Pelo menos seis pessoas foram
assassinadas e duas ficaram gravemente feridas num novo ataque perpetrado no
norte de Moçambique por homens ainda não identificados.
Os fatos aconteceram na noite de
quarta-feira (06.06), no distrito de Quissanga, e com estas vítimas o número de
assassinatos cometidos em doze dias chega aos 30.
O administrador do distrito,
Bartolomeu Miubo, explicou que o ataque aconteceu por volta das 21h (horário
local) na aldeia de Namaluco.
As vítimas foram decapitadas com
espadas ou então baleadas; os terroristas também queimaram cerca de cem casas.
Em Namaluco, o palco é semelhante
ao de ataques
anteriores: a aldeia com cerca de 1.500 a 2.000 habitantes, não tem
eletricidade nem infraestruturas, é acessível através de uma estrada em terra e
as casas são de construção artesanal.
As vilas sede de distrito mais
próximas, Quissanga e Macomia, onde há energia e serviços, estão a algumas
dezenas de quilómetros. Os residentes dizem ter ouvido vozes dos atacantes em
suali, língua falada na Tanzânia, e noutras que desconheciam.
Outras fontes locais relatam que
o fogo da última noite (07.06) era visível da ilha do Ibo (Quissanga é um
distrito costeiro), para a qual se estarão a deslocar inúmeros habitantes da
região, que tentam encontrar um local seguro.
Nova vaga de ataques
Esta nova
vaga de violência começou com incursões nas aldeias de 25 de junho e
Monjane, no distrito de Palma, a 27 de maio, provocando dez mortes por decapitação.
Um outro habitante terá sido assassinado em Muti, na quinta-feira, dia 31.
Entretanto, durante operações das
autoridades com apoio da população no distrito de Palma, 11 suspeitos de
pertencer aos grupos armados foram mortos: nove na sexta-feira, dia 01 de
junho, e outros dois no domingo, dia 03, disseram fontes locais à Lusa. O
porta-voz da Polícia da República de Moçambique(PRM), Inácio Dina, confirmou a
operação de dia 01 e referiu que essas mortes aconteceram depois de os
suspeitos resistirem a uma ordem de rendição.
Entre a noite de dia 04 e a
madrugada de dia 05, os agressores fizeram sete mortos ao atacar a aldeia de
Naunde, distrito de Macomia, que ficou quase reduzida a cinzas com cerca de 160
casas destruídas.
A PRM referiu na terça-feira
(05.06), em conferência de imprensa, que Naunde terá sido alvo dos elementos
restantes do grupo que fez dez decapitações a 27 de maio.
Desde outubro de 2017, o norte de
Moçambique vem sofrendo ataques de grupos armados não devidamente
identificados. Na região estão localizadas grandes jazidas de gás natural e
petróleo com concessões a multinacionais como a italiana ENI e a americana
Anadarko.
Detenções em Nampula
A Polícia da República de
Moçambique (PRM), na província de Nampula, já deteve cerca de 40 cidadãos,
nacionais e estrangeiros, que supostamente seguiam viagem para o distrito de
Palma onde alegadamente iam juntar-se a outros elementos que têm semeado terror
e luto em Cabo Delgado.O comandante Provincial da PRM em Nampula, Manuel
Zandamela,disse que as pessoas estavam a ser recrutadas com destino a Cabo
Delgado com falsas promessas de emprego.
"Alguns dos nossos irmãos,
filhos e maridos foram enganados e saíram daqui para
comercializar produtos que também aqui temos e não estamos a conseguir
vender. Eles iam apara Cabo Delgado. Então, viemos aqui para ver o que na
verdade acontece", explicou. Manuel Zandamela esclareceu as populações de
Chalaua, em Moma, que ‘‘quero aqui clarificar que eles não cometeram nenhum
crime, mas apenas estavam a ser enganados e aliciados para negócios em
Cabo Delgado", disse.
Os cidadãos em causa recusam
completamente as declarações do Comandante da Polícia e alegam que são
comerciantes que queriam somente comprar artigos que em seguida seriam
revendidos.
Namarinho Amaral é um dos jovens
integrantes do grupo dos 40 e disse à DW África que "não íamos
para Mocímboa da Praia, mas sim para Namapa [distrito da província de
Nampula] comprar gergelim. Saímos daqui de Chalaua e fomos detidos em
Nametil e o agente da Policia de Transito mandou-nos voltar para irmos obter
guia de marcha que nos identificava a caminho de Namapa para
fazer compras", disse.
Jovens sem emprego
O analista e advogado, Arindo
Murririua, entende que os ataques na província de Cabo Delgado surgiram depois
das autoridades moçambicanas terem proibido a exploração ilegal
nas minas em Namanhumbiri facto que deixou sem emprego vários jovens. O
analista teme que esses ataques se alarguem para outras regiões e diz que
chegou altura para o Governo identificar a cabecilha desses grupos de atacantes e
colocar um fim à situação.
‘"Há dúvidas sobre esses
jovens que foram apanhados em Moma... se a Polícia diz isso, ela é uma
instituição credível, mas deve-se fazer uma investigação séria para apurar que
realmente eles iam engrossar algum grupo ou não. Uma guerrilha não acaba
no mato, mas sim na mesa com champanhe e é preciso envidar esforços para se
conhecer realmente quais são os cabecilhas daquele grupo e haver negociação
para se acabar com o mesmo’’, disse.
Sitoi Lutxeque (Nampula), Agência
Lusa | em Deutsche Welle
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