segunda-feira, 11 de junho de 2018

OS LOBOS FAMINTOS DO BILDERBERG E O MALUQUINHO DE WASHINGTON


Bom dia, esta é a primavera comprida mascarada de inverno. O verão começa dentro de dois dias, dizem. Habituados a serem sistematicamente enganados é claro que os portugueses já nem acreditam nessa tal coisa do verão. Mas que sim, dizem, quarta-feira começa o verão. Prevêem 24 graus de temperatura, e sol num céu sem nuvens. 24 graus é pouca coisa para esta altura do ano. Há os que fazem pfff ao ouvir a previsão. Têm razão. Provavelmente vamos entrar noutra de engano. Enganados, quilhados e mal pagos é o que experenciamos todos os dias. Todas as semanas. Todos os meses. Todos os anos. Pois.

Já sabe, vem aí o Expresso Curto. Está convidado a ler o que mora em textos no Curto do tio Balsemão, chegado há poucas horas do encontro no tal clube secreto de batismo Bilderberg. Aquela coisa que para nos fornicar nem precisa de preservativo, nem teme a SIDA, nem doenças venéreas ou simples micoses porque… o clube secreto é capado e nem isso faz diferença comprovado que está que só nos fornica a vida. O quê? Pois.

Credo, olhem para o me havia de dar hoje. Bom dia tio Balsemão, fez boa viagem de regresso cá ao burgo luso? Já agora uma solicitação de indiscrição sobre coisas secretas bildeberguianas: Segundo os vossos secretos planos quantos milhares de milhões é que vão tramar após as conclusões do vosso encontro secreto? Tantos? Pois. É sempre a mesma coisa. Apre!

A seguir terão oportunidade de ler sobre o Maluquinho de Washington, da família da lusa Maluquinha de Arroios, mas mau, mesmo muito mau. Um Trump que é uma trampa.

Adeus, até amanhã, se não chover nem cair neve. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O homem que tinha ataques de tweet

Filipe Santos Costa | Expresso

Bom dia.

Primeiro, houve a rutura nos acordos climáticos de Paris. Depois, a rutura no acordo nuclear com o Irão. A seguir, veio a rutura dos acordos comerciais. E, agora, uma guerra de palavras sem precendentes, desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos contra países aliados. A cimeira do G7, no Canadá, que podia ter sido um momento de apaziguamento no meio do clima de tensão entre Donald Trump e os líderes das maiories economias do mundo, foi, afinal, o momento em que se passou mais uma linha vermelha. Outra vez com Trump a carregar no botão da arma de destruição diplomática maciça em que transformou a sua conta do Twitter.

No último momento, já com o comunicado final acordado - em negociações tensas que ficam guardadas para a história em fotos que se tornaram imediatamente virais -, Trump deu ordens para que os EUA saltassem do acordo alcançado, furioso por Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, ter criticado as pesadas taxas determinadas por Washington sobre produtos canadianos. E ainda o mimoseou com os adjetivos "desonesto" e "fraco". Como se não bastasse, o principal conselheiro económico de Trump acusaTrudeau de ter "traído" e "esfaqueado [os EUA] pelas costas". E o conselheiro de Trump para o comércio internacional também entrou na dança, para jurar que "há um lugar especial no inferno" para o primeiro-ministro do Canadá.

"A cooperação internacional não pode depender de raiva ou de palavras", reagiu o presidente francês, Emmanuel Macron. "Pode-se rapidamente destruir uma incrível dose de confiança num 'tweet'", disse o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros. Angela Merkel acrescentou numa entrevista ontem à noite que, depois de mais este episódio "deprimente" de Trump, "a Europa deve tomar o destino nas suas mãos".

O El País escreve que é preciso recuar à última Guerra do Iraque para se ver um afastamento comparável entre Washington e os seus tradicionais aliados. Mas, mesmo então, "o conflito foi enformado pelos códigos políticos tradicionais, enquanto o atual inquilino da Casa Branca delapidou toda a convenção". O New York Times nota que o confronto com o Canadá deixa Trump ainda mais isolado, quando está à beira de um momento diplomático decisivo.

É o mesmo Donald Trump, tweetador-in-chief, quem se apresenta em Singapura para uma cimeira que, antes de acontecer - e o que quer que aconteça - já é histórica. É apenas a quarta vez que o líder norte-coreano, Kim Jon-un, se desloca para fora da Coreia do Norte, e logo para um aperto de mão com o presidente norte-americano, que será seguramente uma das imagens do ano. Pode ler aqui sobre o essencial do que está em causa. O Público também faz uma boa antevisão do encontro.

Não será coincidência que Trump tenha deixado o circo a arder no G7 enquanto voava para Singapura. A chave para perceber este comportamento (para além de outras, eventualmente de natureza psiquiátrica) está, mais uma vez, na entrevista que Larry Kudlow deu ontem à CNN. Segundo o principal conselheiro económico de Trump, este dediciu engrossar a voz para Trudeau numa tentativa de marcar posição para a cimeira com Kim Jong-un. "Ele não vai permitir qualquer sinal de fraqueza quando vai negociar com a Coreia do Norte." Nada como perceber a cabeça do homem.

A cimeira de Singapura já é um mega acontecimento diplomático, mediático e de segurança. A China está nervosa, assegura o New York Times. E há dissidentes norte-coreanos de olhos postos na reunião, para perceber se algum dia poderão voltar a viver no seu país. Em todo o caso, este será mais uma vez um palco para as intuições de Trump, que já admitiu não se ter preparado especialmente para o encontro. Será com o seu "toque" e as suas "sensações" que perceberá como tudo irá correr. "É assim que eu faço."

Manifestamente inspirado pela retórica trumpista, Marcelo Rebelo de Sousa, que ontem voou para os EUA, para assinalar em Boston o Dia de Portugal, garantiu aos luso-descendentes que "os Estados Unidos são um grande país mas Portugal ainda é maior”. Ok. Antes de embarcar para os EUA, o Presidente da República frisou a sua preferência pela "paciência dos acordos à volúpia das ruturas, mesmo que tentadoras". Parecia mesmo um recado sobre a vertigem da diplomacia norte-americana.

Nestes tempos em que tudo o que está ligado aos EUA tem de ser "enorme", "incrível" e superlativo, Portugal promete uma ofensiva diplomática "sem precendentes" naquele país. Marcelo e António Costa lá estão, com o primeiro-ministro a chefiar uma grande comitiva. "Vou ficar esta semana nos Estados Unidos para promover o investimento em Portugal, mas sei que o meu trabalho está muito facilitado, porque sempre que falamos com um americano ele conhece bem Portugal através de cada um de vós", disse o primeiro-ministro ao celebrar o Dez de Junho com a comunidade portuguesa em Boston.

Uma das joias da coroa de Portugal nos EUA pode estar pereclitante. Segundo o Jornal de Negócios, o eventual sucesso da OPA chinesa sobre a EDP pode por em causa o futuro da EDP Renováveis nos Estados Unidos. A "segurança nacional" pode ser razão para limitar a presença de uma EDP chinesa em solo norte-americano.

OUTRAS NOTÍCIAS

O novo Governo de Itália recusa que um navio com 629 refugiados que navega no Mediterrâneo possa atracar num porto italiano. A decisão é do novo ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, o partido de extrema-direita xenófoba. Itália remete o problema para Malta, que também recusa autorizar o desembarque dos imigrantes. Curiosamente, a lei italiana não dá a Salvini qualquer autoridade sobre os portos do país, o que não o impediu de criar o hashtag "estamos a fechar os portos".

António Costa, que é conhecido como o otimista irritante, diz que não vale a pena antecipar problemas com o OE de 2019. Catarina Martins, que não é conhecida por ser otimista, avisa que o acordo firmado com o PS, em 2015, é para cumprir, e cá estará o BE "determinado" para o garantir.

Portugal conquistou quatro medalhas - duas de ouro - no campeonato europeu de canoagem. A história fez-se com os nomes de Fernando Pimenta, Joana Vasconcelos e Teresa Portela.

Rafael Nadal voltou a vencer em Roland Garros. Levantou a taça do torneio francês pela 11ª vez.

Esta será a semana decisiva para o futuro do Sporting. Bruno de Carvalho não só não desiste como insiste: tem uma proposta que reforça ainda mais os seus poderes, ficando com a possibilidade de substituir membros da direção que se demitam, não podendo, assim, cair por falta de quórum na sua equipa. O Observador explica.

A Seleção Nacional de futebol já está na Rússia a preparar o primeiro jogo do mundial, e abriu as portas no primeiro treino. O selecionador nacional já tem uma equipa na cabeça. Ronaldo, como sempre, é o centro das atenções(por falar em Ronaldo, eu que me comovo por tudo e por nada...)

O Estado vai vender todos os terrenos da antiga Lisnave em Almada, conta o Público. Será no primeiro trimestre do próximo ano.

Lembra-se da Catalunha? Saiu das manchetes mas continua a ser um problema. Josep Borrel, catalão, histórico socialista e novo ministro espanhol das Relações Exteriores, avisa que "a Catalunha está à beira de um confronto civil".

AS MANCHETES DE HOJE

Público: "Estado vende todos os terrenos da antiga Lisnave em Almada"
i: "Bolha imobiliária em Lisoa. A loucura dos preços das casas bairro a bairro"
Diário de Notícias: "Alunos de tecnologias de informação com emprego garantido e mil euros de salário à saída da faculdade"
Correio da Manhã: "Dispara número de óbitos em Portugal"
Jornal de Notícias: "Menor aliciada no Facebook foi obrigada a prostituir-se"
Negócios: "OPA põe em causa futuro da EDP Renováveis nos EUA"
A Bola: "Bruno quer poder total"
Record: "Adán a caminho"
O Jogo: "Santos quer fazê-los correr"

O QUE ANDO A LER

O Pedro Rolo Duarte era um jornalista. Ia adjetivar na frase anterior, mas optei pelo ponto. Era um jornalista, ponto. Agora que já escrevi o importante, adjetivo: era um jornalista honesto, leal, inteiro.
Contava o que tinha a contar, sem merdas. Percebia o que interessava. Escrevia lindamente, mas não precisava de pirotecnia. Era inquieto, como deve ser um bom jornalista, e essa inquietude pô-lo no centro daquilo que de mais interessante aconteceu no jornalismo português durante bastante tempo: Sete, O Independente, revista d'O Independente, Kapa, DNA. Houve mais - e rádio e televisão e blogues - mas ele marcou-me nestes. Podiam ter sido ainda mais - o Pedro (de quem tive a sorte de ser suficientemente amigo para saber alguma coisa sobre o que ele gostava de ter feito e não fez) tinha planos para fazer tanta coisa boa.

O Pedro foi jornalista até ao fim, mesmo quando as redações dos jornais - as redações de que ele tanto gostava, onde ele se sentia tão em casa - se fecharam para ele. E continuou a ser jornalista na última coisa que escreveu. "Não Respire", o último livro do Pedro Rolo Duarte, só podia ter sido escrito pelo grande jornalista que ele foi. Ia acrescentar "pelo Homem que ele foi", mas pareceu-me redundante; os jornalistas mesmo grandes têm de sê-lo também na sua humanidade, pois só isso lhes dá a compreensão do que realmente interessa.

Comovi-me a ler "Não Respire", mas isso não significa que seja um livro piegas. Longe disso. O problema sou eu, não é o livro (“Tornei-me lamechas na regra e duro na excepção”, escreve o PRD, e estranhamente achei que era sobre mim). São quase 300 páginas escritas por um homem a lutar contra uma doença que sabe ser potencialmente fatal (e foi), e que usa cada uma dessas páginas para dizer “Eu não sou a minha doença. Eu não sou a minha morte”. (Na verdade, estas palavras não são dele, nem minhas - são as que o Miguel Esteves Cardoso usou na belíssima sessão de apresentação do livro, há três semanas - tantas?...)

"Não Respire" não é sobre a doença, nem é sobre a morte - é sobre a vida, e ela inclui tudo, até o seu contrário. Tem páginas de diário dessa luta corpo a corpo com o cancro, e memórias e autobiografia, e short-stories de ficção que estavam escritas ou por escrever. Há isto tudo, mas “não é um diário nem uma autobiografia”, mas talvez a tentativa de responder a perguntas simples: “Quanto vale o que vivo? E para quem?”. É por ser sobre a vida que isto comove.

“A vida em si é tão mais rica do que a ficção, que acredito que haja ‘dramas pessoais’ a merecerem edição”, escreve o Pedro, como se fosse o 'drama pessoal' o foco deste livro. Até pode ter sido para ele, enquanto escrevia (e ele é o primeiro a admitir o efeito terapêutico - prefiro chamar-lhe a injeção anímica - da escrita), mas não deixou que esse drama contaminasse o resto.

Como jornalista honesto que foi sempre, sem nada na manga, o Pedro explica o seu método, ou a falta dele: “escrevi à solta, quando me apeteceu, memórias caídas aos trambolhões”, com “desprendimento total” e uma “suprema liberdade - a de, por uma vez, aceitar que um livro pode ser como uma vida: sabemos quando é como começa, não sabemos quando é como acaba”.

O Pedro acabou de escrever o livro mesmo antes de se lhe acabar a vida. Mas o seu epitáfio, escreveu-o logo na pág. 28. “Passei por cá e diverti-me”.

Tenha um bom dia.

Divirta-se.

O calor chega depois de amanhã.

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