Mortalidade - Fim de semana de
calor extremo com 643 óbitos
Entre sábado e as 21 horas de
domingo, morreram em Portugal 643 pessoas, 78,5% das quais com idade igual ou
superior a 75 anos. E 97% dos óbitos ficaram a dever-se a causas naturais.
Balanço, provisório, de um fim de
semana de canícula, com os termómetros a baterem recordes de temperaturas máximas
em diversos pontos do país. E que está já acima dos valores de mortalidade
geral estimados para aqueles dois dias.
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Joana Amorim | Jornal de Notícias
O calor mata os idosos, o que
convém à (in)Segurança Social
Pois então, a canícula mata que
se farta. A maioria da mortalidade abrange os mais idosos, os velhos e as
velhas, que depois de trabalharem uma vida inteira e de descontarem para a
(in)Segurança Social se vêem com pensões de miséria, que nem 10 euros por dia
atingem e a maioria nem com 15 euros por dia podem contar. São exatamente esses
que são relegados para o espetáculo dos governos quando aumentam essas pensões.
Fazem um grande alarido, pretendem transmitir uma grande felicidade e vai-se a
ver os aumentos são de miséria. Neste mês de Agosto há os que nem 5 euros vêem
de aumento – com sorte chegam aos 300 euros por mês – e os mais afortunados,
apesar da miséria que recebem podem contar com um aumento de 10 euros na
mensalidade pensionista. E os descarados da política governamental nem sequer
sentem um pingo de vergonha de aumentar pensões 0.33 cêntimos de euro por dia. Ou
a outros menos de metade desse valor.
Os velhos pesam, dizem eles por
palavras diplomáticas ou nem por isso. Os velhos foram quem deu sequência à
construção deste país, as gerações dos anos 40, 50 e 60, mais que qualquer
outra, abanou o salazarismo, o fascismo, concluindo esse abanão com o derrube
de tal regime em 25 de Abril de 1974. Portugal deve-lhes bastante. Mais que aos
atuais tecnocratas e outros vigaristas que falam com esses. Políticos, gentes
do empresariado, ladrões da dignidade da maioria dos portugueses que se debatem
nos finais dos meses com salários indignos, com condições de trabalho abusivas
e tantas vezes esclavagistas, com pensões miseráveis. Até porque era prática de
muitas entidades patronais não enviar as contribuições que descontavam aos
empregados para a Segurança Social, então Caixas de Previdência. Havia também
os que possuíam uma escrita paralela que só enviavam para essas mesmas Caixas
de Previdência o correspondente a cerca de metade dos vencimentos pagos. Isso
acontecia aos montes e a fiscalização era praticamente nula. Ou totalmente
nula.
Eis atualmente e de há muito
tempo o resultado das reformas de miséria. Como se não bastasse a prática dos
ordenados de miséria. No reverso podemos ver ainda alguns desses patrões e/ou
os filhos a abarrotarem de boa vida, de festa, canastra e boa comidinha (como
disse o poeta).
Os velhos e velhas de agora foram
roubados! Pelos patrões e por um regime que pactuava com eles e via os
portugueses como uma massa única de exploração sem precedentes. Na atualidade a
diferença desses tempos de roubo é muito pouca. Falam, falam, mas na prática
roubam o mais que podem, incluindo a dignidade de milhões de portugueses. O
conluio com os grandes e médios empórios patronais é mais que à descarada. A
fiscalização e a proteção aos trabalhadores/contribuintes é escassa ou até
nula.
Existem diferenças de uns tempos
para os outros. Evidentemente. Mas há setores em que as diferenças são muito ténues.
Os métodos de enganar, de explorar é que são diferentes, mais sofisticados e de
conluio com o legislador. Afinal sobrevivemos subjugados por uma máfia
instalada nos poderes. Máfia que se globalizou e sofisticou criando métodos que
possuem os mesmos objectivos: o engano, a ganância de lucros desmedidos, a
exploração, o capitalismo selvagem que se queixa da existência das populações
envelhecidas que foi quem lhes criou as riquezas e contribuiu com sangue, suor
e lágrimas, para construir os países. Quase sempre com muitos sacrifícios. Às vezes com muita fome. Muitas privações, muita exploração.
E então queixam-se dos velhos porquê? E então fazem festa "escondida" quando uma série deles vai morrendo porque não lhes
proporcionaram as condições de vida, saúde e proteção que mereciam?
Afinal a morte dos idosos, por
canículas, por seja o que for que “ajude” a desenvencilharem-se deles, dá jeito
e é de todo o interesse para a (in)Segurança Social.
Por mais que falem com falsas
palavras maviosas, com falsos apreços e carinhos, os que os nos poderes
personificam é a imagem dos carrascos da maioria dos idosos da atualidade. Piores tempos virão se nada mudar, pelo que se vislumbra. (PG)
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