terça-feira, 31 de julho de 2018

Macron caceteiro | Da repressão ao escândalo de Estado


Rémy Herrera

Nos últimos meses, a repressão anti-social subiu vários degraus na França. O estado de emergência, substituído em Novembro de 2017 por uma lei antiterrorista, tem muito a ver com isso. Mas é sobretudo a multiplicação das lutas dos trabalhadores, em muitos sectores da sociedade, que explica a extensão das operações policiais e militares. 

Até há pouco, as oposições visíveis ao presidente da República Emmanuel Macron vinham da rua, dos sindicatos e do povo mobilizado, muito mais do que da classe política e dos media. Tudo isso mudou em 18 de Julho após a explosão do "caso Benalla". Bastaram três dias para fazer com que o Eliseu passasse da euforia da vitória da equipe francesa na copa do mundo de futebol para um sismo de amplitude política inimaginável.

Os mesmos media que haviam servido como máquinas de guerra para eleger o candidato Macron como chefe de Estado lembram hoje ao presidente que o seu poder executivo se limita ao de executante dos desejos dos grandes capitalistas. No Parlamento, o choque provocado por este "caso Benalla" conseguiu fundir a direita tradicional (os republicanos) e aquilo a que chamarei de "nova direita" (os resíduos da social-democracia) ao lado da extrema-esquerda ( France insoumise e Partido Comunista) e da extrema-direita (ex- Front National, agora Rassemblement national ) numa oposição generalizada contra Macron.

Mas do que se trata neste "caso"? Em 18 de Julho, vídeos datados do 1º de Maio último começam a circular na Internet mostrado um homem com capacete – que se verificará ser o adjunto do director do gabinete do presidente Macron, Alexandre Benalla – a interpelar e bater um casal jovem junto à manifestação da Festa dos Trabalhadores em Paris. Benalla revela-se brutal – à semelhança de numerosas operações de repressão –, mas ainda ostenta insígnias das forças da ordem, quando ele não é nem polícia nem militar. Ele é apenas um guarda-costas, confiante e brigão, mas muito apreciado por Macron que o havia recrutado durante a sua campanha eleitoral e depois o promovera no seu gabinete presidencial.

Sabe-se então que com apenas 26 anos de idade e não tendo outra formação senão aquela recebida no trabalho do serviço de ordem do ex-Partido Socialista, Benalla teria beneficiado de privilégios: promoção ultra-rápida, remuneração confortável, porte de armas obtido por procedimento não regulamentar, atribuição de um apartamento nos bairros elegantes da capital... Alguns destes favores eram manifestamente exorbitantes: hábito de dar ordens a polícias e militares, porte de braçadeira das forças da ordem, livre acesso à Assembleia Nacional, "contactos amistosos" na prefeitura de polícia que lhe transmitiu os registos de câmaras de vigilância que o põem em causa... Além disso, o gabinete de Macron pretende tê-lo imediatamente sancionado pelo seu excesso de zelo... sem que quaisquer traços dessas sanções fossem encontrados. Benalla continua a deslocar-se com o presidente, recebe seu salário, mantém seus privilégios...

Os slogans da campanha que prometiam uma "República exemplar" dão lugar à suspeita de criação de uma polícia paralela (ilegal, "privada") obedecendo ao presidente da República. Frente às explicações reclamadas por todos, Macron e seu governo, atordoados, permaneceram mudos durante vários dias. Foram necessárias às oposições dez horas de batalha parlamentar para suspender os debates sobre a reforma constitucional (pretendida por Macron, pois destina-se a dotá-lo de poderes ainda mais vastos do que aqueles, imensos, de que já dispõe) e para constituir uma comissão de inquérito. Perante esta comissão, o ministro do Interior veio dizer que não sabia de nada, enquanto um desfilar de altos funcionários acrescentava que eles tão pouco sabiam muito mais.

Não é de admirar: tudo se passava no Eliseu. Foi preciso esperar uma semana (de caos) antes que Macron interviesse. Ele o fez à sua maneira, feita de provocações, dizendo em substância: "Sou o único responsável. E quem o quiser, que me venha me!" Procurá-lo? Mas aqueles que conhecem as instituições políticas francesas sabem bem que a Constituição da V República protege poderosamente a pessoa do Presidente da República. De facto, o que declara Macron, como um pequeno fantoche de finanças, é que aplicará a força, que fará aplicar a vontade dos seus mestres capitalistas desafiando todos os contra-poderes: parlamento, media, manifestações populares...

Algumas vozes (não parlamentares) pedem a sua destituição. Duas moções de censura contra o governo foram apresentadas na Assembleia Nacional. O "caso Benalla", ainda em curso, sujou profundamente – e oportunamente – a imagem de Macron tanto no país como no estrangeiro. Daí, preparar em melhores condições os trabalhadores para o futuro retorno de lutas sociais, em Setembro! 

- Na foto e no vídeo: Benalla

29/Julho/2018


Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Europa pode não ter saída, senão se adaptar ao calor


O que hoje é extremo pode virar apenas "verão" em algumas décadas no continente. Ondas de calor serão cada vez mais frequentes. E cientistas não têm dúvida: há uma relação direta com as mudanças climáticas.

Temperaturas recordes de até 39ºC na Alemanha; incêndios florestais fora de controle na Suécia e outras regiões tipicamente frias do norte europeu; e a eclosão, na Polônia, de algas tóxicas no Mar Báltico, que está mais quente que o costume: a Europa está sufocando na atual onda de calor do verão.

Com a continuidade das temperaturas extremamente altas na maior parte da região, muitos andam se perguntando se a culpa é das mudanças climáticas.

Cientistas dizem que sim.

"O aquecimento global, em geral, mais que dobrou as chances de acontecer uma onda de calor como a atual", diz Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Instituto Meteorológico Real holandês.

Ele integra a WWA, um grupo de cientistas de seis instituições criado para fornecer análises em tempo real de relações possíveis entre as mudanças climáticas e eventos meteorológicos tidos como extremos e isolados.

Uma equipe da rede analisou a atual onda de calor no norte da Europa e apresentou resultados preliminares na última sexta-feira (27/07).

Identificar a culpa por eventos meteorológicos complexos não é tarefa simples devido às numerosas variáveis envolvidas, que vão desde a temperatura da água à pressão atmosférica.

Mas, graças a modelos climáticos de ponta, especialistas agora podem calcular a probabilidade de eventos isolados extremos terem ocorrido por causa das mudanças climáticas.

Assim como epidemiologistas ligam o fumo ao câncer, os cientistas do clima trabalham com probabilidade estatística.

"Fumar nunca é a única razão, mas aumenta a possibilidade de se desenvolver câncer", diz Friederike Otto, pesquisadora do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

Para determinar a probabilidade de um evento isolado de tempo extremo ter sido causado pelo aquecimento global, os pesquisadores estimam qual seria a probabilidade de ocorrer um evento extremo específico no contexto climático atual, versus um evento que ocorreria num mundo livre de emissões de gases poluentes causadas pelo ser humano.

Segundo as estatísticas, em média, o ser humano já aqueceu o globo em cerca de um grau Celsius em comparação com a época pré-industrial. Colocando em paralelo os resultados desses dois cenários, cientistas podem atribuir as diferenças de probabilidade do evento extremo às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Com esse método, a rede WWA já mostrou que o aquecimento global fez com que o furacão Harvey de 2017 tivesse probabilidade três vezes maior de acontecer, que a onda de calor Lucifer, que assolou o sul da Europa também em 2017, tivesse probabilidade quatro vezes maior de acontecer, e que não alterou a probabilidade da estiagem de 2014 em São Paulo se repetir.

Os pesquisadores da WWA compararam as altas temperaturas atuais com recordes históricos em sete estações meteorológicas na região norte da Europa: duas na Finlândia e uma na Dinamarca, na Irlanda, na Holanda, na Noruega e na Suécia.

As estações foram selecionadas por motivos práticos. Os dados atuais de temperaturas podiam ser acessados em tempo real, e todos os pontos de medição tinham arquivos com dados digitalizados desde o início da década de 1990.

Para cada ano no arquivo histórico, os cientistas observaram os três dias consecutivos mais quentes. Para 2018, escolheram os três dias mais quentes do ano até agora.

Em seguida, alimentaram modelos climáticos com esses dados e compararam os resultados do mundo hoje com o mundo do passado, quando as emissões de gases poluentes eram bem mais baixas.

No caso de Copenhague, o grupo descobriu que uma onda de calor como a atual acontece a cada sete anos no nosso mundo. Mas, num mundo sem mudanças climáticas criadas pelo homem, uma onda de calor como essa aconteceria apenas a cada 35 anos.

"Assim, podemos dizer que as mudanças climáticas aumentaram em dez vezes a probabilidade de o evento de acontecer ", diz Otto.

Ao compilar todos os resultados das sete estações meteorológicas analisadas em toda a Europa, os cientistas observaram ainda que a probabilidade de ondas de calor como a atual é, em geral, duas vezes maior hoje do que se as atividades humanas não tivessem alterado o clima.

Os resultados ainda não foram revisados por outros especialistas porque os cientistas da WWA querem fornecer uma análise veloz dos eventos extremos atuais, uma vez que o interesse público é alto. Eles planejam publicar os resultados formalmente numa revista científica, assim como fizeram com estudos anteriores.

As mudanças climáticas são um assunto abstrato, com medidas abstratas, a exemplo do aumento da temperatura média global.

Mas as pessoas não vivem temperaturas médias. Elas vivem a experiência de chuvas torrenciais, incluindo enchentes, ondas de calor, tempestades severas e estiagens.

"É muito importante fornecer ilustrações dos efeitos das mudanças climáticas", diz Robert Vautard, pesquisador do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente da França. Para ele, será apenas quando entendermos qual é a aparência do aquecimento global é que poderemos nos preparar para combatê-lo.

Após a onda mortífera de calor de 2003, conhecida como canicule entre os franceses e que só na França resultou na morte de 15 mil pessoas, o governo francês criou um plano emergencial para lidar com problemas de saúde ligados ao calor.

Porém, especialistas acreditam que este plano esteja desatualizado. "Nossa infraestrutura e planos de saúde se baseiam em ondas de calor e chuvas que presenciamos no passado. Mas temos que entender que o clima de hoje não é o mesmo que costumava ser, e que será muito diferente no futuro", afirma Vautard.

Parlamentares no Reino Unido – onde os termômetros registraram temperaturas extraordinariamente altas, acima de 30ºC na semana passada (23/07) – enfrentam temores parecidos. Eles alertaram para o fato de que mortes prematuras causadas por ondas de calor podem triplicar até 2050, e exortam o governo a desenvolver uma estratégica para proteger a saúde da população.

Mas esses eventos extremos serão mais frequentes no futuro? Cientistas do clima concordam quase em unanimidade: sim.

"Eventos de calor extremo como este se tornarão mais frequentes e mais intensos enquanto o globo continua aquecendo", afirma Andrew King, pesquisador do ARC, o Centro de Excelência para Extremos do Clima da universidade australiana de Melbourne.

"Sabemos que ondas de calor e verões quentes como 2003 na Europa deverão ocorrer com muita probabilidade na maior parte dos anos, mesmo que ainda não se tenha aquecido o planeta em 2ºC", adiciona.

O Acordo de Paris de combate às mudanças climáticas busca limitar o aquecimento global entre 1,5 e 2ºC – mas, seguindo o ritmo atual, o planeta caminha para um aquecimento de 3ºC.

E o clima não está ficando apenas mais quente – está se tornando menos previsível.

A variabilidade de eventos meteorológicos extremos vai aumentar, segundo confirmou a pesquisadora do clima Friederike Otto. Se, durante um ano, poderemos ver ondas de calor, no ano seguinte poderemos vivenciar chuvas extremas. E o quadro pode ser muito diferente de um lugar para outro.

"O perigo das mudanças climáticas é que não estamos adaptados a elas", constata Otto.

Segundo os especialistas, além da necessidade urgente de limitar o aquecimento global a abaixo de 2ºC, aprender a se adaptar rapidamente a eventos extremos será um grande desafio para o futuro. Ondas de calor como a atual podem virar apenas "verão" no futuro.

Katharina Wecker (rk) | Deutsche Welle

*Com fotos e gráficos no original DW

Taxistas espanhóis continuam em greve


Várias associações do táxi em Espanha decidiram manter a greve iniciada em Barcelona, considerando insuficientes as medidas do governo sobre a atribuição de licenças a plataformas como Uber e Cabify

A greve dos taxistas no Estado espanhol teve início na quarta-feira da semana passada em Barcelona, depois de o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha ter dado razão à Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência, suspendendo o regulamento vigente na Área Metropolitana de Barcelona sobre as licenças a transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma electrónica (TVDE), como as multinacionais Uber ou a Cabify, que previa a atribuição de uma licença de TVDE por cada 30 de táxi.

O protesto alastrou a várias cidades e, depois de os taxistas catalães terem ocupado uma das principais avenidas de Barcelona, ontem foram os madrilenos a entupir o Passeio da Castelhana. Os profissionais do táxi exigem ao governo de Pedro Sánchez (PSOE) que defenda o sector, limitando a atribuição de licenças às plataformas referidas, que acusam de lhes fazer «concorrência desleal» e «não cumprir as suas obrigações fiscais».

Reunidas esta segunda-feira com o secretário de Estado das Infra-estruturas, Pedro Saura, as principais associações do táxi anunciaram que iriam manter a greve, havendo inclusive a hipóstese de a prolongarem até ao Conselho de Ministros da próxima sexta-feira, em que o sector do táxi será uma questão central.

Após a reunião, as associações revelaram que o executivo se compremeteu a fazer uma «declaração política de compromisso com o sector do táxi» no Conselho de Ministros de sexta-feira e que lhes garantiu que, em Setembro, irá aprovar uma lei para garantir a vigência da proporção 1/30 na atribuição de licenças.

Para Miguel Ángel Leal, da Fedetaxi, estas propostas são «insuficientes», na medida em que nada garante aos taxistas que o governo, minoritário, consiga fazer passar a lei no Parlamento ou que as comunidades autónomas – para cujo âmbito o governo quer passar a regulação do sector – a apliquem.

Em declarações à imprensa, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Pedro Saura, reafirmou o empenho do executivo na resolução desta «herança endiabrada» do governo de Mariano Rajoy (PP), bem como a intenção de passar a atribuição das licenças de TVDE para o âmbito autonómico.

AbrilAbril

Foto: A greve em defesa do sector do táxi, que teve início em Barcelona, alastrou a várias cidades de EspanhaCréditos/ Info7.mx

Portugal | O que faz falta é um Alberto João em cada esquina


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Rui Rio anda perto da frase em epígrafe quando nos questiona se "já alguma vez imaginámos se em vez de um, houvesse quatro ou cinco Alberto João por esse país fora?".

Os ares da Madeira provocaram uma acentuada excitação em Rui Rio, ao ponto de este não caber em si de felicidade de cada vez que tocava no nome de Alberto João Jardim. Não poupou elogios e foi ainda mais longe, sugerindo o paraíso na terra, ou melhor cinco ou seis Albertos por "esse país fora".

Rui Rio aparece na liderança do PSD rodeado de uma aparente tibieza que esconde a sua veia populista à qual não será estranha um conjunto de  formas endurecidas de actuação, chocando naturalmente com as boas práticas democráticas. De resto, recorde-se a relação pouco democrática de Rio com a comunicação social, enquanto Presidente da Câmara do Porto.

Quem faz a apologia do caudilho multiplicado por cinco ou seis dificilmente terá futuro na democracia. Percebe-se que a vida tem andado difícil para Rio, mas não vale tudo, ou pelo menos não devia.

De qualquer modo, diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és ou diz-me quem elogias profusamente dir-te-ei quem és.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão


Na foto: Rui Rio no Chão da Lagoa, a festa do PSD na Madeira | Homem De Gouveia/Lusa

Leia em Triunfo da Razão

Um bom camarada | Confiança e solidariedade para com Ricardo Robles


Este caso Robles está com maior duração que as pilhas Duracel. E há crítica dura, dura, dura. Afinal Robles acaba por ser vítima de si próprio pelas boas intenções e até ideologia (provavelmente), mas é bem provável que o “berço” faça incidir sobre ele a sua influência… E tudo deu nisto. E ele meteu os pés pelas mãos e as mãos pelos pés perante tais ataques acerca de sua postura de incongruência. Família obriga e o “berço” ainda mais. A não ser que nos desquitemos disso tudo, das raízes. O que é muito doloroso e complicado. 

Robles merece confiança? Sim, claro, no seu histórico, nas suas intenções, nos seus pensamentos em prol de uma sociedade mais justa que aquela que nos espezinha atualmente. Apesar de tudo temos de reconhecer-lhe essa sua forma de estar politicamente. Falhou agora como cidadão de algumas posses e aí a direita apegou-se às criticas, passando uma esponja sobre as práticas de muitos dos seus militantes e seus dirigentes e/ou outros com responsabilidades. Afinal Ricardo Robles falhou pela primeira vez, algum dia aconteceria. Quem está solidário com ele, um bom camarada, é o deputado do BE José Soeiro, e disse-o ao Notícias ao Minuto. Leia a seguir.

Deste novelo que insistem em enrolar o BE, via Robles, gostaríamos de não ter de referir mais. Foi chão que deu uvas… mijonas. A direita tem de se lembrar que teve e tem (provavelmente) nas suas fileiras reconhecidos ladrões, montanhas de vigaristas e corruptos, que têm compadrios que, esses sim, lesam os portugueses pelas vantagens e favoritismos que a esses proporciona. O CDS deve lembrar-se sempre dos submarinos ou de Benavente, ou…. O PSD, então, nem se fala. O PS, upa, upa. Esses sim, deve-se dizer com toda a propriedade “é fartar vilanagem”. E isto, ao que julgamos saber, que de algum modo veio a público, mais uns quantos (poucos) que foram efetivamente condenados por uma justiça que tantas vezes é injusta por ser a favor dos ricos (influentes) e usar de marreta para os pobres e os remediados. Quando não usa do peso de um autêntico cilindro contra os fracos, querendo parecer forte…

Adeus Ricardo, a vida é dura e muitas vezes injusta. Assomos de incoerência e de ingenuidade não cabem na política quando aos antagónicos dá jeito. Há os que ficam felizes com o mal acontecido aos outros. Sempre assim será. Mas também há os solidários, os amigos e camaradas de facto. Sempre assim será. (MM | PG)

"Robles nunca falhou. Merece a minha confiança e solidariedade"

A polémica em torno do prédio de Alfama levou Ricardo Robles a renunciar, na segunda-feira, aos cargos de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora da concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda.

Depois de noticiado que Ricardo Robles teve à venda um prédio em Alfama, Lisboa, por 5,7 milhões de euros, quando o tinha comprado por 347 mil euros, bloquista afastou-se dos cargos que desempenhava.

Nesta senda, o também bloquista José Soeiro saiu em defesa do colega de partido, garantindo que este “nunca falhou em nenhuma luta e em nenhuma proposta mesmo contra o que poderiam ser os seus próprios interesses ou os da família”.

Numa publicação feita na sua página de Facebook, José Soeiro dá alguns exemplos das lutas em que Robles esteve envolvido: “Manuais gratuitos, construção de creches, política de redução de riscos e salas de consumo, direitos LGBTQI+, políticas de saúde pública, início da recuperação das cantinas escolares para a responsabilidade pública, defesa da regulação do turismo ou o acordo que fez para que centenas de casas pudessem ser disponibilizadas pela autarquia a rendas acessíveis”.

E, por tudo isto, o bloquista garante que o agora ex-vereador do Bloco em Lisboa “mereceu e merece”toda a sua “confiança política e solidariedade”.

“A militância política dele, que vem de longe e de há muitos anos, foi sempre consistente e fiel ao seu programa. E não termina agora”, sublinha Soeiro que descreve como “prova de solidariedade” para com o partido o facto de Robles ter renunciado aos cargos que ocupava até ontem.

“Acho que o Ricardo tomou a decisão certa”, remata, desejando uma “excelente continuação de bom trabalho” a Manuel Grilo, o substituto de Robles.

Patrícia Martins Carvalho | Notícias ao Minuto | Foto: Reuters

Robles | O homem que tem duas caras e quer sol na eira e chuva no nabal


‘Maizum’ dia Ricardo Robles no Curto. É assim que ‘abre’ a prosa de Luísa Meireles, a artesã de serviço. E ainda bem. Porque em cada dia que passa lá vem este ou aquele pormenor a esclarecer o que foi de inicio ‘viciado’ pelo Correio da Manha e mais um ou outro. Escribas das furnas de esgoto. Adiante e depressa porque cheira mal.

Luísa refere Fazenda, um ‘velho’ do BE, leiam a seguir e está tudo dito. Melhor entendimento viaja para a nossa massa cinzenta sobre o caso. É capaz de ser correto adiantar que Ricardo Robles queria sol na eira e chuva no nabal ou então é um dos homens de duas caras. Desses há demasiados por aí. Ele que vá para o PSD, CDS ou para o PS. Ali safa-se.

Faça um bom dia, mesmo à tarde e à noite. Goze a saúde que tem presentemente porque não é para sempre que a terá. Há uma certeza de que provavelmente se esquece por sistema: garantidamente um dia morrerá. Goze o sol que aparece de vez em quando e o calor que dizem que vai acontecer neste 'inverão' dos próximos dias. Convença-se que demos mesmo cabo disto tudo e que ainda vai acontecer pior com mais alterações climáticas. 

Outro assunto, para terminar: Se levar o seu canídeo de estimação à “sanita pública” que são as ruas, os passeios e as calçadas, apanhe a cagada que o animal fez. Não a deixe solitária à espera que a carimbemos com os nossos sapatos. Se não a apanhar fique sabendo e medite: você é um grande porco ou porca – dependendo do género – e que além disso está-se cagando para os outros seus concidadãos, para os velhos e crianças, etc. Vá bugiar, seu Robles dos animais de estimação.

Adeus, até ao meu regresso. Já digo isto há 50 anos… Faz-me lembrar qualquer coisa… (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ufa, finalmente percebeu!

Luísa Meireles | Expresso

Aquilo que parecia óbvio de imediato, Ricardo Robles demorou três dias a perceber. Soube-se ontem que apresentou a sua demissão no domingo a Catarina Martins, mas para o público, que ouviu ou leu logo pela manhã as declarações de Luís Fazenda, um dos líderes-fundadores do Bloco de Esquerda, que criticou as atividades imobiliárias como as realizadas pelo vereador do BE em Lisboa e apelou a uma reflexão, o anúncio de Robles parece causa-efeito.

Ontem mesmo, a Comissão Política do partido começou a conter os danos. Manuel Grilo, assessor do BE na área da Educação e ex-dirigente da CGTP e da Fenprof, é o novo rosto do partido na Câmara de Lisboa. Era o terceiro na lista.

Desde o princípio que se sabia que na direção do BE não havia unanimidade sobre a posição que acabou por ser defendida – em má hora – pela coordenadora do Bloco, que além de acusar a imprensa (sempre o mensageiro!) ainda disparou sobre tudo e todos, a pretexto de uma pretensa cabala. O óbvio era que a questão era moral e ética, porque um político que prega uma coisa e faz outra perde a legitimidade. Pior ainda quando se trata de um partido que sempre atacou a especulação imobiliária e os próprios proprietários. Apetecia perguntar, como Vítor Gaspar: “qual-é-a-par-te-que-não-per-ce-beu?”

A história toda, se quiser recordá-la, vem contada aqui pela Rosa Pedroso Lima, que lembra “As 76 horas da maior crise de sempre do Bloco de Esquerda”, pelo que me dispenso de a relatar. Não se esperava era que acontecesse no Bloco, que acaba assim de entrar na “idade adulta” dos partidos e ficou igual aos outros – pensam agora muitos eleitores, desafetos a estas organizações por razões assim. São estas as “dores de crescimento” que o BE vai ter de enfrentar.

O futuro, agora, é mais incerto e o partido está em polvorosa interna. Mas o mal está feito. Vai haver um preço a pagar. [Para já, Marcelo prepara-se para vetar o diploma que deu polémica com o Bloco. Pormenor eheh: o PCP diz que o projeto era dele].

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, já veio entretanto dizer que “tudo como dantes” se o Bloco quiser. O Bloco quer.

Quanto aos partidos, houve uma variedade de reações, com destaque para a mortífera declaração de Jerónimo de Sousa, que não comentando, comentou que está de consciência tranquila, porque aprendeu a fazer política para servir os outros e não a si próprio. Rui Rio achou sensata a decisão de Robles (o partido já tinha pedido a demissão), Assunção Cristas não comentou “por elegância” à tarde, mas de manhã já tinha dito que “o BE saía desmascarado”. Quanto ao PS, o partido não falou enquanto tal, mas Porfírio Silva, do Secretariado Nacional, disse no domingo, no facebook, que considerava o caso “necessariamente grave”.

Comentários houve muitos e para todos os gostos. Destaco alguns: Rui Tavares: “O charme discreto da violência verbal”; João Miguel Tavares: “Coitadinho do Bloco que está a ser perseguido”; Miguel Esteves Cardoso: “Ricardo e os turistas”; mais atual,0 a de Miguel Sousa Tavares, crónica de uma demissão anunciada. E por aqui me fico que isto de opiniões há sempre muitas. Incluindo a sua, caro leitor.

OUTRAS NOTÍCIAS

As do Orçamento e das audiências do Presidente da República, que desde ontem está “a tomar o pulso aos partidos”sobre as perspetivas do novo ano politico “sem nenhuma preocupação especial”, sem ser – e não é pouca – a da conjuntura europeia e internacional. Ontem foi o PAN, Verdes, PCP e CDS, hoje serão o BE, PS e PSD. Antes, há de receber os campeões europeus de futebol sub19, que chegaram ontem em apoteose ao aeroporto de Lisboa.

Parênteses para um momento tesourinho: Ana Lourenço voltou a protagonizar a mesma cena que há 11 anos fez sair do estúdio da SIC Santana Lopes, zangado por a jornalista interromper a entrevista para o canal fazer um direto com José Mourinho, que chegava a Lisboa. Ontem, na RTP 3, a jornalista também interrompeu Honório Novo (PCP) para um direto com os sub19, mas a reação do comentador foi outra. Honório Novo não se levantou para se ir embora, mas aproveitou para dar os parabéns à seleção. Mudaram-se os tempos!

Regresso ao assunto. Para já, PCP e PEV consideram que “não há orçamentos no papo, nem linhas vermelhas”, enquanto o CDS prefere dizer que “não deixará morrer Tancos”. Quanto ao PAN, a sua preocupação é a prospeção de petróleo no Algarve e a diminuição do uso dos plásticos na restauração.

Tancos. O assalto ao quartel volta ao Parlamento, desta vez para novas audições às secretárias-gerais do Sistema de Segurança Interna e do Sistema de Informações e do chefe de Estado-Maior do Exército. Aguarda-se com expectativa o que este tem a dizer sobre os novos desenvolvimentos que foram revelados pelo Expresso, de que afinal nem todo o material roubado tinha sido recuperado. Há 15 dias, foi ouvido o ministro da Defesa e disse que não tinha sido informado das discrepâncias. Afinal o Exército sabia ou não?

Novas (boas) da Economia: o ministro do Trabalho e da Segurança Social diz que o desemprego, que já está nos 7% e deve cair para os 6,7% em junho segundo os dados do INE, ainda deve descer abaixo das expetativas do Governo (é a taxa mais baixa em 16 anos). Efeito da criação de emprego, disse.

Outra boa notícia: há recém-licenciados a ganhar €3500 ao mês! Nem todos são quinheuristas! E quer saber? São os delegados hospitalares, na indústria farmacêutica, que lideram a lista de 20 profissões que pagam melhor aos jovens em Portugal. Quem diria?

Entretanto, se ainda não está a par, é melhor que saiba como evitar pagar as comissões nos ATM. A notícia não é de hoje, mas a informação ajuda-o a controlar os seus gastos e a não dar a outros o que é seu.

Mistério insolúvel (para mim): o que é que o Sporting tem de tão apetecível que já são nove os candidatos à sua presidência? Vá lá, sete, se tivermos em conta que dois estão suspensos e um deles é o próprio ex. Agora é José Maria Ricciardi que entra na corrida. Diz que quer (ou sonha?) com um “Sporting alemão” e “manter o melhor treinador do mundo” (José Peseiro, para sua informação).

Não resisto a este insólito: Portugal abunda em turistas, mas nem todos gostam. Até aí normal. O divertido são os comentários dececionados colecionados no Trip Advisor. Tipo: mosteiro dos Jerónimos – “nada a dizer. Só para turista ver”. Ou então, Templo de Diana em Évora – “este sítio parou no tempo”. A sério?

LÁ FORA

Letra A, de Angola. A imprensa do país noticia que Isabel dos Santos foi notificada para prestar declarações no âmbito do inquérito sobre a sua gestão à frente da Sonangol. O atual presidente do Conselho de Administração acusa-a de, pouco depois de exonerada, ter feito transferências no valor superior a 38 milhões de dólares para uma empresa no Dubai.

B, de Brexit: 78% dos britânicos estão descontentes com o Governo britânico por causa do Brexit e muitos querem um novo referendo. Theresa May está mesmo em maus lençóis. À medida que se vai aproximando a data (31 de março de 2019) cresce a tensão. Na semana passada, a União Europeia avisou as suas capitais para se prepararem para o pior cenário, mas no Reino Unido também se preparam os planos de contingência, com o Exército chamado a intervir, se for o caso. Downing Street desmentiu.

E, de Espanha. A greve dos taxistas está a causar danos a sério. E prometem continuar. As promessas do Governo não os convenceram. É um teste duro a Pedro Sanchez

F, de França. O Presidente Emmanuel Macron enfrenta hoje a sua primeira moção de censura. 62 deputados de esquerda entenderam-se sobre o tema. O motivo arrasta-se há semanas, é o caso do segurança Alexandra Benalla, que é muito mais do que um homem que bate por gosto, mas sim a tentativa de criar uma força de segurança paralela no Eliseu, como explica o Daniel Ribeiro, o que, diga-se de passagem, nem é inédito. Já aconteceu com Mitterrand e deu-se mal com isso.

G, Grécia. Ainda os incêndios de Mati – não perca este documentário do João Duarte. Dói. “Ninguém veio para nos salvar”. Vítimas mortais são 91, desaparecidos 25.

H, de Hungria. Na semana passada, o Presidente francês esteve em Portugal e disse que as próximas eleições europeias serão decisivas pelo que está em jogo e pelo xadrez político alterado na Europa, infestado de populistas e extremistas da xenofobia. Agora, o primeiro-ministro húngaro pegou-lhe na palavra, considera o mesmo (as eleições serão cruciais), mas põe em guarda a UE contra uma liderança da França e diz este mimo: “a Europa ocidental é não-democrática”. Se for fluente em francês, leia tudo.

Cantinho de Trump. 1. Depois de ter dito o pior do Presidente iraniano, eis que o Presidente dos Estados Unidos anuncia que está disponível para se encontrar com ele, “em qualquer altura e sem quaisquer condições”. 2. Donald Trump recebeu ontem na Casa Branca “um dos seus”: o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, com quem tem afinidades (1ª página do FT) em matéria de imigração e comércio. What else?

Recursos naturais. Esta notícia alarmou-me a sério: a partir de amanhã a Humanidade está a viver a crédito, quer dizer, feitas as contas, consumiu o total de recursos que a natureza consegue renovar este ano. 1 de agosto é a data em que terão sido utilizadas todas as árvores, água, solos férteis e peixes que a Terra consegue fornecer num ano para alimentar e abrigar os seres humanos e terá sido emitido mais carbono do que os oceanos e florestas conseguem absorver. Quer dizer que, hoje, precisaríamos de 1,7 planetas Terra para satisfazer as nossas necessidades. Se quiser ser curioso e ver a footprint de Portugal, vá a este site, role até ao fundo e explore o mapa.

E, finalmente Z, de Zimbabwe. O país foi às urnas ontem pela primeira vez sem Mugabe, mas sob a sua sombra. A contagem ditará se quem vence é o atual Presidente, Mnangagwa, do partido no poder ZANU-PF, ou o líder da oposição Nelson Chamisa. Com uma taxa de desemprego em torno dos 90% e quase metade dos eleitores com menos de 35 anos, o voto jovem é fundamental.

MANCHETES

"Guerra de preços na ADSE reabre conflito com privados" - Público

"Marcelo vai vetar a lei que dá direito de preferência a inquilinos" - I

"Metade das câmaras ajuda alunos com livros e material" - Jornal de Notícias

"Robles escapa a imposto Mortágua" - Correio da Manhã

"Melhoria do emprego dá folga orçamental" - Jornal de Negócios

"Marcelo prepara veto a lei que deu polémica com BE" - Diário de Notícias

FRASES

"Não tenho qualquer consideração pelo Bloco de Esquerda quando se faz passar por virgem sofredora do mundo em que vivemos" - Ascenso Simões, deputado do PS, no I

"Pessoal, não há stress: na guest house do Robles podemos todos plantar cannabis, eutanasiar avós e desligar a TV quando passa tourada" - Miguel Tiago, deputado do PCP (que vai deixar de ser), no I

"Não sigam modas, saltem dos caminhos que todos estão a percorrer e encarem um grande problema para o qual ainda não há resposta satisfatória da ciência" - Fraser Stoddart, num conselho aos jovens cientistas, que pode ser aplicado a tudo, no Público

"Agora a gente aperta um botão e tem tudo na palma da mão, mas eu levei 15 anos para ouvir Grândola, Vila Morena" - Gustavo Pacheco, escritor brasileiro, no Público

O QUE ANDO A LER

“Os Anos Trump, o Mundo em Transe”, de Eduardo Paz Ferreira (Gradiva), sobre o que nos deixa transidos (e não é de frio) na administração norte-americana e as consequências que já estão à vista. Com uma escrita fácil e uma cultura fora de série, o professor catedrático e advogado (já agora, antigo jornalista neste jornal) vai tratando de cada tema que o (nos) incomoda, tentando abanar consciências para se acordar de um pesadelo que tem causas profundas – e por isso não será fácil afastá-lo. O mundo não está fácil e Paz Ferreira não tem ilusões. Também ficámos sem elas.

Com tudo isto esquecia-me de o avisar: por favor, preste atenção ao tempo que aí vem. Depois do fresco e da chuva, chega o alerta vermelho sob a forma de uma vaga de calor que pode ir aos 45 graus no interior. É já a partir de amanhã! Cuide-se! E cuidado com os incêndios! Fique connosco, mas à sombra.

Assim chegámos ao fim deste Expresso abatanado.

Tenha um bom dia!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ministra australiana em Timor-Leste após acordo sobre receitas de petróleo e gás


Camberra, 30 jul (Lusa) - A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália visita hoje Timor-Leste para reparar as relações bilaterais, depois de uma disputa entre os dois países sobre receitas de gás e petróleo e que incluiu também alegações de espionagem.

"A assinatura do nosso tratado histórico de fronteiras marítimas abriu um novo capítulo nas relações entre a Austrália e Timor-Leste", disse Julie Bishop à cadeia televisiva Australian Broadcasting Corporation (ABC).

Bishop, que está em Díli para se encontrar com líderes recém-eleitos, é a primeira ministra australiana a visitar Timor-Leste nos últimos cinco anos.

A Austrália e Timor-Leste assinaram recentemente um acordo que compartilha as receitas de petróleo e gás do Mar de Timor.

Timor Leste tinha contestado a validade de um acordo de partilha de receitas assinado em 2006, alegando que a Austrália tinha realizado escutas em gabinetes governamentais em 2004 para obter uma vantagem injusta nas negociações.

"Foi uma questão de tensão constante, foi uma preocupação para nós em termos do nosso relacionamento com Timor-Leste e estou satisfeita por nos termos conseguido comprometer com um processo que conduziu a um resultado justo e equilibrado", pelo que "agora podemos continuar a apoiar Timor-Leste na realização de seu potencial económico", acrescentou a ministra à ABC.

Em 2017, Timor-Leste retirou a queixa que tinha apresentado contra a Austrália no mais alto tribunal das Nações Unidas, o que foi visto como um ato de boa vontade antes do novo acordo que estabelece que a maior parte do rendimento do Mar de Timor pertence a Díli.

A Austrália confirmou em junho que havia acusado um ex-espião australiano e o seu advogado de conspiração por revelarem informações secretas relativas à alegação de espionagem.

JMC //MIM

Moçambique | Ossufo Momade: "Estamos preparados para uma vitória retumbante"


Em entrevista exclusiva à DW África, líder interino da RENAMO diz ter "a máxima certeza" que o partido vai vencer as autárquicas. Sobre a fuga de quadros do MDM para a RENAMO, fala em "filhos" que voltam a casa.

O líder interino da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, não tem dúvidas: o maior partido da oposição vai vencer as eleições autárquicas de 10 de outubro.

Numa conversa exclusiva com a DW África, Momade fala da polémica em torno da "fuga de quadros proeminentes" do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) para a RENAMO, afirmando que é natural receber de braços abertos os filhos que voltam para casa e querem ajudar o partido a vencer as eleições.

Depois das eleições, diz o líder interino, será altura para eleger o sucessor oficial de Afonso Dhlakama. 

DW África: Especulou-se sobre uma possível coligação entre a RENAMO e o MDM. Porque é que ela não vingou?

Ossufo Momade (OM): Eu não sei quem é que havia falado, mas do nosso lado nunca houve essa intenção. Nunca tivemos a intenção de nos coligarmos com o MDM, o partido nunca falou sobre isso.

DW África: A RENAMO não pondera coligar-se com outras forças para ficar mais forte e conseguir mais facilmente alcançar os seus objetivos?

OM: Não, isso vai depender dos próprios órgãos do partido. Neste momento, está a falar com um membro da RENAMO que é coordenador da Comissão Política - não posso adiantar nada em relação a isso. Só depois de um encontro do coletivo pode sair uma posição adequada em relação a esse propósito.

DW África: A RENAMO está a desfalcar o MDM, tirando os seus mais proeminentes quadros, e não só. Porque é que optou por esta estratégia?

OM: As pessoas é que aparecem, voltam para casa. Quando um filho volta para casa, é um bom filho, recorda-se do pai. Nós recebemos com as duas mãos. A estratégia do partido é colocar as pessoas nos lugares próprios, que possam ajudar o partido a ir para a frente. Todo o partido quer progredir e a progressão é a vitória em qualquer eleição.

DW África: O facto de a RENAMO ter ficado fora das corridas autárquicas nos últimos anos foi determinante para apostar em figuras bem aceites, experientes neste tipo de corrida eleitoral?

OM: Esses que entraram no MDM – porque alguns apostaram no MDM, uma vez que a RENAMO não tinha concorrido – agora, com a possibilidade de a RENAMO concorrer a estas eleições em outubro, pensam que o único partido que pode garantir a vitória é a RENAMO. Por isso, eles próprios voltaram para casa. Temos confiança na vitória nas autarquias. Sabe-se muito bem que a maioria que está no MDM é da RENAMO. Agora, quando um filho volta para casa, nunca é chutado. Por isso, apostamos nos quadros que ontem estavam na RENAMO e hoje voltaram. O partido não teve outra opção a não ser confiar neles na liderança das listas do partido.

DW África: O que espera das autárquicas de outubro?

OM: A vitória. Espero a vitória, na medida em que estamos preparados para uma vitória retumbante em várias autarquias. Essa vitória vai-nos conduzir a uma vitória em 2019.

DW África: E se tal não acontecer?

OM: Vai acontecer. Temos a máxima certeza. A FRELIMO tentou boicotar a sessão extraordinária [no Parlamento, para debater a legislação eleitoral] porque estava a ver-se numa situação complicada.

DW África: Substitui um líder carismático e bem aceite, tanto na ala política como na ala militar. Foi também bem aceite nas duas correntes quando foi indicado para o cargo que ocupa atualmente?

OM: É difícil responder, na medida em que eu fui eleito através da Comissão Política e, neste momento, estou sediado onde estava o líder, na serra da Gorongosa. A eleição foi na parte política e hoje estou a conviver com aqueles que sempre conviveram com o presidente - a ala militar. Resta-me saber... (risos) é uma pergunta complexa.

DW África: Quando será eleito ou indicado definitivamente o líder da RENAMO?

OM: Neste momento, temos uma preocupação: as eleições autárquicas. As atividades políticas estão a decorrer normalmente. Depois dessas eleições, pensamos realizar o congresso e é daí que vai sair o presidente do maior partido da oposição.

DW África: Quando é que planeia sair da Gorongosa?

OM: A minha saída será depois da conclusão de todo o processo de integração das forças residuais da RENAMO [nas Forças de Defesa e Segurança] e desmobilização daqueles que não vão poder estar na polícia.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

HIV/SIDA | Cada vez mais denúncias de contaminação intencional em Angola


Há diariamente novas denúncias de contaminação propositada com HIV, segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA. Organização alerta que é preciso mais investimento público para ações de combate.

Todos os dias, há pelo menos 10 denúncias de pessoas contaminadas de propósito com HIV, de acordo com dados da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO).

A contaminação dolosa é crime. Em Angola, os autores incorrem em penas de até 24 anos de prisão. Mas muitos casos não são denunciados na Justiça, as vítimas temem represálias dos agressores, e o problema agrava-se.

O coordenador da ANASO, António Coelho, diz que o número de denúncias aumentou, mas que ainda há um longo caminho a percorrer, e pede urgentemente uma mudança de atitude, "no sentido de abandonarem tal prática e se juntarem a nós na sensibilização daqueles que ainda entendem que devem contaminar os demais."

Punição

Não é a primeira vez que se fala em contaminação dolosa em Angola. Há dez anos que o assunto é debatido com frequência na sociedade, mas, segundo o jurista Agostinho Canando, o Estado tem sido demasiado brando na aplicação da lei.

Canando comenta que a Procuradoria-Geral da República tem de intervir. "Se a onda de contágios continuar, volta e meia, teremos uma Angola toda contaminada porque a PGR nunca faz nada", diz.

No entanto, cientistas referem que não está provado que a criminalização resolve o problema da contaminação dolosa. Dizem, inclusive, que leis "mal concebidas" podem até piorar a situação, porque levam os agressores a esconder-se e não procurar ajuda, segundo um documento publicado durante a conferência internacional sobre a SIDA, que termina esta sexta-feira (27.07) na Holanda.

Na conferência deste ano, o ressurgimento de novos casos da doença em alguns países do mundo foi uma das preocupações. Milhares de ativistas pediram maior acesso a medicamentos antirretrovirais e mais dinheiro para campanhas de sensibilização sobre o HIV.

Combate ao vírus requer mais recursos

Segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA, nos últimos anos, Angola tem registado em média 25 mil novas contaminações com HIV e 13 mil mortes de pessoas infetadas. As províncias do Kuando Kubango, Cunene, Moxico, Lundas, Kwanza-Norte e Luanda registam o maior número de contágios. As mulheres são as mais afetadas e os kovens entre os 15 e os 24 anos são a faixa etária mais vulnerável.

António Coelho, da rede ANASO, pede ao Governo angolano mais financiamento, para se intensificar a luta contra o HIV/SIDA no país. "A situação da SIDA em Angola continua preocupante e, em alguns casos, alarmante. No atual contexto, a resposta é fraca, sobretudo, por falta de fundos e de compromissos."

O responsável sublinha ainda que é preciso um debate alargado na sociedade sobre estas questões e acabar, de uma vez por todas, com a discriminação de pessoas com HIV.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Angola | DOS NOSSOS REFÉNS TRATAMOS NÓS


Sem qualquer cerimónia, duma forma rudimentar como que a realçar a truculência militar, o general-presidente João Lourenço esmurrou a mesa da diplomacia exigindo a Portugal que enviasse, em papel, claro, o processo contra Manuel Vicente, o seu protegido de estimação.

Sedrick de Carvalho | Folha 8 | opinião

A justiça portuguesa ainda levou o calhamaço processual ao tribunal de Lisboa, mas depois cedeu aos bastidores diplomáticos retirando o ex-vice-presidente de Angola do rocambolesco caso de corrupção de procurador do Ministério Público.

Pouco depois, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, declarou que a instituição que chefia não tem condições técnicas para investigar processos de natureza complexa, como, por exemplo, os indícios de crimes da antiga direcção da Sonangol chefiada por Isabel dos Santos e referidos pelo actual presidente do conselho de administração.

A 20 de Outubro, menos de um mês desde a sua nomeação, Carlos Panzo foi exonerado do cargo de secretário dos assuntos económicos do presidente da República alegadamente por ser alvo de uma investigação por parte da Procuradoria Federal Suíça. A investigação é sobre suspeita de lavagem de dinheiro, mas é apenas, como referiu a porta-voz suíça, uma investigação e Panzo está coberto pela presunção de inocência até prova em contrário.

O procurador-geral angolano à altura era o nefasto João Maria de Sousa, um habilidoso protector de corruptos da sua laia, e deu um pequeno espectáculo mediático antes de abandonar a casa da mãe Joana. Em conferência realizada numa noite em finais de Novembro, João Maria confirmou ter aberto um inquérito contra o exonerado e que seria pedido à congénere suíça, mediante carta rogatória, o envio dos elementos de provas.

Entretanto, João Maria foi substituído quase um mês depois. Meses passados e a carta rogatória ainda não foi respondida. E Carlos Panzo continua, aparentemente, longe dos corredores da presidência. A questão que se coloca: como se justifica a exoneração e abertura de inquérito contra Carlos Panzo, simples investigado na Suíça, perante a blindagem canina presidencial a Manuel Vicente, amplamente investigado e, principalmente, acusado em tribunal português?

A couraça com que se reveste Manuel Vicente ganhou forma de conselheiro para assuntos de petróleo e gás do presidente da República, para além de ser deputado à Assembleia Nacional. Ou seja, um foi afastado supostamente para não macular o timoneiro contra a corrupção, mas, dias depois, o mesmo timoneiro associa-se a um sujeito do topo da pirâmide da corrupção em Angola. Mas a diferença entre o conselheiro e o ex-secretário é longitudinalmente grande tanto no formato como no objecto.

No formato, o estatuto de conselheiro não vincula o sujeito ao governo, mas no objecto se destaca pela importância perante o aconselhado, dependendo largamente do que este disser sobre a matéria específica. O secretário é vinculativo ao Executivo, pela super-presidência, no formato e objecto.

Amarrado ao parlamento, que lhe confere imunidades nos termos do artigo 150.º da CRA, para além do estatuto de ex-vice-presidente da República, Manuel Vicente está mais sob as rédeas do novo-quase-dono-disto-tudo, faltando tornar-se o plenipotenciário do partido.

Os filhos de José Eduardo dos Santos também estão encurralados, e Isabel e Filomeno dos Santos começam a sentir cada vez mais o cerco a apertar-se. O processo que decorre no tribunal de Ghent, Bélgica, sobre esquemas de certificação e venda de diamantes que favoreceram Isabel dos Santos através da Ascorp, e em que foram apreendidos oito mil milhões de dólares, é outra corda no pescoço da primogénita do ex-rei sol, que se encontra no cadafalso também com a Atlantic Ventures.

O general Geraldo Sachipengo Nunda, ex-chefe do Estado-Maior General das FAA, arrolado no processo “Burla à Tailandesa”, arrisca-se a ser o primeiro membro sénior da nomenclatura a sentar-se no infame banco dos réus nesse xadrez judicial que se inicia intramuros.

Sem se compreender se realmente a tentativa de burla é o verdadeiro motivo para constituição do general em réu, o certo é que Sachipengo Nunda não é apenas ex-chefe do Estado-Maior General das FAA mas também, e talvez mais importante, empresário diamantífero em sociedade com vários generais, como os irmãos Luís e Emílio Faceira.

Todos esses processos, desde Manuel Vicente e Carlos Panzo, passando por Isabel dos Santos e Zenú, Nunda e companhia, são instrumentos de controlo às mãos de João Lourenço, que continuará a negociar a transladação de processos judiciais e a instaurar outros contra figuras que eventualmente se neguem a endeusá-lo, tal como o jovem António Rodrigues que não tomou posse como ministro e agora passa pelo crivo da PGR.

Colocados em xeque, o fatal mate estará dependente do movimento dos intimados. Assim, podemos dizer que João Lourenço está apenas a dizer que dos nossos reféns, como Manuel Vicente e Isabel dos Santos, tratamos nós.

Guiné-Bissau | PM pede provas do tráfico de droga no país


Confrontado com recentes declarações do líder do Parlamento sobre o tráfico de droga, Aristides Gomes pede a Cipriano Cassamá que apresente mais dados e estratégias de combate.

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, desafiou o líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, a apresentar provas e estratégias de combate ao tráfico de droga que disse estar a aumentar no país.

"Nós gostaríamos que essa pessoa que citou [Cipriano Cassamá] ponha à disposição das autoridades nacionais e estrangeiros os dados de que dispõe para que se possa colaborar na resolução do problema", afirmou Aristides Gomes, em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, este sábado (28.07), à chegada de uma visita de dois dias à Guiné-Conacri.

Ao discursar numa sessão parlamentar na passada quarta-feira, Cipriano Cassamá, que não citou nomes, disse que o tráfico de droga voltou ao país e pediu que se parasse com o que considera de anarquia na Guiné-Bissau.

"As pessoas devem parar com o negócio de droga. As pessoas têm que parar com anarquia neste país", afirmou Cassamá, que se expressava em crioulo, numa sessão extraordinária no Parlamento, perante deputados. 

Sem citar casos concretos e num tom visivelmente irritado, o líder do Parlamento exortou os guineenses a procurarem "outras alternativas para melhor gerir o país", nomeadamente a criação de impostos, ao invés da venda de droga, observou.

Cipriano Cassamá questionou "a quantidade de aviões que chegam ao país", para assinalar a "venda de droga" que, notou, acontece nos últimos tempos.

Tema recorrente

Confrontado com estas declarações, o primeiro-ministro guineense admitiu que "há dificuldades nessa matéria", mas pediu a quem tiver provas que colabore com as autoridades.

"Que eu saiba fui a primeira autoridade da Guiné-Bissau a denunciar, a fazer uma análise e apresentar propostas concretas sobre essa matéria", assinalou Aristides Gomes, sem nunca referir a palavra droga.

O narcotráfico é um tema recorrente na Guiné-Bissau. Em fevereiro do ano passado, numa entrevista exclusiva à DW, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, acusou o Governo guineense de fechar os olhos à entrada de droga no país e apontou o dedo ao Presidente da República, José Mário Vaz, acusando-o "de estar ligado ao negócio do narcotráfico".

Lusa | em Deutsche Welle

Portugal | O lixo na política

Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

O caso Ricardo Robles trouxe para a praça pública a discussão sobre os vícios à Esquerda e à Direita, como se alguma ideologia carregasse consigo a exclusividade da transparência e do rigor. Nenhum partido ou corrente política pode invocar uma espécie de superioridade moral ou ética. É confundir os termos querer encontrar características humanas específicas de um ou de outro espetro político.

A questão, politicamente, é outra. É que se os erros e trapalhadas existem em qualquer quadrante, cabe aos próprios partidos pugnar pela verticalidade e pela coerência. De Catarina Martins espera-se bem mais do que invocar mentiras dos jornais e uma cabala contra o Bloco de Esquerda. As dúvidas esclarecem-se com factos e argumentos. Não com desculpas esfarrapadas.

Exigir clareza neste caso não é uma questão de falso moralismo, como também se tem ouvido. Claro que todos os cidadãos têm o direito de fazer negócio e de investir em qualquer ramo. A diferença, no caso de quem está na vida pública, é que tem de o fazer em coerência com o que diz, com as iniciativas políticas que toma e com as leis que promove ou vota. A responsabilidade do detentor de um cargo público é acrescida. Porque pode influenciar a vida de milhares de pessoas, porque mexe na gestão de dinheiros públicos, porque escolheu ter uma missão e poderes que o cidadão comum não tem.

Faltam, nos tempos que correm, políticos inspiradores. Impolutos, verticais, carismáticos e mobilizadores. Na vida pública há formiguinhas incansáveis e que vestem a camisola, claro que sim. Mas é difícil acreditar e evitar a desconfiança que se instalou na sociedade em relação aos políticos. Cabe-nos exigir mais e elevar a fasquia ética na vida pública. E cabe aos partidos manterem as casas exemplarmente limpas. Da Esquerda à Direita. Sem se desculparem com o lixo do vizinho.

* Subdiretora | Imagem em Editora Multicultural/Pedro Cardoso

Renúncia | BE reúne comissão de emergência para escolher sucessor de Robles


A direção bloquista vai voltar a reunir-se, esta segunda-feira à noite, em torno do caso de Ricardo Robles, na sede do partido, em Lisboa. Em cima da mesa, estará unicamente a decisão de quem irá substituir o agora vereador demissionário.

Esta é a segunda vez em três dias que o BE reúne em torno do caso de Ricardo Robles, que tem estado em destaque no panorama político nacional desde sexta-feira, por um prédio comprado, em Alfama, para investimento imobiliário. A comissão política tinha agendado a próxima reunião para 11 de setembro, mas a renúncia de Robles aos cargos na Câmara de Lisboa e na concelhia obrigou os dirigentes a convocar novo encontro.

Depois de a direção bloquista ter concluído que "a conduta do vereador Ricrdo Robles em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e continuará a propor" e de Catarina Martins ter saído em defesa do coelga de partido, o autarca veio, esta segunda-feira, a demitir-se de funções.

Na base da "decisão pessoal" tomada, está uma notícia avançada pelo "Jornal Económico", na passada sexta-feira, que dá conta que, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda, em 2017, reavaliado em 5,7 milhões de euros. A notícia caiu mal à oposição, com o PSD a pedir a demissão do bloquista, especialmente por Robles ser um acérrimo crítico da expeculação imobiliária.

Jornal de Notícias | Foto: Arquivo/Global Imagens

Ricardo Robles: Festa, canastra e boa comidinha


A “novela” Robles-BE ainda hoje dá letras na falta de melhor, também aqui no Curto que se segue. Sensatez do autor do Curto de hoje na abordagem, tirando uma ou outra farpa. Se fossem todos assim estávamos bem. Certo é que o “caso” surgiu com empolamentos, com mentiras, com falta de investigação apurada. Esses autores de ficção foram uns escribas de Maria-Vai-Com-As-Outras. Prescindiram do método com o rigor ético e profissional dos jornalistas. E desses estão a haver demasiados. Pior para nós, os leitores. Pior ainda mais para os que permitem serem manipulados.

Que o vereador do BE, Ricardo Robles, “tinha ganho milhões de euros numa operação imobiliária” e era mentira. Catarina também o disse, com verdade. Porém, esconder o bocadinho do sol com a peneira também foi o que fez. Na verdade tudo indica que antes houve intenção de Robles e associada (irmã?) de venderem com lucros especulativos um imóvel. Depois alguém recuou, ao que se julga saber… Diz-se que “à mulher de César não basta ser, tem de parecer”. Robles, não pareceu, à priori, realmente contra a especulação imobiliária no que era de sua propriedade. Pois. Está dito. Comerem-nos por parvos é que não.

Robles demitiu-se dos cargos

Mas Robles hoje demitiu-se de vereador e dos órgãos do Bloco de Esquerda. Já é notícia. Fez bem. Alivia o BE do fantasma que criou. Além disso agora já pode retomar o negócio e-s-p-e-c-u-l-a-t-i-v-o com imóveis. Aquele que foi referido e outros mais. Ninguém tem nada com isso. Uns milhões de euros mais dão um jeitão. A maioria dos portugueses era o que queria, dava-lhes jeito e sempre seria um desafogo. Festa, canastra e boa comidinha. Quem não quer?

Outros temas interessantes pode ler neste Curto que apresentamos tardiamente e que vem a seguir. Amanhã é outro dia. Goze o sol que aparece de vez em quando neste ‘inverão’. Saúde. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Venham a nós os “casos” políticos

Pedro Lima | Expresso

Bom dia,

Não há nada como uma boa história política, onde se confronta a conduta de um político com as declarações que foi fazendo ao longo dos anos, para animar estes tempos em que parte significativa dos portugueses mergulha de férias. Ainda para mais quando essa história é apimentada pelo facto de incidir sobre o Bloco de Esquerda e sobre o tema tão na ordem do dia da especulação imobiliária. O Bloco é o tradicional partido da contestação em Portugal e raramente é alvo de polémicas, por isso é natural um certo frisson em alguns sectores mais à direita com este tema que marcou o fim-de-semana.

O “caso Robles”, iniciado com a notícia do Jornal Económico de sexta-feira que dava conta de que o vereador da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda, tinha a intenção de vender um prédio em Alfama, adquirido em 2014, gerando uma mais-valia de 4,7 milhões de euros, continua assim a dar que falar. Luís Marques Mendes, no seu comentário deste domingo da SIC, resumia desta forma a sua análise ao caso: compromete a carreira política de Robles e o Bloco e a sua líder, Catarina Martins, “saem muito mal desta história”.

Não está em causa qualquer ilegalidade, mas sim a incongruência do discurso contra a especulação imobiliária e a prática de Robles – é o que mais se tem ouvido por estes dias. Mas Catarina Martins reagiu, algo enervada, disparando contra a imprensa e contra o PSD, que pediu a demissão de Robles. Rui Rio reagiu, algo irónico, dizendo que achou uma “certa piada” à reação da líder do Bloco. O prédio foi vandalizado – alguém pintou na parede a frase “Aqui podia morar gente”, o slogan que o partido utiliza para colocar em edifícios devolutos. E o caso parece começar a ter consequências dentro do próprio Bloco, a julgar pela afirmação feita na edição de hoje do jornal “i” por Luís Fazenda, fundador e dirigente do partido: “O Bloco tem de fazer uma reflexão e tirar conclusões”. Aguardam-se por isso reações a esta reação.

Entretanto, o tema já envolveu a Presidência da República, que veio desmentir ter na sua posse, à espera de promulgação, qualquer lei relacionada com o direito de preferência dos inquilinos na compra dos imóveis colocados à venda pelos proprietários. Catarina Martins tinha dito que só faltava a promulgação do Presidente para que essa lei, que "põe em causa interesses mobiliários", fosse para a frente mas afinal o Bloco teve de vir esclarecer que a lei já foi aprovada no Parlamento e cabe aos serviços da Assembleia da República enviá-la ao Presidente – o que ainda não aconteceu.

E, como é tradição nestas coisas, vão surgindo novas revelações de um caso que parece ter vindo para ficar e que não vai largar o Bloco de Esquerda tão cedo. O dono de um café de Alfama conta como foi “despejado” por Ricardo Robles.

Entretanto, enquanto o país se distrai com estes desenvolvimentos – e com as tricas políticas que lhe estão subjacentes -, há um Serviço Nacional de Saúde (SNS) em agonia. Francisco Louçã chamou-lhe o “incêndio deste verão”, no artigo que assina no caderno de Economia do Expresso deste sábado: “Vai ser preciso gastar muito para salvar o SNS, que hoje só sobrevive pela tenacidade e amor-próprio de profissionais desesperados”. Se não leu, não perca aqui.

E há transportes públicos a rebentar pelas costuras. O caso da CPé uma vergonha nacional, grita-se aos quatro ventos. Mas o que é certo é que ano após ano a situação piora. O Governo garante que agora é que é: o concurso para a compra de comboios está a ser preparado. E a supressão de comboios que está prevista, nomeadamente para as linhas de Cascais e de Sintra, só será válida durante os meses de agosto e setembro.

OUTRAS NOTÍCIAS

Mais um título para o futebol português – a final do Euro sub-19 deu a vitória a Portugal frente à Itália. Foi um jogo cheio de golos, com algumas reviravoltas, mas em que Portugal levou a melhor vencendo por 4-3 – e é um bom augúrio para uma série de jogadores que há dois anos já se tinham sagrado campeões europeus sub-17 no Azerbaijão. E uma excelente notícia para o país, que tem pela frente mais uma geração de ouro. Pode ver aqui as fotos dos festejos dos novos campeões da Europa.

E vão… nove. José Maria Ricciardi vai também candidatar-se à presidência do Sporting. Se dúvidas houvesse de que o clube está vivo, o número de candidatos às eleições de 8 de setembro no Sporting talvez conseguisse dissipá-las. O antigo homem forte da banca de investimento do grupo Espírito Santo não surpreende com esta candidatura – há anos que declara publicamente o seu amor ao clube. Junta-se a Frederico Varandas, Pedro Madeira Rodrigues, Fernando Tavares Pereira, João Benedito, Zeferino Boal, Dias Ferreira, Carlos Vieira e Bruno de Carvalho na lista de candidatos.

Este domingo foi também dia de Chão da Lagoa, e logo com um regresso de peso: Alberto João Jardim deu um ar da sua graça e a sua presença foi mesmo um dos pontos altos da tradicional festa do PSD-Madeira. Enterrado o machado de guerra dentro do PSD madeirense, as baterias voltaram a estar viradas para o governo da República e para a Geringonça. Rui Rio também lá esteve, com elogios a Jardim. Segundo disse o líder do PSD, para alguém ser primeiro-ministro tem de ir primeiro ao Chão da Lagoa.

Os incêndios continuam na ordem do dia na cena internacional: na Grécia o balanço das vítimas mortais já vai nas 91 e na Califórnia os fogos voltaram a estar na ordem do dia neste fim-de-semana. Portugal tem estado livre desta tragédia este ano. E há mesmo especialistas que dizem que a probabilidade de grandes fogos este verão é muito baixa.

Vêm aí dias muito quentes, com os termómetros a poderem chegar aos 44 graus no Alentejo. A “culpa” é de uma massa de ar quente e seco vinda do Norte de África.

Foi libertada a adolescente palestiniana que agrediu dois soldados israelitas. Esteve oito meses presa e foi recebida em festa em Ramallah. É mais um símbolo da luta dos palestinianos em mais uma altura de ânimos exaltados naquela região do Médio Oriente.

Hoje é o Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas. Há uma estimativa que aponta para que cerca de 21 milhões de pessoas sejam vítimas de trabalho forçado. O Papa Francisco pediu ontem uma luta firme contra este crime.

PRIMEIRAS PÁGINAS

“Algarve precisava de 67 médicos no Verão mas não chegou nenhum” – Público

“Disparam morte de condutores com álcool no sangue” – Jornal de Notícias

“Associação de proprietários diz que Ricardo Robles promove o alojamento local” – I

“160 casais esperam doação de esperma” – Correio da Manhã

“ANA tem de fazer mais estudos sobre o Montijo” – Jornal de Negócios

“São de ouro” – A Bola

“Putos de ouro” – Record

“Ouro ao minuto Éder” – O Jogo

O QUE EU ANDO A LER

“Saberes nómadas”, de Eduardo Esperança, professor no Departamento de Sociologia da Universidade de Évora, propõe-nos uma viagem em jeito de reflexão ao conhecimento, património e valores sociais num mundo em que a informação está por todo o lado.

“A nova necessidade de atenção cresceu a tal ponto que começou a crescer o número de companhias que pagam a quem visitar os seus sites”, pode ler-se numa das passagens do livro sobre “o valor da atenção”.

“Ocorre-me frequentemente ter de mostrar aos meus alunos mais jovens como era o trabalho de investigação antes do Google e da Web, frente a uma estante com livros e muitos papéis em cima da mesa; deslocações infindáveis às bibliotecas onde se poderia encontrar tal documento ou livro, e o prazer, que entretanto desapareceu, de fazer uma viagem de dois ou três mil quilómetros, a Paris ou a Londres, para encontrar um livro, uma edição, uma biblioteca e voltar com a sensação de ter acrescentado uns metros ou um nó ao novelo do conhecimento”, conta o autor.

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