Pequim, 10 jun (Lusa) - O
professor chinês de Relações Internacionais Wang Li afirma que, "no
geral", a China apoia a cimeira entre Coreia do Norte e Estados Unidos, admitindo
existirem algumas "reservas" face à aproximação de Pyongyang a
Washington.
"Apesar de existirem
diferentes visões sobre o envolvimento da China na península coreana (...) o
papel da China na desnuclearização e estabilidade da região é tido como incontornável",
disse à agência Lusa, dias antes da cimeira, Wang, formado em Ciência Política
pela universidade inglesa de Aberdeen, e professor na Universidade de Jilin,
província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte.
O Presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, e o seu homologo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, reúnem-se na
terça-feira, em Singapura, num encontro histórico que ocorre depois de, em
2017, as tensões terem atingido níveis inéditos desde o fim da Guerra da Coreia
(1950-53), face aos sucessivos testes nucleares de Pyongyang e à retórica
beligerante de Washington.
Wang sustenta que, apesar de
"alguns céticos" temerem que a cimeira enfraqueça o papel da China e
que uma possível reunificação da península coreana venha a constituir uma
ameaça para o país a longo prazo, Pyongyang vai continuar a depender de Pequim.
"A RPDC [República Popular
Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte] precisa da China como
tremenda retaguarda estratégica, que funciona desde aliado ideológico, parceiro
político, fornecedor de apoio económico e tecnologia, modelo institucional até
janela para o mundo exterior", defende.
O académico recorda ainda que Kim
Jong-un precisa de uma retaguarda forte na aproximação a Donald Trump, por
"motivos simbólicos e reais".
Pequim e Pyongyang combateram
lado a lado contra os EUA na Guerra da Coreia e a relação entre os dois países
costumava ser descrita como sendo "unha com carne".
Nos mapas chineses impressos até
há cerca de 20 anos, a península coreana correspondia a apenas um país, a RPDC,
com a capital em Pyongyang. Seul tinha então o estatuto de cidade de província.
No entanto, a insistência do
regime norte-coreano em desenvolver um controverso programa nuclear levou
Pequim a afastar-se do país, consciente que este representava um embaraço para
a sua diplomacia e uma fonte de instabilidade regional.
No entanto, os dois lados
reaproximaram-se, à medida que Kim embarca numa ofensiva diplomática e põe a
hipótese da desnuclearização, em troca de garantias de segurança.
Em março passado, Kim Jong-un
visitou Pequim e encontrou-se com o Presidente chinês, Xi Jinping, na sua
primeira visita ao estrangeiro desde que assumiu a liderança da Coreia do
Norte, há mais de seis anos. Menos de dois meses depois, Kim voltou a reunir-se
com Xi, na cidade chinesa portuária de Dalian, no nordeste do país, numa
cimeira surpresa.
Wang explica que a China
"precisa de estabilidade e paz nas suas fronteiras".
Caso a península seja pacificada,
Pequim "pode então concentrar as suas energias" no Mar do Sul da
China, que reclama quase na totalidade - apesar dos protestos dos países
vizinhos -, e em Taiwan, cujos laços com o continente se deterioraram desde a
eleição da Presidente Tsai Ing-wen, pró-independência, afirma Wang.
Outra vantagem no regresso ao
diálogo na península é "a promoção da imagem da China como mediadora da
paz e grande potência responsável", diz o académico, numa altura em que
Pequim abdica do tradicional perfil discreto na cena internacional e reclama a
liderança na governação de questões globais.
"A China é o principal país
a defender o diálogo a seis na península", que envolve ainda Rússia, EUA,
Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte, "se essa proposta avançar, será
verdadeiramente um grande sucesso para a imagem internacional da China",
conclui Wang.
JPI // ANP
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