terça-feira, 16 de outubro de 2018

Subjacente ao fascismo


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

O neoliberalismo deu à luz gerações de frustrados, despidos de qualquer esperança num futuro melhor para si e para os seus, empenhados em dirigir a revolta contra os que lutam politica e democraticamente contra as desigualdades, sempre na expectativa do regresso de um pai que os proteja e que lance luz sobre um mundo que já não compreendem e que lhes causa tanto sofrimento. É também desta forma que se explica a ascensão dos movimentos fascistas.

De resto, essas gerações que outrora se sentiam confortavelmente nas classes médias ou com esperanças de vir a entrar nesse clube, agarram-se agora ao primeiro ditador boçal, invariavelmente armado com um discurso simplório, mas pejado de ódio, um ódio que é simultaneamente um sucesso precisamente por ser um ódio contra si próprio.

Por outro lado, o terreno não podia ser mais propício ao regresso do fascismo: a tecnologia cria a ideia de desenvolvimento e de mais informação. Pelo caminho não existe cultura democrática, apenas órfãos da História, com gente adulta transformada em crianças que seguem radicalmente os pais, chegando mesmo a abandonar os seus egos para andar atrás de quem lhes promete a ruptura.

Que não subsistam dúvidas: o neoliberalismo deu um forte contributo para o enfraquecimento massivo não só das democracias (que não resistem a níveis elevados de desigualdade social), mas também da auto-estima de demasiada gente.

E perante o regresso do fascismo, promovem-no ou silenciam-se, um pouco à semelhança das elites alemãs que, desvalorizando Hitler, julgavam que o conseguiam controlar. Enganaram-se. Para desgraça de todos.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Imagem: Guernica, Pablo Picasso. "O quadro que lutou e luta contra o fascismo".

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