sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Avante! Não há festa como aquela


Um dos grandes acontecimentos culturais de Portugal é a Festa do Avante. Nos dias 7,8 e 9 – este fim-de-semana – na Quinta da Atalaia, são milhares os que participam na festa. Do Jornal Avante passamos a citar sobre esta 42ª edição do evento, “aquele que é reconhecidamente um evento político e cultural sem paralelo: essa verdadeira cidade, onde está presente o País e boa parte do Mundo, na qual se respira alegria, solidariedade, fraternidade e confiança.

Da respetiva página da festa deixamos aqui o acesso do que lá vai acontecer nos vários palcos. Para completar escolhemos uma reportagem da TSF realizada “fora” dos dias da festa, nos dias em que no espaço da Quinta da Atalaia estavam equipas de voluntários a trabalhar para compor todos aqueles imensos metros quadrados e infraestruras em condições de receberem os milhares de visitantes e participantes que não faltam durante aqueles três dias de festa, de divertimento, de esclarecimento, de absorção de cultura, de convívio, de camaradagem e de bem-estar. Até porque os comes e bebes também não vão faltar.

Melhor que se inteirar minimamente via internete é ir até lá, ao outro lado do Tejo para quem está em Lisboa. Seixal, Amora, Quinta da Atalaia. Não há festa como aquela. (PG)


Os comunistas que abdicaram da praia para montar a festa do Avante

O Avante ocupa apenas três dias do calendário, mas demora todo um verão a construir. A TSF foi conhecer quem escolhe passar as férias a trabalhar, "por amor ao PCP", para erguer a maior festa dos comunistas em Portugal.

"São servidos camaradas?", ouvimos perguntar quando entramos na Quinta da Atalaia, no Seixal.
É hora de almoço. À volta de um grelhador, a assar febras e entremeadas, está um grupo de militantes do PCP.

"Estamos aqui a fazer uma assada para os camaradas. Também merecemos almoçar, não é?", diz-nos Tiago Matos, de 24 anos. É ele o cozinheiro designado para o dia.

Depois de uma intensa manhã de trabalho, que começa às 8h00 e só termina ao pôr-do-sol (às vezes, mesmo depois disso), este é o momento para uma pausa merecida.

Ao longo de três meses, são centenas aqueles que vêm para o recinto onde, todos os anos, o Partido Comunista Português organiza a Festa do Avante. Um híbrido entre festival de verão, comício político e qualquer outra coisa difícil de classificar. A Festa do Avante é, ela mesma, um género próprio.

Durante três dias (este ano a 7, 8 e 9 de setembro), todo o mundo cabe na Atalaia.

Para além de debates políticos, concertos, sessões de cinema, teatro, dança, desporto e exposições de artes plásticas, o evento conta ainda com variados espaços que trazem ao Seixal a cultura e gastronomia de todo o país (de Trás-os-Montes ao Algarve, passando pela Madeira e pelos Açores), aos quais se juntam os stands da Cidade Internacional, onde estão representadas mais de 20 nações (tão diferentes como a Alemanha, a China, a Bolívia ou Angola).

Uma festa para todos

Chegam de todos os cantos do país os que têm por missão construir a Festa, pelos seus próprios meios ou organizados nas jornadas de trabalho coordenadas pelo partido. Mas há quem venha de mais longe. São membros de partidos comunistas de outros países que atravessam fronteiras para arregaçar mangas e trabalhar na implantação da Festa.

Mais velhos, mais novos, com maior ou menor formação académica - encontra-se todo o tipo de pessoas entre os construtores da Festa.

Joaquim Filipe, de 80 anos -"um dos mais antigos construtores" da Festa do Avante, como faz questão de sublinhar - está a preparar os balcões do espaço de Santarém.

Vem para cá desde 1979 e, garante, está preparado para voltar pelo menos durante mais uma década. O segredo para continuar a trabalhar com afinco? O amor ao PCP. "Ah, e manter a linha", acrescenta.
"Tenho lá um casaco de malha, que comprei no ano da Guerra dos Seis dias [em 1967] e ainda serve! Se dissesse que comprei ontem, ninguém punha dúvidas!", exclama.

Damos mais um passos pelo terreno e encontramos o stand de Braga. Gabriela, de 5 anos, apelidada carinhosamente como "a princesa do Minho" pelos camaradas nestas paragens, brinca no relvado da festa, enquanto os pais carregam caixotes.

Não tem memória disso mas, desde que nasceu, nunca perdeu um Avante. Nos dias que antecedem a Festa, além de brincar, também já vai fazendo "uns trabalhinhos", como a própria diz. "Gosto de pintar nas paredes", conta. "É muito fixe".

O espírito do Avante e o amor ao partido

Quem também está a pintar, mas de forma mais profissional, é Elsa. Psicóloga de profissão, todos os verões se transforma em pintora, carpinteira ou canalizadora - o que for preciso.

"Isto, para mim, é como se fosse o meu Natal", confessa. "Aqui estou em casa, com a minha família e com os meus camaradas, a construir o nosso mundo, o mundo como nós o imaginamos e pelo qual lutamos".

Na Festa do Avante, todo o trabalho é voluntário. Ninguém é pago para desempenhar qualquer tarefa, e todos têm orgulho nisso.


Augusto Sousa, quem vem do Couço, distrito de Santarém, frisa que veio até à Atalaia pagando o seu próprio gasóleo, as suas próprias refeições e o bilhete de entrada (a 'EP'). "Se não fosse assim, eu não estava cá", garante.

Muito são os que ficam hospedados no parque de campismo do recinto, para poderem trabalhar em permanência.

Agostinho Gomes passou aqui o mês inteiro de agosto, a trabalhar durante as suas férias. "Eu quero é estar aqui. A nossa praia é a Atalaia", afirma. Tal como ele, também Augusto, Elsa e Tiago trocaram dias de sol junto ao mar por trabalho debaixo do sol no Avante.

A pergunta impõe-se: qual a explicação para esta dedicação inabalável?

"Para ser sincero, não tem explicação", admite Tiago. "É o convívio, é a militância... Não há palavras que consigam descrever o amor que cada um de nós tem a esta festa".

"Isto é um espaço de alegria. Há momentos em que sentimos um arrepio de pele por sentir que construímos isto", justifica Sílvio Sousa. Garante que, no final, "o cansaço, as noites mal dormidas ou até mesmo algumas feridas" (afinal, os construtores desta festa não são trabalhadores do setor da construção) - tudo vale a pena.

"A gente sente-se bem onde está bem", simplifica o camarada Agostinho. "E é aqui. Não há festa como esta".

Rita Carvalho Pereira | TSF

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