quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Brasil | UMA CHANCE PARA A POLÍTICA


A História teima em não terminar. Planejado para consolidar poder conservador, julgamento de Lula pode abrir uma nova onda de mobilização popular

Antonio Martins | Outras Palavras | Imagem: Ricardo Stuckert, Fotos Públicas

Árdua é a condição dos três desembargadores do 4º Tribunal Regional Federal (TRF) que julgarão, hoje, Luiz Inácio Lula da Silva. Nas últimas semanas, avolumaram-se as evidências de que a sentença do juiz Sérgio Moro, a ser examinada por eles, é uma aberração jurídica. Não apenas por lhe faltarem, além de provas, a boa lógica – mas principalmente por expressar perseguição política e partidarismo. A Operação Lava Jato, lembrava-se ontem no próprio New York Times, tinha a oportunidade de revirar a política brasileira e suas práticas corruptas. Por ela, passaram casos envolvendo os cardeais de todos os partidos. Depois de quatro anos, apenas um campo político foi atingido; e o juiz derrete-se em sorrisos com alguns dos personagens que deveria investigar.

Porém, ao corrigir a sentença, os três desembargadores do TRF-4 produziriam um terremoto político. Massacrado há quatro anos na mídia, Lula lidera por larga margem a disputa para a Presidência. Sua absolvição iria convertê-lo em herói nacional, destroçaria num ato toda a narrativa construída pela mídia, alvoroçaria os “mercados”.

Nada, na biografia dos três desembargadores, indica que tenham estatura para fazer justiça, quando implica contrariar estas forças poderosas. Por isso, o julgamento que terminará esta tarde é um jogo de cartas marcadas, restando talvez alguma tênue dúvida sobre o placar da condenação.

* * *
No entanto, o ambiente político transformou-se totalmente, em relação às tardes paulistanas em que, nos idos de 2015, apareceram os primeiros bonecos do Pixuleco. As ruas começaram a mudar de cor. As multidões verde-amarelas recolheram-se à sua pequenez. Aos poucos, a cortina de fumaça do discurso “contra a corrupção” dissipa-se e vai surgindo a consciência de que o golpe não foi contra Dilma – mas, principalmente, contra as tímidas conquistas obtidas pelas maiorias. Alguns atos toscos construíram a nova percepção. O atual presidente não chegou a decretar que os supermercados são agora “atividade essencial”, obrigando os funcionários a trabalhar aos domingos sem receber horas extras? Escolas e hospitais não começaram a demitir em massa, para contratar os mesmos professores, médicos e enfermeiros – agora sem garantias e direitos? Os preços do gás e da gasolina não dispararam?

É bom não cultivar ilusões. A mudança ainda é tênue. As pesquisas já registram que a população passou a rejeitar as contrarreformas da Previdência e Trabalhista, assim como as privatizações. Mas o arsenal à disposição dos meios de comunicação hegemônicos ainda é robusto. Um estratagema que já se anuncia é esvaziar o debate político nascente, levantando, para amedrontá-lo, um novo espantalho – o da “luta contra a violência”.

Mas a notável surpresa é que o julgamento de Lula – precisamente o ato que deveria selar a restauração dos quinhentos anos de poder conservador – pode marcar a retomada de um debate político em meio ao qual este processo não sobrevive.

Tendente à conciliação, Lula está radicalizando, pouco a pouco. Não lhe dão outra saída. Quanto mais as portas do poder instituído se fecham para ele, mais terá de nadar nas águas em que é peixe – nos braços do povo. Ontem, ao discursar em Porto Alegre, ele não se limitou a zombar do Judiciário, de Washington, da mídia e dos mercados. Prometeu retornar ao Rio Grande do Sul em fevereiro, para desafiar, em caravanas, os políticos conservadores que agora governam o Estado.

Fala-se que lançará, em março, uma nova Carta aos Brasileiros. Desta vez, teria sentido oposto à primeira. Não acenará à aristocracia financeira – mas “ao povo” e em especial à classe média. Comenta-se que, entre as propostas que estuda, está a de isentar de Imposto de Renda os salários até R$ 5 mil, tributando em contrapartida os dividendos sobre lucros e as grandes fortunas.

Chão para radicalizar, ele tem. Os retrocessos atuais são tão ásperos – e mesmo seu primeiro período no poder foi tão tímido, em reformas estruturais – que há uma imensa agenda de mudanças, um enorme território de privilégios das elites a ser conquistado. E se, provocada, a jararaca propuser anular a lei que concede o Pré-Sal às petroleiras estrangeiras? E se mergulhar, de fato, na luta para revogar as leis malditas do pós-2016?

A condenação mais que provável de hoje não interromperá sua caminhada. Ao contrário. Enquanto se vir perseguido, ele terá, além da vocação natural, a necessidade de procurar as ruas, de demonstrar que a mesma (in)Justiça que o condena mantém o Brasil cindido em Casa Grande e Senzala.

Manterá a campanha e as caravanas. As regras eleitorais permitem que sustente a candidatura, que a registre oficialmente em agosto, que conteste no TSE e no próprio STF as tentativas de impugná-la. O TRF-4 pode tentar prendê-lo, o que abriria as portas ao imponderável. Em qualquer caso, algo é certo: quanto mais perseguida, mais a jararaca terá de morder – e morderá.

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“Lula é um homem da conciliação”, disse Dilma ontem, ao discursar, em Porto Alegre. Tudo indica que combinou o discurso com o ex-presidente. Lula é muitos. Ontem, era todo sorrisos: parecia leve, confiante, até alegre. Mas se sua história serve de parâmetro, ela ensina que ele tem tanta desenvoltura nos salões quanto nas ruas. Certamente negocia e busca saídas no plano institucional – inclusive no diálogo com os adversários.

Mas há uma fissura aberta na normalidade opressora do Brasil – entre a ordem que condena as maiorias e o homem que melhor fala com elas. Enquanto esta fratura persistir, haverá espaço para aprofundar o debate sobre o golpe; para expor seu “projeto” absurdo para um país regredido; para tramar alternativas. Nesse espaço avançará, por exemplo, a campanha para submeter a Referendos Revogatórios a agenda de horrores pós-2016. Neste espaço, pode trafegar o que chamamos de Política.

* Antonio Martins é Editor do Outras Palavras

Presidente timorense anuncia sexta-feira decisão sobre impasse político em Timor-Leste


Díli, 25 jan (Lusa) - O Presidente da República timorense anuncia sexta-feira, numa declaração em direto nas televisões, a sua decisão para resolver o impasse político em Timor-Leste, com Governo e oposição divididos sobre o melhor caminho a seguir.

Francisco Guterres Lu-Olo deverá falar ao país às 10:00 locais (01:00 em Lisboa) no Palácio Presidencial em Díli, numa declaração que vai ser transmitida em direto pelas televisões de Timor-Leste.

Fonte da Presidência da República confirmou à Lusa que representantes do corpo diplomático e vários dirigentes timorenses estão a ser convidados para ouvir a declaração que vai determinar a solução para o impasse político no país.

A declaração de Lu-Olo vai ser feita depois de esta semana o Presidente ter ouvido, separadamente, os cinco partidos com assento parlamentar: Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP), Partido Democrático (PD) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

Na quarta-feira, o Presidente ouviu ainda o Conselho de Estado, num encontro de cerca de três horas e meia sobre o qual não foram revelados publicamente quaisquer dados.

O Conselho de Estado, que entre as suas competências se pronuncia sobre a "dissolução do Parlamento Nacional" e sobre a "demissão do Governo", foi convocado pela primeira vez desde janeiro de 2015 pelo então chefe de Estado, Taur Matan Ruak, na sequência da apresentação da demissão do então primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

Timor-Leste vive há vários meses um período de incerteza política depois de a oposição ter chumbado o programa do Governo e uma proposta de Orçamento Retificativo, apresentando depois a moção de censura ao executivo e uma proposta de destituição do presidente do Parlamento.

Lu-Olo tem em cima da mesa a possibilidade de demitir o Governo, procurando formar outro executivo com base no atual cenário parlamentar - posição defendida pelo CNRT, maior partido da oposição, e pelo KHUNTO.

A Fretilin, por seu lado, defende a dissolução do Parlamento Nacional e a convocatória de eleições antecipadas, enquanto o PLP, na oposição, e o PD, na coligação do Governo, se escusaram a defender publicamente qualquer das opções.
Todas as forças políticas garantiram que acatarão a decisão de Lu-Olo.

No caso de demissão do Governo, a constituição diz que o Governo só pode ser demitido no início da nova legislatura, em caso de pedido de demissão, morte ou impossibilidade física permanente do primeiro-ministro, rejeição do programa por duas vezes (ainda só foi rejeitado uma vez), um chumbo a um voto de confiança ou a aprovação de uma moção de censura.

"O Presidente da República só pode demitir o primeiro-ministro nos casos previstos (...) e quando se mostre necessário para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado", refere a lei base.

Num cenário de resignação ou demissão do primeiro-ministro o Parlamento Nacional mantém-se em funções, com normalidade.

As eleições antecipadas, por outro lado, pressupõem a dissolução do Parlamento Nacional o que, segundo a Constituição, só pode ocorrer no mínimo seis meses depois da eleição, período cumprido a 22 de janeiro.

A Constituição inclui, entre as competências presidenciais, a de poder dissolver o Parlamento Nacional "em caso de grave crise institucional que não permita a formação de Governo ou a aprovação do Orçamento Geral do Estado por um período superior a sessenta dias, com audição prévia dos partidos políticos que nele tenham assento e ouvido o Conselho de Estado".

A dissolução, prevê a Constituição, "não prejudica a subsistência do mandato dos deputados até à primeira reunião do Parlamento após as subsequentes eleições", sendo que no caso de dissolução, o Parlamento eleito "inicia nova legislatura, cuja duração é acrescida do tempo necessário para se completar o período correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição".

Durante o período em que o parlamento estiver dissolvido, funciona a Comissão Permanente do Parlamento Nacional, que é presidida pelo presidente do Parlamento Nacional e composta pelos vice-presidentes e deputados indicados pelos partidos, de acordo com respetiva representatividade.

Se o Presidente optar por este cenário o atual Governo fica em gestão até à tomada de posse do novo executivo, sendo que os deputados exercem funções mais limitadas até à tomada de posse dos novos deputados.

A lei eleitoral explica que em caso de dissolução do Parlamento Nacional, o chefe de Estado "fixa, por decreto, a data da eleição dos Deputados (...) com a antecedência mínima de sessenta dias".

Este prazo é necessário para cumprir todos os trâmites relacionados com o processo eleitoral, desde o registo de partidos à campanha eleitoral, e implica que, no mínimo, as eleições antecipadas só podem decorrer depois de 25 de março.

ASP. // JH.

Ramos-Horta defende eleições antecipadas como solução mais democrática para Timor-Leste


Bruxelas, 24 jan (Lusa) -- O ministro de Estado timorense, José Ramos-Horta, defendeu hoje, em Bruxelas, que a melhor solução para o atual impasse político no país é a convocação de eleições antecipadas, que considera preferível a "tentar impor um arranjo de Governo".

Em declarações aos jornalistas, o antigo chefe de Estado e primeiro-ministro disse desconhecer o resultado da reunião de hoje do Conselho de Estado timorense, convocada pelo Presidente para procurar uma solução para o impasse político -- na qual não pôde participar precisamente por estar em Bruxelas para um diálogo político com a União Europeia -, mas disse esperar que a solução seja aquela que, diz, é apoiada "pela esmagadora maioria" dos timorenses e a "mais democrática": a realização de novas eleições.

"Nada mais democrático do que eleições antecipadas, e talvez melhor e mais democrático do que tentar impor um arranjo de um Governo de grande inclusão, de unidade nacional, que depois não funciona, porque as diferenças são muito grandes", tanto a nível de personalidades como de prioridades, sustentou o atual ministro de Estado e Conselheiro para a Segurança Nacional.

Apontando que faz eco da posição defendida pelo primeiro-ministro, Mari Alkatiri, e pela Fretilin, José Ramos-Horta afirmou que, pelas informações que recebe "privadamente, informalmente, de muitos canais, a esmagadora maioria da opinião em Timor-Leste -- Igreja, sociedade civil, partidos políticos -- é que o melhor é eleições antecipadas".

O ministro desvalorizou o impasse político no país, considerando que o mesmo é resultado do sistema de multipartidarismo e diversidade de opinião, comentando que é natural que tal suceda depois de não ter sido possível "negociar um consenso com outros partidos para ter maioria".

"Os partidos não podem depois da eleição fazer concessões de tal ordem aos outros partidos que atraiçoem o próprio programa do partido. Os políticos têm que estar sempre preparados para fazer concessões, compromissos, mas não ao ponto de trair o eleitorado", comentou.

Ramos-Horta lembrou que "democracias muito mais velhas que Timor-Leste" atravessam situações semelhantes, apontando a título de exemplo que "em Espanha tiveram que fazer três eleições num ano para produzir um Governo, a chanceler (alemã Angela) Merkel não consegue formar um Governo e a Bélgica esteve dois anos sem formar um governo".

"Claro, a diferença entre esses países e Timor-Leste é que esses países têm economias sólidas, as instituições funcionam e o setor privado é grande, pelo que (um impasse político) não afeta muito a economia do país. No nosso caso, quando a economia é injetada pelo Orçamento Geral do Estado, obviamente o impasse, em que não há OGE, afeta", reconheceu.

No entanto, asseverou, "o importante é que o país está super-tranquilo" e, apesar da atual situação, "o comércio continua dinâmico e os investidores continuam a vir, porque têm confiança no país e sabem que a democracia e a paz estão enraizadas no país".

Timor-Leste vive há vários meses um período de incerteza política depois de a oposição ter chumbado o programa do Governo e uma proposta de Orçamento Retificativo, apresentando depois a moção de censura ao executivo e uma proposta de destituição do presidente do Parlamento.

Se o Governo cair, o Presidente da República tem a competência para decidir que solução se aplicará, com um novo Governo saído do atual quadro parlamentar, um executivo de iniciativa presidencial ou eleições antecipadas.

Até ao momento, ainda não se cumpriram os requisitos constitucionais para que Lu-Olo possa demitir o Governo, já que a lei base determina que o Governo só pode ser demitido no início da nova legislatura, em caso de pedido de demissão, morte ou impossibilidade física permanente do primeiro-ministro, rejeição do programa por duas vezes (ainda só foi rejeitado uma vez), um chumbo a um voto de confiança ou a aprovação de uma moção de censura.

ACC (ASP) // PJA | Foto Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique | ASSASSINO DA FILHA DE EX-PRESIDENTE CONDENADO A PENA MÁXIMA


Zófimo Muiuane assassinou Valentina Guebuza, juíza acha que ele mentiu ao tribunal e condena-o à pena máxima

O Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) condenou, na terça-feira (23), Zófimo Armando Muiuane, a 24 anos de prisão maior, por assassinato a tiros da sua esposa Valentina da Luz Guebuza, filha do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, por porte de armas proibidas, falsificação de documentos e por prática de violência psicológica. O réu, cujo castigo que lhe foi aplicado só cessará quando tiver aproximadamente 68 anos de idade, é considerado um homicida frio, insensível e com pendor à desvalorização da vida. Ele agiu com dolo. Em sede de audiência, discussão e julgamento mentiu e chorou copiosa e soluçantemente lágrimas de crocodilo.

O homicídio de que o réu é acusado – processo-crime número 01/2017, 10ª. Secção daquele tribunal – aconteceu na noite de 14 de Dezembro de 2016, na residência da vítima, onde o casal vivia, na Avenida Julius Nyerere, em Maputo.

Zófimo Muiuane, de 44 anos de idade, foi igualmente sentenciado ao pagamento de imposto máximo de justiça e indemnização à família da vítima por perda desta, no valor de 50 milhões de meticais.

Em sala abarrotada e sem sequer espaço para caber uma agulha – aceite-se o exagero – a juíza do caso, Flávia Mondlane, disse que “o réu sabia que a sua conduta não era permitida” e consubstanciava crime. Todavia, ele “agiu deliberado, livre e conscientemente”.

Segundo a magistrada, não foi indicada alguma situação atenuante a favor do arguido e o tribunal formou a sua convicção em relação aos factos dados como provados com base no seguinte: em vários momentos, “o réu assumiu a autoria moral e material da morte” de Valentina.

A certeza de que Zófimo matou, de acordo com a juíza, consolida-se no facto de, quando ele foi questionado pela ajudante de campo da sua esposa e pela empregada sobre o que tinha acontecido no quarto onde travavam a discussão, a ponto de Valentina sair ferida, respondeu: “já fiz... já fiz... Ela ofendeu-me muito em frente dos padrinhos. Ela humilhou-me”.

Tais palavras são uma confissão das discussões vividas no encontro com os padrinhos do casal, na óptica do tribunal. Este entende ainda que só quem esteve presente na reunião que antecedeu a morte de Valentina é que “sabia que o réu foi humilhado pela vítima (...)”. Esta acusou, realmente, o marido de prática de vários factos e ainda expulsou-o da residência onde viviam.

A empregada e a ajudante de campo não presenciaram o encontro, findo o qual nem o casal e muito menos os padrinhos comentaram com elas sobre o que se discutiu. “Para dizer que as palavras proferidas” por Zófimo revelavam o que lhe corria na alma, até porque as duas senhoras com as quais conviviam de forma alguma saberiam do “conteúdo das discussões tidas no referido encontro”.

Segundo Flávia Mondlane, no Instituto do Coração (ICOR), para onde Valentina foi socorrida e declarada morta, Zófimo aproximou-se dos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e fez o seguinte pedido: “chefes, tirem-me daqui (...)”.

Ernesto Chivambo, à data dos factos chefe da viatura de patrulha que transportou o arguido do ICOR para a 2a. esquadra, disse ao tribunal que “nós questionámos a ele [Zófimo] o que se passou e confessou que tirou a vida da esposa porque já estava cansado (...)”.

As confissões de arguido estenderam-se até aquela subunidade policial, onde revelou ao oficial de permeância, durante a abertura do auto, que tirara a pistola e disparou contra a sua consorte. “E assinou as declarações”.

Na sua sentença, o tribunal tomou ainda em consideração o relatório dos médios legistas. Estes defenderam, com argumentos científicos, que Valentina não pode ter disparado contra ela própria, mesmo tratando-se de uma disputa de arma de fogo, conforme o esposo alegou em vários momentos.

Hilário Joaquim, médico legista, afirmou, em sede do tribunal, sem dúvidas, o seguinte: “com toda a franqueza, não acho que a vítima [Valentina] tenha pressionado o gatilho, ainda mais fazendo dois disparos” que custaram a sua vida.

“Não teria sido possível ela efectuar os dois disparos”, corroborou Stela Mantsinhe, outra médica legista.

Jacinta Silveiro desvalorizou os argumentos do arguido, afiançando que “dificilmente a vítima continuaria a lutar (...)” depois de ser atingida pelo primeiro disparo. “Quando a vítima recebeu o primeiro tiro”, praticamente “desfaleceu”, porque “tinha lesões mortais (...)”.

Na altura do disparo, ela estava numa posição “de frente à arma de fogo. O primeiro tiro tingiu o quadrante inferior e interno da mama direita, saiu por baixo”, recordou a juíza da causa, aquando da leitura da sentença. A um centímetro de diferença, a mesma bala fez uma perfuração e saiu pelo abdómen.

No seu trajecto, o disparo “afectou o fígado e a veia vaca, facto que foi agravado ainda mais pelo segundo projéctil, que atingiu o local onde termina a 10a. costela, penetrou, fez o seu trajecto e afectou a 11a. costela – que é flutuante – atravessou o estômago, atingiu o baço” e fê-lo explodir, segundo o testemunho da médica legista Jacinta.

“Temos a certeza de que o tipo não foi à boca-tocante”, disse Jacinta, explicando que durante a perícia não foram encontrados elementos que permitissem concluir que o disparo foi feito à curta ou longa distância.

A roupa que Valentina trajava no dia do assassinato não foi examinada porque só se teve acesso a ela dias depois e já tinha sido muitas vezes manipulada. A mesma foi enviada ao Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) para perícia.

“A posição do réu, de ter sido desarmado pela vítima, não convence o tribunal”

A 18 de Dezembro passado, no início do julgamento ora findo, Zófimo disse, chorando copiosamente, que após a reunião com os padrinho ele a consorte foram ao quarto, onde, logo depois de tirar o casaco, sentiu algo estranho na sua cintura. Ou seja, Valentina o desarmou.

“Ela tinha arrancado a minha pistola que estava” no coldre e do “lado esquerdo. Quando virei, olhei para ela e tinta a pistola apontada para mim.

Naquele mesmo instante ela gritou: «sai da minha casa ou eu mato-te». Eu não acreditava no que estava a acontecer e achei que fosse uma brincadeira”.

O arguido narrou também que um instinto o levou a pegar nas mãos da vítima e pôs-se aos gritos: “amorzão... amorzão... O que se passa. Ela continuou a gritar: «sai da minha casa ou eu mato-te»”.

Aquando da audição dos peritos da criminalística, eles disseram que no momento em que Valentina e o marido se dirigiram ao quarto, para uma suposta conversa, ela trazia consigo, na bolsa, uma arma de fogo do tipo pistola, o que desvaloriza e deita por terra os argumentos (em prantos) do viúvo, segundo os quais foi desarmado de trás pela vítima e escapou da morte por um triz.

Munis Macuiane, perito em balística forense, defendeu que não tinha dúvidas de que se a vítima estava atrás do réu, estava em vantagem para disparar pelas costas. E questionou por que motivo não o fez se estava em vantagem, tendo concluído dizendo que: “nós dissemos (no relatório que consta dos autos do tribunal) que era inconcebível” a vítima ter disparado contra ela mesma.

Por sua vez, Flávia Mondlane disse que o tribunal também afasta e desconsidera, por completo, as alegações de Zófimo, segundo as quais Valentina tentou desarmá-lo pelas costas, porque ele é “corporalmente mais avantajado em relação à vítima, tem domínio de luta corporal e de artes marciais”, cujo treinamento lhe permitiu chegar ao “cinturão negro” e pela experiência de lidar armas de fogo há 15 ou 16 anos.

“Só poderia desarmar o réu alguém com as mesmas características e capacidades ou superiores (...). Não podemos perder de vista que o réu estava apreensivo, sabia que a vítima estava irritada e não lhe queria naquela residência”, declarou a juíza, ajuntando que ao entrar no quarto, Valentina voltou a exigir que Zófimo abandonasse a casa mas ele recusou-se, ignorando-a.

“O réu sabia que era previsível qualquer comportamento de retaliação por parte” da sua esposa. Aliás, dado o agravamento da crise conjugal, o cônjuge “não esperava receber sorrisos e abraços” do seu “amorzão” (alcunha que Zófimo adoptou para mostra amor e carinho à sua amada).

Zófimo espancou brutalmente a esposa antes de assassiná-la

“A posição do réu, de ter sido desarmado pela vítima, não convence o tribunal. De tudo que até aqui se disse, é importante referir que a arma só foi usada depois e a vítima sofrer várias agressões físicas (...). Ela estava fisicamente debilitada” por conta das “lesões violentas”, o que foi provado pelo laudo da medicina legal.

Aliás, a magistrada argumentou que as afirmações de Zófimo alegando que sentiu uma força anormal exercida pela esposa no momento em que segurou os seus braços, tendo iniciado a alegada disputa da pistola, são falsas, porque ele apresentaria também lesões graves, mormente nos braços.

Zófimo alterou o local dos factos

Consumado o crime, o arguido alterou o local dos factos com o intuito de destruir as provas contra si e evitar, a todo custo, o “esclarecimento da verdade material”, afirmou Flávia Mondlane.

Acto contínuo, Zófimo afastou Valentina do sítio onde foi atingida pelos projécteis, “afastando-a para próximo da porta do quarto. Recolheu os invólucros, em quantidade não especificada, abriu a janela do quarto e atirou-os para fora do mesmo”.

Ademais, mesmo apercebendo-se de que a arma com que acabava de alvejar a sua esposa já não oferecia perigo por estar na posse da ajudante de campo, “e que não precisava do mesmo para nada”, desviou o foco – que seria o salvamento da sua amada – e perdeu tempo exigindo que o instrumento bélico lhe fosse devolvido.

“O réu mandou embora a ajudante de campo e a empregada, fechando-se com a vítima que jazia em agonia no quarto”, afirmou a juíza, rebatendo, imediatamente, as declarações do arguido, segundo as quais tentou pôr fim à sua vida quando se apercebeu de que a cônjuge estava prestes a morrer.

Zófimo disse ao tribunal que, por duas vezes, no fatídico dia, tentou suicidar-se com recurso à arma com a qual assassinou a esposa, mas a mesma falhou no momento do disparo.

Segundo Flávia Mondlane, sem aquela pistola, se o réu quisesse pôr término à sua vida teria usado a arma de Valentina, que se encontrava dentro de uma bolsa algures no quarto. “Poderia ter-se enforcado, ingerido comprimidos” ou “atirar-se do prédio” onde vivia (quinto andar), entre outras vias.

“Todos os declarantes foram unânimes em afirmar que encontraram o réu em pé, ao lado da vítima e que esta ainda se encontrava em vida e em agonia (...)”.

Nesta situação, esperava-se um cenário diferente, como, por exemplo, em “sinal de arrependimento, um amado esposo sentado ou ajoelhado” diante da vítima, “chorando” copiosamente e acarinhando-a, uma vez que lutava pela vida.

Se a intenção de Zófimo não fosse a morte de Valentina, depois da ocorrência teria, imediatamente, socorrido a ela, “atendendo que estava em causa a vida da sua esposa”.

O réu afirmou, perante o tribunal, que não foi à busca do socorro porque não tinha forças, o que é estranho, porque depois do sucedido teve energia para alterar o cenário dos factos, exigir da ajudante do campo a arma do crime e efectuar duas chamadas telefónicas, das quais uma para alguém que encontrava no posto administrativo da Maluana, no distrito da Manhiça, província de Maputo.

Tais chamadas duraram 15 minutos e não se compreende a sua importância no lugar de se prestar socorro à Valentina que se encontrava estatelada no chão, contorcendo-se de dores e a perder bastante sangue.

O réu tentou enganar o tribunal ao referir que tentou efectuar chamadas telefónicas para algumas clínicas privadas solicitando auxílio, mas tudo não passa de mentira, conforme se pode atestar através dos extratos obtidos juntos da telefonia móvel de que ele é cliente. “Esse tipo de comportamento é uma demonstração de frieza, insensibilidade e desvalor pela vida humana (...)”.

Face a tudo o que se produziu durante a audiência, discussão e julgamento, o tribunal considera que a prova contra Zófimo é “robusta, segura e incriminatória. É impossível o afastamento do réu da morte” da sua esposa e deve “ser responsabilizado”.

O arguido não provou que Washington Dube era seu pseudónimo

Relativamente ao crime de falsificação de documentos, Flávia Mondlane afirmou que Zófimo não conseguiu provar que o bilhete de identidade sul-africano com o número 7210106308081, no qual ele assume o nome de Washington Dube, nascido a 10 de Outubro de 1972, foi-lhe atribuído pelo Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE).

Ele agiu com a intenção de obter benefícios ilegítimos, mesmo tendo noção e maturidade suficiente das consequências resultantes desse acto. Preferiu assumir o risco... e prejudicou o verdadeiro dono do documento em questão.

Emildo Sambo | @Verdade

MOÇAMBIQUE | Denúncias de irregularidades nas intercalares em Nampula


Partidos políticos e o CIP constatam irregularidades, desorganização e dificuldades nas eleições intercalares municipais em Nampula. Mas os órgãos eleitorais afirmam que tudo decorreu dentro da normalidade.

Conforme o previsto, as assembleias de votos encerraram por volta das 18 horas locais, altura em que se iniciou a contagem dos votos. Mas a votação, segundo alguns partidos políticos, foi manchada por muitas irregularidades, nomeadamente a inclusão de novos cadernos eleitorais que não contemplaram nomes de muitos eleitores.

A denúncia foi feita por Luisa Marroviça, fiscal do processo e membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição: ‘‘Os partidos políticos receberam da CNE cadernos originais e nós exibimos, estão nas mesas, mas o presidente da mesa e a sua companhia tem um caderno falso. E nós confrontamos com os cadernos que temos e estamos a ver que estão a brincar connosco."

Agastada a fiscal do MDM afirma ainda: "Todos os eleitores veem e voltam e os que ali estão a votar são eleitores que eles trouxeram com cartão de recenseamento falso e isso não pode acontecer. Não queremos essas brincadeiras''.

Também Mário Albino Muquissice, candidato da Ação Movimento Unido Para Salvação Integral - Nampula (AMUSI), lamentou a forma como decorreu a votação.

Escola Comunitária de Malimusse, cidade de Nampula

"As pessoas não conseguem encontrar os seus nomes [nos cardenos eleitorais], mas vamos a tempo de resolver o problema, porque estamos a seguir caso a caso", diz, inconformado.

Mesmo assim Muquissice está otimista: "Mas a expetativa para nós é a vitória, apesar da presença massiva das pessoas de outros distritos que vieram votar."

STAE minimiza irregularidades

Um caso de um eleitor proveniente de outro distrito verificou-se na Escola Comunitária de Malimusse. Unazi Ossumane é presidente da mesa onde se deu a irregularidade afirma que muitas foram as vezes em que o processo de votação foi interrompido.

"Há nomes que constam no nosso caderno principal, mas os delegados não possuem esses nomes. Já falamos com o STAE, o Secretariado Técnico Eleitoral, e quando veio negociou com os delegados para fazerem a reclamação por escrito", conta Ossumane.

E o presidente da mesa lamenta: "Eu não estou a perceber como se pode trabalhar assim. Quando recebemos os eleitores consultamos os cadernos, mas não encontramos os seus nomes e é por isso que os delegados mandaram paralisar a mesa."

Mas Comissão Provincial de Eleições desdramatizou a situação. Daniel Ramos é diretor da CNE em Nampula e disse: "Estamos a fazer uma avaliação positiva, a olhar pelo número de pessoas que estão nas bichas de votação em todos os lugares por onde passamos, a avaliar pela acalmia que se está a registar em todos os lados. Com relação aos cidadãos que não encontram os nomes [nos cadernos eleitorais], uns é porque na devida altura em que lhes estão a mostrar os cadernos não foram atempadamente ver se os nomes estavam lá ou não.''

Baixa participação, diz o CIP

Entretanto, o Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental moçambicana, alertou que as eleições foram caraterizadas por "desorganização, atrasos e baixa participação".

Para o CIP, a principal razão foi "a demora da chegada do material aos postos de votação, mas houve também casos de troca de cadernos [eleitorais] entre mesas de voto". Como resultado, houve "confusão" e "algumas enchentes em certas mesas" que demoraram a abrir, nota o CIP.

Participaram nas eleições intercalares os três partidos com assento parlamentar, FRELIMO, RENAMO e MDM, para além do AMUSI e PAHUMO. O candidato que vencer sucederá a Mahamudo Amurane, presidente do município morto a tiro à porta de casa a 4 de outubro de 2017.

Os resultados parciais devem ser anunciados nesta quinta-feira (25.01.).

Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle

ANGOLA | É hora de cortarmos o mal pela raiz


Manuel Correia | Jornal de Angola | opinião

As reportagens que os órgãos de comunicação nacionais mostraram ao público há poucos dias deixaram-me incrédulo e reticente.

Por intermédio das mesmas, veio ao nosso conhecimento a apreensão de 30.000 (trinta mil) livros escolares do ensino de base só no mercado Asa Branca.

Se num mercado apenas foi recolhida  esta quantidade de livros, imaginemos quantos outros milhares de exemplares andarão à venda ilegalmente noutros mercados e pracinhas espalhadas pelo país inteiro?

São livros que devem ser distribuídos gratuitamente aos alunos e que vão parar aos mercados paralelos. Será que têm pernas para eles próprios irem parar às bancadas daquele e de outros mercados, praças, pracetas e outros locais espalhados por Luanda (no caso concreto) alguns dos quais informais?

Quando vi na reportagem televisiva que meia dúzia de homens e mulheres que foram apanhados pelas autoridades policiais e de fiscalização a venderem esses livros, estão detidos e arriscam-se a ser condenados a três meses de prisão correccional, aumentou a minha indignação.

Não é que eu esteja a favor dessas pessoas, algumas das quais nem devem ter conhecimento que a venda daqueles livros é proibida, mas pelo facto de elas constituírem apenas a ponta do “iceberg”.

Senão vejamos: existe uma franja vulnerável da nossa sociedade que se dedica ao comércio de tudo e mais alguma coisa e vê em tudo uma oportunidade para ganhar alguns trocados que servem para o sustento das suas famílias. Essas pessoas têm “tacto” e até “olfacto” apurados, talvez por via das dificuldades por que passam, para identificar negócios rentáveis num determinado momento. E nesta altura do ano, que estamos em vésperas do início de mais um ano lectivo, a comercialização de livros escolares, tal como de outro material didáctico é bastante rentável.

Daí a preferência e a apetência por esse negócio nesta altura do “campeonato”. Dizia que os nossos compatriotas que estão detidos por essa prática, que eu também condeno, constituem apenas a ponta do “iceberg” porque, ao invés de nos vangloriarmos com conferências de imprensa de apresentação de tais “criminosos” perante as câmaras de televisão, os órgãos policiais, de fiscalização, de inspecção e os responsáveis do Ministério da Educação deviam preocupar-se mais em cortar o mal pela raiz. Ir à origem do problema.

Por outras palavras, penso que se devia investigar quem fornece esses materiais a esses vendedores para os colocar nos mercados paralelos, quando os livros deviam estar neste momento nas escolas para quando começarem aulas serem distribuídos gratuitamente aos alunos, cujos pais, tutores ou encarregados de educação, muitos dos deles já encontram sérias dificuldades para suportar os encargos com outras necessidades quotidianas.

É esse tipo de situações que o Presidente João Lourenço pretende acabar, porque este é um mal que não vem de agora: Há muitos anos que a situação se repete ano após ano lectivo, em que nos vemos obrigados a comprar o material escolar para os nossos filhos e netos quando existe legislação que atesta que os livros escolares para o ensino de base são gratuitos.

É necessário que muitas orientações que estão plasmadas em documentos oficiais que atestam que determinados serviços são gratuitos, saiam do papel e sejam colocadas em prática.

Temos de mudar esses comportamentos negativos, acabar com a impunidade. É preciso encontrar, com urgência, esses malandros que andam a desviar para o mercado paralelo os livros dos nossos meninos. Acho que não é difícil localizá-los, responsabilizá-los disciplinar e criminalmente, porque se os coitados dos vendedores, que são o elo mais fraco da cadeia, estão na prisão, também os fornecedores desses livros deviam lá estar.

Acho que não é muito difícil esta missão. Senão vejamos: Se o Serviço de Investigação Criminal (SIC), tem esclarecido crimes com elevado grau de complexidade, este, o detectar e neutralizar a fonte ou a rede de fornecedores desses materiais escolares aos pequenos vendedores é uma tarefa facílima, porque os promotores dessa situação estão aí, são localizáveis.  Que esta palhaçada tem de acabar, lá isso tem.

Angola | É FÁCIL E DÁ MILHÕES FALAR DE COMBATE À CORRUPÇÃO


O secretário de Estado das Relações Exteriores, Téte António, afirmou, em Addis Abeba, Etiópia, que Angola “está à altura” de combater o fenómeno da corrupção e corresponder aos desafios do lema (“Vencer a Luta contra a Corrupção: Um Caminho Sustentável para a Transformação de África”) da 30ª Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA). Está?

O combate à corrupção tem sido uma das teses do novo Executivo angolano, que se propõe acabar com a impunidade, a todos os níveis e em todos os sectores da sociedade. Até agora o Sol está, reconheça-se, a ser tapado com uma peneira.

Angola, segundo o “ranking” mundial da organização Transparência Internacional, publicado em Dezembro de 2016, está entre os 14 países com os maiores Índices de Percepção de Corrupção no mundo. A Somália é o 176º país da lista e tem a pior classificação em termos de transparência.

“Esse é o nosso discurso nacional actual. Se há um tema sobre o qual se está a reportar mais em Angola é a luta contra a corrupção. Isto, a nível continental, também é preciso fazer”, expressou Téte António.

Em relação à 30ª Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana, o governante disse ser uma oportunidade para tornar esse órgão continental mais efectivo e capaz de atender e interpretar os desejos dos seus povos. A seu ver, é necessário trabalhar para que os povos se revejam efectivamente na União Africana, sublinhando ser essa uma reclamação constante dos africanos.

Os povos de África, referiu, não querem uma organização africana do tipo Sindicato de Chefes de Estado, mas sim um organismo que os represente condignamente.

Para tal, aponta desafios que o continente deve vencer, como os conflitos e a pobreza, daí haver necessidade de definição de prioridades africanas, sobretudo a nível de meios.

Téte António entende que África não pode continuar com uma organização que depende muito de doadores externos, como acontece na Comissão de Paz e Segurança, que a seu ver pode “perder a sua soberania e independência”, por causa dos quase “90 por cento de doações” recebidas.

Corrupção em África

Os países africanos são considerados dos mais corruptos do mundo, um factor que contribui para o empobrecimento do continente e, é claro, para o enriquecimento das suas elites políticas e militares. Os esforços anticorrupção têm mostrado resultados mistos nos últimos anos, mas são essenciais para o desenvolvimento. Os governos precisam de combater a corrupção em vez de depender da ajuda externa.

Dos dez países considerados mais corruptos do mundo, seis estão na África Subsariana. O suborno, extorsão, troca de favores, clientelismo, apropriação e desvio de bens ou valores têm um custo anual de 150 mil milhões de dólares para os Estados de África, segundo estimativas da União Africana. Para comparar, os países desenvolvidos doaram 22,5 mil milhões de dólares em ajuda à África Subsariana em 2008, segundo a OCDE, o que leva a argumentos de que os governos africanos precisam de combater a corrupção em vez de depender da ajuda externa.

«A corrupção em África varia entre o alto nível político, numa escala de milhões de dólares, e o baixo nível, com subornos a autoridades e funcionários públicos. No primeiro caso, impõe um maior custo financeiro directo ao país, no segundo caso tem um efeito corrosivo sobre as instituições básicas e mina a confiança dos cidadãos no governo», refere a jornalista Stephanie Hanson na publicação Council on Foreign Relations.

Mais de metade dos cidadãos da África Oriental, por exemplo, pagam subornos para ter acesso a serviços públicos que deveriam estar livremente disponíveis, relata a organização Transparência Internacional, o que também aumenta os custos de fazer negócios, uma vez que há uma correlação entre a eficácia no combate à corrupção e o aumento de produtividade de um país. «Atacar a corrupção é a melhor maneira de atacar a pobreza», sintetiza Nuhu Ribadu, ex-presidente da EFCC, comissão anticorrupção nigeriana.

A abundância de recursos naturais, uma longa história de governos autocráticos, o não prestar de contas aos cidadãos e os conflitos e crises no continente têm criado grandes desafios à boa governação e à luta contra a corrupção em África, apesar dos progressos recentes em termos de democracia e direitos humanos em vários países.

«Os recursos naturais são cada vez mais tentadores para algumas elites africanas e empresas multinacionais. Também a assistência oficial ao desenvolvimento fornecida por agências nacionais e internacionais não está livre de abusos e corrupção. A prestação de serviços públicos é precária e os funcionários são frequentemente tão mal pagos, que recorrem à corrupção “insignificante” para sobreviver. Instituições que deveriam garantir o equilíbrio de poder dentro do sistema são muitas vezes limitadas pela falta de recursos e independência», resume a Transparência Internacional.

Negócios e política, política e negócios

Na maioria dos países africanos, como os angolanos sabem por dramática experiência própria, os governos não têm capacidade ou vontade em lidar eficazmente com a corrupção. Além disso, o nível de desenvolvimento e organização da sociedade civil também varia consideravelmente, embora tenda a tornar-se mais activa e preocupada com as questões de corrupção e boa governação.

«A sociedade civil e os meios de comunicação social livres podem levar a uma maior responsabilidade dos governos e à adopção de reformas nas áreas da governação e gestão dos recursos públicos, tornando-se os pilares da integridade nacional dos países», preconiza a TI.

Um exemplo dessas iniciativas é o da rede Corruption Hunter Network, que combate a corrupção em todo o mundo através de reuniões de apoio aos seus membros. Em África esta rede de promotores públicos deu ajuda directa e protecção a activistas como o nigeriano Nuhu Ribadu e o zambiano Maxwell Nkole na luta contra a corrupção nos seus países, embora este apoio nem sempre seja eficaz.

A corrupção endémica nos Estados africanos leva à revolta das populações. Rebeliões no Delta do Níger, na Nigéria, foram provocadas por reivindicações da comunidade local de 30 milhões de pessoas por não beneficiarem com a extracção petrolífera nas suas terras, cuja receita é desviada para funcionários governamentais.

A corrupção também corrói o processo político, com muitos políticos a interessarem-se por cargos e reeleição em função do acesso a dinheiros públicos e à imunidade. A compra de votos e a fraude eleitoral – como, mais uma vez , os angolanos sabem – «são formas mais fiáveis e fáceis de ganhar uma eleição do que tentar ganhar a aprovação dos eleitores pela boa governação», comprova Paul Collier, director do Centro de Estudos das Economias Africanas (CSAE).

Na última década, países como a Libéria, Ruanda e Tanzânia fizeram progressos na redução da corrupção e o Gana registou melhorias nas normas de boa governação e na transparência em actos governativos. Apesar de terem criado agências anticorrupção, a Nigéria, Quénia e África do Sul registaram escassos avanços. A ECA, comissão económica das Nações Unidas para a África, afirma que as comissões anticorrupção nacionais têm sido «muito ineficientes e ineficazes», em grande parte por causa do seu financiamento e supervisionamento pelo poder executivo. Sempre que incomodam o poder instalado estas agências são eliminadas, como aconteceu em 2009 com a Scorpions na África do Sul, ou os seus responsáveis são depostos ou forçados a sair do país, como se registou na Nigéria e Quénia.

Por outro lado, chefes de Estado africanos apoiam o financiamento oculto de líderes políticos de antigos países colonizadores. Robert Bourgi, ex-consultor do Governo francês para assuntos africanos, acusou o ex-chefe de Estado Jacques Chirac e o ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin de terem recebido ilegalmente dinheiro e obras de arte dos presidentes do Senegal, Burkina Fasso, Costa do Marfim, Congo e Gabão. «Avalio em cerca de 20 milhões de dólares o valor total entregue», diz Robert Bourgi. Países europeus ignoram as actividades ilícitas e abusos de poder em África em troca de financiamentos partidários e acesso a matérias-primas.

Custos silenciosos

As estimativas dos custos da corrupção no continente africano não podem ser muito rigorosas, uma vez que a avaliação não é composta apenas pela soma de dinheiro perdido, mas também de desenvolvimento adiado e crescimento das desigualdades, que são menos fáceis de quantificar. Os 150 mil milhões de dólares anuais que os relatórios da União Africana estimam incluem custos directos e indirectos, o que representa 25 por cento do Produto Interno Bruto dos Estados de África e um aumento dos custos dos bens transaccionáveis em 20 por cento.

Quanto à eficácia da ajuda externa, o estudo «The Cost of Corruption», publicado na revista Euromoney, estimava que 30 mil milhões de dólares acabaram em contas bancárias no exterior. Pelo lado da arrecadação de receitas fiscais, o Banco Africano de Desenvolvimento calcula que a corrupção leva a uma perda de aproximadamente 50 por cento e estima que as famílias de baixo rendimento gastam de 2 a 3 por cento dos seus rendimentos no pagamento de subornos, enquanto as famílias de maiores rendimentos gastam em média 0,9 por cento. Estas avaliações demonstram que a corrupção em África está disseminada e é dispendiosa para os cidadãos de mais fracos recursos.

A corrupção silenciosa pode ser tão prejudicial ao crescimento económico geral e ao desenvolvimento de um país como a grande corrupção e os escândalos de subornos que recebem maior atenção mediática. No relatório «Africa Development Indicators 2010», o Banco Mundial já definia a corrupção silenciosa como «o não fornecimento pelos funcionários públicos de bens ou serviços para que são pagos pelos governos».

Esta corrupção passiva acontece quando professores e profissionais de saúde que, segundo os orçamentos do governo deviam trabalhar a tempo inteiro, são absentistas porque os salários para lhes pagar foram desviados por funcionários corruptos.

«A corrupção silenciosa não faz os títulos dos jornais da mesma forma que os escândalos de subornos, mas é igualmente corrosiva para as sociedades», alerta Shanta Devarajan, economista principal para a Região África do Banco Mundial. A corrupção silenciosa permitiu fracos controlos aos produtores e grossistas de fertilizantes que tiveram como resultado que 43 por cento dos adubos vendidos na África Ocidental não tivessem nutrientes e que mais de metade dos medicamentos vendidos nas farmácias na Nigéria fossem falsificados. A corrupção diminui o bem público e cresce onde há poder autocrático e pobreza.

Enviado especial da ONU em São Tomé para mediar crise


Oposição pediu ao enviado das Nações Unidas para adiar a tomada de posse dos cinco juízes do novo Tribunal Constitucional de São Tomé e Príncipe, prevista para quinta-feira, enquanto não houver consenso sobre o assunto.

Os partidos da oposição em São Tomé e Príncipe pediram esta segunda-feira (22.01) a François Louncény Fall, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a África Central, para adiar a tomada de posse dos cinco juízes do novo Tribunal Constitucional, enquanto não houver um consenso sobre este assunto.

Nas últimas semanas, a situação política deteriorou-se depois de uma crise institucional entre o Presidente da República, Evaristo Carvalho, a Assembleia Nacional e o Governo, de um lado, e o Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal Constitucional e a oposição, do outro. Em clima de tensão, os deputados da oposição tentaram boicotar a eleição dos novos juízes, tendo o executivo enviado para o hemiciclo uma força de choque da polícia nacional.

ONU apoia "processo democrático"

O representante especial do secretário-geral da ONU, atualmente em visita a São Tomé e Príncipe, foi informado pelos partidos da oposição do arquipélago que esta semana tomam posse os cinco juízes do novo Tribunal Constitucional, constituído mesmo depois de um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que considera o diploma "ilegal e inexistente".

François Louncény Fall anunciou que a ONU "está pronta para apoiar o processo democrático em São Tomé e Príncipe no âmbito da crise política que atravessa e que vai trabalhar para permitir que a democracia esteja viva em São Tomé e Príncipe: "Sabemos que o país é um modelo da democracia na região, desejamos que o processo político em curso neste país possa trilhar os caminhos da democracia."

O diplomata da ONU iniciou esta segunda-feira (22.01) vários encontros, nomeadamente com o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, e com os partidos políticos do país.

Oposição pede adiamento da posse de juízes

Aurélio Martins, presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD), principal força política da oposição, pretende adiar a posse para encontrar consensos. "Segundo o representante, a tomada de posse do Tribunal Constitucional está prevista para quinta-feira (25.01) e garantiu que fará todas as diligências para que os juízes não tomem posse na data prevista, para que possamos junto ao Governo encontrar um consenso e podermos chegar a um ponto comum", declarou.

A crise instalada entre o poder e a oposição preocupa também Arlindo Carvalho, presidente do Partido da Convergência Democrática (PCD), que entende que "este passo vem contribuir para piorar as coisas, pelo menos no momento em que está cá presente o representante das Nações Unidas". Por isso, defende que todas as atividades relativamente a este processo "deverão ser suspensas, até que se chegue a um consenso."

Já a Ação Democrática Independente (ADI), o partido no poder, que se reuniu em separado com o enviado de António Guterres, afirma que a formação do novo Tribunal Constitucional cumpriu todas as normas legais. "A própria lei orgânica que foi promulgada diz que a publicação é uma semana depois", sublinha o secretário-geral. Levy Nazaré cita o artigo 13 da Lei, segundo o qual a tomada de posse é no segundo dia a contar da data da publicação. "Logo, está para quinta-feira a tomada de posse. E o nosso líder, obviamente, estará presente", assegura.

Ramusel Graça (São Tomé), ra | Deutsche Welle

Na foto: François Loucény Fall e Zahira Virani, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

SÃO TOMÉ | Habemus Atrium Constitutionalis!

Hector Costa* | Téla Nón | opinião

Assistimos, sobretudo, ao  longo destas duas semanas  em S. Tomé e Príncipe, ondas de manifestações prós e contras  a criação do tribunal constitucional.

Estas manifestações não foram edificantes, foram sim, estéreis, quer nos seus conteúdos, quer nas suas formas. Pois, os partidos organizadores destas “manifestações de rua” , ao invés de se ocuparem com  a produção de conteúdos legislativos essenciais à compreensão e o fortalecimento da democracia política e social, desdobraram-se no “cultivo de espelho” num vasto deserto de ideias. Esta subalternização de ideias nestas manifestações, quer por parte dos partidos da oposição, quer por parte do partido do governo, é o produto, sobretudo,  do profundo défice de Educação para Cidadania Democrática.

Não se pode fazer política sem ideias. As ideias são agentes de mudanças tão poderosas como as exigências materiais, as necessidades económicas, os constrangimentos ambientais ou outros determinantes (Armesto,2003).

Portanto, sociologicamente, estas manifestações vazias de ideias, serviram apenas, para explorar a fome, a sede, a  ansiedade dos  grupos sociais mais vulneráveis, isto é, serviram para manipulação cognitiva da sociedade civil.

Eu estava à espera, enfim, que os partidos se mobilizassem para a democratização do acesso ao direito e à justiça. Pois, S.Tomé e Príncipe, à semelhança de alguns países periféricos, com regimes democráticos de baixa intensidade , imperam duas formas de justiça:  Justiça de rotina e a Justiça dramática(Santos,2004).

A justiça de rotina é a justiça feita para os pobres, grupos sociais com fraco poder aquisitivo. Normalmente, ocupa 99% do trabalho dos magistrados e funcionários (Santos,2004). Ao contrário, a justiça dramática, apesar de representar uma pequena fração do trabalho judicial, é a que atrai a atenção da comunicação social. A justiça dramática tem lugar sempre que os tribunais julgam arguidos económica, social e politicamente poderosos (Nunes,2004).

Em S.Tomé e Príncipe, temos tido vários casos de justiça dramática. O chamado caso GGA, caso Rosema, que é neste momento, o caso mais dramático.

Portanto, mais do que ondas de manifestações prós e contras  a criação do tribunal constitucional, é fundamental por um lado, que os partidos se esforcem para  reduzir situações de tensão institucional entre o sistema político e o sistema judicial, por outro lado, que o acesso, ao direito e à justiça seja mais justo e igualitário possível, isto é, que não dependa, das condições materiais da existência.

*Hector Costa - Sociólogo e Investigador pela Universidade de Coimbra.

GUINÉ-BISSAU | Carlos Gomes Júnior pode voltar a liderar Governo?

O antigo primeiro-ministro guineense Carlos Gomes Júnior admite estar a analisar a possibilidade de voltar a liderar um Governo se for desafiado a fazê-lo. Mas primeiro "teria de consultar a direção do PAIGC", sublinha.

"Não é essa a minha intenção. Primeiramente teria que consultar a direção do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), depois é que tomarei uma decisão", afirmou o antigo primeiro-ministro, que se reuniu esta quarta-feria (24.01) com o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira.

Regressado ao país há uma semana (18.01), depois de passar os últimos cinco anos entre Portugal e Cabo Verde, depois de ter sido derrubado por um golpe militar, Carlos Gomes Júnior respondeu assim quando questionado sobre se admite a possibilidade de liderar um futuro governo, na sequência da demissão de Umaro Sissoco Embaló.

Carlos Gomes Júnior disse não ter essa pretensão e sublinhou ser antes de tudo um empresário, mas disposto a ajudar o país. "Se o país precisar de mim um dia, analisarei com os meus parceiros e com a minha família", declarou.

O encontro entre os dois dirigentes do PAIGC durou pouco mais que 20 minutos, e à saída Gomes Júnior disse aos jornalistas, tratar-se de "uma visita ao presidente do partido" que liderou durante 12 anos. 

Afirmou que Domingos Simões Pereira lhe desejou "um bom regresso" mas que a possibilidade da sua participação no congresso do partido, a realizar entre 30 deste mês a 04 de fevereiro, não foi tema da conversa.

"Não foi abordado nada disso, deixemos as coisas andar", observou Carlos Gomes Júnior. Disse que teve sempre um bom relacionamento com os dirigentes do partido que liderou entre 2002 a 2014 mas não sabe responder se existe um mau relacionamento com o atual líder, Domingos Simões Pereira.

Presença no congresso do PAIGC

O antigo primeiro-ministro entregou hoje à direção do PAIGC uma carta a solicitar a sua presença no congresso daquela força política que deverá começar no próximo dia 30, disse à Lusa fonte partidária. 

Carlos Gomes Júnior foi presidente do PAIGC entre 2002 a 2014, ano em que foi substituído, num congresso, por Domingos Simões Pereira.  Em 2012, "Cadogo" foi deposto por um golpe militar. Desde que regressou ao país, a sua presença no congresso tem sido assunto de conversa entre os militantes do PAIGC.

O porta-voz do PAIGC, João Bernardo Vieira esclareceu que Gomes Júnior, está impossibilidade de tomar no congresso enquanto delegado, por não ser atualmente dirigente de qualquer órgão e ainda por não ter sido eleito nas estruturas de base, conforme os estatutos, disse.

O comité central é o órgão máximo de decisão entre os congressos do PAIGC e é onde se vai determinar se Carlos Gomes Júnior poderá ou não participar no congresso, que decorre entre 30 de janeiro a 4 de fevereiro, em Bissau.

Agência Lusa | em Deutsche Welle

Portugal | PSD/CDS | FOME, PORRADA E DESPREZO PARA OS TRABALHADORES


Os resultados vão ficando à vista dos mais incrédulos ou mais enganados durante anos ou mesmo por quase toda a vida, o CDS de Portas e agora da senhora tão náuseas no populismo, Assunção Cristas, e o PSD de Passos, agora de Rio, dos trabalhadores o que esperam é que sejam carne para canhão e assim não lhes faltará fome, porrada e desprezo. As conclusões são do Conselho da Europa. Mesmo assim ainda existem verdadeiros sacanas que apregoam que os portugueses devem agradecer a Passos Coelho… Só mentes estuporadas conseguem alinhar tais opiniões. Certo é que eles continuam por aí, sempre a procurar tramar-nos, escravizar os que produzem para que uns quantos nababos vivam à barba-longa, parasitando os tais trabalhadores a quem reservam permanentemente vidas insuportáveis, de permanentes sacrifícios e hiper-dificuldades. A seguir: as conclusões do CE. Está quase tudo dito, por agora. MM | PG

Conclusões foram aprovadas em Dezembro pelo Conselho da Europa

PSD e CDS-PP puseram em risco segurança dos trabalhadores e apoios sociais

O Conselho da Europa considera que o anterior governo violou a Carta Social Europeia, nomeadamente por falta de meios na Segurança Social e na Autoridade para as Condições do Trabalho.

As conclusões são do Comité para os Direitos Sociais (ECSR, na sigla em inglês), que avalia o cumprimento da Carta Social Europeia, que Portugal subscreveu em 1989, e referem-se ao período de 2012 a 2015, correspondentes a quase toda a vigência do anterior governo do PSD e do CDS-PP.

e acordo com o Público, Portugal falhou em cinco dos 19 compromissos, tendo cumprido outros nove. Quanto aos restantes cinco, o Conselho da Europa considerou que a informação enviada pelas autoridades nacionais é insuficiente para fazer uma avaliação.

Redução de funcionários públicos: perigo para segurança e protecção dos trabalhadores

A falta de meios, nomeadamente humanos, na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), assim como na Segurança Social, é apontada pelo ECSR como um risco para a higiene e segurança no trabalho e no acesso a prestações sociais.

No caso da ACT, o depauperamento da sua capacidade de resposta é fortemente criticada. O número de inspectores foi reduzido em mais de 50 durante o período, tal como o número de inspecções, que passou de 15 mil, em 2012, para menos de 4 mil, em 2015.

O comité aponta ainda para a insuficiência de medidas para a prevenção e redução do número de acidentes de trabalho. A incidência de acidentes com consequências fatais para algum dos trabalhadores envolvidos manteve-se praticamente inalterada, sendo o dobro da média nos 28 países-membros da União Europeia – o mesmo acontecendo com os acidentes sem vítimas mortais.

Despedimentos na Segurança Social com resultados negros

Também a falta de meios na Segurança Social é destacada pelo ECSR, tendo como consequência a incapacidade de dar resposta aos muitos pedidos de apoios sociais, num período em que a pobreza e o desemprego estavam em crescendo.

Nos anos do anterior governo, cerca de 600 funcionários do Instituto da Segurança Social foram colocados no regime de requalificação, uma ante-câmara para o despedimento criada pelo executivo de coligação entre o PSD e o CDS-PP.

RSI e subsídio de doença são insuficientes

A protecção face a situações de pobreza e de doença é também apontada pelo Conselho da Europa como insuficiente. Os valores em que estavam fixados o rendimento social de inserção (RSI) e o subsídio de doença não chegavam para colocar os beneficiários acima do limiar da pobreza.

O governo do PSD e do CDS-PP mantiveram o indexante de apoios sociais (IAS) congelado, o que significou que não houve qualquer actualização no valor de várias prestações sociais, que estão dependentes deste valor. O mecanismo de actualização automático foi suspenso entre 2011 e 2015, implicando ainda o congelamento de quase todas as pensões.

O Teatro de Marionetas do Porto faz 30 anos. A festa está quase a começar


A festa vai ser em grande e longa. Começa este mês e só termina no final do ano, com a reposição de 12 peças.

Os últimos trinta anos foram sinónimos de vitalidade e para o futuro deseja estabilidade. Isabel Barros faz assim a ponte entre o passado e o que está para vir. Não está no Teatro de Marionetas do Porto desde o dia um, em 1988. Chegou cinco anos depois, movida por um sentimento maior. "Eu estava muito apaixonada e aproximei-me deste universo por via dessa paixão."

A partir do final da década de 80 percorreu todos os contratempos e todas as vitórias ao lado de João Paulo Seara Cardoso, que idealizou o Teatro de Marionetas do Porto, lhe deu corpo e vida até 2010. Isabel Barros pegou na direção do projeto, em plena crise. A criação do Museu de Marionetas, desejado por Seara Cardoso, foi o desígnio que abraçou como imperativo.

"Viver é uma luta e trabalhar nestas áreas também. Houve anos complicados como em 2009, com os cortes no apoio às artes."

"Fausto" é a primeira peça a regressar ao palco. Até dezembro serão repostas peças, mas em outubro há uma estreia prometida e já tem nome: "Quem sou eu" e envolve a população sénior da freguesia de Campanha, no Porto, que vai ter um papel ativo quer na interpretação, quer, até, na escrita do texto."

No próximo mês, a 4 de fevereiro será lançado o livro "As Marionetas Não Morrem". A obra conta a vida do teatro da abertura à criação do museu. João Paulo Seara Cardoso é o protagonista da história, na continua a marcar presença.

"A sua forma de estar e trabalhar era muito forte e está presente de forma implícita", afirma Isabel Barros.

Rui Queiroz de Matos é um dos 10 elementos da equipa. Ator de formação, nunca se imaginou entre marionetas, até ao dia em que se cruzou com João Paulo Seara Cardoso. Na peça "Fausto" manipula vários bonecos, mas nunca escondido, nem na sombra. Rui Queiroz de Matos diz que esta transparência perante o público também o cativou para trabalhar com marionetas.

"O João Paulo idealizou um teatro com marionetas e não de marionetas. O foco é tudo: o boneco, o ator, a dança, a música, o vídeo... O ator não está escondido."

Rui partilha o palco, em "Fausto", com Mário Moutinho, veterano e que acompanhou o início deste projeto. De João Paulo Seara Cardoso recorda a paixão de sempre por marionetas e o legado que deixou.

Com as reposições agendadas para os próximos meses, o Teatro de Marionetas do Porto faz a festa dos 30 anos. Isabel Barros antevê o cruzamento de muitas gerações. O público, diz a diretora, é fiel e com o passar dos anos, os filhos do passado vêm agora no papel de pais.

Para os anos que se seguem, Isabel Barros expressa dois desejos: estabilidade e tranquilidade.

Sónia Santos Silva | TSF

PORTUGAL | Com democracias destas...


Rui Sá | Jornal de Notícias | opinião

Creio que, hoje, a maior parte das pessoas já entendeu que, afinal, a alteração à lei do financiamento dos partidos políticos não teve a "gravidade" que alguns - e sabemos os seus inconfessáveis propósitos - lhe atribuíam. Afinal não houve secretismo nem falta de transparência, antes um procedimento habitual na Assembleia da República (criação de grupos de trabalho constituídos por todos os partidos para adiantarem trabalho). E as alterações não passaram por aumentar a subvenção pública, mas antes para aumentar a capacidade de os partidos se autofinanciarem através da sua própria atividade. E, quanto ao IVA, houve uma clarificação da situação (que possibilitava diferentes interpretações, como, aliás, acontece em diversas outras áreas da atividade económica) - que poderá, efetivamente, aumentar isenções (e consequente aumento da receita), mas cujo objetivo foi, apenas, precisar o que é e o que não pode ser considerado como atividade política.

Mas, ultrapassada esta situação, que o CDS, em particular e com a demagogia populista da sua própria matriz (lembram-se dos cartazes deste partido com as panelas para demonizar a regionalização - que resumiam à criação de mais "tachos?), tentou cavalgar, novos elementos inquinam a credibilidade do funcionamento partidário - aqui com factos que, objetivamente, o descredibilizam, dado que a maior parte das pessoas não distingue, por ignorância, por facilitismo ou por interesse, a árvore da floresta...

Refiro-me ao pagamento, em massa, de quotas de militantes para poderem votar nas eleições partidárias (diretas ou não), bem como ao arrebanhamento de "militantes" para votarem em quem o cacique manda..."Fenómeno" que ganhou mais relevância pública no PSD, onde, dizem, 20 mil militantes pagaram quotas atrasadas num dia e se descobriram, em Ovar, carrinhas a arrebanhar militantes para votarem e "militantes- -fantasmas" que vivem, em magotes, na mesma casa cujos moradores dizem nada ter a ver com o PSD (Rio envelheceu mesmo, dado que, há 20 anos, lutou pela refiliação dos militantes do PSD para, dizia, impedir estas situações!...). Mas que se repetiu nas diversas eleições concelhias do PS onde, dizem-no dirigentes do próprio PS, há pessoas que são apelidadas de "sacos de votos", pelo poder cacique que exercem sobre gente cuja militância apenas se revela no instante das eleições internas partidárias...

E, aqui, podemos estar perante fenómenos de financiamentos encapotados de empresas a partidos - é sabido que as quotas de centenas de militantes são pagas por uma única pessoa (sendo difícil provar a verdadeira origem dessas verbas). Mas, essencialmente, estamos perante um desvirtuamento das regras democráticas partidárias.

E isto faz-me refletir sobre a imposição que partidos que permitem estes comportamentos fizeram, em 2003, aos outros partidos, principalmente o PCP. De facto, foi nessa altura que PSD, PS e CDS decidiram impor, à sua própria imagem, um conjunto de regras, uma das quais a de que a eleição dos órgãos dirigentes partidários deve ser por voto secreto. Regra imposta ao PCP que, como se sabe, permitia que fossem os próprios militantes a decidirem, por braço no ar, o método de votação. Imposição que procurava fazer crer que o PCP não era democrático porque elegendo a direção por braço no ar (como acontece na generalidade das associações e mesmo em empresas...) os militantes estariam condicionados, pelo medo de assumirem as suas divergências.

Eu, militante que tantas vezes no interior do meu partido expressei as minhas discordâncias com esta ou aquela posição, com este ou com aquele camarada, continuo a achar que o grau de democraticidade partidária não se mede pelo método de votação mas sim pela cultura democrática dos partidos. Que, pelos exemplos que referi, não abunda em alguns lados...

Engenheiro

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