Manuel
Barbosa | Jornal de Notícias | opinião
Quase
parecia que Ronaldo tinha marcado um autogolo. Ou pelo menos foi o que
sugeriram alguns dos que estão no lado esquerdo do campo.
"Lamentável", atirou o deputado socialista João Galamba.
"Ridículo", juntou José Gusmão do BE. Parece uma "máquina de propaganda
norte-coreana", concluiu Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças grego.
A
esta hora, já o leitor percebeu que não se fala aqui do futebolista. Esse
também foi notícia por estes dias, mas por ter partido o nariz a um
guarda-redes. É do "Ronaldo do Eurogrupo", e concretamente do vídeo
em que parabeniza a Grécia pela sua saída limpa dos programas de resgate
europeus, que aqui se fala. Diz o Ronaldo dos outros e ministro nosso que a
Grécia "retomou o crescimento económico", que "estão a ser
criados novos empregos", que "a economia foi reformada e
modernizada" e, cereja no topo do bolo, que há um "superavit
orçamental e comercial".
Tirando
os eurocratas, poucos partilham, da Esquerda à Direita, da visão do otimista
Mário Centeno sobre o efeito da austeridade imposta aos gregos. A agência de
notícias Associated Press fez uma cronologia cujo título talvez seja o que
melhor sintetiza os últimos oito anos de vida dos gregos: "Desagradável,
brutal e longo".
Mário
Centeno até acrescenta que os efeitos do resgate ainda não são sentidos por
toda a população. O que traz à memória uma outra frase, de um outro defensor da
ortodoxia da austeridade, há quatro anos. "Eu sei que a vida das pessoas
não está melhor, mas não tenho dúvidas de que a vida do país está muito
melhor" foi a frase que fez o título de uma entrevista do JN a Luís
Montenegro, então líder parlamentar do PSD. É mais ou menos o que diz agora
Centeno aos gregos. Embora seja difícil perceber como pode a vida de um país
(seja Portugal ou a Grécia) melhorar sem incluir as pessoas de que é feito.
*Editor-executivo
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