sábado, 28 de outubro de 2017

O ABISMO BRASILEIRO



A concentração de riqueza aprofunda a ferida nacional

Guilherme Boulos [*]

Nas últimas semanas, foram publicados dois estudos reveladores do abismo social brasileiro. O primeiro e mais completo deles foi o relatório da Oxfam Brasil, tema da reportagem de capa da edição 972 de Carta Capital, sobre as desigualdades em termos de riqueza, rendimento [NR] , gênero e raça em nosso país.

O outro foi um levantamento do mapa de homicídios publicado pelo jornal Folha de S. Paulo na última segunda-feira 9. Duas faces do mesmo problema, concentração de riqueza e violência aprofundam a ferida nacional.

Os números apresentados pelo estudo A Distância Que Nos Une, da Oxfam, são chocantes:   a riqueza dos seis maiores bilionários brasileiros equivale à dos 100 milhões mais pobres. Considerando o 0,1% mais rico, seu rendimento [NR] em um mês é o mesmo que um trabalhador com ganho de um salário mínimo receberia em 19 anos. Difícil explicar pela meritocracia uma desigualdade tão gritante.

O trabalho da Oxfam tem a vantagem de operar não apenas com o conceito de rendimento, mas também com o de riqueza, que inclui a propriedade imobiliária. Por aqui, a terra historicamente foi o pivô da desigualdade.

No campo, os dados do último Censo Agropecuário mostraram o aumento da concentração, medida pelo Índice de Gini, sendo os latifúndios mais da metade da terra agrícola do País. Nas cidades não é diferente: em São Paulo , 1% dos proprietários concentra 25% dos imóveis, o que, por sua vez, representa 45% de todo o valor imobiliário municipal. Enquanto isso, o déficit de moradia na cidade supera 470 mil famílias.

BRASIL | Ingente desafio programático



Programático tanto no sentido de que é preciso ir mais a fundo na devida consideração do drama que o país atravessa, como na formulação de alternativas

Luciano Siqueira*, de Recife | Correio do Brasil | opinião

Apenas o protesto (sempre justo e oportuno) e a denúncia (também necessária) das negociatas que mantêm Temer no governo não são suficientes para converter em ação prática a insatisfação que se alastra na população.

A empreitada é muito maior e mais complexa.

Recordo-me de que à altura do terceiro ano do primeiro governo Lula, por sugestão do próprio presidente; uma dezena de integrantes da Comissão Política Nacional do PCdoB se reuniu no Palácio do Planalto com a então ministra-chefe da Casa Civil; Dilma Rousseff e o também ministro Jacques Wagner, tendo como mote as reiteradas críticas do nosso Partido à política macroeconômica.

Na ocasião, Dilma nos fez uma ampla apresentação da ações de governo, sobressaindo-se o esforço intenso; e continuado em desfazer uma gama de leis, decretos e instruções normativas que Fernando Henrique Cardoso deixara; cujo sentido era engessar o Estado brasileiro naquilo que poderia servir à indução do desenvolvimento econômico em bases soberanas. Inclusive a interdição de recursos para as Universidades públicas, para a pesquisa científica e para a manutenção e fortalecimento da rede de escolas técnicas federais, por exemplo.

CONTRA AS CONSTANTES INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES…



...QUE TÊM VINDO A SOFRER A EMERGÊNCIA E OS ESTADOS DO SUL

Martinho Júnior | Luanda

A hegemonia unipolar de que se rege o domínio da aristocracia financeira mundial nas suas vestes neoliberais, desde os tempos das administrações de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher que não cessam de promover por via da pré anunciada vontade de“portas escancaradas” (George Soros, seus filósofos-aliados e a sua filantrópica-especulativa “Open Society”), os mais diversos programas de ingerência e manipulação nos estados em emergência e em todos os estados do sul, a fim de, em nome da democracia, os moldar à feição dos seus interesses.

Aplicam nesse âmbito, “ementa” a “ementa”, políticas de “geometria variável” nos seus recursos e intensidade, de forma a manter a sua presença numa constante equação de tensão, colocando quantas vezes em risco a independência e a soberania dos estados, das nações e dos povos, sempre em nome da democracia e dos direitos humanos!


Utilizando recursos inesgotáveis, propiciados sobretudo pela fluência do dólar nos circuitos financeiros internacionais e pelo“diktat” sobre as políticas de preços das matérias-primas, a hegemonia unipolar tem, por via de seu “soft power”, garantida uma presença dominante constante onde quer que seja.

Em relação ao petróleo e ao gás, a hegemonia unipolar tira partido das cotações internacionais como acontece em relação a todas as outras matérias-primas e está a utilizar isso como uma “catapulta” que providencia a desestabilização, particularmente onde há disputas sobre os seus próprios interesses.

CATALUNHA, A NAÇÃO QUE QUER REGRESSAR À INDEPENDÊNCIA



A Espanha não é uma nação mas sim um estado composto por várias nações de que o reino de Castela se apoderou, como também o tentou em Portugal, mantendo-se a ocupar o país por cerca de 60 anos, até à libertação e expulsão do exército castelhano e dos que eram por Castela. Em 1640 Portugal beneficiou do esforço de guerra que em Castela estava em curso para manter a Catalunha sob o seu domínio. Na atualidade a Catalunha, os catalães, pretendem regressar à independência da nação. Naturalmente que Castela se opõe. Conheça um pouco da história da nação catalã num breve texto da Wikipédia (apesar de alguns "vícios"). Quanto aos portugueses, devem recordar que também eles hoje poderiam estar a debaterem-se pela independência de Portugal se em 1640 não tivessem conseguido escorraçar os castelhanos que por seis décadas ocuparam o país que Afonso Henriques e outros antepassados lusos fundaram a partir do Condado Portucalense. (PG)

Catalunha (em catalão: Catalunya, em occitano: Catalonha, em espanhol: Cataluña) é uma comunidade autônoma da Espanha localizada na extremidade leste da Península Ibérica. É designada como uma nacionalidade pelo seu Estatuto de Autonomia.[2] A Catalunha é composta por quatro províncias: Barcelona​​GironaLérida e Tarragona. A capital e a maior cidade é Barcelona, ​​o segundo município mais povoado de Espanha e o núcleo da sétima área urbana mais populosa da União Europeia. A Catalunha compreende a maior parte do território do antigo Principado da Catalunha(com exceção de Rossilhão, agora parte dos Pirineus Orientais da França). Tem fronteiras com a França e Andorra ao norte, o Mar Mediterrâneo a leste e as comunidades autônomas espanholas de Aragão a oeste e Valência ao sul. As línguas oficiais são o catalão, o espanhol e o occitano aranês.[3]

No final do século VIII, os municípios da Marca de Gotia e a Marca Hispânica foram estabelecidos pelo Reino Franco como vassalos feudais perto dos Pirineus orientais como uma barreira defensiva contra invasões muçulmanas. Os municípios orientais dessas marchas estavam unidos sob o domínio do vassalo franco, o Conde de Barcelona, ​​e mais tarde passaram a se chamar "Catalunha". Em 1137, a Catalunha e o Reino de Aragão foram fundidos após a união real entre a Coroa de Aragão e o Principado da Catalunha. A região tornou-se a base do poder naval da Coroa de Aragão e do expansionismo no Mediterrâneo. No final da Idade Média, a literatura catalã floresceu. Entre 1469 e 1516, o rei de Aragão e a rainha de Castela se casaram e governaram seus reinos juntos, mantendo todas as suas instituições, tribunais e constituições distintas.

INDEPENDÊNCIA | Puigdemont recusa afastamento do governo da Catalunha



O presidente do governo catalão destituído por Madrid, Carles Puigdemont, não aceita o afastamento e pediu este sábado aos catalães para fazerem uma "oposição democrática".

"Numa sociedade democrática são os parlamentos que escolhem os seus presidentes", disse Carles Puigdemont numa declaração oficial gravada previamente e transmitida em direto pelas televisões espanholas.

Puigdemont sublinha que a sua vontade é "continuar a trabalhar" e pede a todos os catalães "paciência, perseverança e perspetiva".

Na curta intervenção de cerca de três minutos, Puigdemont explicou que, para "defender as conquistas conseguidas até hoje", é preciso manter uma "oposição democrática" à aplicação das medidas aprovadas em Madrid.

"Continuamos a trabalhar para conseguirmos um país [Catalunha] livre" do domínio espanhol, afirmou o líder separatista catalão, assegurando que rejeita a utilização da "força".

Carles Puigdemont fez a declaração oficial ao lado das bandeiras da Catalunha e da União Europeia, assumindo-se como líder de um país independente que pertence ao clube europeu.

O parlamento regional da Catalunha aprovou na sexta-feira a meio da tarde a independência da região de Espanha, numa votação sem a presença da oposição, que abandonou a Assembleia Regional e deixou bandeiras espanholas nos lugares que ocupavam.

Ao mesmo tempo, em Madrid, o Senado espanhol deu autorização ao Governo espanhol para aplicar o artigo 155º. da Constituição para restituir a legalidade na região autónoma.

O executivo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (direita), apoiado pelo maior partido da oposição, os socialistas do PSOE, anunciou ao fim do dia a dissolução do parlamento regional, a realização de eleições em 21 de dezembro próximo e a destituição de todo o Governo catalão, entre outras medidas.

A partir de agora, cada ministério governamental de Madrid irá dirigir os correspondentes serviços regionais, tendo o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, delegado na sua vice-presidente, Soraya Sáenz de Santamaria, as funções e competências do presidente do governo da Catalunha cessante, Carles Puigdemont.

O Governo regional agora demitido por Madrid, apoiado desde 2015 por uma maioria parlamentar de partidos separatistas, organizou e realizou um referendo, considerado ilegal pelo Estado espanhol, em 01 de outubro último.

Nesse dia, numa votação com uma taxa de participação de 43% dos eleitores, votaram "sim" à independência 90% e os "constitucionalistas" (defensores da união com Espanha) boicotaram a consulta, ficando em casa.

Jornal de Notícias | Foto: Jordi Bedmar/EPA

RACISMO | "Em Portugal não gostam de pessoas mais escuras"



Afrodescendentes. Como é ser negro em Portugal? Somos um país racista? Talvez não haja melhor forma de aferir isso que perguntar a crianças e jovens como é crescer negro neste país. Como se sentem, como os fazem sentir, como reagem, que esperança têm de que as coisas melhorem e como lutam por isso. Uma reportagem dura, que evidencia a necessidade de, nas escolas, se fazer pedagogia antirracista. E de todos tomarmos consciência de que como está não pode continuar

"Antes de vir para Portugal julgava que Portugal ficava assim nas nuvens. Quando estava lá na minha terra os aviões entravam nas nuvens, então eu achava que era lá, Portugal. E que quando chegávamos a Portugal cresciam-nos asas nas costas."

Há falas assim, que parecem o início de um romance, ou a voz off que nos primeiros fotogramas de um filme nos mergulha na narrativa, noutro olhar, o de uma criança que olha o céu e sonha com uma terra de anjos. Mas esta fala não está em nenhum livro, nenhuma ficção: é a de Niorka, 12 anos, são-tomense há dois anos neste país que afinal não é nas nuvens, e ficou assim, tal qual, gravada no iphone, na voz de sílabas muito marcadas desta menina sorridente sobre o som do recreio ao lado.

Niorka é uma das três crianças que a escola lisboeta Gago Coutinho escolheu para falar com o DN, respondendo a um pedido para entrevistar alunos afrodescendentes. As outras são Nivaldo Joaquim, de 11 anos, e Aissatou Djallo, de 12, que todos, informa ela, tratam por Aicha. Das três, só Nivaldo nasceu em Portugal: é o único afrodescendente de catálogo, filho de uma guineense e de um angolano. Uma confusão natural, a da escola, já que a expressão "afrodescendente", criada para designar os descendentes de africanos negros a viver em países de maioria não negra e cunhada pela ONU no lançamento da década dos afrodescendentes (2015-2024, uma iniciativa que visa retirar estes cidadãos da invisibilidade e lutar contra a discriminação), ainda não está vulgarizada. Assim, o pedido foi entendido como para entrevistar crianças negras.

E é isso que antes de mais é preciso explicar aos três, que neste dia de sol outonal se sentam na biblioteca da escola, expectantes, curiosos e algo embaraçados, frente a dois adultos que nunca viram: porque é que estão aqui. Como é que se diz a crianças que estão a ser entrevistadas porque a cor da sua pele não é a mesma da da maioria das outras crianças e queremos saber como isso as faz sentir, e como as fazem sentir por isso? Melhor não ir por aí, até porque condicionaria as respostas; dizer-lhes antes que é porque são afrodescendentes e perguntar se sabem o que é. Nivaldo é o primeiro a responder: "Acho que sim. Descendentes de africanos, não é?"

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