domingo, 25 de fevereiro de 2018

Guiné-Bissau | JOMAV E O PATROCÍNIO DE VANDALISMO

O Democrata | editorial*

Mais um episódio negro na história democrática da Guiné-Bissau. A atuação das forças de segurança sob encomenda das autoridades nacionais, nomeadamente o Ministério do Interior na pessoa do seu titular, é uma autêntica vergonha nacional. Qualquer cidadão, independentemente da cor política, deveria ter a coragem de condenar os desmandos em curso no país. A mistura entre o silêncio cúmplice do Presidente da República e a agenda de vandalismo dos militantes dissidentes do PAIGC, é um perigo contra o já vulnerável edifício do Estado.

Utilizar todo o aparelho de segurança nacional (nutrido e sustentado com o erário público) como arma para impor uma agenda partidária, é um duro golpe contra a democracia e sobretudo contra os elementares princípios da ética política. Se tudo era, até aqui previsível neste país, o cerco imposto ao PAIGC, sabotando a realização do seu conclave sem uma base legal plausível, além de ser um crime público perpetrado pelas instituições da República, é também a confirmação de uma República órfã e refém sempre de agendas de grupos.

Esta é a triste realidade que qualquer cidadão honesto deveria repudiar sem medo,  nem cumplicidade e dupla linguagem. A democracia  constrói-se com regras e  respeito escrupuloso das mesmas. Não se pode fechar olhos perante este tamanho desmando e perpetração do império de força em nome de subsídios obscuros, interesses mesquinhos.

Que fique claro. Não se trata aqui de puxa-puxa  de saber quem tem razão entre os militantes do PAIGC, um partido historicamente em conflitos abertos. Trata-se sim do imperativo de se proteger o fragilizado Estado das disputas partidárias, seja qual for o partido político. Em qualquer situação a nossa posição seria a mesma. A defesa das instituições do Estado e da República! Se o jornal O Democrata existisse no passado quando ocorreram outras trites práticas, por exemplo, a ocupação e violência contra a sede do PRS por indivíduos instrumentalizados, assumiria a mesma posição de firme condenação e de verdade.

A Guiné-Bissau precisa de virar a página de práticas retrógradas rumo ao progresso através de respeito pelas normas da democracia. A instrumentalização das instituições de Estado (segurança, justiça, etc.) é veneno perigoso contra a coesão e paz sociais. Que o problema do PAIGC seja resolvido no PAIGC e quando os conflitos transbordam que se recorra à justiça, mesmo com as suas fragilidades. Não se pode envolver os meios do Estado para o combate partidário num claro abuso do poder.

Já o dissemos aqui várias vezes, o Presidente da República tem vindo a demonstrar uma incapacidade tremenda no exercício das suas funções do garante da unidade nacional e árbitro do jogo democrático. Trocou o capote e tornou-se um Chefe de Estado sem poderes em nome de alianças mesquinhas que, tarde ou cedo, voltarão contra ele. A história deste país é rica em factos. Não inventamos nada, simplesmente chamamos atenção. O rumo dos acontecimentos agora merece uma análise ponderada de todos os patriotas. É a hora de assumirmos a postura e mudarmos os comportamentos contrários à sã convivência nacional. A República deve se imperar face às agendas terceiras. Que os partidos políticos façam as suas lutas internas nas suas sedes e que o Estado garanta as liberdades e o bem-estar de todos.

*Editorial de 01.02.2018

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