sábado, 20 de janeiro de 2018

O DESERTO DO NAMIBE TENDE A ACELERADAMENTE EXPANDIR


Martinho Júnior | Luanda

1- Os fenómenos de aquecimento global, que se reflectem no degelo acelerado na Antárctida e no Atlântico Sul, confluem para que a Corrente Fria de Benguela, que borda a costa africana incidindo desde a cidade do Cabo ao sul do Golfo da Guiné (abrangendo toda a costa angolana), tenha também um aumento de temperatura de tal forma que a extensão do deserto quente mais antigo do mundo (formado há 55 milhões de anos), o deserto do Namibe, se expanda.

A cidade do Cabo, na África do Sul (e toda a península circundante), está a ser declarada como “a primeira a ficar sem água” à escala global.

Essa expansão poderá ser avaliada quer no Cabo Ocidental, quer na Província de Benguela (expansão ao longo do litoral), mas também na compressão que os cursos de água interior estão já a assistir, pois o deserto do Namibe expande-se também para leste.

Na Namíbia os dois desertos (Namibe e Kalahári), podem em breve juntar-se dentro do planalto central.

Bacias hidrográficas de curso permanente como a do Orange (na fronteira entre a África do Sul e a Namibia) e a do Cunene (na fronteira entre Angola e a Namíbia), estão a sofrer compressões com a tendência para o avanço do deserto quente do Namibe, compressões que se prolongarão ao longo do seu curso em direcção às suas nascentes.

Por um lado perdem água porque chove menos, por outro com a expansão do deserto há maior evaporação, pelo que perdem cubicagem a partir do momento que os seus cursos abandonam o planalto.

Em Angola, a bacia subterrânea do Cuvelai que alimenta o Etosha Pan no norte da Namíbia, tende a diminuir também de caudal, com implicação em ambos os lados da fronteira e as afectações envolverão a bacia do Cubango, chegando à bacia do Zambeze (fazendo alastrar a mancha de savana semi-desértica, Cuando Cubango e sul de Moxico adentro).


2- Tenho vindo a sustentar a necessidade dos angolanos projectarem a sua vida (incluindo a vida económica) associando-a intimamente aos recursos hídricos do interior, começando por dominar a REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, que coincidem com o centro geográfico do país, implementando uma GEOESTRATÉGICA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL capaz de alicerçar uma cultura de inteligência nacional cientificada e alimentada de permanente pesquisa, de modo a que a SEGURANÇA NACIONAL seja estimulada numa LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA a partir dessa plataforma de saber e acção, a fim de melhor enfrentar os imensos desafios que surgirão nos próximos séculos.

Essa minha perspectiva contrapõe-se à perspectiva que tem norteado Angola desde a independência, que corresponde ainda à visão de quem chegou há séculos por mar e distende a concepção infraestrutural e estrutural do colonialismo até aos nossos dias, ou seja, proponho, com essa GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, a abertura dum novo conceito finalmente resultante de nossa independência e soberania, que implica uma revolução nos aspectos de concepção das linhas mestras da implantação infraestrutural e estrutural, com implicação antropológica na gestação da própria identidade nacional, esbatendo de vez as assimetrias existentes.

Isso vai implicar que as imensas regiões que são consideradas de áreas de intervenção (em função da baixíssima densidade demográfica e da malha muito larga de ocupação humana e político-administrativa) recebam impactos de programas indexados aos planos inseridos numa GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, com vista a que com um maior povoamento humano, se distendam as áreas de diversificação económica em função dos aproveitamentos agrícolas, piscícolas e de criação de gado.

Com o tempo, programas dessa natureza responderão também à necessidade de fazer sair do triângulo do litoral em direcção ao interior, de capacidades humanas e materiais, assim como de recursos que se vão inscrever nessa GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

É evidente que o combate à desertificação se inscreve nesse modelo de concepções, o que vai motivar a uma outra visão em relação à desertificação no sudoeste e no sul de Angola, algo que obriga a alianças específicas de conhecimento e de projecção prática desse conhecimento com a Namíbia, a África do Sul e mesmo o Botswana.

Há grupos de cientistas de reconhecido valor internacional, que apontam para o colapso da civilização humana num horizonte de dois ou três séculos, pelo que a implementação dessa coerência, no que toca às responsabilidades de Angola não só em relação ao seu próprio povo, era para ontem!

Stephen Hawking chega mesmo a afirmar que o horizonte é de apenas 200 anos!... (https://actualidad.rt.com/actualidad/259655-stephen-hawking-muerte-tierra-200-a%C3%B1os). 


3- Alguns se interrogam como poderemos levar por diante o sentido histórico e antropológico do movimento de libertação em África e tenho respondido que ao ser necessário lutar contra o subdesenvolvimento a fim de levarmos por diante os resgates que conduzem o povo angolano à plataforma justa e equilibrada de relacionamentos com outros povos, há que estabelecer os parâmetros civilizacionais que vão orientar os esforços em relação ao futuro, até por que a juventude precisa de ser mobilizada para programas nacionais de largo espectro e de alcance nos termos dum horizonte de séculos.

É a juventude que melhor se pode mobilizar e dispor a ser o motor dessas transformações civilizacionais que são além do mais um repto nacional de carácter patriótico enquanto exercício de paz duradoura e também por que é a ponte entre um passado em que as interpretações sobre os mesmos fenómenos de relacionamento físico-geográfico-ambiental com os fenómenos humanos, sustentaram a subversão e a barbárie, quando deveriam e devem sustentar a paz!

Nesse sentido a mobilização e a implicação prática da juventude angolana influenciará num caminho que a vai orientar, fora das ingerências e contradições manipuladas por aqueles que estão motivados pela aristocracia financeira mundial ,, num projecto de dimensão nacional e patriótico que se estenderá pelos próximos séculos adentro.

Os planos economicistas que resultam dos impactos do capitalismo neoliberal que têm atingido Angola, que obrigam a visões de muito curto prazo, em alguns casos “espontâneos”, tenderão a ficar rarefeitos, por que uma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL da natureza que proponho, inscreverá desafios de especialidade inseridos nessa ampla avenida pejada de perspectivas, que é aliás também impulsionada pelo papel fulcral reservado ao conhecimento investigativo e científico dos angolanos (cultura inteligente e de segurança nacional), no muito que há a conhecer sobre Angola e sobre si próprios.

Martinho Júnior - Luanda, 18 de Janeiro de 2018

Imagens:
- Mapa das correntes oceânicas à escala global – http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2012/03/blog-post_28.html;
- A cidade do Cabo, na África do Sul, poderá ser a primeira a ficar sem água (imagem e notícia difundida pela Euronews – http://pt.euronews.com/2018/01/17/cidade-do-cabo-podera-ser-a-primeira-a-ficar-sem-agua.

1 comentário:

Anónimo disse...

O blog teria mais ênfase se mencionasse a fonte do mapa-mundi das correntes marítimas, o autor agradecia. Obrigado

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