Pedro Ivo Carvalho | Jornal de
Notícias | opinião
Um conjunto de indícios não
produz um facto. Mas ajuda a tipificar um comportamento duvidoso que parece
indiciar uma estratégia. Com que fim? Logo veremos.
Vamos aos indícios. Dois dias
antes de António Costa ter aproveitado o descarrilamento de Azeredo Lopes no
Ministério da Defesa para regenerar o Governo, Eduardo Catroga, membro do
Conselho Geral e de Supervisão da EDP, deu uma entrevista ao jornal "Eco",
em que desabafava: "Há alguma indignação dentro da empresa, dos acionistas
da empresa, em relação ao Governo, há a esperança que seja passageiro, porque a
confiança é um elemento determinante". Isto foi numa sexta-feira. No
domingo, a energia já não estava sob a tutela da Economia, mas do Ambiente (sob
a pomposa designação de "transição energética") e o secretário de
Estado Jorge Seguro Sanches, cuja competência técnica e política rivalizava com
a apetência para chatear a EDP com o pagamento de taxas, dava lugar no cargo ao
deputado João Galamba, cuja desconhecida experiência num domínio tão complexo e
conflituoso, não sendo um defeito, não pode ser exibida como uma virtude. A
opção de António Costa foi clara. O primeiro-ministro preferiu um perfil
político, potencialmente mais alinhado com os futuros interesses globais do
Governo, do que manter a confiança em alguém que chocou de frente com a
elétrica e, por isso, teoricamente mais habilitado para lidar com os dossiês
escaldantes que opõem a maior empresa portuguesa ao Estado. Da extensão da
contribuição extraordinária sobre o setor energético em falta, aos custos de
manutenção do equilíbrio contratual - os famosos CMEC -, no âmbito dos quais a
EDP terá sido beneficiada em 285 milhões.
De novo: um conjunto de indícios
não produz um facto. Mas legitima a dúvida sobre os reais efeitos da
"indignação" da EDP com o Governo a que aludia Catroga. Cabe, por
isso, a João Galamba provar-nos que a velha máxima de que "quem se mete
com o PS leva" não se aplicou (e aplica) também àqueles que se metem com a
EDP em nome do PS.
*Diretor-adjunto
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