quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Quem se mete com a EDP leva?


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

Um conjunto de indícios não produz um facto. Mas ajuda a tipificar um comportamento duvidoso que parece indiciar uma estratégia. Com que fim? Logo veremos.

Vamos aos indícios. Dois dias antes de António Costa ter aproveitado o descarrilamento de Azeredo Lopes no Ministério da Defesa para regenerar o Governo, Eduardo Catroga, membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, deu uma entrevista ao jornal "Eco", em que desabafava: "Há alguma indignação dentro da empresa, dos acionistas da empresa, em relação ao Governo, há a esperança que seja passageiro, porque a confiança é um elemento determinante". Isto foi numa sexta-feira. No domingo, a energia já não estava sob a tutela da Economia, mas do Ambiente (sob a pomposa designação de "transição energética") e o secretário de Estado Jorge Seguro Sanches, cuja competência técnica e política rivalizava com a apetência para chatear a EDP com o pagamento de taxas, dava lugar no cargo ao deputado João Galamba, cuja desconhecida experiência num domínio tão complexo e conflituoso, não sendo um defeito, não pode ser exibida como uma virtude. A opção de António Costa foi clara. O primeiro-ministro preferiu um perfil político, potencialmente mais alinhado com os futuros interesses globais do Governo, do que manter a confiança em alguém que chocou de frente com a elétrica e, por isso, teoricamente mais habilitado para lidar com os dossiês escaldantes que opõem a maior empresa portuguesa ao Estado. Da extensão da contribuição extraordinária sobre o setor energético em falta, aos custos de manutenção do equilíbrio contratual - os famosos CMEC -, no âmbito dos quais a EDP terá sido beneficiada em 285 milhões.

De novo: um conjunto de indícios não produz um facto. Mas legitima a dúvida sobre os reais efeitos da "indignação" da EDP com o Governo a que aludia Catroga. Cabe, por isso, a João Galamba provar-nos que a velha máxima de que "quem se mete com o PS leva" não se aplicou (e aplica) também àqueles que se metem com a EDP em nome do PS.

*Diretor-adjunto

Sem comentários:

Mais lidas da semana