domingo, 18 de fevereiro de 2018

Discurso sobre estado da Nação Ramaphosa reafirma combate à corrupção


O novo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, retoma a intenção de combate à corrupção no país, no seu primeiro discurso sobre o Estado da nação enquanto Chefe de Estado, dois dias após a renúncia de Jacob Zuma.

Na África do Sul, o novo Presidente apresentou nesta sexta-feira (16.02) o seu primeiro discurso sobre o estado da Nação. Cyril Ramaphosa que reconheceu as crises que o país vive, fez promessas de melhorias nos setores críticos, como por exemplo o emprego.

Logo no começo do seu discurso no Parlamento, o novo Presidente da África do Sul fez referência ao seu antecessor, Jacob Zuma, elogiando-o em meio a vaias dos deputados. "Gostaria também de estender a minha gratidão ao ex-Presidente Jacob Zuma pela maneira como ele conduziu este processo difícil e sensível. E quero agradecer-lhe também pelo serviço prestado a esta nação durante dos seus dois mandatos como Presidente da República", disse o novo Presidente.

E não é apenas o campo político que vive maus dias no país, a economia também está em crise, as taxas de desemprego são altas e as classes mais desfavorecidas têm uma escolarização deficitária. E as promessas de Ramaphosa são justamente de melhoria nos setores problemáticos.

"Criação de emprego, especialmente para os jovens do nosso país. Vamos tomar medidas para enfrentar os desafios do desemprego. E uma das iniciativas que levaremos a cabo é a realização de uma cimeira de emprego nos próximos meses para juntar esforços de todos os setores com o objetivo de criar empregos", promete Ramaphosa.

Cyril Ramaphosa representa a esperança para muitos sul-africanos, depois da governação de Jacob Zuma manchada por escândalos de corrupção e outros tipo de crises.

O economista sul-africano Azar Jammine é um dos otimistas em relação à nova presidência. "Muita coisa se perdeu e vai levar vários anos a recuperar isso, sem dúvidas. Mas com esperança, sob a nova liderança, especialmente com Ramaphosa, nós iremos recuperar o que se perdeu. E a longo prazo, o céu é o limite para este país", afirma o economista.

Cyril Ramaphosa 5° Presidente da África do Sul

Cyril Ramaphosa, que tem 65 anos, assume como sucessor de Jacob Zuma. Com isso, concretiza-se um dos maiores desejos de Nelson Mandela.

Nelson Mandela, símbolo de liberdade em África, parecia já saber há mais de 20 anos que o seu camarada Cyril Ramaphosa, que contribuiu muito para o desenvolvimento da África do Sul democrática, tinha uma capacidade enorme de liderança. "Eu quero aproveitar essa oportunidade para elogiar o meu camarada Cyril Ramaphosa. Nós continuaremos a tirar proveito  da sua imensa capacidade de liderança".

O sexagenário Cyril Ramaphosa foi na sua juventude um engajado ativista anti-apartheid e pelo facto muitas vezes preso. Foi membro da direção do sindicato União Nacional dos Mineiros (NUM) e participou da fundação da poderosa Confederação Sindical Sul-africana, a COSATU. Depois do fim do Apartheid, ele desempenhou o papel de mediador-chefe do ANC na elaboração da nova Constituição do país, um trabalho considerado uma obra-prima por Ray Hartley no seu livro sobre o novo Presidente.

"Ele é o arquiteto de partes essenciais dessa Constituição inacreditavelmente avançada.  De fato, devemos agradecer as suas habilidades excepcionais o fato de termos hoje um inventário abrangente de direitos fundamentais", afirma Hartley.

Ramaphosa é considerado um experiente chefe de negociações e estratega. Isso também foi percebido por Nelson Mandela nos anos 90, que já queria fazê-lo seu sucessor. No entanto, o ANC se posicionou contra o desejo de Mandela e escolheu Thabo Mbeki como novo chefe do partido e mais tarde Presidente da África do Sul.

Profundamente ressentido, Ramaphosa deixa a política e torna-se empresário. Possuidor de uma grande fortuna avaliada em muitos milhões de euros, ele é hoje um dos homens mais ricos da África do Sul. Como diretor da Lonmin, conglomerado especializado na extração de platina Ramapphosa cometeu o maior erro da sua carreira, segundo afirma  Ray Hartley. Protestos levados a cabo pelos trabalhadores da Lonmin saldaram-se no que ficou conhecido como o "Massacre de Mariakana", no qual 34 mineiros morreram vítimas de tiros disparados pela polícia.

"Como antigo chefe do sindicato dos trabalhadores mineiros e diretor da Lonmin, ele estava na situação privilegiada de poder influenciar os acontecimentos em Marikana. No entanto, ele agiu tardiamente. Ele não arregaçou as mangas e envolveu-se nas negociações que poderiam ter resolvido a crise pacificamente. Isso o perseguirá ainda por muito tempo", afirma Hartley.

Regresso à vida política e ascensão à Presidência 

Há cinco anos Ramaphosa regressou à vida política e como parte da equipa de Jacob Zuma, foi mais tarde eleito  Vice-Presidente da África do Sul. Em dezembro foi eleito líder do ANC. Na sua camapnha ele apresentou-se como salvador do ANC. Alguém que queria livrar o ANC da corrupção e das práticas clientelistas. No entanto, ele fez parte do Governo de Zuma  e com isso é também parte do problema.

"Quando Ramaphosa retornou à política em 2012 para se tornar Vice-Presidente do ANC, ali ele já tinha o plano de se tornar o próximo Presidente da África do Sul. Ele faria tudo que fosse preciso para receber o apoio necessário do partido. Para isso juntou-se a muitos membros do partido, e Infelizmente a sua proximidade com Zuma não foi bem recebida pela opinião pública geral", analisa Hartley,

Na fase inicial do congresso do partido, Ramaphosa tinha-se distanciado significativamente de Zuma. Após a sua eleição como líder do ANC, ele fez de tudo para que o poder de Zuma fosse aos poucos restringido, até culminar na sua renúncia do cargo de Presidente da África do Sul. "Nós estamos a dialogar sobre o período de transição para um novo Governo. Especialmente no que se refere à posição do Presidente da África do Sul", discursa Ramaphosa.

Agora Cyril Ramaphosa chegou ao lugar onde Nelson Mandela o havia visto já há 23 anos. Ray Hartley está convencido de que ele poderá ser o Presidente que a África do Sul tanto precisa. "Especialmente se ele se lembrar do seu passado, da sua capacidade como estratega e negociador. A política na África do Sul está totalmente dividida. Eu acho que coordenação, organização e disciplina podem resolver a situação. E nós precisamos disso de qualquer maneira", afirmou o escritor. 

Jan-Philippe Schlüter, nm, ni | Deutsche Welle

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