quarta-feira, 27 de junho de 2018

Todo o mundo ocidental vive em dissonância cognitiva


Paul Craig Roberts

Neste artigo vou utilizar três das notícias actuais para ilustrar a desconexão que permeia toda a mente ocidental. 

Vamos começar com a questão da separação familiar. A separação de filhos dos pais imigrantes/refugiados/asilados provou tal protesto público que o presidente Trump recuou na sua política e assinou uma ordem executiva terminando a separação familiar.

O horror a crianças aprisionadas em armazéns operados por negócios privados com lucros extraídos dos contribuintes estado-unidenses, enquanto os pais são processados por entrada ilegal no país, desperta do seu estupor mesmo americanos "excepcionais e indispensáveis" satisfeitos consigo próprios. É um mistério que o regime Trump opte por desacreditar sua política de fiscalização de fronteiras com a separação de famílias. Talvez a política pretendesse deter a imigração ilegal enviando a mensagem de que se você vier para a América os seus filhos lhe serão tomados.

A questão é: Como é que americanos podem ver e rejeitar esta desumana política de controle de fronteiras e não ver a desumanidade da destruição de famílias que tem sido o resultado predominante da destruição por Washington, no todo ou em parte, de sete ou oito países no século XXI.

Milhões de pessoas foram separadas das suas famílias pela morte infligida por Washington e, durante quase duas décadas, os protestos têm sido praticamente inexistentes. Nenhum clamor público travou George W. Bush, Obama e Trump de actos clara e indiscutivelmente ilegais definidos no direito internacional estabelecido pelos próprios EUA como crimes de guerra contra os habitantes do Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Síria, Iémen e Somália. Podemos acrescentar a isto um oitavo exemplo: Os ataques militares pelo estado fantoche neo-nazi da Ucrânia, armado e apoiado pelos EUA, contra a secessão de províncias russas.

As mortes maciças, destruição de cidades e infraestrutura, a mutilação física e mental, a deslocação que lançou milhões de refugiados a fugirem das guerras de Washington para inundarem a Europa, onde os governos consistem de uma colecção de palhaços idiotas que apoiarem os crimes de guerra de Washington no Médio Oriente e Norte de África, não produziram clamor comparável ao da política imigratória de Trump.

Como é possível que americanos possam ver desumanidade na separação de famílias por imposição do organismo de imigração mas não nos crimes de guerra maciços cometidos contra povos em oito países? Estaremos nós a experimentar uma forma de psicose em massa de dissonância cognitiva ?

Vamos agora ao segundo exemplo: a retirada de Washington do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Em 2 de Novembro de 1917, duas décadas antes do holocausto atribuído à Alemanha nacional-socialista, o secretário britânico dos Negócios Estrangeiros, James Balfour, escreveu a Lord Rothschild que a Grã-Bretanha apoiava tornar a Palestina uma pátria judia. Por outras palavras, o corrupto Balfour descartava os direitos e as vidas de milhões de palestinos que haviam ocupado a Palestina durante dois milénios ou mais. O que eram estas pessoas em comparação com o dinheiro de Rothschild? Elas eram nada para o secretário britânico dos Negócios Estrangeiros.

A atitude de Balfour em relação aos direitos dos habitantes da Palestina é a mesma atitude britânica em relação aos povos em cada colónia ou território sobre o qual prevaleceu o poder britânico. Washington aprendeu este hábito e tem-no sistematicamente repetido.

Ainda outro dia a embaixadora de Trump na ONU, Nikki Haley, a enlouquecida e insana cadelazinha de Israel, anunciou que Washington se havia retirado do Conselho de Direitos Humanos da ONU devido a "um esgoto de viés político" contra Israel.

O que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU para justificar esta repreensão da agente de Israel, Nikki Haley? O Conselho de Direitos Humanos denunciou a política de Israel de assassinar palestinos – médicos, crianças pequenas, mulheres, idosas e idosos, pais e adolescentes.

Criticar Israel, não importa quão grande e óbvio seja o seu crime, significa que você é um anti-semita e um "negador do holocausto". Para Nikki Haley e Israel, isto coloca o Conselho de Direitos Humanos da ONU nas fileiras dos nazis adoradores de Hitler.

O absurdo disto é óbvio, mas poucos, se é que algum, podem detectá-lo. Sim, o resto do mundo, com a excepção de Israel, denunciou a decisão de Washington, não só os inimigos de Washington e do palestino como até os seus fantoches e vassalos.

Para ver a desconexão é necessário prestar atenção ao fraseamento das denúncias de Washington.

Um porta-voz da União Europeia disse que a retirada de Washington do Conselho de Direitos Humanos da ONU "arrisca minar o papel dos EUA como um campeão e apoiante da democracia na cena mundial". Pode alguém imaginar uma declaração mais imbecil? Washington é conhecida como um apoiante de ditadura que aderem à sua vontade. Washington é conhecida como uma destruidora de toda democracia latino-americana que tenha eleito um presidente que representasse o povo do país e não os bancos de Nova York, os interesses comerciais dos EUA e a política externa estado-unidense.

Mencione um lugar onde Washington tenha sido um apoiante da democracia. Só para falar dos anos mais recentes, o regime Obama derrubou o governo democraticamente eleito de Honduras e impôs ali o seu fantoche. O regime Obama derrubou o governo democraticamente eleito na Ucrânia e impôs ali um regime neo-nazi. Washington derrubou os governos na Argentina e no Brasil, está a tentar derrubar o governo da Venezuela e tem a Bolívia na sua alça da mira, juntamente com a Rússia e o Irão.

Margot Wallstrom, ministra sueca dos Negócios Estrangeiros, disse: "Entristece-me que os EUA tenham decidido retirar-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ela vem num momento em que o mundo precisa de mais direitos humanos e uma ONU mais forte – não o oposto". Por que razão Wallstrom pensa que a presença de Washington, um conhecido destruidor de direitos humanos – basta perguntar aos milhões de refugiados dos crimes de guerra de Washington que inundam a Europa e a Suécia – fortaleceria ao invés de minar o Conselho? A desconexão de Wallstrom é estarrecedora. Ela é tão extrema que se torna inacreditável.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, falou como o mais bajulador de todos os vassalos de Washington quando disse estar preocupada com o "viés anti-Israel" do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Aqui temos uma pessoa com o cérebro lavado tão absolutamente que é incapaz de se conectar a qualquer coisa real.

O terceiro exemplo é a "guerra comercial" que Trump lançou contra a China. A afirmação do regime de Trump é que devido a práticas injustas a China tem um excedente comercial contra os EUA de aproximadamente US$400 mil milhões. Esta vasta soma supostamente deve-se a "práticas injustas" por parte da China. Nos factos reais, o défice comercial com a China deve-se à Apple, Nike, Levi e ao grande número de corporações dos EUA que deslocalizaram na China a produção das mercadorias que vendem aos americanos. Quando a produção deslocalizada de corporações estado-unidenses entra nos EUA elas são contadas como importações.

Tenho apontado isto durante muitos anos, remontando mesmo ao meu testemunho perante a Comissão China do Congresso dos EUA. Tenho escrito numerosos artigos publicados por quase toda a parte. Eles estão resumidos no meu livro de 2013, The Failure of Laissez Faire Capitalism .

Os media financeiros presstitutos, os lobistas corporativos, os quais incluem muitos economistas académicos com "nome", e os miseráveis políticos americanos cujo intelecto é quase não-existente são incapazes de reconhecer que o défice comercial maciço dos EUA é o resultado da deslocalização de empregos. Este é o nível da estupidez absoluta que domina a América.

Em The Failure of Laissez Faire Capitalism, revelo o erro extraordinário de Matthew J. Slaughter, membro do Conselho de Assessores Económicos de George W. Bush, o qual de modo incompetente afirmou que para cada emprego estado-unidense deslocalizado seriam criados dois empregos nos EUA. Também revelei como uma farsa um "estudo" do professor Michael Porter da Universidade de Harvard feito para o chamado Conselho sobre Competitividade, um grupo de lobby para a deslocalização, o qual fabricou a afirmação extraordinária de que a força de trabalho dos EUA estava a beneficiar-se com a deslocalização dos seus empregos de alta produtividade e alto valor acrescentado.

Os idiotas economistas americanos, os idiota media financeiros americanos e os idiotas responsáveis políticos americanos ainda não compreenderam que a deslocalização de empregos destruiu perspectivas económicas da América e empurrou a China para o primeiro plano 45 anos à frente das expectativas de Washington.

Para resumir isto, a mentalidade ocidental e as mentalidades dos russos atlantistas-integracionistas e da juventude chinesa pró americana, estão tão cheias de insensatez propagandista que já não há conexão com a realidade.

Há o mundo real e há o mundo propagandístico inventado que encobre o mundo real e serve interesses especiais. Minha tarefa é fazer com que o povo saia do mundo inventado e entre no mundo real. Apoio meus esforços. 

21/Junho/2018

Ver também: 
  The war on immigrantes

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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