quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

MOÇAMBIQUE | Presidente anuncia consensos alcançados nas negociações de paz


Presidente Filipe Nyusi anunciou esta quarta-feira (07.02.) ter alcançado consensos com o líder da RENAMO para uma revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização.

O Presidente Filipe Nyusi afirmou que os consensos alcançados com o líder da RENAMO, o maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, sobre o projeto de lei de revisão da Constituição reafirmam com destaque "a República de Moçambique como um Estado unitário, um Estado que respeita a sua organização e funcionamento, autonomia das províncias, dos distritos e das autarquias locais.”

Os consensos alcançados prevêm que passa a constituir regra geral para a designação do Presidente da República, dos membros do Parlamento e das Assembleias provinciais, distritais e autárquicas o sufrágio universal direto, igual, secreto e pessoal.

Numa comunicação à nação, Filipe Nyusi indicou que o presidente da autarquia local passa a ser proposto pelo partido que obtiver maioria de votos nas eleições para a assembleia autárquica, de entre os membros deste órgão. Deixa de haver espaço para a realização de eleições intercalares.

Estas alterações sobre as autarquias entram em vigor a partir do escrutínio agendado para outubro de 2018 e sobre os distritos só serão implementadas com a realização das eleições gerais de 2024.

Governador responde a Assembleia Provincial

Uma outra alteração de vulto proposta no atual sistema eleitoral situa-se ao nível provincial. Segundo Filipe Nyusi, "a província passará a partir das eleições de 2019 a ser chefiada por um governador nomeado pelo Presidente da República sobre proposta apresentada pela coligação de partidos ou grupo de cidadãos que obtiver maioria de votos nas eleições da assembleia provincial, entre os membros desta.”

O Governador responderá diretamente a assembleia provincial.  Ao nível da província será criada ainda a figura de Secretário de Estado, nomeada pelo Presidente da República, que terá a missão de assegurar a realização das funções que não são objeto do processo de descentralização.

O Presidente Filipe Nyusi explicou que não são objeto de descentralização as matérias de exclusiva responsabilidade dos órgãos de soberania e dos órgãos e instituições centrais do Estado, nomeadamente "a definição e organização do território, a defesa nacional, a segurança e a ordem pública, a fiscalização das fronteiras, a emissão da moeda, as relações diplomáticas, os recursos minerais e energia, bem como os recursos naturais situados no solo e no subsolo das águas interiores e no mar territorial e na plataforma continental e na zona exclusiva, a criação e alteração dos impostos”.

Passos sobre assuntos militares para breve

A proposta de revisão da Constituição será submetida a aprovação do Parlamento antes de ser transformada em lei. O Presidente Filipe Nyusi classificou os acordos alcançados com Afonso Dhlakama no âmbito da descentralização como um passo gigantesco no processo de busca de uma paz efetiva e definitiva e na consolidação da democracia.

Relativamente aos assuntos militares, outro ponto que está em negociações, Nyusi disse que têm vindo a ser alcançados consensos em matérias relacionadas com o desarmamento, desmobilização e reintegração dos efetivos da RENAMO.

O Chefe de Estado disse que continua a prevalecer o espírito de confiança, abertura e cooperação com o líder da RENAMO e deixou uma promessa: "Brevemente levaremos ao conhecimento dos moçambicanos os passos que se seguirão no âmbito dos assuntos militares”.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

MOÇAMBIQUE | Juiz liberta caçadores furtivos confessos em Magude

Um juiz afecto ao Tribunal Judicial do distrito de Magude, na província de Maputo, ordenou semana finda a libertação de quatro caçadores furtivos confessos, capturados por fiscais dentro de uma das fazendas do bravio no Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo.

Quatro jovens foram interceptados a caçarem ilegalmente por fiscais da fazenda Karingani Game Park, a sul de Massingir. O furtivos tentaram fugir dos fiscais mas acabaram detidos na posse de uma arma de fogo, do tipo espingarda, com dez munições e um machado.

O @Verdade apurou que conduzidos à esquadra da polícia no distrito de Magude os quatro furtivos, que confessarem estar a caçar dentro da fazenda que faz fronteira com o Parque sul-africano do Kruger, foram presente ao juiz do Tribunal Judicial local que decidiu não existirem provas para a legalização da prisão de dois deles.

Fontes do @Verdade indicaram ainda que o juiz decidiu ainda que os dois furtivos restantes podiam aguardar julgamento em liberdade caso pagassem caução que fixou em 80 mil meticais por cada um dos acusados. Milagrosamente, os dois jovens acusados de caça furtiva, que não apresentaram nenhuma referencia de trabalho formal, pagaram a caução fixada e saíram em liberdade.

As autoridades de combate à caça furtiva revelaram ao @Verdade ser esta uma decisão recorrente dos Tribunais distritais, ao abrigo de um acórdão do Conselho Constitucional que estabelece que todos os crimes são caucionáveis em Moçambique, que claramente mina a protecção da fauna bravia.

Recorde-se que depois de alguns anos de significativa redução a caça furtiva, particularmente do rinoceronte e do elefante, voltou a recrudescer na região Sul de Moçambique apesar dos esforços das autoridades de fiscalização que trabalham em estreita colaboração com a contraparte sul-africana.

Adérito Caldeira | @Verdade

Timor Leste está num estado de interregno: entre a incerteza e a esperança!


Afmend Sarmento* | opinião

A crise política que Timor-Leste está atravessar nestes últimos meses é gravíssima, com uma nova experiência na construção do Estado de direito democrático: a dissolução do Parlamento Nacional e, consequentemente, a convocação da Eleição Antecipada, ou seja, na terminologia jurídica-constitucional chamada a subsequente eleição. Na verdade, é um sinal evidente da instabilidade política. Assim, a referida eleição é arquitetada como “marca registada dos nossos tempos” (Bauman, 2016, 33). Num ambiente muito tranquilo e sossegado, todos os presentes se aplaudiram perante a decisão anunciada pelo próprio Presidente da República, Dr. Francisco Guterres "Lu-Olo". A decisão anunciada foi sustentada, por um lado, por força jurídica-constitucional, isto é, em abrigo ao artigo 86.º, (alínea f) e artigo 100.º da Constituição da República de 2002: “o Presidente da República, no uso das suas competências, previstas no artigo 86.º, alínea f da C-RDTL, decreta a dissolução do Parlamento Nacional e a seu tempo vai convocar eleições parlamentares antecipadas nos termos da constituição e da lei” (cf. Mensagem de Sua Excelência Presidente da República sobre a situação política em Timor-Leste, 26 de janeiro de 2018) e, por outro lado, fundamentada por razão política, na medida em que os políticos  não são “áugures”, “curadores”, “intérpretes” (Bauman, 2016, 70) da vontade popular expressada na última eleição. Tudo bem, mas, nada disso flui, nada disso corre; muito pelo contrário, fica parado e faz diminuir o ritmo do desenvolvimento nacional.

Segundo a minha perspectiva, esta é uma decisão win-win solution, aonde uma parte não se sentiu como vencedor nesta disputa pelo poder que gera a crise política neste País. Trata-se, pois, de definir, de um lado, a dissolução do Parlamento Nacional como vitória para Fretilin e o seu aliado, mas, o Governo também cai, por outro lado. Em última instância, a intenção da AMP era mesmo procurar todas as formas para afastar Marí Alkatiri pela segunda vez do cargo de Primeiro-Ministro. Recentemente, Peter Sloterdijk sugeriu uma copresença na ação política de duas economias distintas: “a economia erótica” do Eros e “economia timótica” da noção de Thymos de Platão (citado em Bauman, 2016, 28). Comentou Bauman: (1) as pessoas são movidas não só por dinheiro, mas por falta de algo. Esse algo pode caracterizar com o poder. Como ouvimos nas linguagens corriqueiras: o assalto de poder ou golpe de poder para se referir à AMP. (2) motivada pela necessidade de reconhecimento. A exigência do P-Fretilin para ser reconhecida como vencedor nas últimas eleições, tem todo o direito para formar um Governo, ainda que não cumprisse o critério determinante como conditio sine qua non para a formação do Governo, ou seja, a Maioria Parlamentar. Nesta perspectiva, o Presidente da República observa que a “ética da oposição demasiadamente é erótica e não timótica” (Bauman, 2016, 28); isto implicaria uma consciência tranquila do PR para dissolver PN, abre o caminho aberto ao jogo democrático na Eleição Antecipada.

Uma das curiosidades assenta-se na corrente pensamento do Pierre Bourdieu, um jogo de palavras de que chamou apropriadamente de “cínico” e “clínico”. Comentando por Bauman que uma decisão pode ser usada de forma “cínica”, isto é,  “pensemos numa estratégia que permitirá utilizar as suas regras para tirar o máximo de vantagem; quer a decisão seja justa ou injusta, agradável ou não, isso não vem ao caso. No entanto, quando é utilizada “clinicamente”, essa mesma decisão pode nos ajudar a combater o que vemos de impróprio, perigoso ou ofensivo à nossa sociedade (Bauman, 2000, 7. itálico é meu).  Pessoalmente, argumento que a decisão política possa tornar se uma “clínica” para diagnosticar as doenças da sociedade, a fim de recuperá-la, do que ser um palco para encher com “os dramas cínicos” da política, em busca insaciável do poder. Em fim, Nietzsche advertiu nos de que, em períodos de decadência, é fácil perder “a capacidade espontânea de se autorregular coletiva e individualmente”, de tal modo que “preferimos o artificial ao real”, deixando prevalecer os “motivos ‘desinteressados’” a ponto de “escolhermos instintivamente o que é pernicioso” (citado em Bauman, 2016, 17). Na verdade, BK e BOMP, todos sofreram a doença “psico-patologia” significa, em grego, sofrimento da alma (Bauman, 2000, 40), gerada pela idolatria ao poder, honra e riqueza.

Eis aqui a raiz do problema, como dizem os alemães, “Ist der Hund begraben”, literalmente diz-se “aqui está o cerne da questão”: “o verdadeiro poder ficará a distância segura da política e a política permanecerá impotente para fazer o que se espera da política” (Bauman, 2000, 11). O professor e sociólogo da London School of Economics, Zygmunt Bauman expressou de forma sucinta e correta: "nenhuma decisão é final, todas se ramificam noutras" (Bauman, 2016, 5). Como sabemos, toda a ação política desenrola-se na articulação de três esferas – a política, a economia e a social. Na verdade, a Sua Excelência Presidente da República pôs fim a uma crise política em disputa ao poder, porém, fica aberto o caminho para uma outra crise económica, financeira e social.

Assim, começaremos pela definição do termo “crise”. É uma palavra utilizada para caracterizar uma ruptura no funcionamento de um sistema, de forma, positiva ou negativa. De facto, a crise política e económica estão intimamente ligadas – afirmando por Bobbio – tanto em sentido positivo, quando a solução de uma das duas leva elementos benéficos para a solução da outra, como em sentido negativo, quando a incapacidade de resolver a crise de uma esfera se repercute sobre a outra esfera (Bobbio, 1998, 303-306). Deste ponto de vista, esta  decision-makers parece-se como uma espécie de “mística da mudança”,  (Bauman, 2016, 26) que evoca constantemente a mudança e ao mesmo tempo a adia a situação política atual numa incerteza, porque o Estado está a funcionar sem um Orçamento Geral do Estado.

Como fundamentou Pe. Martinho Gusmão que a Eleição Antecipada é uma péssima ideia. Atrevo-me a dizer que, o pacote de Eleição Antecipada, ou seja, a subsequente eleição parecer-se como uma “Caixa de Pandora”, isto é, segundo a mitologia grega, Prometeu rouba o fogo a Zeus e dá-o aos homens. É a desgraça da humanidade, pois Zeus ordena que seja criada Pandora, que é dotada de beleza e graça, mas também de mentira e de desgraça. Sim, é uma decisão honesta e justa (Pe. Jovito do Rego), mas contém sempre a miséria e desgraça, uma ferida e uma maldição ao mesmo tempo. Na famosa definição de Peter Drucker, “a política (sociedade) não oferece mais salvação” (citado em Bauman, 2000, 62). Estes fenómenos já se constituem como um "cancro" que é difícil de curar, por gastar muitos milhões para nada, enquanto o povo continua a viver na miséria e pobreza.

O mais sinistro e doloroso dos problemas atuais  pode ser melhor entendido sob a rubrica Unsicherheit, termo alemão que funde experiências para as quais outras línguas podem exigir mais palavras — incerteza, insegurança e falta de garantia (Bauman, 2000, 10),  cujo sentido, segundo o autor, sintetiza a condição do homem nas suas dimensões de incerteza, falta de garantia e insegurança nas situações do quotidiano. Esta situação de insegurança é gerada pela instabilidade do mercado. As pessoas sentem-se inseguras. Porquê? Porque, por um lado, a taxa de desemprego vai aumentar na medida em que muitos dos empresários nacionais não tem capacidade económica para pagar o preço do trabalho, por outro lado, a máquina do Estado fica parcialmente parada por não ter capacidade para atender o público de forma eficaz e eficiente, por falta de orçamento de Estado como recurso adequado de sempre para sustentar a sua atividade. Logo, estão afundandos no naufrágio da crise, presas entre precariedades crónicas, que impedem as pessoas de assumir qualquer nova responsabilidade plenamente (os cargos de chefia), e a expulsão do mundo de trabalho os funcionários contratados. E, assim, a tensão positiva que mantém a sociedade em equilíbrio fica perturbada.

A leitura acima  tira-nos da zona de conforto e faz-nos refletir sobre a sociedade na qual estamos inseridos e sobre questões políticas de extrema relevância, possibilitando uma maior compreensão acerca da crise que estamos a enfrentar. Assim, o Estado de Timor-Leste está num estado de interregno: entre a incerteza e a esperança! No “interregno”,  - como diz o Bauman – “não somos uma coisa nem outra”, acrescentando ainda que, “no estado de interregno, as formas como aprendemos a lidar com os desafios da realidade não funcionam mais” (Bauman, Entrevista, 1 de janeiro de 2016), exceto, o povo continua a orar sem cessar “...neste vale de lágrimas!”.

 Já não temos mais alternativas, portanto, exceto perguntamo-nos com Bauman: Até que ponto a crise atual vai levar as transformações que ela ocasionou? Quanto tempo que levará para encontrar um rumo certo? Quantas pessoas tornar-se-ão vítimas até que a solução seja encontrada? Mais uma vez, Bauman fundamentou “a incerteza, além do mais, não cessa depois que se toma uma resolução” (Bauman, 2000, 76). A cena revela-se ainda mais dramática, de facto, já solucionamos a  crise política, mas, está para vir uma outra crise económica e financeira, até pode ser, a crise social. Para usar o termo feliz cunhado por Anthony Giddens, a nossa incerteza é fabricada. A incerteza não é algo que reparamos, mas algo que criamos e criamos sempre de modo novo e em maior quantidade, e criamos através dos esforços para repará-la (citado em Bauman, 2000, 125). Se avaliarmos o seu impacto quotidiano, consequentemente, concluiu Bauman  “as duas coisas de que mais se tem certeza hoje em dia é que há pouca esperança de serem mitigadas as dores das atuais incertezas e que mais incerteza ainda está por vir” (Bauman, 2000, 32). De facto, todos nós estamos naufragados neste imenso mar de incerteza.

Nós vivemos num período de interregno causado pela “arrogância de uma democracia viciada” (Alexandre Krausz), a provocar o sentimento crescente de caos e incerteza sobre a situação política que o país está a enfrentar. O problema, porém, - recorreremos às interpretações de Zygmunt Bauman - é que se fazer algo efetivamente para curar ou ao menos mitigar a inquietude e incerteza exige ação unificada, a maioria das medidas empreendidas sob a bandeira da segurança são divisórias, semeiam a desconfiança mútua, separam as pessoas, dispondo-as a farejar inimigos e conspiradores por trás de toda discordância e divergência (Bauman, 2000, 10). Torna-se cada vez mais problemático alcançar o que Hans-Georg Gadamer chama de “fusão de horizontes”, (citado em Bauman, 2016, 37), que forja consciências, posturas, políticas coletivas e cultura compartilhada em prol da causa do desenvolvimento nacional. A dúvida e a preocupação suscitada pelo povo em geral — fundamentando por Bauman  (Bauman, 2000, 77) — a separação entre o Bloco de Governo e o BOMP é sua independência mútua. É antes a ligação, a dependência mútua, a comunicação entre os dois sectores que deve estar no centro: o interesse do Estado de Timor-Leste.

Talvez este é o nosso Zeitgeist (“espírito da época”), no próprio momento em que tudo aquilo que nos ajudou a criar este “juntos” desabou -  parafraseando Bauman – os partidos políticos não se entendam, a grande cultura política de “omnium consensus” perdeu-se o seu rigor, os modos de expressão como o meu irmão/ o meu compadre afundou-se no abismo –, o espaço para o debate e a reflexão dos líderes antigos como o Encontro de Maubisse I e II encolheu subitamente, e o discurso público vigente se atrofiou no colapso da comunicação entre as elites políticas (Bauman, 2016, 12. itálico é meu). Em suma, nós estamos a enfrentar, por conseguinte, “uma instabilidade política que, em primeiro lugar e acima de tudo, é uma solidão política, uma incomunicabilidade política” (Bauman, 2016, 12.), - continua Bauman - uma ausência de  habilidades de diálogo, como força vital sine qua non da democracia (Bauman, 2016, 85). Nós estamos no começo de um processo longo e tortuoso para chegar a formação de um novo Governo. Pois, os líderes políticos,  salienta ainda Bauman, por sua natureza, “são demasiados propensos à rivalidade e à exclusão recíproca, eles parecem indispostos à cooperação e incapazes de reestabelecer  de novo o espírito fraterno”, (Bauman, 2016, 19) que os guia nos tempos da resistência. Antigamente - como disse Milan Kundera, no seu romance A identidade, - ser amigo significava ficar ombro a ombro na batalha, estar pronto a sacrificar o próprio bem-estar, a própria vida se for necessário, por uma causa que só é defensável como causa comum e em comum. A vida era frágil, cheia de perigos e a amizade podia torná-la mais sólida e um pouco mais segura (citado em Bauman, 2000, 50). Este foi o espírito da resistência e o vínculo inquebrantável que então estabeleceram entre os timorenses. Hoje, este espírito afundou-se no mar e “rasgando o delicado tecido da solidariedade humana” (Bauman, 2000, 51) pelo caprichos de poder. Tal como diria Norberto Bobbio: “o homem persegue o próprio interesse tanto no mercado económico como no político” (BOBBIO, 1986, 10), seguindo o seu próprio instinto da “vontade do poder” (Nietszche). O desejo do poder é algo que o move inevitavelmente – o “instinto de poder” (Weber), como habitualmente se diz.

Em qualquer país democrático, o que gera e mantém organizadas as sociedades, bem como, garantir a segurança e estabilidade é a “tarefa suprema e a obrigação inegável do Estado, portanto, sua raison d’être” (Bauman, 2016, 9). Entendido dessa forma, “o Estado era o grande provedor da segurança e estabilidade da nação, e, por isso, onde os cidadãos depositavam sua confiança” (Bauman, 2000, 50). Em outras palavras, a razão do Estado é ligada com a segurança e garantia do bem-estar da nação e do povo, numa palavra, o Estado como remedium peccati (Norberto Bobbio), para sarar a incerteza, insegurança e falta de garantia na vida quotidiana da população.

No entanto, há um constrangimento suscitado no meio do povo perante os políticos, no qual o discurso da retórica política de “interesse do Estado/Povo” torna-se o instrumento para atingir os objetivos pessoais e partidários. Comentou Bauman: “os políticos prometem modernizar as estruturas seculares de vida dos seus súditos”, o que na realidade, apenas uma pura emissão fonética - "flatus vocis"- enfatiza-las para cativar a simpatia e adesão do povo, visa ganhar a confiança através do seu voto nas urnas.  No mesmo contexto, percebe-se claramente que “as promessas são presságio de mais incerteza, mais insegurança e menos garantia contra os caprichos do destino” (Bauman, 2000, 39). Enquanto, as elites políticas perseguem o sentido da existência em direção às próprias sensações de bem-estar, enquanto o povo continua a viver num oceano de miséria. É difícil para nós, hodiernos, entendermos a ação dos políticos.

A pesquisa recente realizada pelo International Republican Institute (IRI) antes da Eleição anterior concluíram que um maior número da população timorense, não aderirem a qualquer partido político e, com um volume elevado dos indecisos em escolher um partido. Esta situação deve-se aos políticos que perdem poder e são responsáveis por uma crescente apatia política, um progressivo desinteresse do eleitorado por tudo que tenha caráter “político” (Bauman, 2000, 22). Esta apatia vai influenciar para que possa acontecer um crescente número maior de abstenção e não participação na Eleição Antecipada que se realizará em breve. Ainda por cima, o próprio sistema eleitoral em si, não irá contribuir para que a população possa exercer livremente o seu direito de voto em qualquer lugar.

Na verdade, há uma certa “reação de fadiga” e “perda de simpatia” da população timorense, porque os políticos não cumprem a promessa. Esta situação vai gerar “o ponto de ruptura com o alargamento do fosso entre eleitores e eleitos – isto é, com a crise evidente de representação” (Bauman, 2016, 11), porque os eleitos não tem o sentimento do Povo. Em consequência, “as pessoas não votam mais, ou o fazem com indiferença, sem paixão ou pelo menos sem muita convicção; elas não acreditam no direito de votar como o meio mais efetivo... (Bauman, 2016, 11), isto contribui para a elevação de não-participação nos atos eleitorais, bem como, os escritos que aparecem com a incitação de levar as pessoas para o Golput. Pois, “o povo sente-se traído e frustrado pelas promessas democráticas” (Bauman, 2016, 15), que soam nos ouvidos do povo durante as campanhas: libertar o povo da pobreza e miséria! Muito pelo contrário, “os que estão no poder não desfrutam mais da confiança dos eleitores; eles só acumulam os benefícios”, como argumenta o pensador político francês Pierre Rosanvallon (citado em Bauman, 2016, 42). Assim, o fim da política não é para alcançar o Bem Comum, mas o bem da família e do partido.  A nação – para estes animal politicus – torna-se a segunda opção, dada a importância à primeira opção que é a família e o partido. Em suma, sem dúvida, é um dos mais nocivos venenos da nossa época.

O povo testemunhou o desmoronamento da confiança depositada nos seus representantes no PN, que deveria dar forma e substância a pensamentos genuínos e bem organizados que se agregam e desenvolvem pelo debate em prol do bem comum. Estes são, as realidades atuais, responsáveis pelo fato de o cidadão se sentir “traído e frustrado pelas promessas democráticas” (Bauman, 2016, 15). Porque os políticos não cumprem a promessa do princípio de reciprocidade - do ut des - isto é, o povo oferece o seu voto, enquanto o político não estimula a busca de satisfação do povo, bem pelo contrário,  causa apatia política como expressa com lucidez e articulado de forma coerente por Bauman - uma política de “adiaforético”, - quer dizer, sem interesse para as autoridades políticas (Bauman, 2000, 67). Oxalá, que este povo resistente e sofredor não acredita cegamente nestes “profetas desonestos e falsos salvadores” (Bauman, 2016, 22) da Nação, que venham divulgar os programas eleitorais, as promessas políticas, com intuito de mobilizar e conquistar o eleitorado para eleger os partidos políticos.  Que o povo tem o sentimento de “imunidade à eloquência”, como chama Bertrand Russell, isto é, a capacidade de resistir à falsa mágica das palavras do Poder (Bauman, 2016, 63).

Os resultados eleitorais da EA manter-se-ão dentro da tendência histórica, como Marx Weber demonstrou “hero worship” ou “absolute trust in the leader” continuam a votar em Xanana e Taur Matan Ruak. E, os que adoram o Partido Fretilin continuam a votar neste partido. Como comentou o Pe. Martinho Gusmão: “o voto ideológico” continua na mesma  com os votos dos "semper fidelis" (sempre fiéis) militantes e simpatizantes. O que vai mudar é “o voto estratégico”, mas o nosso povo ainda não tem a “capacidade de analisar, da inteligência para discernir” (Bauman, 2016, 57) os programa eleitorais. Ainda vale a palavra de Robert Ezra Park: (1) marcado pelo discurso racional; (2) unida por uma experiência emocional. Explicando de forma explícita por Bauman: o primeiro deve ter “capacidade de pensar e argumentar com os outros”, ao passo que a última só precisa ter “capacidade de sentir e se identificar” (citado em Bauman, 2016, 26) com os militantes e simpatizantes. Assim, “luta política” da EA já não é mais uma competição de programas eleitorais, mas, sim, de figuras históricas e partidos históricos, mais uma vez, Bauman sintetiza: “luta política já não é mais uma competição de ideias, mas de personalidades: o maior número de pontos é amealhado pelas figuras...”,  porque a “cognição política é moldada emocionalmente” (Bauman, 2016, 78) para cativar a simpatia e adesão dos "semper fidelis" militantes e simpatizantes.

No meio de situações verdadeiramente dramáticas, “o que nos mantém vivos e atuantes perante esta situação de incerteza é a imortalidade da esperança” (Bauman, 2016, 35), como frisou de forma concisa por Bauman. De facto, a esperança é o único remédio preventivo desta incerteza. A ansiedade difusa e dispersa dos povos deslocam-se para um único elemento de Sicherheit — o da segurança. Freud fala de Sicherheit, a língua alemã é atipicamente frugal: consegue estreitar num único termo fenómenos complexos para os quais outras línguas precisam pelo menos de três — segurança, certeza e garantia (citado em Bauman, 2000, 20). Apesar de a tensão política perdurou-se no tempo, o povo mostra a sua maturidade política: a situação é estável, confiável nas Instituições de Segurança e Defesa, assim, o povo aprendeu com as experiências passadas para enfrentar os desafios da vida. Em suma, concluiu Bauman: “no coração da política da vida encontra um desejo profundo e insaciável de segurança” (Bauman, 2000, 25). A “confiança” de que o VIII Governo possa instaurar de novo um espaço lúdico, seguro para todos os timorenses. E, que tinha como característica primordial a certeza de edificar uma sociedade justa, livre, solidária, pacífica e, consequentemente, que partilham equitativamente a honra e o ónus desta nobre nação de Timor Lorosa’e.

Todos nós esperamos, que a subsequente Eleição ou Eleição Antecipada possa acontecer num ambiente mais democrático e, que os políticos não podem fazer o monopólio da política: por um lado, pelo uso da força, onde “as pessoas são obrigadas a fazer algo de que prefeririam abster-se”. E, por outro lado,  pelo uso do dinheiro (money politics), pelo que “as pessoas podem ser induzidas a fazer o que não fariam por iniciativa própria”. Porém, que se privilegiam pelo uso da sedução, isto é, “as pessoas podem ser tentadas a fazer coisas pela pura felicidade de fazê-lo” (Bauman, 2016, 49), sem nenhuma intervenção política.

Finalmente, estou feliz, não por causa da subsequente eleição ou a Eleição Antecipada nem pela AMP, muito menos por queda do Governo, mas pela maturidade política do povo em manter a situação tranquila, em harmonia e paz.  Na expressão sucinta e correta do Pe. Martinho Gusmão, esta situação deve-se ao “mérito” do povo, não pela “virtude” dos governantes.

Em suma, perguntamo-nos aos políticos, parafraseando Goetzee “por que o palco político  tem de ser um anfiteatro gladiatório (de matar ou morrer) em busca de  poder, honra e riqueza, em vez de, digamos, uma colmeia ou um formigueiro cooperativos e movimentados” (citado em Bauman, 2016, 29. italico é nosso) em busca de Summum Bonum e Bonum Commune de todos os povos nesta Magna Domus Fraternitas: Timor-Leste? Pois, uma decisão política tem sempre o seu próprio custo – concluindo Bauman - o preço é pago na moeda em que é pago geralmente o preço da má política — o do sofrimento humano.

Bibliografia
BAUMAN, Zygmunt e MAURO, Ezio, Babel: Entre a incerteza e a esperança, Rio Janeiro, Zahar Editor, 2016.
BAUMAN, Zygmunt, Em busca da Política, Rio de Janeiro, Zahar Editor, 2000.
BAUMAN, Zygmunt, Entrevista: Estamos num estado de interregno. Vivemos na modernidade líquida, Globo News, 1 de janeiro de 2016.
BOBBIO, Norberto, O Futuro da Democracia - Uma defesa das regras do jogo, Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 6.ª Edição, 1986.
Norberto BOBBIO, Nicola MATTEUCCI e Gianfranco PASQUINO, Dicionário de Política, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 11ª ed., 1998.
GUTERRES, Francisco, Mensagem de Sua Excelência Presidente da República sobre a situação política em Timor-Leste, Díli, 26 de janeiro de 2018.

(NB: Opinião pessoal do cidadão da Aldeia Cassamou, Suco Seloi Craic, Município Aileu)

MAIS EM TIMOR AGORA  - em português

Líderes partidários: Fretilin e PD, no Governo em Timor-Leste, podem fazer acordo pré-eleitoral


A Fretilin e o PD, partidos na coligação do Governo em Timor-Leste, podem alcançar um acordo pré-eleitoral para apoio mútuo após as eleições antecipadas previstas para maio, sendo menos provável uma coligação formal, segundo responsáveis ouvidos pela Lusa.

Mari Alkatiri, primeiro-ministro e secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) disse à agência Lusa que nada está excluído e que o primeiro passo para o debate é a conferência nacional do partido que decorre este fim de semana em Maliana.

"É um encontro para debater todo o processo que vamos enfrentar agora. Vai ser uma luta bastante renhida, mas estou confiante que vamos ter maioria absoluta", disse Mari Alkatiri.

Questionado sobre se é preferível os dois partidos irem separados ou juntos, Alkatiri remeteu comentários "para mais tarde, depois do diálogo com os parceiros do PD", sublinhando que o encontro de Maliana é "exatamente para debater e definir isso".

"Um acordo pré-eleitoral de certeza que haverá mas ainda vamos discutir o modelo desse acordo", afirmou.

Também Adriano do Nascimento, do Conselho Político Nacional (CPN) do Partido Democrático (PD) explicou à Lusa que o seu partido vai analisar o assunto e que será depois "tomada uma decisão".

O também ministro de Estado na Presidência do Conselho de Ministros disse que nada estava excluído, mas que tudo indica que os dois partidos vão "continuar a trabalhar juntos".

Dirigentes máximos dos dois partidos têm já analisado eventuais acordos a pensar nas eleições antecipadas que o Presidente da República Francisco Guterres Lu-Olo deverá convocar esta semana, e que se realizam previsivelmente a 12 de maio.

Depois de conferências nacionais que os dois partidos realizam em breve, em separado, antecipam-se novos encontros bilaterais no intuito de fechar o que tudo indica será um acordo ou aliança para colaboração depois das eleições.

Estes dois partidos são atualmente minoritários no Parlamento Nacional, com 30 dos 65 lugares, com a Fretilin a controlar 23 lugares e o PD a controlar sete.

A oposição, maioritária, é formada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) - 22 lugares -, pelo Partido Libertação Popular (PLP) - oito lugares - e pelo Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - cinco lugares.

As três forças políticas anunciaram na semana passada que se vão apresentar conjuntamente ao voto antecipado sob a bandeira da Aliança para Mudança e Progresso (AMP).

Até aqui as três forças têm trabalhado em conjunto sob o bloco Aliança de Maioria Parlamentar (AMP).

Lusa | em SAPO TL

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Lançada a Política da China para o Ártico


 “O Ártico abrange territórios terrestres e oceânicos. Suas peculiaridades geográficas e ecológicas determinam que o Ártico tenha um papel inalienável na pesquisa científica, na proteção ambiental, na utilização de recursos naturais e na área de mudanças climáticas.”

Marcos Françozo - Colaborador Voluntário do CEIRI | 8 de Fevereiro de 2018

Com esse posicionamento, o Vice-Ministro de Relações Exteriores da China, Kong Xuanyou, deu o tom da apresentação da primeira Política da China para o Ártico.

Lançada no último dia 26 de janeiro, a Política institucionaliza publicamente, pela primeira vez, uma posição governamental clara e abrangente acerca da visão chinesa para esta inóspita região do globo. A divulgação desse documento movimenta uma arena que, ao longo dos últimos anos, está ganhando cada vez mais espaço no cenário internacional.

Ano após ano, o debate sobre o Ártico e suas potencialidades se aprofundam. Sua evolução se dá, basicamente, orientada por duas linhas: i. impacto da mudança global do clima sobre as características geográficas desta área, elevando expectativas econômicas geradas em decorrência do recuo da cobertura de gelo da região, em especial no Oceano Ártico; ii. à medida que as mudanças no perfil climático desta região se consolidam, as expectativas econômicas e comerciais paraestabelecimento de rotas marítimas comerciais e exploração dos recursos minerais aumentam gradativamente.

Variação no volume de gelo marítimo no Ártico entre 1970 e 2017

No entanto, nenhum ator externo tem se destacado tanto neste processo como a China. Nos últimos anos, seu ativismo sobre essa região do globo aumentou exponencialmente, com ações organizadas no sentido de sinalizar claramente o interesse e a pretensão chinesa sobre a área.
  
É neste contexto que se encaixa a “Política da China para o Ártico”. Ela apresenta-se como instrumento com diversas funcionalidades, algumas das quais serão apresentadas nos parágrafos seguintes.

1) Incentivar a construção da ideia do Ártico como uma região global

A política recém lançada tem como um dos principais objetivos dar viés global para o Ártico. A releitura defendida pelos chineses deseja fazer dela uma grande “área franca”, a qual, devido à sua relevância ambiental e potencial econômico, pode ser acessada por qualquer nação.
   
Destacam-se as reiteradas referências a uma governança própria da região, em um esforço para demonstrar a estruturação da coordenação política voltada para aquela área. As menções ao Conselho do Ártico, ao Tratado de Spitsbergen, à Convenção da Nações Unidas sobre o Direito no Mar revelam as principais balizas que Beijing leva em consideração na sua tentativa de construir a visão de um Ártico global, sem desrespeitar a soberania e interesses das nações árticas.

Nesta linha, a China estabeleceu os seguintes princípios para a sua atuação: respeito, cooperação, parcerias mutuamente construtivas e sustentabilidade.

2) Manifesto pelo direito de a China participar ativamente na região

Depois de evidenciar o papel global que cabe ao Ártico, os chineses defendem o seu direito de ali atuar ativamente. O documento revela o país como um stakeholder* natural nos assuntos relativos ao Ártico, consolidando o adjetivo near-Arctic State como qualitativo da posição geográfica chinesa.

China é o 19º país mais próximo do Círculo Polar Ártico**, ficando atrás de alguns países europeus e asiáticos. A adjetivação escolhida revela o esforço para mostrar-se geograficamente próxima a este ambiente, do qual é separada por, aproximadamente, 1.500 quilômetros.

Baseado neste entendimento, o documento anuncia que as metas chinesas para a região são: a. entender o Ártico e seu contexto; b. proteger a região do ponto de vista ambiental; c. desenvolver o Ártico do ponto de vista tecnológico, econômico e social; d. participar da governança regional.

3) Indicação dos desafios chineses no Ártico

Atenta às metas citadas acima, a nova política delineia alguns posicionamentos mais concretos da China para este espaço. O primeiro deles é no segmento de pesquisa científica, com o objetivo de aprofundar o conhecimento em setores como geologia, clima, ecologia e sociedade.

Em seguida, apresenta-se como desafio atuar levando em conta o equilíbrio entre a proteção ambiental e a utilização racional dos recursos naturais do Ártico. Nesta linha, a China evidencia suas intenções nas áreas de rotas marítimas comerciais, exploração de petróleo, gás natural e recursos não-vivos em geral, pesca e outros recursos vivos, além do desenvolvimento da indústria relacionada ao turismo.

4) Fomento da Polar Silk Road no âmbito da Belt and Road Initiative

O texto dá especial atenção ao desenvolvimento do eixo marítimo polar (Polar Silk Road) da Belt and Road Initiative, iniciativa lançada em 2013 por Beijing com o objetivo fomentar investimentos em infraestrutura ao longo dos países que fizeram parte da antiga Rota da Seda, que conectava a Europa à China.

Com este mote, os chineses planejam colocar em pauta o desenvolvimento da “Rota do Norte” (no mapa identificada como Northern Sea Route) que parte da China para a Europa margeando principalmente as aguas árticas da costa russa e norueguesa.

Essa atitude poderia fomentar o desenvolvimento de rotas comerciais pela região, as quais poderiam servir de gatilho para a viabilização econômica da infraestrutura logística da área. Fato que, por sua vez, favoreceria aspretensões chinesas e russas relacionadas com a exploração de recursos minerais, outros recursos não-vivos e de recursos vivos em geral.

A política dos chineses para o Ártico traz, de modo subjacente, duas observações. A primeira está relacionada com a pró-atividade que a sua divulgação representa, sinalizando simbolicamente a postulação da China a ascender ao papel de forte influenciador sobre a região. Hoje esse papel cabe essencialmente a Estados Unidos e Rússia, sendo que esta última dá indícios tácitos de avalizar a pretensão chinesa. A segunda trata do foco que o documento dá ao uso racional das potencialidades econômicas projetadas para a região, pautado em uma lógica que poderia ser sintetizada pelo lema “conhecer para proteger e explorar racionalmente”. A menção à Polar Silk Roadcoloca tal iniciativa como dos principais eixos de desdobramentos deste lema, sugerindo que a viabilização da “Rota do Norte” tende a ganhar corpo nos próximos anos, o que também é de interesse da Rússia.

Nota:
* Stakeholders é um termo empregado pela ONU, o qual se refere às principais organizações e atores interessados e impactados diretamente pelo trabalho desenvolvido pela Organização.

** Referência comum para se estabelecer onde inicia o Ártico. Contudo, existem outras definições que podem levar a ranqueamentos distintos.

Imagem: “Mapa político do Ártico” (Fonte):


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