Para o economista angolano Josué
Chilundulo, vontade angolana de integrar Organização Internacional da
Francofonia e Commonwealth é passo estratégico e diplomático. Mas
Angola deve definir prioridades.
No fim de maio, o Presidente de
Angola, João Lourenço, durante a visita a França, manifestou a vontade de ver o
seu país integrado na Organização Internacional da Francofonia. Poucos dias
depois, Angola também mostrou o mesmo interesse em relação à Commonwealth,
tendo já oficializado o pedido de adesão.
Até agora, o país faz parte de
organizações de países onde se fala o português: PALOP e CPLP. A DW África
conversou com o Josué Chilundulo, economista angolano, sobre as novas
pretensões de Luanda.
DW África: É normal o
interesse de Angola, considerando as relações de afinidade que possui com
membros da organização francófona e da Commonwealth?
Josué Chilundulo (JC): Em
princípio sim. Aquilo que é a nossa observação decorre de uma reconquista. Ou
seja, Angola tem uma frente forte, a nível da diplomacia económica, social e um
pouco no âmbito cultural, por causa de uma espécie de desperdício de tempo no
passado. Angola, um pouco influenciada pelo elevar de preço do petróleo e, de
certa forma, com alguma disponibilidade fiscal por causa disso, deixou de se
relacionar com o mundo e honrar com alguns compromissos, até contratuais. E
hoje, é claro, para que tenha acesso à linha de investimentos no mercado
internacional e para que consiga reposicionar-se a nível da estratégia
mundial, quer no mundo económico, quer no mundo social, precisa de fomentar
relações. A nível da diplomacia, parece-nos bem.
DW África: Algum motivo
específico estará a ditar esta estratégia de João Lourenço?
JC: Quero crer que sim. Tendo em
conta mais a perspetiva económica. Vamos buscar dois exemplos significativos. O
primeiro tem a ver com o desejo estratégico do Presidente em dar passos
significativos a nível da zona do comércio livre. Nesse sentido, uma relação de
proximidade com os países a nível da região faz todo o sentido. Por outro lado,
há a necessidade de se maximizar a capacidade produtiva do país por via da
conquista do investimento direto estrangeiro. Nesses termos, o caminho do
investimento concentra-se essencialmente nas grande comunidades, que são a
comunidade inglesa e a comunidade francesa. Ou seja, o mercado internacional,
quer a nível de capital financeiro, quer a nível de know how, etc.,
concentra-se muito mais nos países de expressão de língua inglesa e
francesa do que nos países de expressão portuguesa.
DW África: Este interesse de
Angola em fazer parte dessas organizações não põe em causa a sua integração e
as suas relações com outros membros da CPLP?
JC: Tecnicamente falando, quando
um país decide integrar-se em diferentes regiões acaba por ter dificuldade de
honrar compromissos, uma vez que cada região tem normas e princípios
específicos. Muitas vezes, tais normas podem entrar em contradição. Neste caso,
penso que Angola deverá, a médio e longo prazo, definir prioridades: em qual
das comunidades deverá encontrar conforto e noutras ter apenas uma participação
parcial e de observador. Quanto à CPLP, ali os processos estão consolidados, os
poderes de influência estão completamente conquistados e penso que as relações
entre os países também estão muito bem consolidadas, quer de forma bilateral
quer do ponto de vista do contexto da própria comunidade. Ou seja, estou aqui a
buscar exemplos de relacionamentos, quer políticos quer económicos, e até a
nível militar, muito bem consolidados e penso que o direcionamento das baterias
para outras comunidades não poderá ferir em nada os relacionamentos já
existentes. É uma questão de diplomacia, é uma questão de prioridade e
oportunidade.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário