segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

UMA LONGA LUTA EM ÁFRICA – V



NO BERÇO DAS GLORIOSAS FAPLA

 Martinho Júnior, Luanda

9 – A Zâmbia, em meados da década de 70 do século XX, haveria de tornar-se num ponto nevrálgico para a luta de libertação levada a cabo pelo MPLA sob a clarividente e patriótica direcção de António Agostinho Neto.

Não era por acaso que Lusaka era a capital africana sensivelmente a meio caminho entre Brazzaville e Dar es Salam, de onde se distendiam as correntes progressistas da Tricontinental voltadas a sul, testadas nos embates com a internacional fascista que tinham o “apartheid” como seu fulcro principal, socorrendo-se sempre de governos títeres filtrados pelas inteligências da NATO, França incluída.

Com a mudança do esforço para a Frente Leste (IIIª e IVº Regiões Político Militares), o MPLA manteria mesmo assim esforços a norte, na direcção da IIª e da Iª Regiões Militares, a partir duma retaguarda como o Congo post Abade Fulbert Youlou, com capital em Brazzaville, inestimável componente progressista cujo território lhe servia de rectaguarda na mesma altura em que se havia instalado a IIª coluna do Che!

A inteligência francesa e as redes de Jacques Foccart haviam perdido em Brazzaville e isso levou à queda do Abade Fulbert Youlou, bem como de Tshombé no Katanga, algo que havia de alterar o quadro a oeste do grande Congo!

Progressistas congoleses, angolanos e cubanos haviam de tornar possível essa rectaguarda, apesar de conjunturas refractárias que favoreceram a eclosão da “revolta activa”, uma corrente de oposição ao Presidente Agostinho Neto que pouca influência teve directamente no corpo de guerrilheiros e na conduta da luta armada no terreno.

Na Zâmbia a situação era contudo bem diferente da do Congo: ali perante tantas indecisões africanas, vulneráveis ao neocolonialismo de então, as linhas de inteligência dos campos progressista e internacional fascista, cruzavam nas ruas de Lusaka, no miolo da complexa sociedade zambiana, nos campos sócio-político (inclusive nos instrumentos de poder onde era visível a olho nu o papel britânico), económico e diplomático.

O MPLA tinha imensas limitações em Lusaka, mas nas províncias ocidentais da Zâmbia, fora dos olhos e dos instrumentos de poder do estado zambiano sob a égide do Presidente Keneth Kaunda, havia um desafogo que providenciava maior capacidade de manobra e mobilização humana das rectaguardas que catapultavam a guerrilha para dentro de Angola.

Em 1973 na Zâmbia, a linha internacional fascista juntou esforços de forma conjugada para tentar obstruir ou vergar a Luta de Libertação do MPLA e da FRELIMO, procurando a todo o transe neutralizar a direcção até então indomável do Presidente Agostinho Neto.

O colonialismo português fez mão das seguintes linhas de conduta, entre outras, no que a Angola dizia respeito:

- Reorganizou com alguns resultados, coerciva ou persuasivamente, as populações angolanas nas áreas de projecção do MPLA, implantando as “sanzalas da paz” num enquadramento de “acção psicológica”, “contra subversão” e “contra propaganda”, com vista a inibir os contactos das comunidades com a guerrilha do MPLA;

- Recrutou Savimbi, no quadro da Operação Madeira, de modo a que ele se opusesse à progressão das guerrilhas do MPLA em direcção à geoestratégica região central das grandes nascentes, no amplo planalto do Bié;

- Delineou ofensivas militares que implicaram intervenções mais poderosas que antes (operações Sirocco, por exemplo), com muito maior capacidade de manobra (as SADF deram uma ajuda a partir de 1968 no Cuando Cubango) e introduzindo o emprego de desfolhantes sobre as áreas libertadas do MPLA;

- Organizou ofensivas de inteligência no âmbito da plataforma Alcora, conduzidas, por exemplo, por via de Jorge Jardim ou explorando contactos do Caminho de Ferro de Benguela, enredando particularmente o Presidente Kenneth Kaunda e explorando a capacidade dos enlaces da inteligência económica dos colonialistas portugueses com outras componentes de inteligência, sobretudo as determinadas pela presença do “lobby” dos minerais na região, dominadoras do“copperbelt” zambiano.

A “ementa” dos procedimentos de inteligência da internacional fascista contra o MPLA correspondia ao que tradicionalmente o imperialismo forjava amiúde em África: divisionismo, tribalismo, regionalismo, etno-nacionalismo, agenciamentos nas elites africanas em função dos interesses neocoloniais (como ocorria na “FrançAfrique”)… uma “ementa” que no MPLA pôde influenciar na Frente Leste uma parte do corpo de guerrilha de origem camponesa (cerca de 2.000 homens), face às vicissitudes da luta armada e sua expressão elástica, mas poucos comandantes de coluna e esquadrão arrastou.

No Congresso de Lusaka (de 18 a 22 de Agosto de 1974), sob as condições especiais em que ele se realizou (condições impostas pelo governo zambiano), os comandantes de coluna e de esquadrão do Exército Popular de Libertação de Angola apareceram fardados, com as devidas patentes, desarmados mas unidos no apoio firme ao Presidente Agostinho Neto, fruto naturalmente das experiências históricas já acumuladas e dum longo trabalho ideológico, cívico, organizativo e disciplinar interno protagonizado no seguimento do esforço de “Vitória é Certa”…

Foi assim, nesse caudal de confrontações ideológicas e enfrentando a acção concertada de várias inteligências integradas na internacional fascista, que nasceram as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola!

As FAPLA, como o MPLA, estavam imunes sob a direcção do Presidente António Agostinho Neto, em relação aos mais diversos expedientes das inteligências do campo da internacional fascista, inclusive dos expedientes de inteligência económica e do seu providencialmente adstrito “soft power”, aglutinado em torno do “lobby” dos minerais!

A trajectória de Daniel Chipenda haveria de o comprovar como um factor vulnerável estimulado pela internacional fascista no quadro de suas projectadas influências em África.

Daniel Chipenda não era um comandante guerrilheiro e ao dar a cara pela Revolta do Leste assumindo a sua direcção num momento em que a passos largos se aproximava a derradeira batalha pela independência e soberania de Angola no cumprimento do Programa Mínimo do MLA, conduziu essa facção no trânsito pela FNLA, rumo à constituição do Batalhão 32, (“Batalhão Búfalo”), uma unidade militar que recebeu efectivos mais diversos de proveniência lusófona (inclusive são-tomenses), integrando os esforços das South Africa Defences Forces.

Esses efectivos tiveram instrução secreta em MPupa e integrariam a “Task Force” da Operação Savana levada a cabo pelas SADF em estreita coordenação com a CIA (Operação “Iafeature”) com o governo zairense, com a FNLA e com a UNITA.

10 – Sob a direcção clarividente do Presidente António Agostinho Neto e integrando as linhas de inteligência progressistas arquitectadas em África, apostadas na Luta contra o colonialismo português, contra o “apartheid” e contra uma variada “ementa” de suas sequelas, o MPLA e as FAPLA assumiram a continuidade da libertação do continente “de Argel ao Cabo da Boa Esperança” do lado oeste da Linha da Frente (a leste assumiu-o com uma geometria mais variável de procedimentos a FRELIMO, em Moçambique)!

Primeiro foi garantida a independência e a soberania num quadro progressista que serviria de base à constituição da Linha da Frente, ou seja a deslocação na direcção sul (Luanda e Maputo), da linha de partida entre Brazzaville e Dar es Salam.

Esse passo teve também que ver com a esclarecida ajuda internacionalista cubana em África, desde a passagem do Che em 1965.

Depois foi garantida a continuidade da luta contra o “apartheid”, tornando-se Angola na “trincheira firme da Revolução em África”, ainda que os espaços neocolonizados fossem extensivos às suas fronteiras, conforme o Zaíre de Mobutu e a vulnerabilidade da Zâmbia.

O MPLA, as FAPLA e os seus aliados (particularmente Cuba), estiveram à altura dos desafios e foram exemplares sob o ponto de vista geoestratégico, obtendo-se sucessivamente as independências da Namíbia (com a SWAPO em vantagem) e do Zimbabwe (emergindo a ZANU- PF sob direcção de Robert Mugabe), assim como o colapso do regime do “apartheid”…

Esse exemplo perdura até hoje inscrito na história contemporânea das regiões austral e central do continente africano e deve ser melhor aproveitado no sentido da SADC priorizar todos os processos viáveis de integração num quadro de alargada luta contra o subdesenvolvimento, o que está a tardar acontecer.

De facto essa integração, para além das iniciativas de diversificar a economia angolana, torna-se urgente face à expansão da mancha neocolonial em África, na direcção sul e a partir do Sahara e do Sahel, desde o Senegal à Somália, algo que já se manifesta na própria textura dominante na União Africana!

É evidente também que essa integração não pode perder de vista as actividades das inteligências económicas das potências interessadas nos investimentos, tendo em conta os dilemas africanos correntes, ou seja: por um lado a necessidade e a aspiração de desenvolvimento em África, por outro a sujeição à devassa das inteligências dos investidores, sobretudo na tentativa de que África seja continuamente reduzida à “expressão tradicional” de mero fornecedor de matérias-primas e numa posição de completa dependência, ou vassalagem, em função dessa perspectiva eminentemente neocolonial de relacionamento com o continente-berço da humanidade!

Elementos da internacional fascista filtrados pelas inteligências suas componentes:

O abade Fulbert Youlou (Congo, Brazzaville) e Moisés Tshombé (Katanga), desfilando na então Elizabethville (http://libeafrica4.blogs.liberation.fr/2015/03/18/le-barbouze-africain-de-foccart/);

O Presidente Mobutu do Zaíre e o homem-chave da célula africana da Presidência Francesa, Jacques Foccart (http://www.ivoirebusiness.net/articles/fran%C3%A7afrique-jacques-foccart-lhomme-de-lombre-%C3%A0-la-lumi%C3%A8re-de-ses-archives );

Prova da ambiguidade portuguesa post 25 de Novembro de 1975: visita dos Botha à Madeira em 1986 (https://www.publico.pt/2013/12/09/mundo/noticia/mandela-mandela-gritou-mario-viegas-na-recepcao-oficial-aos-botha-na-madeira-1615639);

Prova da “filtragem” de Daniel Chipenda e da Revolta do Leste, transforada em Batalhão Búfalo (https://www.facebook.com/WarInAngola/photos/a.958170037550382.1073741838.167528979947829/1053168324717219/?type=3&theater);

Outra prova dessa “filtragem” elaborada no âmbito da internacional fascista: a constituição das forças que integraram a Operação Savana das SADF contra Angola (https://www.facebook.com/WarInAngola/photos/a.958170037550382.1073741838.167528979947829/1053168324717219/?type=3&theater)

DISCUTIR SOBRE UM MURO QUE JÁ EXISTE: A OPERATION GATEKEEPER




Muito se tem falado e criticado a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, em insistir construir um muro na fronteira entre os EUA e o México – e bem, na minha opinião enquanto humanista e respeitador das liberdades individuais desde que sempre respeitadoras do outro –; é um direito, como governante, que lhe assiste e que, Trump, sempre disse em campanha eleitoral que o faria!

Todavia, parece que nos esquecemos que já existe uma parcela significativa de um muro entre estes dois países, iniciada na administração George Bush, nos anos 80, e impulsionada e implementada, em 1994,na administração Bill Clinton, com o programa anti-imigração-ilegal ‘Operation Gatekeeper‘ (Operação Guardião) e continuado pelas administrações subsequentes, havendo já secções de muros nas fronteiras entre Tijuana (Baja Califórnia) e San Diego (Califórnia) e nos estados de Arizona, Novo México e Texas, numa extensão de cerca de 33% da fronteira entre os dois países.

O mundo e os seus outros muros

Mas esquecemos de outros muros – físicos ou políticos – que também existem entre outros países, como por exemplo, um recentemente falado, entre o próprio critico México e Guatemala (ainda que haja muitas vozes mexicanas – até porque a foto usada para o provar é a da que separa Tijuana de San Diego – afirmarem que é um bulo” (mentira) enquanto imprensa guatemalteca sente alguma preocupação nessa construção; na dúvida fica o registo).


de Israel com a Cisjordânia (Palestina) e entre Israel e Faixa de Gaza (Palestina);

entre Ceuta e Melilla (Espanha) e Marrocos;

entre as duas Coreias, no paralelo 38, que separa familiares;

o “muro de Evros” que separa a Grécia e a Turquia;

dentro de Creta, mais concretamente o muro que divide a capital Nicósia, desde 1974, separando a parte grega e “oficial” da parte turca;

em perspectiva a construção de uma muralha entre a Ucrânia e a Rússia;

entre a Hungria e a Sérvia e entre esta e a Croácia, ambas pelas mesmas razões – fluxo exponencial de imigração proveniente dos países sul mediterrânicos e do Médio Oriente;

entre a Índia e o Paquistão e entre a Índia e o Bangladesh;

a cerca divisória entre a República da Geórgia e a separatista Ossétia do Sul, criada pelos russos;

na Irlanda do Norte (Reino Unido) um muro que divide as comunidades Católicas e Protestantes, onde ainda hoje existem cerca de 99 barreiras em Belfast, e outros muros na cidade de Derry;

no Saara Ocidental, desde 1987, que separa as forças marroquinas dos separatistas da auto-denominada República Árabe Saauri Democrática;

Mas as mais importantes são as criadas pela e dentro da União Europeia. Não esqueçamos as que, recentemente foram criadas por vários estados-membros, entre si, dentro de países da União Europeia (e em arame farpado) para conter o já citado fluxo migratório proveniente dos países sul mediterrânicos e do Médio Oriente; ou o mais antigo “muro”, este mais político que físico, criado sob a União Europeia, no início desta década, na orla marítima meridional, contra o fluxo de emigrantes e reconhecido pela muralha da “Fortaleza Europeia”, como já previamente a identificado Uçarer, em 2007.

E não esqueçamos que já na antiguidade, a História apresenta-nos vário muros ou muralhas criadas para suster investidas de povos invasores: a Muralha da China, a Muralhas de Adriano e de Antonino e a Muralha Romana de Lugo (construídas durante o Império Romano), a Muralha de Constantinopla (Império Bizantino), a Muralha de Óbidos (construída pelos mouros no século VIII), a Muralha ou Cerca Fernandina de Lisboa (criada por D. Fernando).

Ora, talvez seja, então, altura de parar um pouco para pensar e olharmos para nós mesmos e como podemos criticar terceiros sem criticar o que se passa, em muitos casos, intra-muros!

Escrito por Eugénio Costa Almeida – Publicado em "Changing Word" do CEI-IUL)

*Investigador e Pós-Doutorando. 

**Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Foto: US-Mexico border fence. Photo by / CC BY-SA 2.0


DEJETOS DA POLÍTICA. COMO LIVRARMO-NOS DELES?





Ainda hoje, pela manhã, em prosa mais em baixo, foram abordadas as facetas desonestas dos políticos, que são demasiadas e prejudiciais ao país e aos plebeus que são os 99% dos cidadãos, os portugueses. Ontem, Marques Mentes, político do PSD que anda a dar uma de comentador favorável à sua cor partidária – apesar de o tentarem vender como independente – jurou a pés juntos que o governo manipulou datas acerca dos “rodriguinhos” da Caixa Geral de Depósitos. Agora vem o primeiro-ministro, António Costa, dizer que não senhor e explicou segundo a versão que empurra o governo para a casa da honestidade. Disse sobre Marques Mentes que “É um espírito criativo de ficção policial, mas não teve nada a ver com a realidade da vida política. Não é assim que os órgãos de soberania se relacionam uns com os outros.”

Certo ou errado o facto é que os mentirosos são tantos na política que cada vez que falam verdade cai-lhes um braço. Que vejamos eles ainda têm os dois braços, aqueles com que nasceram. É de todo o bom senso que desconfiemos de Costa, do governo, de Marques Mentes e de restantes vigaristas. O que se deve perguntar é como pode um país sobreviver entre tanta mentira, entre tanto caos de maus caracteres dos políticos que nos desgovernam as vidas esforçadas de trabalho, de desemprego, de misérias. Já não importa quem fala verdade. O que importa é saber como é que nos podemos libertar deles, como libertar o regime democrático deles. Por tudo e também por uma questão de sanidade do esgoto da política repleto de dejectos comunmente designados de políticos, comentadores, lideres, banqueiros, grande empresários, advogados, etc. etc.

Como livrarmo-nos deles? Eis a questão.

A seguir: Costa nega. Pois.

MM / PG

Críticas de Marques Mendes "não fazem sentido". Costa rejeita acusações

O primeiro-ministro rejeitou hoje as acusações de Marques Mendes de manipulação da data de publicação do decreto que isenta os administradores da Caixa do estatuto do gestor público, justificando a demora com negociações com a Comissão Europeia.

As críticas do comentador da SIC Luís Marques Mendes "não fazem o menor sentido", disse hoje o primeiro-ministro, António Costa, em declarações à agência Lusa, no final de uma visita aos militares portugueses na República Centro-Africana.

"É um espírito criativo de ficção policial, mas não teve nada a ver com a realidade da vida política. Não é assim que os órgãos de soberania se relacionam uns com os outros", afirmou Costa, sublinhando que o decreto foi sujeito a apreciação parlamentar.

Segundo António Costa, a demora na publicação do diploma em Diário da República teve a ver com a necessidade de concluir negociações com a Comissão Europeia.

"Estávamos na altura em plena fase de conclusão das negociações com a Comissão Europeia sobre o processo de recapitalização. Havia várias parcelas, uma tinha a ver com o estatuto do gestor público, outra com a possibilidade de capitalização. Em julho chegámos a uma fase decisiva em que houve acordo quanto ao desenho do sistema", explicou o primeiro-ministro.

"Seria completamente absurda qualquer tentativa de esconder o que é óbvio, visto que as leis são publicadas em Diário da República e poderia sempre haver apreciação parlamentar, aliás como houve", acrescentou.

O comentador e ex-líder do PSD acusou no seu comentário semanal de domingo no jornal da noite da SIC o Governo de ter manipulado a publicação do decreto-lei que criou exceções para os gestores da Caixa Geral de Depósitos. Marques Mendes disse que o Governo atrasou a publicação para evitar alterações no parlamento.

"O Presidente da República promulgou no dia 21 de junho, mas só foi publicado no dia 28 do mês seguinte, ou seja, o Governo congelou este decreto-lei, manipulou a data de publicação porque 28 de julho é o início das férias da Assembleia da República. Ou seja, queriam diminuir o risco dos deputados se aperceberem", acrescentou Marques Mendes.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. FRAGILIDADES NO EMPREGO



Manuel Carvalho da Silva* - Jornal de Notícias, opinião

As expectativas confirmaram-se: os dados divulgados esta semana pelo INE mostram-nos que o emprego aumentou e o desemprego diminuiu. Se analisarmos o crescimento do emprego comparando as médias anuais de 2016 com as de 2015, conclui-se que foram criados 56,5 mil empregos em termos líquidos; se a comparação for feita entre os valores dos quartos trimestres de 2016 e de 2015, o número obtido sobe para 82,1 mil postos de trabalho líquidos. Trata-se, sem dúvida, de um resultado positivo.

Contudo, estamos ainda longe do nível de emprego que tínhamos antes da crise (menos 131 mil postos de trabalho), a população ativa continuou a diminuir, a recuperação do emprego acompanhou bem o crescimento económico mas este foi ainda muito ligeiro. O emprego criado é frágil, como nos confirmam o aumento das precariedades laborais e a persistência de baixos salários. Não há avanços na articulação entre a melhoria do SMN e a efetivação da contratação coletiva. As renumerações médias continuam abaixo dos valores que tínhamos antes da crise que, como sabemos, foram diminuídos por políticas demolidoras do Governo PSD/CDS e da troika e devem ser repostos.

Os trabalhadores portugueses, em particular os jovens, continuam encurralados entre uma elevada taxa de desemprego, uma diminuta proteção no desemprego, a oferta de emprego com baixa remuneração, a ocupação de empregos e relações de trabalho marcados por incertezas e inseguranças (aproximadamente quatro em cada cinco novos contratos são precários) que lhes atrofiam a vida e travam o desenvolvimento do país.

Sem sobrevalorizar os jovens diplomados em relação aos outros jovens ou ao comum dos trabalhadores, mas tendo presente que o país precisa de fixar os mais qualificados, importa olhar com atenção para o que se vem passando com estes: i) no período entre 2011 e 2015, a remuneração média de jovens com instrução superior caiu 128 euros, valor muito acima da queda absoluta e relativa de qualquer outra camada (ver excelente artigo de Miguel Chaves e Mariana G. Alves, "Le Monde Diplomatique", edição portuguesa, fev. 2017) e mantém-se baixa; ii) é conhecida a frágil capacidade da maioria das empresas portuguesas para contratarem jovens altamente qualificados e o último ano não apresenta sinais significativos de mudança; iii) a formação mais elevada não serve apenas para responder às necessidades do sistema económico, mas também para qualificar e dar eficácia à Administração Pública e a áreas estratégicas de desenvolvimento que não se estimulam pela ação do mercado; iv) ora, a Administração Pública ainda não recuperou o seu nível salarial e está infestada de precariedades, as carreiras continuam congeladas, a investigação é mal paga e vive de vínculos precários, um amplo conjunto de atividades sociais, culturais e outras é desvalorizado. A todas estas fragilidades, acresce a vulnerabilidade que pode surgir a partir de choques externos vindos das incertezas que se vivem no plano europeu e mundial.

O relançamento do emprego só será consistente com políticas de reforço de investimento, desde logo público; com progressiva melhoria dos rendimentos que favoreçam o consumo privado, em particular dos mais pobres; com medidas bem formuladas para combate à precariedade que, como está sobejamente comprovado, se transforma aceleradamente em desemprego em contextos económicos ou políticos menos favoráveis; com sinais e práticas que travem os fatores que estão na origem da diminuição da população ativa.

Entretanto, é urgente proceder-se a uma análise séria e a um debate crítico das políticas de emprego, em particular das chamadas políticas ativas, hoje dispersas por cerca de 200 medidas e programas geradoras de um emaranhado labiríntico, que faz perder eficácia e desorienta as pessoas que a elas precisam de recorrer. Sem criar ilusões que erradamente colocam tais políticas como solução para todos os problemas do mercado de trabalho, há que desviá-las da lógica do aprofundamento da flexibilização do trabalho e da harmonização regressiva das condições da sua prestação, e voltá-las para a valorização de um modelo de desenvolvimento com qualificações sérias e dignidade para quem trabalha.

* Investigador e professor universitário

Portugal. Jerónimo pede fim do "folhetim" e avanço da recapitalização da CGD



O secretário-geral do PCP pediu hoje, em Salvaterra de Magos, o fim do "folhetim" em torno da Caixa Geral de Depósitos e que se avance com o processo de recapitalização para que a CGD "continue pública como até aqui".

Jerónimo de Sousa falava hoje à tarde no Celeiro do Cais da Vala, em Salvaterra de Magos, concelho atualmente de maioria socialista que já foi gerido pela CDU (perdido para o BE com a mudança da então presidente Ana Ribeiro para este partido), num comício realizado no âmbito da campanha "Emprego, Direitos, Produção, Soberania".

"Em relação à Caixa Geral de Depósitos, os portugueses têm sido confrontados com sucessivos folhetins que a direita tem promovido a propósito de tudo e mais um par de botas -- conferências de imprensa, comissões de inquérito -, agora são as tricas entre um ministro das Finanças e um ex-presidente de conselho de administração que não chegou a ser, depois é a correspondência secreta que não é tão secreta assim", afirmou.

O líder comunista acusou PSD e CDS de acharem que "quanto mais encanzinarem, em particular o processo de recapitalização", maior será a possibilidade de a privatização acontecer.

"Pelo papel que pode ter na economia portuguesa, no apoio às pequenas e médias empresas e no apoio às famílias é importante que acabe este folhetim, que se processe, realize e avance o processo da recapitalização e que a Caixa Geral de Depósitos continue pública como até aqui", afirmou.

Para o líder comunista, a venda do BPI a um banco espanhol demonstra "claramente" que "a banca ou é pública ou não é nacional", já que os centros de decisão acabam por ficar no estrangeiro.

"Não estou a fazer nenhuma suspeição em relação aos objetivos da direita quanto à questão da privatização. Passos Coelho, ele mesmo, admitiu essa possibilidade aqui há uns anos. Nisto não falam mas é nisto que pensam", afirmou, acusando PSD e CDS de querem ainda "comprometer a nova fase da vida nacional, na mira de regressar ao poder e exercer uma política de vingança, de retrocesso" na reposição de rendimentos.

Reconhecendo "limitações e insuficiências" nesta "nova fase da política nacional", Jerónimo de Sousa disse não ter dúvidas de que a maioria dos portugueses não quer um regresso "à política de cortes".

Sobre as "limitações, constrangimentos e até contradições" em "opções e orientações" que o Governo socialista toma, o líder comunista referiu, em particular, a "conformação por parte do PS de opções que não rompem com a política de direita e que traduzem a sua vinculação com o grande capital e que se expressam, designadamente, no acordo com as confederações patronais na concertação social, na não eliminação da caducidade da contratação coletiva, na não assunção do princípio do tratamento mais favorável, renunciando à eliminação destas e doutras normas gravosas do Código do Trabalho e da legislação laboral da Administração Pública".

Segundo Jerónimo de Sousa, "o compromisso do PCP é com os trabalhadores e com o povo e não com o Governo", reafirmando que o seu empenhamento na solução governativa que saiu das últimas legislativas visa "lutar por uma vida melhor" para as pessoas, "devolvendo até esperança e confiança".

Lusa, em Notícias ao Minuto

GOVERNO DE COSTA E DAS MAROSCAS. VÃO DAR BANHO AO CÃO!





Bom dia. Mais uma voltinha, mais uma viagem pela semana que hoje começa. Mais um Expresso Curto sem os rococós da newslleter. Assim, a frio. Frio que é o que não falta nestes Invernos em que facilmente concluímos que em Portugal os arquitetos e similares da construção civil são uns nódoas que fazem casinhas bonitinhas mas sem os requisitos necessários para os Invernos “pesados” que temos. Eles lá sabem, são dótores do traço e do betão e nós devemos ficar todos caladinhos que os tipos é que estudaram… Pois. Adiante que já são mais que horas.

Mais em baixo vem o senhor Pedro Guerreiro, do Expresso, falar de maroscas. Maroscas do governo, deste, do senhor Costa. Maroscas são o que nunca tem faltado na política. Não há vivalma na política que seja defacto honesto. E escapam sempre. O senhor Pedro explica o que pode. Por nós, cidadãos registamos quão são vigaristas estes tipos da política… Até em alterar datas, até em mentir ou omitir, apesar de deverem saber que nada melhor para as pessoas, para os países, que a verdade e a honestidade. Exatamente por isso têm as reputações na escala adequada: vigaristas, ladrões, corruptos… e etc.

Dirão, alguns da plebe, pois, mas não são todos. Pois não devem ser. Provavelmente não. Contudo só podemos aferir e constatar o que são quando passam pelos governos e por poderes paralelos. O poder corrompe e estimula à desonestidade, à marosca. Fiquemos certos por via das provas de décadas que temos experimentado. Nisso os deste governo não são muito diferentes do anterior, do Passos, nem o de Sócrates, do Barroso, nem os governos de Cavaco. Uns mais que outros mas sabemos, entranha-se nas nossas peles, que não são flores que se cheirem mas sim um imenso bando de vigaristas com cheiro a caneiros. Por enquanto salvam-se aqueles que ainda não foram poder, não foram governo. Só por isso não há quase nada a dizer, a apontar. Ou não há mesmo nadinha. Mas certo é estarmos sempre de pé-atrás acerca desses bandidecos ou bandidões a que chamam políticos.

Está dito. Proveniente cá de dentro das décadas de vida a sermos governados (desgovernados) por cliques de homens e mulheres que não mereceram a nossa confiança, os nossos votos. À vista estão os conluios com o grande capital, com os banqueiros.  Com os escritórios de advogados e outros interesses que aos portugueses nada interessam e que pagamos a peso de ouro. Paralelamente, quanto mais em conluio com as elites mafiosas mais a miséria cresce entre as populações.

Como diria o outro: vão dar banho ao cão, pás!

Bom dia. Sejam bem vindos ao sistema do salve-se quem puder e quem mais mentir, roubar e fizer maroscas!

Pois. Sigam para o Curto do Pedro Santos Guerreiro, com muito para ler. Não esqueçam, usem os vossos miolos para pensar. Não doí nadinha.

MM / PG

Temos marosca

Pedro Santos Guerreiro - Expresso

Estávamos nós no mentiu-não-mentiu-omitiu-ó-tio-ó-tio de Mário Centeno quando ouvimos que o governo “manipulou” a data de alteração da lei para apanhar o Parlamento a entrar de férias e assim tudo passar despercebido. Falamos, ainda e sempre, do decreto-lei para isentar as apresentações de declarações de rendimentos e património dos administradores da Caixa Geral de Depósitos.

Quem no-lo disse? Foi o líder da oposição, perdão, o advogado, perdão, o comentador político, perdão, o político Marques Mendes. Chamou-lhe “marosca”.

A revelação, que, como se vê nas primeiras páginas dos jornais de hoje, vai marcar o dia, foi feita ontem à noite na SIC:

"O Governo manipulou a data de publicação deste decreto em Diário da República. O Presidente da República promulgou-o a 21 de junho, mês seis, e o habitual é a publicação ocorrer dois, três, quatro dias após a promulgação. Mas só foi publicado a 28 do mês de seguinte, de julho, que é o início das férias dos deputados. Deste modo não se aperceberiam do decreto-lei e não podiam pedir a sua análise no Parlamento"

O PS bem quer resumir a polémica a “tricas”, como disse António Costa, e o PCP até lhe chama folhetim, daqueles que deviam acabar. Mas o caso é uma sarna para o Executivo.

Depois de ter conseguido a vitória da aprovação da Comissão Europeia e do BCE para aumentar o capital da Caixa em cerca de cinco mil milhões de euros sem que tal fosse considerado ajuda de Estado, o caso tornou-se a maior e mais duradoura crise do Governo, que se vai centrando no ministro das Finanças, Mário Centeno. Vejamos:

#1: António Domingues exigiu em abril do ano passado que a então futura e agora passada administração da CGD fosse dispensada de apresentar declarações de património e rendimentos. A exigência pode parecer um capricho mas foi justificada com o facto de só assim se conseguir convidar a equipa desejada - e até havia uma razão para invocar: o BCE e a UE só aceitariam que o aumento de capital não fosse considerado ajuda de Estado se o banco público fosse gerido como um banco privado. Nos bancos privados, não há apresentação destas declarações. O problema não foi sequer esse, foi tudo ter sido feito para manter essa exigência em segredo. A gestão é privada mas o dinheiro é público. A transparência também devia ser: pública. Mas tudo foi ocultado.

#2: o governo aceitou que fosse o escritório de advogados de Domingues a desenhar a lei, preparando a alteração do estatuto de gestor público. Fê-lo sem dizer nada a ninguém. Tudo foi ocultado.

#3: a alteração ao estatuto do gestor público foi feita num Conselho de Ministros no verão em que Mário Centeno não esteve presente. Como o Expresso então noticiou, essa ausência causou estranheza e tal fez com que não houvesse confronto entre o responsável das Finanças e os demais ministros sobre o diploma. Tudo foi acalmado.

#4: quando Marques Mendes revelou que o governo alterara a lei para dispensar a apresentação de declarações de rendimentos e património, o segredo acabou. O governo começou a entrar em contradições sobre ter ou não assumido o compromisso com António Domingues. Cartas divulgadas na semana passada provaram que a condição foi apresentada e aceite. Mário Centeno tornou-se alvo, António Costa disse que nunca soube de nada, assim como Marcelo Rebelo de Sousa. Tudo começou a ser revelado.

#5: Marques Mendes revela agora que, além do segredo na negociação, o governo só avançou com o diploma em cima das férias do Parlamento. Dessa forma, o diploma teria mais possibilidades de passar entre os pingos da chuva. Ou entre os raios de sol de agosto. Tudo foi disfarçado.

Marques Mendes não é o líder da oposição mas parece. Mesmo sabendo-se que ele é oposição inconfessa também ao principal partido da oposição. Mendes é muito mais próximo de Marcelo do que de Passos – e aliás tem sempre poupado o Presidente nesta polémica. Ontem fez o mesmo, dizendo apenas que o Presidente devia ter ficado calado.

Quando uma peça do enredo começa a acalmar, logo surge outra. O caso Caixa não é uma marosca, é uma matriosca.

OUTRAS NOTÍCIAS

(Isto de apanhar o Parlamento de férias dá um jeitão para abafar polémicas – e não é só cá. Segundo o The Guardian, o governo britânico quer que Donald Trump marque a sua visita oficial ao Reino Unido para uma data em que Westminster esteja… fechado para férias, evitando assim que o Presidente dos EUA lá discurse. Mas já vamos a Trump.)

Depois da contagem dos precários no Estado, falta definir quantos e com que critérios serão integrados nos quadros. O Bloco quer que o tempo de serviço anterior seja considerado, o mas o governo ainda não disse como fará. Se nada mudar, os precários do Estado podem perder remuneração para deixarem de sê-lo.

Passos Coelho diz que o número de trabalhadores com baixos salários cresceu com as políticas do atual Governo, estimando que no final de 2016 "quase um milhão" de trabalhadores ganhava o salário mínimo.

Diga o que disser Passos, o PSD continua em queda. No estudo mensal da Eurosondagem para o Expresso e SIC, o PSD tem agora 29,2% de intenções de voto, o pior resultado para os sociais-democratas desde as legislativas de 2015. Em contrapartida, e apesar da crise com a TSU, o Partido Socialista voltou a subir, para 37,8%.

O primeiro-ministro esteve na da República Centro-Africana, para visitar os 160 militares portugueses ali destacados, no combate ao terrorismo e à causa da chegada de refugiados à Europa.

Cavaco Silva anotava todas as reuniões e alguns telefonemas em cadernos A5 azuis. Recorreu a esses registos para escrever o livro que lançará esta semana, com as memórias políticas da sua presidência. José Sócrates será personagem principal, como se percebe na pré-publicação no Expresso. Basta ler esta frase: “As palavras não se conformavam à realidade dos factos e passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ de Sócrates”.

Começa hoje o julgamento dos vistos gold, que envolve Miguel Macedo, que se demitiu de ministro de Passos Coelho precisamente quando o escândalo rebentou. O Observador faz a resenha do caso.

Em dez anos, o programa Erasmus já levou 1700 professores e funcionários para fora, noticia o DN.

O Governo assina esta semana o acordo que formaliza a escolha do Montijo como localização para a extensão do aeroporto de Lisboa. “Projeto ainda não saiu do papel, mas o preço das casas já subiu 10%”, revela também o DN.

A Polícia Judiciária está a investigar dois irmãos lusodescendentes, que vivem há três meses numa aldeia do concelho de Almeida, por suspeita de ligação a grupos radicais islâmicos, revela em machete o Jornal de Notícias.

Um refugiado sírio em Coimbra teve 20 valores no mestrado em robótica. Mohammad Safeea chegou a Coimbra em 2014 onde, no ano passado, tirou a nota máxima na tese de mestrado em engenharia mecânica. O feito valeu-lhe um lugar especial na universidade de Coimbra, onde o jovem de 29 anos quer viver para sempre.

Frank-Walter Steinmeier foi eleito este domingo Presidente da República Federal da Alemanha. Tido como um “anti-Trump”, o político comprometeu-se em promover o diálogo e a democracia nestes “tempos tempestivos e quando muitos cidadãos receiam que o mundo “se desfaça”. Merkel elogiou-o. Marcelo Rebelo de Sousa não perdeu tempo: felicitou-o e convidou-o a visitar Portugal para “estreitar” laços entre os dois países.

Os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul pediram no domingo uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das ONU, depois do lançamento de um míssil balístico pela Coreia do Norte que voou em direção ao mar do Japão.

No “Cantinho Trump”:

O Presidente dos Estados Unidos recebe hoje o primeiro-ministro do Canadá na Casa Branca. Justin Trudeau visita-o numa altura em que o seu país teme medidas protecionistas dos EUA que prejudiquem a sua economia.

Na semana passada, publicámos no Expresso Diário cinco ensaios sobre Donald Trump, um por dia. Leia, ou relei-a:

Henrique Raposo: “A ignorância eurocêntrica sobre Trump”
Pedro Mexia: Lamento ver gente à direita achar que tudo isto é normal
Ricardo Costa: “Trump, Dilma e a desgraça dos impeachments”
Daniel Oliveira: “A ditadura do burburinho”
Clara Ferreira Alves: “Trump, um ensaio (de porrada)”

António Guterres está em périplo no Médio Oriente. Ontem, na Arábia Saudita, o secretário-geral da ONU insistiu que a falta de propostas políticas alimenta os terroristas e instou ao combate contra a retórica que relaciona o Islão e o terrorismo: quer uma solução global para a guerra na Síria.

O Porto foi eleito na sexta feira pelo terceiro ano consecutivo como o melhor destino europeu. Horas depois, o presidente da Câmara, Rui Moreira, deu na sua página no Facebook uma bela castanhada no Turismo de Portugal (a que chamou de Turismo de Lisboa...), por não ter feito qualquer referência à eleição. Como relata o JN, seguiu-se uma enchente de comentários críticos na página do organismo público

A Lone Star está a ultimar a sua oferta para o Novo Banco, revela o Negócios. O candidato deixa cair a exigência de garantia de Estado e propõe outro mecanismo de partilha dos riscos da instituição.

A cortiça está a viver o seu melhor ano de sempre, com o setor perto de bater a fasquia de mil milhões de exportações, analisa o Eco.

A esquerda quer travar despejos por motivo de obras, noticia o Negócios.

Isabel Ferreira, 43 anos, professora e investigadora em Bragança. Já ouviu falar? Então leia, para saber quem é quando ouvir falar. “Por amor à ciência”.

E de André Allen Anjos, já ouvir falar? Venceu um Grammy, o de Melhor Gravação Remisturada. Já a caminho da cerimónia anual dos Óscares, o filme La La Land venceu cinco das nove nomeações dos prémios BAFTA. A lista completa dos vencedores está aqui. Crónica do The Guardian aqui.

FRASES

“Fazer uma lei ‘ad hominem’ é razão para demitir Centeno”.Álvaro Santos Almeida, na Rádio Renascença.

“Parece-me óbvio que Mário Centeno se devia ter demitido ou devia ter sido demitido”. Luís Aguiar-Conraria, ibidem.

“Sócrates já conseguiu condicionar quem decide sobre os prazos da acusação. Face ao ‘drama’ de acusar ou não até março, quem quer saber da verdade?” Eduardo Dâmaso, no Correio da Manhã.

“A Alemanha jamais perdoará a dívida grega”.Wolfgang Münchau, no Diário de Notícias.

O QUE EU VOU LER

“O Porto era ela!”. Ela? “Ela tem qualquer coisa que os outros não tinham”. Por exemplo, “uma alegria de viver que eu não tinha: um imenso sentido de humor.” Ela dizia: “Sou tão feliz com o meu marido que nos deviam chamar Casal Garcia”. Ela. “Para ela, havia muito pouca gente com talento. Nem sei como é que ela escrevia. Não fazia emendas. Deitava as folhas para o chão, que o marido, que era um santo, apanhava”.

Estas frases são da magnífica entrevista publicada no Expresso deste sábado a António Lobo Antunes, que deve (mesmo) ler. Mas isto não é sobre ele, é sobre ela, que dele aliás escreveu, vai para cima de um quartel de século, que “não se tratava de um carreirista das letras nem jovem zangado, como foi moda apelidar os snobs inteligentes. Tratava-se muito simplesmente dum homem em más relações com a justiça dos homens. Até com a injustiça deles.”

Ela: Agustina Bessa-Luís. "Ensaios e Artigos (1951-2007)”, uma edição da Fundação Calouste Gulbenkian apresentada há dias, reúne textos publicados na imprensa ao longo de 56 anos, em três monumentais volumes, coordenados pela neta Lourença Baldaque, que ao Público explicou que até 1974 “o registo de Agustina ‘é menos político’, mas adquire ‘uma consciência social forte’ logo a seguir ao 25 de Abril – ‘fala das ruas, dos pobres, dos jovens, dos acontecimentos da época’”. E há textos sobre escritores, autores, sobre cidades, sobre acontecimentos, Agustina escreveu sobre tudo.

São perto de mil textos, que pode espreitar por exemplo neste “A a Z” selecionado pelo Diário de Notícias: aí encontrará a referência supra. Mas continue a ler, porque infra topará com muito mais. Agustina e os jornais, “uma relação quase interminável”, qualificou o Jornal de Notícias, que durou até ao ano em que sofreu um acidente vascular cerebral.

A escritora de quem sempre dirão ser a autora de “A Sibila”, a quem chamaram de “barroca”, “perversa”, “impiedosa”, até de “Rainha Vitória”, pode agora ler-se também nestes textos éditos, dispersos em jornais agora reencontrados em livro. “Nasci adulta, morrerei criança”, escreveu em “Um Cão que Sonha”. Em entrevista a Anabela Mota Ribeiro publicada em 2002, explicou-se: “Nasce-se inocente, mas com conhecimento daquilo que se é - aquilo que depois se procura através da arte, através de tantas manifestações humanas: de onde viemos, o que somos, para onde vamos. A criança sabe e depois vai perdendo essas faculdades. Mas nascer adulto e morrer criança, que é o que eu quero, isso é que é difícil.”

Arranque bem a semana com uma excelente segunda feira. Nós aqui estamos aí. No Expresso.

Bom dia!

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