sábado, 22 de abril de 2017

O FUTURO DA EUROPA JOGA-SE EM FRANÇA


Pedro Silva Pereira* | Jornal de Notícias | opinião

Quem vai às urnas no domingo para escolher o seu presidente são os franceses, mas o que se vai decidir é o futuro da Europa. A verdade é esta: depois de duramente golpeada pelo Brexit, a União Europeia, tal como a conhecemos, dificilmente resistiria à saída de um segundo peso pesado. Dito isto, que é claro como água, não será preciso dizer mais para explicar que é também o nosso futuro que se joga nestas eleições francesas.

A candidatura de Le Pen, que tanto anima a extrema-direita e parece levar de arrasto uma legião de eleitores incautos, não é apenas perigosa pelo que significa de populismo nacionalista, xenófobo, securitário e protecionista - é também uma autêntica ameaça de morte para o projeto europeu. Derrotá-la é, por isso, a prioridade número um de todos os democratas e humanistas, mas também, e de forma muito especial, de todos os que acreditam na construção europeia como projeto notável de paz e prosperidade, capaz de contribuir, de forma decisiva, para as causas dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável e de uma globalização mais justa e mais regulada.

Enquanto a candidatura de Le Pen se apresenta assumidamente antieuropeia, no outro extremo do espectro político a retórica esquerdista, e crescentemente populista, do candidato da "França insubmissa", Jean-Luc Mélenchon, não deixa de envolver também um certo tom de ameaça para o futuro do projeto europeu: se o seu Plano A preconiza uma profunda revisão dos tratados e acordos europeus, de mais do que duvidosa viabilidade política, a sua verdadeira proposta, o Plano B, incita a França a promover, em alternativa, nada mais nada menos do que uma saída unilateral - e certamente tumultuosa - da moeda única.

Entre os dois extremos, perfilam-se três versões europeístas: o europeísmo crítico do socialista Benoit Hamon, o europeísmo relutante do candidato do centro-direita François Fillon e o europeísmo reformista de Emmanuel Macron. Felizmente, e pesar das aparências que a doentia sedução mediática pelos protagonistas do populismo vai construindo, tudo indica que estas diferentes correntes europeístas congregam ainda a maioria da sociedade francesa. Têm, por isso, encontro marcado para, na segunda volta das presidenciais, unirem forças de modo a garantir o mais importante: o futuro do projeto europeu.

* Eurodeputado

DA FUNDAÇÃO SAINT-SIMON A EMMANUEL MÁCRON


Thierry Meyssan*

O súbito aparecimento de um novo partido político, «En Marche!», no cenário eleitoral francês, e a candidatura do seu presidente, Emmanuel Macron, à presidência da República não devem nada ao acaso. Os partidários da aliança entre a classe dirigente francesa e os Estados Unidos não aparecem aqui pela primeira vez.

É impossível compreender o súbito aparecimento na cena política partidária de Emmanuel Macron sem conhecer as tentativas que a precederam, as de Jacques Delors e de Dominique Strauss-Kahn. Mas, para compreender quem manobra nos bastidores, é necessário dar uma volta ao passado.

1982 : a Fundação Saint-Simon

Académicos e directores de grandes empresas francesas decidiram, em 1982, criar uma associação afim de promover «o encontro entre os pesquisadores em ciências sociais e actores da vida económica e social, [e] de difundir para o público os conhecimentos produzido pelas ciências humanas e sociais». O que deu na Fundação Saint-Simon [1].

Durante quase vinte anos, este organismo impôs o ponto de vista de Washington em França, criando o que os seus detractores chamaram «o pensamento único». A Fundação decidiu dissolver-se, em 1999, após as greves de 1995 e o fracasso da reforma do sistema de pensões.

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