sábado, 29 de julho de 2017

PISTAS E TRAUMAS DO LONGO CHOQUE NEOLIBERAL – II



Martinho Júnior | Luanda
   
Com o capitalismo neoliberal abriu-se a porta das “parcerias público privadas” à indústria de armamento, ao comércio illegal de armas ligado ou não a outros tráficos, ao mercenarismo galopante, à refinação das redes em termos de sua actuação segura e camuflada, à barbárie…

Nesses termos, as Forças Armadas dos Estados Unidos correrão sempre o risco de perder guerras a fim de que privados tenham com elas muitos lucros e, quanto aos seus apêndices, têm pulso livre para desencadear o caos, o terrorismo e a desagregação de nações e de estados onde quer que seja…

Os excedentes de armamento nos países do leste europeu “reconvertidos” pelo neoliberalismo a partir da década de 90 do século passado, criaram a oportunidade para negócios que alimentaram as guerras em África e alimentam hoje o fornecimento de armas aos terroristas da AL QAEDA e do DAESH.

Angola foi um dos primeiros “ensaios” na sequência da “Guerra Fria” (que em Angola não o era, mas uma Luta de Libertação contra o colonialismo, o “apartheid” e algumas das suas sequelas) – Martinho Júnior.

PÁGINA GLOBAL BLOGSPOT – http://paginaglobal.blogspot.pt/

1- A “guerra dos diamantes de sangue” levada a cabo por Savimbi de 1992 a 2002, tirando partido  dos malparados acordos de Bicesse e Lusaka, teve todos os ingredientes duma guerra “privada”, aparentemente “auto sustentada” e desenvolvendo-se em espiral: garantia-se basicamente a posse de território, explorando e vendendo diamantes a partir dos aluviões dos rios, a fim de transaccioná-los para comprar armamento e garantir a logística das tropas, fazendo progredir a mancha da subversão em direcção à tomada do poder.

Como todas as guerrilhas em África porém as bases de rectaguarda e de apoio estavam fora do território e, no caso da “guerra dos diamantes de sangue”, muitos pontos de apoio, em função da tipologia dos tráficos (de diamantes e de armas), em países próximos ou longínquos.

Os traficantes e os interesses a eles conectados fazem passar a “mensagem dominante” de que se trata duma “guerra civil”, mas basta recordar que em África a sul do Sahara só a África do Sul possui indústria de armamento, pelo que todo o material de guerra é importado, o suficiente para levar sempre em conta os interesses e as components externas dos conflitos, que se tornam muitas vezes determinantes.

Venezuela | REVOLUÇÃO BOLIVARIANA RESISTE, CONSTITUINTE É ELEITA AMANHÃ





Na Venezuela o presidente Maduro convoca eleições para a Constituinte, vão realizar-se amanhã, 30 de Julho. A oposição, dominada no topo por neoliberalistas, opõe-se aquelas eleições. O braço de ferro entre a oposição e o chavismo representado por Nicolas Maduro enquanto presidente da nação bolivariana tem sido tortuoso e sanguinário. Mais de 150 manifestantes já morreram. Há observadores que salientam o facto de existir o perigo da Venezuela enveredar pela guerra civil.

Independentemente dos riscos que corre a revolução bolivariana, existe uma nota que está a ser comum à América Latina (tome-se o exemplo do Brasil e de outros países), a recuperação no terreno do neoliberalismo, que por anos se viu sendo enxotado daquele continente. Nesta ação predominam operações da CIA e de outras organizações similares que atuam na desestabilização dos países com vista a repor nos poderes elites que lhes permitam recuperarem as vantagens políticas e económicas que têm feito da América Latina o Quintal das Traseiras  dos EUA - onde o capitalismo selvagem explora os povos latino-americanos, assim como todas as matérias primas do subsolo (minerais) e produtos agrícolas, entre outros. A Venenuzuela é riquíssima em petróleo e isso é sempre um dos maiores elementos atrativos da gula dos EUA. Para além do domínio geoestratégico que implica a perda de soberania dos países "democraticamente" ocupados. Mas a Venezuela de Simon Bolivar resiste.

A instabilidade provocada pelo neoliberalismo está a gerar a fuga de muitos dos seus habitantes, não só imigrantes – como é o caso de portugueses que ali estão há décadas. Muitos recorrem ao Brasil a pedirem refúgio. A seguir podem ler o que reproduzimos no PG a esse propósito. Ainda mais em baixo, se continuarem a ler, poderão aceder ao infográfico que mostra a sequencia de eventos desde 2015 na Venezuela, também uma produção de Opera Mundi. (PG)

Brasil | MEIRELLES, O PRESIDENTE INVISÍVEL



Enquanto país se distrai com o futuro de Temer e a “agenda da corrupção”, um homem comanda, em nome da aristocracia financeira e da mídia, as contrarreformas que realmente importam ao Mercado

Samuel Pinheiro Guimarães | Outras Palavras

1. Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, ex-presidente do Bank of Boston e durante vários anos presidente do Conselho da J e F (de Joesley), de onde saiu para ocupar o ministério da Fazenda, procura, à frente de uma equipe de economistas de linha ultra neoliberal, implantar no Brasil, na Constituição e na legislação uma série de “reformas” para criar um ambiente favorável aos investidores, favorável ao que chamam de “Mercado”.

2. Henrique Meirelles já declarou, de público, que se o presidente Temer “sair” ele continua e todos os jornais repetem isto, com o apoio de economistas variados e empresários, como Roberto Setúbal, presidente o Itaú.

3. Estas “reformas” são, na realidade, um verdadeiro retrocesso econômico e político. Estão trazendo, e trarão, enorme sofrimento ao povo brasileiro e grande alegria ao “Mercado”.

4. Enquanto crucificam o povo brasileiro e em especial os mais pobres, os trabalhadores e os excluídos, o debate político fica centrado na corrupção, desviando a atenção da classe média e dos moralistas, em torno de uma verdadeira “novela” com heróis e bandidos.

LUZES E SOMBRAS DO TRATADO DA ONU SOBRE ARMAS NUCLEARES



Manlio Dinucci *

O Tratado sobre a proibição das armas nucleares, adotado por grande maioria nas Nações Unidas em 7 de julho último, constitui um marco na tomada de consciência de que uma guerra nuclear teria consequências catastróficas para toda a humanidade.

Com base em tal compreensão, os 122 países que votaram se comprometem a não produzir nem possuir armas nucleares, a não usá-las nem ameaçar usá-las, a não as transferir nem as receber direta ou indiretamente. Este é o ponto forte fundamental do Tratado que visa a criar “um instrumento juridicamente vinculante para a proibição das armas nucleares, que leve à sua total eliminação”.

Não obstante a grande validade do Tratado – que entrará em vigor quando, a partir de 20 de setembro, for assinado e ratificado por 50 países – deve-se ter em conta os seus limites. O Tratado, juridicamente vinculante apenas para os países que aderirem, não os proíbe de fazerem parte de alianças militares com países possuidores de armas nucleares. Além disso, cada um dos países aderentes “tem o direito de retirar-se do Tratado se decidir que eventos extraordinários relativos à matéria do Tratado ponham em perigo os supremos interesses do próprio país”. Fórmula vaga que permite que a qualquer momento qualquer país aderente rasgue o acordo, dotando-se de armas nucleares.

O maior limite consiste no fato de que não adere ao Tratado nenhum dos países possuidores de armas nucleares: os Estados Unidos e as outras duas potências nucleares da Otan, a França e a Grã Bretanha, que possuem um total de oito mil ogivas nucleares; a Rússia que possui muitas; a China, Israel, a Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte, com arsenais menores mas nem por isso desprezíveis.

EUROPA RESISTE ÀS NOVAS SANÇÕES DOS EUA CONTRA A RÚSSIA



Nota da União Europeia (UE) registrada pelo Financial Times fala de ação retaliatória contra os EUA se os EUA usarem as sanções para obstruir acordos de energia UE-Rússia, e apresenta planos para proteger as empresas europeias envolvidas naqueles acordos.

Na discussão mais extensa do novo pacote de sanções contra a Rússia, que a Câmara de Representantes dos EUA deve aprovar amanhã, comentei que a UE se enfureceria ao receber o pacote de sanções dos EUA como fato consumado, sem qualquer consulta prévia, pacote que a UE sem dúvida veria o movimento como, no mínimo, a tentativa, por alguns grupos nos EUA, para forçar a UE a comprar o caro gás natural liquefeito dos EUA, em vez de comprar o gás barato do gasoduto russo.

Lá eu também disse que, dado que quase com certeza absoluta já é tarde demais para impedir que o novo pacote de sanções seja convertido em lei, a UE provavelmente responderia com ameaça de retaliação, no caso de os EUA tentarem multar empresas europeias que participem dos projetos de gasodutos russos, e tentaria negociar com o governo Trump algum acordo para proteger empresas europeias que participem desses projetos de serem multadas pelos EUA.

A PRIVATIZAÇÃO DO ESTADO E A “DEMOCRACIA MODERNA”



Há muito que escutamos indiscutíveis lições a ensinar-nos o quão saudáveis são as privatizações para o nosso tecido económico, enquanto elas vão progredindo, tomando conta de tudo.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Todos os dias, em ambiente de acrescida e assustadora indiferença, somos testemunhas de fenómenos absurdos que gradualmente se vão inserindo, com anormal normalidade, num quotidiano cada vez mais em marcha – assim proclamam os tempos – que se acha moderno, inovador, de tal maneira prafrentex que até há quem goste de lhe chamar «progressista».

Isto por contraponto inquestionável ao «conservadorismo» de quem continua a defender que o ser humano deve ter direitos e não apenas deveres, uma vida decente e não uma servidão que alimente os números das estatísticas e os valores dos lucros ditados pelos sumos-sacerdotes do mercado.

É a «democracia moderna», sentenciam alguns que ganharam colunas de «referência» em observadores expressos e todos privados, embora alguns se digam públicos, correios, diários i jornais das notícias da manhã, da tarde ou da noite, todas iguais, mais ou menos polidas, por regra contaminadas pela verve do engano, pelo vírus da falsificação.

Nunca se explica muito bem o que é essa «democracia moderna», talvez porque faltem artes mágicas aos colunistas para convencerem leitores, ouvintes e espectadores de que é marchando em rebanho para a ditadura que se moderniza a democracia. Por isso navegam discorrendo com impagável sabedoria pelos pântanos daquilo a que chamam política, uma lama fedorenta e repugnante a que os cidadãos devem fugir cada um por si para tratarem do que é seu, entregando-se aos deuses ou à sorte, o que vem a dar no mesmo.

A IGNORÂNCIA, A PREGUIÇA E O PRECONCEITO



A arrogância intelectual do radicalismo pequeno burguês

Agostinho Lopes

A ignorância pode ser suprida pelo estudo, pela investigação. Mas tal exige algum esforço intelectual. Quando se juntam as duas, o resultado para o jornalista e/ou comentador é mortal. Quando se mistura o preconceito, que estabelece a matriz da análise, temos o caldo entornado…

A que propósito vem todo este arrazoado moralista? Ao tratamento de muita Comunicação Social da posição do PCP sobre o dito pacote florestal do Governo PS, votado na quarta-feira, 19 de Julho, e em particular, o seu voto contra, o projecto do Banco de Terras do Governo.

Podiam-se sortear alguns exemplos. Por exemplo, Jorge Coelho, Francisco Louçã, este com o acinte da intriga, e outros. Escolha-se o último lido, Daniel Oliveira, no Expresso Diário de 24 de Julho (poder-se-ia falar do último Eixo do Mal), e o seu sermão ao PCP sob o bonito título "a-terra-ao-proprietário-mesmo-que-a-não-trabalhe"!

A ignorância. O Daniel, não tem que saber de tudo. E logo não tem de conhecer o longo e largo dossier da política florestal no País. E em particular, a relação incêndios florestais/estrutura da propriedade florestal e a sua diversidade. O Daniel não tinha de saber que o problema da pequena propriedade florestal, dita abandonada, é mais velho do que aquilo que nós sabemos…! O Daniel não tinha de saber as posições e propostas do PCP e do que debateu com o Governo e deputados do PS. O Daniel não sabe mesmo, mas a isso não era obrigado, o conjunto de projectos votados, e a história longa, política e parlamentar de algumas dessas questões e temas, como o do cadastro. O Daniel, não estudou, não investigou, não perguntou sequer. Mas isso tem um nome…

Mais lidas da semana