações angolanas, essencialmente de petróleo, tendo comprado o equivalente a 565,2 mil milhões de kwanzas (3.200 milhões de euros) no terceiro trimestre. Trata-se de um aumento (em valor, devido ao aumento entretanto verificado na cotação de crude) de 36,3% face ao mesmo período de 2015 e de mais 30,7% tendo em conta o segundo trimestre de 2016.

A quota da China nas exportações angolanas passou dos 35% do total no segundo trimestre do ano para 40%, no terceiro trimestre, segundo os indicadores do INE.

Depois da China, a Índia foi o segundo país que mais crude comprou a Angola (94% das exportações angolanas foram petróleo), no valor de 108,6 mil milhões de kwanzas (615 milhões de euros) e com uma quota do total de 7,7%, enquanto os Estados Unidos compraram 86,6 mil milhões de kwanzas (491 milhões de euros), representando uma quota total de 6,1%.

Taiwan, apesar do diferendo chinês e das fortes relações entre Angola e a República Popular da China, surge no quarto lugar do destino das exportações angolanas, tendo comprado 68,1 mil milhões de kwanzas (386 milhões de euros) e com uma conta de 4,8% do total.

Portugal volta no terceiro trimestre a figurar entre os 10 principais destinos das exportações de Angola, com compras no valor de 59,1 mil milhões de kwanzas (335 milhões de euros) e um quota de 4,2%, tal como a França.

Globalmente, as exportações angolanas aumentaram para 1,411 biliões de kwanzas (oito mil milhões de euros) entre julho e setembro, mais 14,5% face ao segundo trimestre do ano e uma subida de 32,5% em termos homólogos, tendo em conta 2015.

Este aumento foi essencialmente influenciado pela subida da cotação do petróleo no mercado internacional, tendo em conta o registo do trimestre anterior.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola. ESTÁ NAS NOSSAS MÃOS


Só erra quem trabalha, lá diz o ditado. Funciona como uma dialéctica que homenageia o desejo de deixar obra.

Jornal de Angola, opinião

Mas não só. Evoca acima de tudo a confiança e a coragem de quem se sujeita a que se lhe apontem o dedo, sem nunca hesitar perante um novo desafio, por mais difícil que pareça. 

Temos eleições gerais este ano e toda a gente sabe o que isso representa para os angolanos. Depois da primeira experiência em 1992, e tudo o que se passou desde então, os angolanos fizeram por melhorar em 2008 e em 2012. A normalidade política e a inerente previsibilidade dos actos eleitorais são um desafio para todos os angolanos.

Estamos em ano de eleições. Todos sem excepção, são chamados a fazer parte desta corrente positiva para uma nova demonstração de saber fazer, claro que, dentro das limitações próprias de uma conjuntura da qual fazemos parte. 

Porque toda a gente espera que esse exercício seja uma referência para as demais nações africanas, todos somos poucos para fazer do processo eleitoral um exemplo de transparência, de lisura e onde se sinta e respire harmonia e concórdia.

Somos todos chamados a arregaçar mangas para que os eleitores angolanos possam fazer a sua escolha de forma livre e consciente. Felizmente temos muitos exemplos pelo mundo, até mesmo pelo nosso continente, de como devemos proceder para se evitarem situações desagradáveis susceptíveis de manchar todo um percurso que está a ser feito para que tenhamos instituições democráticas ainda mais fortes.

No fundo, o que assistimos hoje é uma sequência de acontecimentos que fazem a nossa história acontecer, e não nos podemos dar ao luxo de olharmos para eles como se de meros factos isolados ou mesmo fortuitos se tratassem.

E essa forma de olhar para os factos conduz-nos a uma compreensão inquinada da nossa bonita e rica História. Claro que sempre haverá quem, para proveito próprio, prefira usar da memória selectiva e contar a história por partes. De preferência as que mais ajudem a compor o drama para justificar posições políticas perfeitamente irracionais e até criminosas se atendermos à nossa história recente.

Desde que se calaram as armas, os angolanos passaram a poder pensar de forma mais serena e dedicada como construir o seu futuro. Para que este processo fosse inclusivo, foi preciso evitar a ideia de vencedores e derrotados numa guerra fratricida, passar uma borracha na ficha dos protagonistas, sem olhar para a cor da farda, nem mesmo a dimensão ou gravidade dos crimes cometidos. Isto foi feito.

Escusado será falarmos aqui de outras coisas que foram feitas, e bem ou mal permitem que hoje os angolanos possam planificar melhor o seu futuro e das suas famílias, sem os receios do passado. Que assistamos às tragédias que grassam nos povos da Síria, da Líbia, do Iraque, do Iémen, ou aqui perto, na RDC, Sudão do Sul e República Centro Africana, como cenas remotas de um passado que desejamos profundamente jamais voltar a viver.

Partilhemos todos da confiança de que o nosso, sublinho, o nosso processo eleitoral vai decorrer com transparência e no espírito de harmonia e concórdia, como disse o Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Façamos disso uma convicção. E vamos mostrar ao Mundo, como de resto o fizemos a 11 de Novembro de 1975, a 4 de Abril de 2002, e, desde então, em todas as vezes que fomos “convocados” para um dever patriótico, fazer dessas eleições uma referência para África. Está nas nossas mãos.

*em A Palavra ao Diretor

Angola. COLOLO DESMENTE SAKALA


João Cololo foi representante da UNITA na Holanda. Em entrevista ao Jornal de Angola, revelou o motivo por detrás da sua saída do partido do galo negro.

João Dias – Jornal de Angola

Diz ter trabalhado arduamente para o engrandecimento da UNITA no exterior, mas a desorganização, falsos compromissos e promessas vazias da parte dos dirigentes levaram-no a perceber definitivamente que não havia futuro ali. João Cololo revelou que o que mais o preocupa ao olhar para um partido da dimensão da UNITA é o modo como pretende levar a abordagem política do país numa perspectiva de tribalismo que mal conseguem camuflar.

Jornal de Angola - O que o faz desistir da UNITA?

João Cololo - Em primeiro lugar, o tribalismo e em segundo lugar a falta de transparência, os falsos compromissos e a desorganização… Estou agora no MPLA e muita gente dirá: foi comprado. Errado. Não estou no MPLA por dinheiro. Não faço política por dinheiro. Quero trabalhar no MPLA para contribuir para o bem do povo e acima de tudo, me revejo nesse grande partido. É preciso esclarecer que o motivo por detrás da minha saída da UNITA, não tem que ver com dinheiro. O que me fez sair desse partido é sobretudo o tribalismo. Mas além disso, está o falso compromisso. Se se é nomeado para um cargo, então devem ser dadas as condições para trabalhar com vista a conseguir resultados.

Jornal de Angola -  Alcides Sakala e Adalberto da Costa Júnior dizem que João Cololo nunca chegou a ser representante do partido na Holanda.

João Cololo -  A UNITA só demonstra que prefere a via da mentira. É incrível! Quanto ao pronunciamento de Alcides Sakala e de Adalberto da Costa Júnior, só posso dizer que é puro descaramento. No país e fora dele, conhecem-me como representante desse partido na Holanda e estou credenciado como tal e existem provas documentais que o atestam. Além disso, existem pessoas que testemunharam o acto de empossamento, falo do próprio Júlio Muhongo, que é representante do partido na Bélgica, a secretária da Jura na Holanda, o próprio filho do Sakala que é representante da Jura na Bélgica, bem como o representante da FNLA na Holanda, entre outros, marcaram presença neste acto. Portanto, parece-me que mais uma vez, a própria a UNITA revela o seu cinismo.
Diante disso tudo, o que me deixa tranquilo é o facto de dispor de documentos que contrariam todas estas alegações que a UNITA anda por aí a dizer a meu respeito. Tenho comigo o despacho de nomeação oficial assinado pelo presidente Samakuva e datado de 21 de Novembro de 2014. Ao longo de 2013 tinha sido indicado para o cargo, mas em 2014 fui oficialmente nomeado. Tenho também comigo uma declaração para tratar do passaporte de serviço datada de 7 de Dezembro de 2016. Documentos não faltam para desmentir a UNITA.
Além dos documentos, participei em diversos eventos do partido, como no congresso e fui apresentado aos militantes como representante do partido na Holanda, viajei com o Massanga ao Uíge nessa qualidade e quando cheguei receberam-me na qualidade de representante do partido. Quando tentam desmentir, apenas revelam quão mentirosos são.

Jornal de Angola - Sente que vai encontrar espaço no MPLA?

João Cololo - Com certeza. Cresci no MPLA e conheço o partido há bastante tempo. Não há dúvidas de que me vai dar espaço. Como partido maioritário, começou a jornada para democracia há muitos anos, isto é, desde 1978, quando o saudoso Presidente Agostinho Neto dizia que o MPLA era um partido socialista em vias de democratização. Este projecto não é de hoje. É já antigo. Democracia é liberdade nas suas mais diversas manifestações. E isso já existe no MPLA. Mas as pessoas confundem tudo isso, além de que muitas querem atingir o poder através da desorganização. Democracia não se compadece com violação sistemática da lei e falta de respeito à personalidade dos outros. Também não significa fazer manifestações nas quais se atentem contra o bom nome dos órgãos de soberania ou mesmo do Chefe de Estado. Manifestações desenfreadas são uma ameaça a estabilidade. Ainda temos partidos que se querem aproveitar da desorganização. Por isso incitam a instabilidade através de manifestações. Temos de esclarecer bem as coisas. Que o povo angolano tenha muito cuidado, nesta fase em que as eleições estão à porta. Já sofremos muito com a guerra e por isso não existe família alguma que não tenha perdido alguém na guerra. Todos nós perdemos familiares. Vamos escolher o MPLA que é um partido unificador e conhece a matéria governativa.

Jornal de Angola - Então a matriz ideológica do MPLA marcada pela unidade do povo angolano é a ideal para um país revestido de um assinalável “mosaico cultural”?

João Cololo - Sem dúvida. O MPLA tem uma matriz ideológica que é sobretudo agregadora, na medida em que não pretende deixar ninguém de parte ao contrário da UNITA que sugere uma pretensa protecção aos Ovibundos e a então UPA aos Bakongos. Agostinho Neto refutou, já naquela altura, todas estas posições ao afirmar “de Cabinda ao Cunene e do mar ao Oeste, somos um só povo e uma só nação”. Era para acabar com uma tendência, que caso pegasse, ia perigar a estabilidade da nação angolana e não teríamos o que temos hoje do ponto de vista de coesão social. O Presidente Agostinho Neto conseguiu unir o angolano num só povo. Pode crer que se fosse a UNITA a ganhar, hoje teríamos graves problemas de índole tribal, se fosse a UPA, seria a mesma coisa.

Jornal de Angola – Mas a UNITA tem quadros de diversas regiões.

João Cololo - Os que dirigem o partido são apenas pessoas do sul. O Raul Danda, que é de Cabinda e que assume a pasta de vice-presidente da UNITA, é apenas um toque para maquiar esta realidade. Já é tradição naquele partido ser dada a pasta de vice-presidente a pessoas do norte só para tapar a vista das pessoas sobre o tribalismo. Mas o vice-presidente é apenas uma estátua e existem reuniões em que nem sequer participa e ele nem conhece os segredos desse partido. Os únicos que conhecem a UNITA são alguns generais na reforma e aqueles que não sei por que razão combateram o Nfuka Muzemba.

Jornal de Angola – Então na sua opinião o futuro dos angolanos é com o MPLA?

João Cololo - Sim. O futuro dos angolanos é com o MPLA e digo: o MPLA poderá perder um dia, mas não agora. Tenho certeza que se o MPLA deixasse o poder, Angola entraria em colapso.

Jornal de Angola - Fala insistentemente numa questão algo delicada que tem a ver com o tema do tribalismo. Como se manifesta esse tribalismo dentro do partido?

João Cololo - Tentam esconder isso, mas essa é uma questão que vem sempre ao de cima. Trabalhei com o Osvaldo Sakala que é representante da JURA na Bélgica. Apesar de representante da Jura, era ele a quem os dirigentes pediam informações em detrimento do representante que seria a pessoa indicada. É que a informação dele era mais valorizada que a de um representante do partido. Quando uma delegação do partido ou um dirigente fosse ao exterior ou nos países de Benelux, a pessoa a quem pediam informação sobre o funcionamento da representação na Bélgica, era o Osvaldo, o filho de Alcides Sakala, que parece-me ser do Huambo, se não estou em erro. Outro caso caricato tem a ver com o mano Júlio, o sobrinho do Samakuva, que fez cair o partido na Bélgica. Ainda assim, foi a ele a quem recaiu a nomeação numa segunda ocasião. Vai chocar muita gente falar desse aspecto do modo como falo, mas é importante saber a verdade tal como ela é. Nisso tudo, se fosse um Bakongo, podes crer, a história seria diferente. Quando num partido a atribuição de cargos tem como critério o local de nascimento ou de onde se é natural, estamos perante um quadro que pede mudanças imediatas.

Jornal de Angola - Nunca lhe ocorreu chamar a atenção para este aspecto?

João Cololo - Quando se está numa casa e quando mal conheces as suas regras, enquanto as absorvemos, o melhor é engolir muitos sapos e aceitar muitas coisas. Tudo para podermos, no fundo, perceber como é o modo de funcionamento desta ou daquela organização. Foi o que tentei fazer ao longo destes anos. Mas se você estiver na sua casa e vires que o seu pai está a fazer coisas pouco adequadas, você pode dizer qualquer coisa para corrigir, pois tem certeza que o seu pai não te vai maltratar ou bater. Alguns partidos políticos aqui no país ainda não são democráticos, mas falam de democracia.

Jornal de Angola - O que quer dizer com esta afirmação?

João Cololo - Acho que democracia tem como base as diversas expressões da liberdade, o que permite entre outros aspectos, a que as pessoas se expressem livremente, mas sem abusar disso. Hoje o discurso sobre democracia não é tudo. O mais importante é a prática.

Jornal de Angola – Fala de desorganização num partido que se propõe ascender ao poder?

João Cololo - Em Kikongo há uma expressão que pergunta: “se a mosca fugir a ferida vai comer o quê? Isso significa que os hábitos das pessoas não são abandonados com facilidade. Ninguém abandona as suas atitudes de um dia para outro. Isso para dizer que todas as atitudes da UNITA são tidas como uma espécie de tradição e que tenho dúvidas que sejam capazes de abandona-las. Mesmo dentro do próprio partido há algo estranho. É que entre eles, diga-se, os do sul, o comportamento é bem diferente em relação a partidários de outras regiões do país.

Jornal de Angola - O que isso tem a ver com o provérbio?

João Cololo - Com o provérbio Kikongo quero apenas realçar que dificilmente a UNITA vai abandonar o que tem no seu ADN, ou seja, a sua atitude enquanto partido vai continuar. Com isso, quero chamar atenção para o que eles designam de projecto sul e que teimam em esconder. Eles têm um projecto sul, embora queiram demonstrar que é nacional para conseguir aceitação junto da população. É o alcance desse provérbio tomado numa perspectiva de analogia.

Jornal de Angola - Foi notando falhas ao longo destes anos que militou neste partido que o despertaram a ponto de desistir dele. Fez alguma coisa para mudança?

João Cololo - Sim. Mas a minha luta é em prol do angolano. Quando entro para um partido não o faço em nome de interesses pessoais ou dinheiro. Agora, para se encontrar soluções para o bem-estar do angolano temos de ser pessoas e partidos sérios e transparentes. Se não formos sérios, ainda que tenhamos bons discursos, o tempo vai encarregar-se disso. A desorganização que reina no seio da UNITA mostra, à partida, o grande problema que tem entre mãos, mas que tem pouco interesse em ultrapassá-los. É preciso que se perceba em definitivo, que por conta disso, a UNITA não está a altura dos desafios de Angola. Não está a altura de governar o país e não sei se há-de estar um dia.

Jornal de Angola- Há sempre uma e outra coisa que escape nas organizações e partidos, isso é natural e até humano haver uma e outra situação de desorganização. Não acha?

João Cololo - A UNITA não está a altura de governar Angola. Neste partido reina muita desorganização e olhe que é ainda um grupito. Não está a governar o país com 24 milhões de habitantes. Mas mesmo assim já vemos grandes sinais de falta de organização. Agora imagine a UNITA numa dimensão macro. A UNITA está vestida de pele de cordeiro, porque tem interesses. Mas se ganha o poder, já vão ver no que se transforma.

Jornal de Angola - Hoje os tempos são outros e olhando para aquilo que é a UNITA, acha que o cidadão o vê como partido alternativo ao poder ou a vencer eleições num futuro próximo?

João Cololo - Já falei com muita gente, o que permitiu notar que o povo angolano gosta muito do MPLA. Mas a crise está a provocar muita apatia. Por isso é que costumo a dizer que a UNITA quer aproveitar-se da crise para se agigantar. Acho que não vale à pena confundir isso com a afirmação de que o povo tem simpatia pela UNITA. A crise não é motivo para deixar de votar e tenho dúvidas de que alguém deixe de votar no MPLA para ir votar num outro partido.

Jornal de Angola - Olhando para tudo quanto disse, acha haver espaço para uma aposta da população na UNITA, ou seja, acha que a UNITA tem futuro?

João Cololo - A UNITA, quando perder mais estas eleições de 2017, tenho certeza que vai se começar a desenhar o seu fim. Ao perder, a UNITA vai “estragar-se”, porque as pessoas que fizeram a guerra pela UNITA e os que sempre o apoiaram, suportaram e alimentaram já esperaram muito. Tem muita gente que aos poucos vai perdendo a esperança nesse partido.
Acho mesmo que a CASA-CE vai superar a UNITA. O povo aos poucos vai percebendo que estava a aderir a um partido sem futuro. O Projecto da UNITA está prestes a cair. Mesmo o próprio Missanga Savimbi que estão a preparar para a futura presidência em 2019, não me parece ter capacidade para unir o angolano.

Jornal de Angola - Sente que o angolano está atento ao problema do tribalismo?

João Cololo - Os angolanos sabem. Mas é preciso lembrar que o povo funciona um pouco, permita a analogia, como capim que segue a direcção do vento. Para onde for o vento, o capim segue-lhe a direcção. O povo muda de cor num ápice. É complicado lidar com o povo. Mas sabe que a UNITA é separatista, divisionista e tribalista. Mas a crise dá-nos a falsa sensação de que eles ganham algum apoio. É mesmo ilusório. O tribalismo cria guerras e isso não é bom. Veja o que se passa na Líbia, Síria e Iraque ou em outros países africanos. São exemplos que devemos ter todos bem presentes.

Foto: Contreiras Pipas - Edições Novembro

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