domingo, 8 de abril de 2018

Futebol | V. Setúbal-Benfica, 1-2 – ontem à noite


Sem Jonas mas nas asas de Raúl

David Marques* | crónica

A lesão de Jonas no aquecimento foi premonitória. Órfão da sua estrela maior, o Benfica só podia ter pela frente uma noite difícil no Bonfim.

E teve-a. Os encarnados regressaram a Lisboa com os três pontos dados por Raúl Jiménez no último sopro da marca dos onze metros: o avançado mexicano, tantas vezes solução de luxo para desamarrar jogos e tirar a equipa da Luz do fundo do poço, apontou os dois golos que permitiram ao líder do campeonato chegar nessa condição ao clássico da próxima semana com o FC Porto.


Não bastava a lesão de Jonas, os encarnados tiveram ainda de superar uma entrada em falso no jogo. Costinha adiantou a equipa sadina aos 3 minutos com um remate de primeira após cruzamento de Nuno Pinto. Num ápice, a equipa de Rui Vitória recebia dois golpes duríssimos. Ficou de joelhos, levantou-se mas a reação não foi imediata. A organização defensiva dos homens de José Couceiro foi irrepreensível até à entrada para a segunda metade dos primeiros 45 minutos.

Durante largos períodos, superou o marasmo de ideias do tetracampeão, a quem faltava velocidade de pensamento e de execução para causar a mínima intranquilidade. O caminho do desequilíbrio tardou a ser encontrado: seria pela esquerda, onde Arnold, desatento e (também) desamparado), não conseguia segurar Cervi e Zivkovic, mas não foi por aí que se escreveu o triunfo do Benfica.

Aos 29 minutos, quando os defesas do Vitória ficaram a ver passar um cruzamento rasteiro de Rafa aproveitado com competência por Jiménez ao segundo poste (1-1), os encarnados já apresentavam outra toada. Antes disso, no espaço de apenas um minuto, o Benfica apresentou mais do que nos 25 minutos iniciais: primeiro foi Cristiano a negar o empate a Jardel; depois foi Cervi a falhar por centímetros.

A águia acelerava, por vezes a velocidade vertiginosa. Zivkovic abria o livro por vezes, Pizzi tentava acelerar o processo de construção, mas a muralha sadina resistiu até ao apito para o descanso.

O intervalo fez bem à equipa da casa e o Benfica não regressou dos balneários com o ímpeto da segunda metade da primeira parte. Antes pelo contrário. Regressou amorfo e deu oxigénio aos visitados.

Se o empate era um resultado lisonjeiro para o V. Setúbal ao intervalo, o conjunto de José Couceiro fez por justificá-lo nos segundos 45 minutos. Após um primeiro período conservador, despiu o fato-macaco e fez-se à vida em busca da felicidade.

Por momentos, pareceu até que os 22 jogadores em campo tinham trocado de papéis. O Benfica transformava-se no Vitória da primeira parte; os sadinos eram, de repente, a equipa que acelerava o jogo e causava momentaneamente o pânico junto à área de Varela.

Edinho falhou incrivelmente à passagem da hora de jogo, André Pereira tirou as medidas à baliza contrária e Wallyson também teve a felicidade nos pés. O período entre os 60 e os 70 minutos foi feliz para as águias, acometidas por uma patologia estranha.

Depois de suster sofregamente as ofensivas da equipa da casa, a águia pegou no jogo, mas faltou-lhe quase sempre a clarividência necessária para chegar a zonas de finalização, fosse ela alcançada com cabeça ou com coração.

Até aos 84 minutos, altura em que o Jiménez atirou de bicicleta para defesa atenta de Cristiano, os encarnados ainda não tinha (imagine!) conseguido fazer um único remate à baliza contrária em toda a segunda parte.

Nessa altura, os sadinos já tinham abdicado dos três pontos: a missão passava agora por segurar o empate.

E para segurar um ataque encarnado reforçado por Seferovic, Salvio e até Jardel, Couceiro lançara em campo Pedro Pinto, Podstawski e, por fim, Luís Felipe, antigo jogador do Benfica.

O lateral brasileiro reacendeu a ténue luz de esperança encarnada. Em cima do minuto 90, agarrou, no entender da equipa de arbitragem, Salvio na área e empurrou, no fundo, a águia para os céus.

Jiménez não desperdiçou a oferta e cumpriu com eficácia a missão que caberia a Jonas.

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