segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SOB O OLHAR SILENCIOSO DE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO – III


Martinho Júnior | Luanda 
  
COMPASSO TERCEIRO DE QUATRO PEQUENOS COMPASSOS DE DECIFRAGEM HISTÓRICA

A independência nacional angolana segundo a saga do herói nacional António Agostinho Neto, só foi possível alcançar e preservar assumindo-a desde logo na luta armada e muito antes de sua proclamação, tornando-a intelectual, anímica e sensitivamente personalizável, entranhável e transformando todo esse empolgante fervor pessoal em actos estratégicos, vocacionados e abertos a um longo caminho que colectivamente os combatentes dessa e por essa causa, se dispunham a interpretar e trilhar.

A forja do homem livre chamado de António Agostinho Neto, foi vivida em sua própria vida, sendo crucial a aprendizagem intelectual da consciência crítica de luta que teve desde praticamente o seu nascimento em Catete (com a educação que recebeu a partir do berço) às universidades portuguesas, elas mesmo já em estado de maturação e contradição de ruptura, distanciando-se cada vez mais do enxofre do fascismo e do colonialismo de então.

Teve também a sabedoria de, ao aprendê-lo passo a passo desde a juventude na universidade duma vida em luta, com um inquebrantável espírito de missão estar aberto e sensível à experiência e aos ensinamentos daqueles que em Portugal assumiam também como sua essa luta, enfrentando na clandestinidade os desafios e os riscos impostos pelo monstro fascista e colonial.

Isso foi feito, isso ocorreu portanto e desde logo, enfrentando solidariamente os mesmos desafios e riscos que se prendiam a um discernimento capaz de mobilização de sua vontade e de outras vontades, transferindo sua preocupação vanguardista para Angola, assumindo Angola no âmbito dum movimento crescente e imparável, que os poderes dominantes levando por arrasto a vassalagem do próprio fascismo-colonialismo português, pouco a pouco tornaram tão combatido como o MPLA.

Isso foi feito com outros imprescindíveis lutadores e combatentes dessa época em que foi possível a libertação de África, com Amílcar Cabral, com Samora, com o Che e com Fidel de Castro, entre outros insignes lutadores de África disposta à libertação!

Isso foi feito por que sobretudo a aliança dos movimentos de libertação de África com a Cuba Revolucionária geraram por si a substância geoestratégica, o cimento da manobra libertadora no continente!

Isso foi feito por que se pôde começar a avaliar com consciência crítica inteligente e clarividente, com espírito de luta e vontade de assumir a liberdade, os conteúdos retrógrados da opressão colonial, do “apartheid” e do neocolonialismo, avaliando com respeito e ao mesmo tempo, quem, onde e como estavam as alianças capazes do seu reforço, tendo em conta as linhas de sua maturação histórica antes mesmo da germinação da luta de libertação em África.


O carácter de homem livre encarnado por António Agostinho Neto, antecipava nele e com ele a independência de Angola que se colocava no horizonte!

Assim homem livre e independência respondiam com identidade civilizacional à barbárie e às longas trevas impostas ao povo angolano e aos povos de África!

Entre ganhar a consciência crítica e assumir a capacidade estratégica para vitalizar o movimento de libertação MPLA, desde a génese do pensamento de António Agostinho Nero, foi a Casa do Império o pequeno passo talvez mais visível, mas outros pequenos passos alguns dos quais invisíveis mas seguros em sua época, por que assim houvera que ser, terão sido tanto ou mais decisivos, todos eles em estreita confluência…

A capacidade estratégica da luta contra o colonialismo, advém em António Agostinho Neto dessa maturação de consciência crítica tornada dialética e vanguardista, livre de amarras passadas e suas contemporâneas, como também livre em relação ao futuro tão ávido de justiça social, de socialismo, de amor, de dignidade, de coerência, de solidariedade, de internacionalismo e de imenso respeito para com a Mãe Terra!…

Esquecê-lo no seu exemplo pessoal e colectivo, inibindo a educação patriótica que aos angolanos é devida, é esquecer o húmus da pátria angolana e sua identidade, é quebrar o rumo patriótico que advém do movimento de libertação em África, é contribuir para que o domínio tentacular da hegemonia unipolar se instale e tolha as visões estratégicas nutridas pela memória e os ensinamentos de António Agostinho Neto!

Ao não se honrar o passado e a nossa história, ao não se evocarem a memória e os ensinamentos de António Agostinho Neto, ao se perder da clarividência socialista para se implantar a hipocrisia e o cinismo social-democrata, ou uma metamorfose elitista de última geração, quanto Angola, quanto África tem perdido de sua identidade, dignidade e coerência histórica e antropológica, quanto tem perdido de força anímica capaz de ampla mobilização, para levar por diante a longa luta contra o subdesenvolvimento?

Martinho Júnior. - Luanda, 10 de Agosto de 2018

Fotos:
- Conferência histórica alusiva aos 55 anos do MPLA, no dia 7 de Dezembro de 2011; intervenção do camarada Jorge Risquet (já falecido), companheiro da IIª coluna do Che no Congo e um dos artífices da linha da frente progressista informal contra o baluarte da internacional fascista e colonialista na África Austral (Exercício Alcora); foto tirada por mim nesse evento;
- Conferência histórica alusiva aos 55 anos do MPLA, no dia 7 de Dezembro de 2011; intervenção do camarada comandante Dibala, um dos comandantes de coluna que assinou a proclamação das FAPLA e apoiaram fielmente António Agostinho Neto na Conferência de Lusaka, quando o império fazia mais um esforço para neutralizar o MPLA na África Austral (Exercício Alcora); foto tirada por mim nesse evento.

Sem comentários:

Mais lidas da semana