segunda-feira, 23 de julho de 2018

ERA UMA VEZ O COMUNISMO, QUE DEU LUGAR AO CONSUMISMO COMPULSIVO



Um Curto muito curto de luz limitada contradiz o adágio composto por “Candeias à frente iluminam duas vezes”. Mas há candeias que não iluminam nada, ao princípio. Só lá mais para o fim.

Vai haver quem não goste nada de ler o atrás. Provavelmente nem o à frente. Paciência. Mas pior só a seguir. Provavelmente nem entendem nadinha do que está a ser aqui escarrapachado. Pois, é uma questão de interpretação. Explicar melhor? Não. Este é o Curto do Expresso e é para lá que vão. Estamos na época estúpida do ano nesta coisa das letras impressas e/ou online, nas notícias, nas férias, na dita falta de notícias… Mentira. Levantem lá o traseiro da cadeira e saiam para as ruas, para os casarios dos pobretanas, para os tais bairros sociais, reportem a miséria, as injustiças, os casos escabrosos. Ou embrenhem-se no interior do país e deixem de ver “bonito” o que é feio e um atraso de vidas. Deixem-se de merdas e trabalhem no duro. Ganham para isso e muito mais. Gastem menos com essas manias das grandezas. Pois. Quem? Ora, eles sabem quem. Só se pica quem tem as barbas na fossa deste consumismo desbragado, os cabeças tontas. E depois dizem que ganham pouco, apesar de contabilizarem mensalmente vários salários mínimos… Porra, e mesmo assim o dinheiro não chega? Têm de recorrer a empréstimos? A pagar juros e prestações disto e daquilo. 

Pois não chega, há por aí muitos que dias antes de receberem têm de limpar o “sim-senhor” a folhas de edições de propaganda dos supermercados e outras publicidades que encafuam nas caixas de correio, porque nem já há para comprar papel higiénico. Enfim, até que esta é a realidade de uns quantos (muitos) desses tais que dizem e choram-se por ganharem pouco apesar de contabilizarem mensalmente vários salários mínimos (repetição). Ganham pouco ou gastam à toa e demasiado? Pois. Manias das grandezas. Que tal visitarem o psiquiatra ou similar? Ou ganharem consciência da porcaria de sociedade em que estamos inseridos... Bem, há os que estão à margem. Os marginais.

Adiante. Adiante pode ler o Curto. Bom dia, boa semana. Saúde, sorte, dinheiro para gastos e boas festas aos animais. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Pedro Candeias | Expresso

O fim do comunismo, as capitulares de Trump, a retenção de crianças e os bebés por encomenda

No primeiro dia de 1959, o ditador Fulgencio Batista fugiu de Cuba para a República Dominicana – mais tarde fugiria para o Funchal –, o guerrilheiro Fidel Castro tomou o poder e o mundo mudou outra vez, desta vez a partir de uma pequena ilha comunista a menos de 400 quilómetros de Miami.

Inevitavelmente, porque o território era limitado e geograficamente desirmanado da Mãe-Rússia, Cuba acabou isolada numa bolha ideológica e física, fechando-se dentro dela com os cubanos, com o regime e os seus ideais, virtudes e defeitos.

Um deles, talvez o maior de todos, a intolerância à diferença, e poucas coisas a representaram tão bem como as UMAP, as Unidades Militares de Ayuda a La Produción, suavização para campos de trabalho forçado de 60-horas-semanais-a-sete-pesos-por-mês.

Era para lá que se enviavam os homens que não queriam cumprir serviço militar (daí, Unidades Militares) por objeção de consciência, mas também os homens religiosos, como Testemunhas de Jeová, e os homossexuais, que eram identificados nas ruas de Havana pelas calças apertadas, óculos escuros e sandálias.

A viril Cuba não podia permitir.

Há relatos de tratamentos de choque e de hormonas e maus tratos avulso; e há um filme extraordinário que explica as UMAP e que é, também, o título de um livro: “Antes Que Anochezca”, de Julian Schnabel com Javier Bardem, que conta a vida do escritor Reinaldo Arenas, homossexual e contestatário de Fidel, que fugiu do país durante o Êxodo de Mariel. 

Ora, porquê esta introdução de cinco parágrafos com histórias do passado?

Porque, aparentemente, Cuba deixou de ser comunista - e o mundo vai mudar um bocadinho mais.

Contexto: a Assembleia Nacional prepara o anteprojeto para uma reforma constitucional histórica com 87 novos artigos e 117 modificações aos anteriores.

Conclusão: esta nova “Carta Magna” prevê, entre outras coisas, o direito à propriedade privada e a figura do primeiro-ministro, lançando as bases para uma uma espécie de liberalismo económico – tudo, claro, devidamente condicionado e supervisionado pelos desígnios do socialismo cubano. Porque “isto não quer dizer que renunciamos às nossas ideias”, atirou Esteban Laz, presidente da Assembleia Nacional.

Por outro lado, a Cuba renascida reconhecerá as relações homossexuais, já que a “Carta Magna” revista fala em “casamentos entre duas pessoas” e não entre “um homem e uma mulher”. E sobre isso falou Mariela Castro, filha de Raúl e sobrinha de Fidel, que é deputada e diretora do Centro Nacional para a Educação Sexual. “Com esta proposta de regulação constitucional, Cuba situa-se entre os países da vanguarda ao nível do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos”.

Contexto: Mariela Castro é a imagem do modernismo possível dentro de um país anacrónico. Acontece que ela é, digamos assim, ligeiramente ambígua, como este texto do El País explica: um dia, questionada sobre o escritor Reinaldo Arenas, falou em sobrevalorização cinematográfica de um autor mentiroso e pedófilo.
Conclusão: é complicado

P.S. O povo cubano irá ser consultado sobre esta nova constituição entre 13 de agosto e 15 de novembro.

OUTRAS NOTÍCIAS

A notícia foi manchete do “Público” de domingo, mas as reações mantiveram-na a pular de noticiário em noticiário até esta segunda-feira: o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deteve vinte menores em 2017 no CIT (Centro de Instalação Temporária) no aeroporto de Lisboa; a jornalista descreve uma “bebé de três anos” que está “detida há mês e meio”, o que representa uma clara “violação da convenção dos direitos da criança”. A primeira reação foi do SEF: as crianças não estão “detidas” e sim “retidas” - uma questão semântica - alertando para um aumento de “indocumentados e fortes indícios de tráfico de menores”. Depois, o PSD, por Duarte Marques, que disse que “Portugal tem uma tradição e prática política” de acolher bem. E em terceiro, o BE, por José Manuel Pureza, afirmou “o Estado português é estado parte na Convenção dos Direitos da Criança e portanto ou leva a sério essa circunstância ou, se não leva, a situação é grave”. Acho que todos concordamos com isto.

O que também é grave para a generalidade do planeta, mas na singular cabeça de Donald Trump nem por isso, são as constantes informações que o vão colando a um grande esquema de conluio com a Rússia de Putin durante a campanha para as presidenciais. No domingo, a Administração Trump revelou documentos e transcrições de gravações confidenciais da investigação do FBI a um dos antigos conselheiros de Trump, Carter Page, com o objetivo de mostrar que o processo está inquinado desde o início. “É cada vez mais claro que a campanha de Trump foi ilegalmente espiada para ganhos políticos da Crooked Hillary Clinton e dos democratas”, lançou The Donald no Twitter. O New York Times escreve que o presidente deixou convenientemente de fora dos 280 carateres as suspeitas do FBI sobre Page, pois nos documentos está especificado isto: “O bureau acredita que Page foi um dos alvos de recrutamento da Rússia e que estava a colaborar e conspirar com os russos”. Adiante, que as miudezas não lhe interessam, apenas as capitulares do Twitter com ameaças musculadas ao Irão para criar cortinas de fumo – é que, na quarta-feira, Paul Manafort, outro antigo conselheiro sinistro, irá a julgamento.

Farto de julgamentos públicos, Mesut Özil deixou a seleção da Alemanha. Num longo comunicado, o internacional acusou de racismo o presidente da federação alemã de futebol e também alguns media e figurões da sociedade germânica. “Chamaram-me porco turco e violador de cabras e mandaram-me para Anatólia. Quando a Alemanha ganha, sou alemão,quando perde, sou turco”, escreveu Özil no comunicado. As críticas ao talentoso médio ofensivo aceleraram quando tirou uma fotografia com o presidente Erdogan.

Por fim, o pacífico, evoluído e democrata Canadá de Trudeau volta a não ficar bem na foto: um tiroteio em Toronto resultou em duas mortes (uma delas, a do atirador) e 13 feridos, sendo que, no meio destes, há uma menor ainda em estado crítico. Há relatos de 25 tiros um país em que, escreve o Expresso, as mortes por violência armada na cidade canadiana aumentaram 53% até ao momento, em relação a igual período do ano passado. Ainda de acordo com informações da polícia, divulgadas na semana passada, o número de tiroteios subiu 13.

Manchetes dos jornais:
“Jornal de Notícias”: “Rendas em atraso nos bairros sociais somam 48 milhões”
“Correio da Manhã”: “Centeno trava carreiras na função pública”
“Público”: “Professores? ‘O OE é para todos os portugueses’”
“I”: “Festivais obrigam os agentes a trabalhar em dias de folga”
“Jornal de Negócios”: “Idade média da reforma no privado sobre para 64 anos”

FRASES

“Nos anos 90 os árbitros eram compravam-se árbitros como se compram tremoços. Trios de arbitragem, não era só o árbitro” Manuel-decano-dos-decanos-José, em entrevista à Tribuna Expresso

“Atenção, este não é um movimento de apoio à minha candidatura, mas sim para garantir que todos os sócios poderão concorrer livremente às eleições de 8 de setembro” Bruno de Carvalho, no sítio do costume, a propósito de uma recolha de assinaturas que decorre esta segunda-feira

“Deputados nunca deviam ter feito acordo. Se Manuel Pinho não queria falar sobre isto, não ia. Tem algo a esconder” Marques Mendes, na SIC, sobre as não-respostas de Manuel Pinho, um clássico à portuguesa

“Não há nada pior para a estabilidade política do que ter políticos que, de repente, se tornam impacientes” Manuel-zen- Centeno, em entrevista ao “Público”

“Ronaldo é um pouco narcisista e infantil” John Carlin, fã assumido e irredutível de Messi e do Barcelona, entrevistado pelo “DN”

O QUE ANDO A LER

É impossível ignorar as premissas: hoje, é mais provável morrer por comer em demasia do que por fome, há mais gente a morrer por suicídio do que em guerras ou crimes violentos. Em “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã”, a sequela de “Homo Sapiens”, o autor Yuval Noah Harari traça-nos cinicamente um futuro dominado pela tecnologia e pelo Homem que quer assumir o papel de Deus que matou, transformando o meio em que vive, transformando-se a si na busca pela perfeição.

Harari diz-nos que teremos bébés feitos por encomenda, sem dispensar a consulta prévia num catálogo; que seremos dominados pela fixação criada em torno das métricas e da análise obsessiva dos dados, a que ele chama “dataísmo”; que criaremos uma classe social saudável e com uma esperança média de vida longuíssima, mas perigosamente inútil, porque as máquinas vão substituir o trabalho humano e a isso se chama redundância e exclusão.

O autor traça-nos um cenário apocalíptico de seres supersaudáveis e indistinguíveis uns dos outros que irão querer viver para sempre – e eu não sei muito bem o que achar disto tudo enquanto escrevo este Expresso Curto com um portátil ao colo, um olho nas métricas do Google Analytics, e como aveia integral com fruta dita biológica, por causa das coisas.

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