quinta-feira, 15 de março de 2018

Brasil | VEREADORA MARIELLE, CRITICAR VIOLÊNCIA DA POLÍCIA DÁ MORTE


Freixo define a morte de Marielle como mais uma execução sumária

Presidenciável do PSOL afirma que assassinato de Marielle Franco tem ‘características nítidas’ de execução sumária. A morte da parlamentar gera comoção em nível internacional.

Pré-candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, líder do MTST, destacou a correlação entre o assassinato da vereadora Marielle Franco e as recentes denúncias que ela vinha fazendo:

— Difícil acreditar que a execução a sangue frio de Marielle e do motorista Anderson Gomes seja mera coincidência após as denúncias que ela vinha fazendo sobre a violência policial no Rio. Lutaremos por justiça até o fim. Marielle, honraremos sua caminhada!

Execução sumária

Freixo afirmou, ainda, que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) “características nítidas” de execução, embora nem amigos nem parentes tinham informações de que Marielle estivesse sofrendo ameaças.

O parlamentar é mais uma voz que exige a elucidação do caso.

— É completamente inadmissível. Uma pessoa cheia de vida, cheia de gás, uma pessoa fundamental para o Rio de Janeiro, brutalmente assassinada. É um crime contra a democracia, contra todos nós, não podemos deixar que isso se naturalize — afirmou.

Sessão solene

Na Câmara, com girassóis em punho e uma faixa preta em sinal de luto, parlamentares de diversos partidos homenagearam à vereadora Marielle Franco e o motorista dela Anderson Gomes. Eles foram assassinados na noite de quarta-feira no Centro do Rio de Janeiro.

Conduzida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a sessão foi iniciada com um pronunciamento da deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), prestando solidariedade às famílias. Ela disse estar indignada “face a mais um crime hediondo contra uma mulher negra, do povo, uma ativista dos direitos humanos”.

— Cada uma de nós, sobretudo nós mulheres, nos sentimos morrendo um pouco. Não vão conseguir calar a voz da Marielle, que vai ser reproduzida por milhões. Estamos muito magoados, não vamos desistir da luta, não vamos permitir que essa luta pelos direitos humanos e pela democracia seja calada — afirmou.

Execução

Emocionada, Erundina também pediu que um vídeo onde Marielle fala da sua trajetória fosse exibido. Nele, a vereadora destaca sua luta; iniciada no ano 2000, na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, por mais cultura e educação, e em defesa dos negros e pobres.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), se referiu ao crime como una execução. Ele pediu empenho para que os culpados sejam presos. Ao final da sessão Rodrigo Maia anunciou que vai criar a comissão externa para acompanhar a investigação do crime.

Nas Nações Unidas

A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil manifestou, nesta quinta-feira; consternação com o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e defensora dos direitos humanos Marielle Franco (PSOL), de 38 anos. Em nota, a ONU diz que espera rigor na investigação do caso e breve elucidação, com responsabilização pela autoria do crime.

“Quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016, Marielle era um dos marcos da renovação da participação política das mulheres, diferenciando-se pelo caráter progressista em assuntos sociais no contexto da responsabilidade do Poder Legislativo local”, afirma a organização na nota.

A parlamentar foi eleita com mais de 46 mil votos. Em sua plataforma, defendia o enfrentamento ao racismo, às desigualdades de gênero e à violência nas periferias e favelas.

Homenagens

Marielle saia de evento da agenda de 21 dias de ativismo contra o racismo; em função do Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A date será lembrado na próxima quarta-feira.

O corpo foi velado na Câmara de Vereadores, onde a parlamentar recebe as homenagens póstumas. Marielle era presidente da Comissão da Mulher na casa. Tinha acabado de assumir a relatoria da comissão parlamentar que acompanhará a Intervenção Federal na Segurança Pública.

SÍRIA | "O que Assad fez, ninguém faria melhor. O sangue que derramámos era preciso"


7 ANOS DE GUERRA NA SÍRIA

Em 2016, quando a TSF falou com Moammar Omran, ele estava a recuperar dos ferimentos sofridos em Alepo. Este apoiante de Bashar Al Assad esteve dois anos no exército, mas agora só quer paz.

Moamma Omran diz que o que aconteceu na Síria em 2011 não foi uma revolução para derrubar o presidente, porque se as circunstâncias tivessem sido outras talvez ele também se juntasse aos manifestantes.

Admite que o país precisava de alguns mudanças, mas não de liberdade, "nós tínhamos liberdade antes de 2011, depois é que deixámos de ter. Não podemos ir a lado nenhum, não podemos fazer nada do que queremos. Eu trabalhava em Raqqa mas depois de 2011 não pude regressar ao emprego. O meu trabalho em Raqqa acabou".

Este engenheiro refere que os protestos pacíficos em Homs só duraram dois dias, depois os manifestantes pegaram em armas e dispararam contra a polícia. Garante ainda que os manifestantes eram extremistas islâmicos que queriam expulsar do país todos os que não concordassem com a visão que têm do Islão.

Em 2014, e sem trabalho, Moammar Omran juntou-se ao exército. Ele diz que na altura só lhe deram três opções, "a primeira era ficar a assistir sem fazer nada, apenas ver o que se passava. A segunda era sair do país e a terceira era juntar-me ao exército. Eu não podia ficar a ver o meu país a arder, por isso só podia tornar-me soldado. Servi em Alepo, combati com o Daesh e fui ferido com três balas no peito. Deixei de poder servir o exército".

De regresso a Homs, onde sempre viveu, Moammar faz uma avaliação positiva da ação de Bashar Al Assad nestes sete anos de guerra. "Durante esta crise o que o meu presidente fez, ninguém faria melhor. O sangue que derramámos era preciso para ficarmos livres dos ataques externos, e eu perdi amigos mesmo à minha frente. Acho que nestes últimos sete anos ele foi excelente e não podia ter sido melhor".

Em 2011 o presidente não podia ter convocado eleições livres e justas porque o país não estava preparado, defende.

Margarida Serra | TSF | Foto: Reuters

Organização de defesa dos Direitos Humanos distingue ativistas chinesas

Pequim, 14 mar (Lusa) - A organização não-governamental Chinese Human Rights Defenders (CHRD) distinguiu hoje as ativistas chinesas Li Xiaoling y Chen Jianfang pelo seu trabalho na promoção dos direitos humanos no país, apesar dos riscos e ameaças que enfrentam.

O prémio é designado Cao Shunli, nome da ativista que morreu em 14 de março de 2014 sob custódia da polícia e sem acesso a tratamento médico, após ser detida quando se preparava para viajar até Genebra, para participar em encontros sobre os direitos humanos na China, organizados pelas Nações Unidas.

A CHRD destaca Li e Chen pelo seu trabalho na proteção de grupos sociais vulneráveis e promoção da participação da sociedade civil em mecanismos internacionais de direitos humanos.

Este reconhecimento inclui um prémio em dinheiro, para apoiar algumas iniciativas lançadas por aquelas ativistas e ajudá-las face às represálias impostas pelo Governo.

Durante a última década, Chen Jianfang, de 48 anos, converteu-se numa das vozes líderes na defesa dos direitos sobre terrenos e habitação em Xangai, a "capital" económica da China, onde a apropriação de terrenos e a demolição de casas proliferaram para dar lugar a construções em altura.

Segundo a CHRD, o Governo chinês impediu por várias vezes Chen, que trabalhou com Cao Shunli, de viajar para fora do país, para participar em encontros sobre os direitos humanos.

"As autoridades tentaram, sem êxito, dissuadir Chen e reprimir a sua defesa, detendo-a em prisões 'negras' [instalações que funcionam à margem do sistema judicial]", denuncia a CHRD.

A organização distinguiu ainda Li Xiaoling, que foi detida em 04 de junho passado por comemorar o 28.º aniversário do massacre de Tiananmen, pelo seu apoio a grupos sociais marginalizados e vítimas de perseguição governamental.

Li, de 55 anos, foi detida após a polícia ter apanhado na Internet fotografias da ativista com um cartaz que homenageava as vítimas do movimento pró-democracia de Tiananmen, esmagado pelo exército chinês.

A CHRD adianta que Li foi submetida a maus-tratos pela polícia e que lhe foi negado tratamento médico.

JPI // SR

TIMOR-LESTE | Preza-nos não só os louros, mas também o proveito e os lucros


MSA - Raimanso* | opinião

Parece irrisório o preço que Austrália tem pago para Timor-Leste sobre os dividendos do Mar de Timor. Não há forças a medir perante o gigante australiano e as suas multinacionais?! Em termos contabilísticos e financeiros, segundo os dados fornecidos pela organização “Lao Hamutuk”, Timor-Leste foi subtraído das suas receitas petrolíferas desde 1999 até 2014 um prejuízo avultado em mais de 5 mil milhões de dólares americanos (5x10^9 US$) contabilizado todas as receitas do mar de Timor desde então que as petrolíferas contraíram de uma forma alegadamente ilícita, apesar de mais tarde ter restabelecido o acordo contrato 90/10 do Joint Petrolleum Development Area - JPDA em 20 de maio de 2002, e a assinatura do acordo de administração e partilha de recursos em Janeiro de 2006 – o denominado Tratado sobre Certos Ajustes no Mar de Timor (Certain Maritime Arrangement in the Timor Sea - CMATS).

Nota: não se ficou comprometido nestes Acordos a delimitação permanente da fronteira marítima entre os dois países. Contudo na sequência deste último Acordo - CMATS permitiu arrecadar em forma de receitas para o tesouro de Timor-Leste os 30 mil milhões de dólares americanos (30x10^9 US$). Não sabemos quanto do lado de lá o lucro das empresas petrolíferas envolvidas como a Conoco Philips, a Osaka Gas, a Royal Dutch Shell e a Woodside Petrolleum e, o Governo Australiano. Presume-se fortunas!

Talvez não seja dinheiro perdido aquela soma de 5 mil milhões de dólares americanos (US$5x10^9). Imagina-se que seja em troca pela generosidade de programas bilaterais da AusAid inflacionado pelos seus “head cost” em expertise e burocratas que vem trabalhar em Díli e que tem sido alegadamente apontados como os olhos e os ouvidos de Canberra, ou talvez pelos custos associados a outras organizações Australianas e das NGO´s que se instalaram no território para uma miríade de coisas, uns alegadamente ao seu serviço para enviar recadinhos de democracia e direitos humanos como se fossem grandes defensores do nosso povo no passado recente.

Nesta cooperação de assuntos bilaterais, queremos parcerias em pé de igualdade, isento e transparente, sem agendas encobertas. Que não nos explorem a fraqueza da ignorância, das limitadas capacidades humanas, técnicas e logísticas e, sem humilhações como não tem sido nos últimos tempos a linha editorial de certos politólogos australianos, manifestando um nada simpático para não dizer hostil contra Timor-Leste, ridicularizando-nos de “estado falhado”. Óbvio que a ocupação ilegal do Mar de Timor pela Austrália para a exploração do petróleo, a demanda de Timor-Leste pela linha mediana para a delimitação da sua fronteira marítima segundo o Direito Internacional, e as sucessivas recusas da Austrália fizeram replicar os sinos da indignação em Timor-Leste.  

E não só, como deve calcular a avultada soma de 5 mil milhões de dólares americanos ficou apenas registada para a memória contabilística dos timorenses, do quanto nos faz falta como povo e como nação. Parece estar perdido, dada a cláusula em que os negociadores chegaram o acordo de ontem, dia 6 de março de 2018 para não sermos indemnizados de quanto a Austrália e as empresas petrolíferas beneficiaram em seu proveito para os seus recheados cofres.

Não foi feita justiça, não! Porque é que não temos que ser ressarcidos dos avultados prejuízos financeiros contabilizados que nos subtraíram das receitas dos poços petrolíferos que jazem na soberania do mar de Timor-Leste desde então, quid júris?
Qual foi a cedência do “toma lá dá cá” do poder de negociar com os parceiros Australianos? Ninguém sabe. Mas calculo o lobby australiano por detrás disso seja forte para ignorar aquele prejuízo de 5 mil milhões de dólares americanos (US$ 5 x 10^9), sumido na cláusula “no more onerous” para as empresas petrolíferas naqueles acordos preliminares JPDA em 2002 e CMATS em 2006. Ao lado disto acredito que nestes grandes negócios não há vizinhos nem amigos, cada uma “brasa à sua sardinha” nesta cobiçada indústria petrolífera multimilionária. Não querendo usar o neologismo daquele palavrão saxónico “burgaining power” pois isto é prato do dia dos lobbies das empresas petrolíferas australianas com o seu Governo e que são sonantes do léxico preço e lucro, sabem melhor do que nós o que isto lhes pesa na balança dos seus interesses quando se pretende faturar dividendos. Sabe-lhes bem, pois não?!

Ainda não é de todo para muitos festejos o acordo de 6 de março de 2018, assinado em Nova York realizado na base da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar –United Nations Convention on the Law of the Sea - UNCLOS, sob os auspícios da Comissão de Mediação. Talvez seja para desanuviar um pouco o pesadelo da luta travada e sorrir com o vizinho para ouvir os cucurabas a chilrear e ver o saltitar dos cangurus.

E agora, a birra dos não capitalistas talvez tenha alguma razão, quando veem os poderosos capitalistas multinacionais assacar o capital dos que menos tem, dos pequenos, neste mundo desigual. Veio à tona aquela metáfora de tirar um porco para dar um naco de chouriço. E ironicamente apelidam-nos de país subdesenvolvido e pobretão. Estes eram alguns dos sintomas de insatisfação de quem viu e ouviu ler o desabafo do principal negociador timorense nas conferências e na missiva endereçada a Comissão de Mediação das Nações Unidas. Merece simpatia e apoio. Também não pretender ganhar cem por cento (100%) neste “toma lá dá cá”. Sem dúvida, há que equacionar os ganhos estratégicos, assegurar a paz e a estabilidade do país, o quão fundamental consenso do desígnio nacional, para assegurar a continuidade das companhias petrolíferas, assegurar a continuação das receitas financeiras de Bayu Undan, assegurar a viabilidade da “joint venture” como de viável seria trazer o gasoduto para Timor-Leste, tendo em conta os seus desafios e o positivo impacto multiplicador económico para o desenvolvimento do País.

O secretismo em torno da substância destas negociações durante meses com advogados a preço de ouro e prata, ao soldo do nosso ressequido cofre de duodécimos, e ainda o sigilo dos termos do acordo resguardado às sete chaves, impediu-nos, o público, conhecer antecipadamente os contornos deste tão esperado acordo, sobretudo os cidadãos timorenses poderem reagir. Finalmente sabe-se que o Acordo redundou em novos acordos de repartição de receitas pendente ao acordo principal, o que não nos parece ainda final e de bom agoiro para festejar todo o sucesso desejado.

A boa fé da Austrália custou-nos mais de 200 mil vidas em troco de “oil for blood” dos timorenses durante os 24 anos em que Austrália selou o seu aval a anexação de Timor-Leste pela Indonésia em 1975. Boa fé?! Se não andassem a espiar-nos e a endossar a conivência do “regime change” do John Howard em 2006 e a ridicularizar-nos nos seus editoriais. Boa fé e generosidade como disse a Ministra dos Negócios Estrangeiros tenho reservas para acreditar. Foi o discurso de momento, diplomático, para assossegar os ânimos exaltados dos timorenses, os ânimos também solidários do povo australiano nesta questão e os interesses internacionais contra esta ocupação ilegal do mar que pertence a Timor-Leste. Para nós resta-nos determinação e sangue-frio. Se fosse pela boa fé, os Liberais e Nacionalistas Australianos aquando no poder em 2002 não teriam retirado da jurisdição do Tribunal Internacional da Justiça (ICJ) de Haia, a Convenção Internacional sobre o Direito do Mar, logo que Timor-Leste gloriosamente restaurou a sua Independência. Valeu-lhes muita astúcia.

Acossados pela ameaça das suas políticas internas, da ameaça dos Trabalhistas (Labour Party) na oposição, por uma margem mínima de 1 assento no Parlamento, que na voz da Senadora Lisa Singh da Tasmânia proclamava o reconhecimento da fronteira marítima na linha mediana no futuro acordo com Timor-Leste quando vier governar, os vários movimentos do Bom Povo Australiano e Timorenses residentes na Austrália contra a sua ocupação ilegal no mar de Timor. Descredibilizados do seu papel de líder no Sudoeste Asiático contra as investidas no mar de China, e a incoerência com ela própria em relação o acordo do mesmo pendor Jurídico Internacional celebrado com a Nova Zelândia, Canberra não tinha hipóteses para não se sentar à mesa de negociações com Díli sob os auspícios da Comissão de Conciliação das Nações Unidas. Foi um corredor que Timor-Leste sabiamente encontrou para chamar o poderoso vizinho, aliás no seu melhor adjetivo the giant Australia, à razão para lhe reivindicar a soberania e os seus direitos subjacentes no mar de Timor.

Estará selado o Acordo de 6 de março de 2018 entre Timor-Leste e Austrália? Presumo que será devidamente reapreciado pelos seus respetivos parlamentares antes da acessão para a ratificação do Acordo e procedimentos protocolares.

O dia 6 de março de 2018, conseguiu-se definitivamente a delimitação da fronteira marítima permanente pela linha mediana, equidistante entre Timor-Leste e a Austrália. Uma merecida conquista e felicitar calorosamente os protagonistas pelo sucesso e que mais uma vez se reescreve com orgulho a Historia de Timor-Leste. Na mesa, falta a divisão das receitas petrolíferas condicionadas com as partilhas 70/30 por cento para Timor-Leste, ou 80/20 por cento para Darwin Austrália. Timor-Leste advoga o tão desejado plano trazer o gasoduto que jaz na área Greater Sunrise com uma produção estimada no valor de 50 mil milhões de dólares americanos (US$50x10^9) para a Costa Sul do País. Duas razões são agora visivelmente plausíveis: a razão da sua soberania, o poço de Greater Sunrise cem por cento (100%) pertence a Timor-Leste e a sua proximidade geográfica com a Costa Sul do País.

Contudo em termos pragmáticos coloca-se grandes desafios, com a falta de recursos humanos capazes para a gestão industrial e de alta tecnologia, uma logística de envergadura para megaprojetos no mar, o desafio do tempo necessário para assegurar a construção das infraestruturas básicas em terra firme (Costa Sul) calculado em tempo record 10 anos, outras infraestruturas associadas, o que transporta para o custo do capital de investimento na ordem dos 5,6 mil milhões de dólares americanos (US$5,6x10^9) considerado pela Comissão de Conciliação da ONU com retornos comerciais exequíveis. O que para Timor-Leste constituem desafios, do outro lado foi trabalho de casa realizada e instalada em Darwin como pontos fortes do lobby australiano. Imagina a batalha!

A estimativa dos 5,6 mil milhões de dólares americanos segundo os peritos da Comissão de Conciliação das Nações Unidas para aquele investimento de capital é mais ou menos equivalente os prejuízos que segundo a base de dados da organização “Lao Hamutuk” tem assinalado pelo desfalque das obrigações das empresas petrolíferas Australianas tem para com o Estado Timorense. É obvio colocar a questão da indemnização como foi referido no início para compensar o todo ou em parte o capital de investimento, apesar dos percalços da cláusula “no more onerous” aludido no contrato JPDA 2002. Resta saber como decorreu a discussão entre os atuais negociadores.

Mas a questão crucial se coloca, no decurso do período de 10 anos de preparação como hipótese, donde virão as receitas para Timor-Leste e de quais poços? Será a continuação das receitas provindas do Bayu Undan e as receitas domésticas? Entretanto o tesouro arrecadado vai sendo gradualmente subtraído em gastos para o Orçamento Geral do Estado Timorense (OGET) que ronda os 85% numa projeção total de 1,4 mil milhões US$ (em 2017) e 2,2 mil milhões US$ (em 2010) anuais. Assim, neste ritmo de despesas, o remanescente 30 mil milhões de dólares americanos (US$30x10^9) que se encontra arrecadado no Banco Federal dos EUA não será suficientemente confortável, capaz de manter naqueles moldes a sustentabilidade do funcionamento da máquina do Estado findo os 10 anos. O Estado timorense poderá abeirar-se para uma insolvência iminente. Parece que nem os juros salvaguardam uma almofada confortável para os gastos anuais seguintes. Carece de esclarecimento.

Sendo desígnio nacional trazer o gasoduto para Timor-Leste, para já, urge parcimónia e contenção nas despesas públicas, visto do lado conservador das coisas, o exercício pelo rigor nas contas públicas, nos gastos e rendimentos dos bens e serviços para o equilíbrio do saldo orçamental, exigindo-se muita prudência. Do lado mais arrojado, urge o consenso nacional na escolha de políticas claras, sobretudo no que respeita o capital de desenvolvimento injetado nas grandes infraestruturas, investimento do grande capital e megaprojetos com retornos só a longo prazo, fase onde poderá estar em causa as necessidades básicas da população sobretudo em bens e serviços, não descurando dos riscos da inflação, da flutuação do preço do petróleo no mercado mundial e o fluxo da economia do País. Precisa sangue-frio nestas decisões cruciais. O que não tem faltado para Timor-Leste é a determinação de querer vencer os desafios.

De todos os prejuízos contabilizados, prejuízos financeiros, perdas de vida humanas durante a ocupação Australiana e Japonesa na Segunda Guerra Mundial em 1942 em que mais de 75 mil vidas pereceram pela causa dos aliados, o aval de Canberra para a ocupação brutal Indonésia em 1975 que ceifou mais 200 mil vidas timorenses no passado; urge hoje o imperativo da paz no país, de paz com os vizinhos, do bem-estar social dos timorenses e o progresso material na senda dos países desenvolvidos. O nosso presente e o futuro de novas gerações comprometem-nos e pesam imenso no prato da balança à prova dos grandes desafios do progresso.

Resta-nos em último reduto salvaguardar a nossa riqueza que faz parte da construção da nossa dignidade humana como povo, como nação e como Estado. Mais uma batalha, trazer o gasoduto para Timor-Leste. Preza-nos não só ter os louros conquistados, mas também a ousadia para faturar o proveito e os lucros.

MSA – RAIMANSO | Correio eletrónico: raimanso@hotmail.com

*Publicado em Timor Agora

Timor-Leste/Eleições: Quatro coligações vão concorrer às eleições antecipadas de 12 de maio


A Comissão Nacional de Eleições validou quatro coligações pré-eleitorais que se vão apresentar às eleições parlamentares de 12 de maio em Timor-Leste, estando agora a decorrer o prazo para apresentação de listas de candidatos, disse o presidente do órgão eleitoral.

O presidente da Comissão Nacional de Eleições, Alcino Baris, confirmou hoje à Lusa que na reta final do prazo de registo de coligações, que terminou no domingo, se apresentou uma quarta coligação, o Movimento Social Democrata (MSD).

Segundo explicou, o MSD é composto pelo Partido Social Democrata (PSD), Partido Socialista de Timor (PST), Partido Centro Ação Social Democrata Timorense (CASDT) e Partido Democrata Cristão (PDC).

O MSD junta-se à Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) – a primeira a completar todos os requisitos para poder concorrer às eleições antecipadas de 12 de maio - e que integra quatro partidos políticos que se apresentaram separadamente nas eleições parlamentares de 2017: o Partido de Unidade e Desenvolvimento Democrático (PUDD), a União Democrática Timorense (UDT), a Frente Mudança (FM) e o Partido Desenvolvimento Nacional (PDN).

Foi também validada a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), que reúne as três maiores forças da oposição, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

A outra coligação é o Movimento de Desenvolvimento Nacional (MDN), que reúne quatro partidos que também se apresentaram separadamente em 2017.

Em concreto, agrupa a Associação Popular Monarquia Timorense (APMT), o Partido Liberta Povo Aileba (PLPA), o Partido Movimento Libertação Povo Maubere (MLPM) e a Unidade Nacional Democrática da Resistência Timorense (Undertim).

As coligações formadas reúnem 15 dos 21 partidos que se apresentaram nas eleições do ano passado em que apenas existiu uma única coligação, o Bloco de Unidade Popular (BUP), que reuniu o Partido Milenium Democrático (PMD), o Partido Democrática República de Timor (PDRT) e o Partido Liberta Povo Aileba (PLPA), este último integrado agora no MSD.

Além da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) - a mais votada em 2017 - e do Partido Democrático (PD) - quarta força em 2017 -, que se devem apresentar separadamente mas com um acordo pré-eleitoral, os únicos outros partidos que foram a votos em 2017 e que não estão agora coligados são o PEP, o PDP, o PR e o PTD.

Recorrendo à calculadora disponibilizada pela Comissão Nacional de Eleições, a Lusa fez uma simulação da eventual distribuição de lugares, aplicando o número de votos obtidos pelos partidos políticos nas eleições de 2017 e a barreira de 4% dos votos válidos, mínimo necessário para eleger deputados.

Se os partidos e coligações obtivessem os mesmos votos que em 2017, então a AMP teria 46,88% dos votos, o que lhe daria 33 lugares no Parlamento Nacional e maioria absoluta.

A Fretilin passaria a ser o segundo mais votado com 29,91% e 21 lugares (menos dois que atualmente) e o PD ficaria em terceiro com 9,87% e seis cadeiras, também menos duas que atualmente.

A FDD seria a única outra força no parlamento com 7,07% dos votos, suficiente para cinco lugares. Nenhuma outra coligação ou partido conseguirá superar a barreira de 4% dos votos válidos.

O sorteio do boletim de voto para as eleições deverá ser feito entre 03 e 04 de abril e a campanha eleitoral decorre entre 10 de abril e 09 de maio.

Lusa | em SAPO TL

MOÇAMBIQUE | Eleições em Nampula: CIP aponta vitória da RENAMO nas intercalares


Segundo o Centro de Integridade Pública de Moçambique, Paulo Vahanle obteve 58% dos votos na segunda volta das intercalares de Nampula. Autoridades eleitorais devem divulgar dados oficiais ainda esta quinta-feira.

Em Nampula, o Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP) anunciou a vitória do candidato da RENAMO na segunda volta das eleições intercalares para a presidência do Conselho Municipal da cidade. A votação decorreu nesta quarta-feira (14.03), com problemas registados pelos órgãos eleitorais

O CIP, que faz parte da plataforma Votar Moçambique junto com outras organizações da sociedade civil, acompanhou o escrutínio e a contagem e informou que Paulo Vahanle obteve 58% dos votos, enquanto que Amisse Cololo, da FRELIMO, partido no Governo, alcançou 42%. A informação foi avançada pela agência de notícias Lusa.

Entretanto, segundo o jornal moçambicano O País, os dados oficiais das autoridades eleitorais, mesmo que preliminares, ainda vão ser divulgados esta quinta-feira.

Problemas

Num relatório sobre a forma como decorreu a eleição, a plataforma aponta alguns problemas. Segundo os observadores, apesar de as urnas, de uma forma geral, terem aberto a horas, houve atrasos nalgumas mesas de voto por falta de materiais e cadernos eleitorais.

Registaram-se ainda casos em que os nomes de eleitores não constavam dos cadernos, apesar de terem cartão de eleitor e de terem votado nas mesmas mesas na primeira volta. Houve também casos de boletins de voto encontrados fora das assembleias de voto.

A votação em Nampula foi motivada pelo homicídio de Mahamudo Amurane, anterior autarca, e decorreu sete meses antes das eleições autárquicas em todo o país, agendadas para 10 de outubro.

Lusa | em Deutsche Welle

EM PAUTA: REENTRADA DE FERNANDO MIALA E A MAKA RIJA ENTRE SATURNINO E ISABEL, MARCAM A AGENDA NACIONAL

Raul Diniz | opinião

As frequentes manifestações silenciadas de desagrado popular contra o governo, além de triviais têm contornos perigosamente alarmantes. A situação é demasiado conflitante, e poderá perigar a frágil paz social estabelecida.  Os angolanos convivem de perto com um estado de degradação social cada vez pior em qualidade e quantitativamente de maior dimensão. Os senhores donos da riqueza angolana querem estrangular o mercado financeiro interno angolano de varias maneiras, eles não desistirão fácil, e tudo fazem para alcançar as suas pretensões e estrangular o fragilizado sistema financeiro angolano. Esse enfoque demonstra que a riqueza acumulada ilicitamente jamais retornará a Angola.

MPLA CONNECTION (III)

O financismo corporativo corrupto angolano é perigoso, e fortemente activo, por isso estreitou facilmente laços fortes com o grande capital português, dentre outros estados estrangeiros já identificados, que serviram e servem ainda de placa giratória para a extracção ilegal do capital exportado para o exterior.

Esse grupo de delinquentes bem conhecidos, não desistirão fácil, e tentarão por todos os meios apagar o rasto do dinheiro branqueado e colocado no circuito financeiro internacional sitiados em offshores.

Assim sendo, não se pode negar as virulentas birras entre antiga PCA da SONANGOL, Isabel dos Santos e o actual PCA Fernando Saturnino, que de modo geral intrigaram a comunidade inteligente da sociedade civil activa organizada.

O comportamento dessas duas figuras de relevo do sistema politico-financeiro angolano, demonstram ter uma total falta de princípios éticos, morais e profissionais. É verdade que o país está numa verdadeira encruzilhada, onde duas facões se digladiam vis a vis pelo controle da presidência do MPLA.

A entra da em cena de Fernando Garcia Miala na novíssima presidência, pode vir a desanuviar esse obscuro quadro de insegurança institucional prevalecente no sistema financeiro do Angola.

O passado de Fernando Miala fala por si só, não precisará com toda certeza de qualquer vanguardismo opinativo justificável do que motivou a reentrada desse general do regime, no concerto dos serviços de inteligência e segurança interna e externa de Angola.

Para afinar a parábola do gato escondido com rabo de fora, Miala não é de perto nem de longe nenhum traidor da causa do povo. Dessa vez João Lourenço procedeu coerentemente e acertou em cheio, é preciso assegurar a protecção da coisa pública e torpedear veemente a devassa informativa irresponsável, comandada pelos que se sentem órfãos no actual quadro politico institucional.

João Lourenço se quiser o apoio de todos nós terá de mudar rapidamente os conselheiros que dispõe e proceder com urgência a uma remodelação governamental e nomear novos quadros na direcção da SONANGOL, ENDIAMA, e, em outras empresas nucleares que o país dispõe. O quadro degradante que Angola atravessa, permite a remodelação do governo.

No passado todos angolano minimamente atento tomou conhecimento dos atropelos praticados contra o General Fernando Miala, a entourage de arautos defensores da presidência de JES na altura, fizeram sair informações descabidas sem qualquer fundamento, acusando MIALA de preparar uma tentativa de golpe de estado, debalde.

Miala tem consciência do que ele representa para a comunidade da intelligentsia nacional e internacional, FM é tão só o maior espião visível, que um dia Angola produziu.

Esse é o mais forte atributo que levou a mobilização dos seus algozes, que de maneira irracional promoveram as intrigas palacianas que originaram a perseguição sistémica de que foi alvo.

 Essa adjetas figuras do regime promoveram o seu enclausuramento e rapidamente se sucederam nos lugares outrora ocupados por Fernando Garcia Miala. Sem medo de errar, posso afirmar, que dessa vez o presidente da republica agiu rápido e acertadamente, como deve sempre operar um chefe de estado.

É importante que o partido entenda em definitivo, que o MPLA não é nem nunca foi o povo, e, muito menos o povo é o MPLA.

O MPLA vai ter que crescer rápido e terá que perder a puberdade, deixar o estado permanente de imaturidade adolescente e amadurecer. O partido de JES e JL vai ter que escolher entre viver eternamente a utopia ou encarar em definitivo a dura realidade vivenciada em Angola.

O estado hoje está completamente aparelhado, é importante que o MPLA se afaste do estado e desista de continuar a subjuga-lo. Está mais que comprovado que o aparelhamento do estado estimula a corrupção, enfraquece o próprio governo e o torna disfuncional. O regime angolano faliu, não é mais possível conviver com essa desordem político-administrativa reinante.

O capitalismo selvagem incrementado pelo MPLA, não pode continuar a ser o principal activo desenvolvimentista, nem pode o estado continuar como o único operador económico, e maior empresário do país. Após a saída do presidente JES do poder executivo, não faz sentido nenhum continuar a impedir a participação da sociedade no debate central da economia e da distribuição da riqueza.

 Faz-se necessário desconstruir a “financeirização” absurda da economia herdada do estado ditatorial do passado recente.

De contrario essa confusão tornar-se-á relevante e ajudará a desmoronar a ambientação politica de si já demasiado degradada. Por outro lado, nota-se a existência de uma luta interna entre duas alas do “M” pelo controle da presidência do MPLA. De um lado está o grupo maioritário adeptos de JES e também o mais forte, e do outro os aderentes de João Lourenço ciosos em adquirir o controlo do partido.

O país precisa de um presidente com transito entre a militância e essa com o povo. Um presidente com visão politica e com poder argumentativo sério aceitável, que possua uma tenaz capacidade de interlocução viável com a sociedade politica inteligente activa organizada, e com a população em geral, sem esquecer a capacidade de dialogo sincero com as oposições dentro e fora do MPLA.

Os angolanos merecem ter um presidente que zele e cuide do seu povo, em simultâneo Angola quer um líder que impeça que o dinheiro publico roubado não continue a viajar na bagagem da impunidade.

Hoje conhece-se melhor o que quer dizer partido-estado, isso é nada mais do que uma confraria de impiedosos ladrões corruptos, que agem a escala mundial com a ajuda do governo português, de cidadãos estrangeiros indesejáveis, que operam livremente a partir de Luanda com o beneplácito da cidade alta.

Essa corja de dilaceradores do erário publico utiliza a banca controlada pela Isabel dos Santos, para as sua rotativas acções criminosas e negociatas milionárias ilícitas. O roubo se processa em Luanda, mas, a lavagem de dinheiro é realizada em Portugal como beneplácito apoio tácito do regime da terra de Camões.

Não existe duvida que o MPLA é de facto uma organização criminosa despótica e espiritualmente miserável.

Trata-se de uma organização sinuosa que se julga acima de tudo e todos, comportam-se como deus vidente, mas não passam de vagabundos que se sentem com o direito de desconstruir a verdade do soberano povo e leva-lo a pensar pequeno e erradamente.

Aguardam-se alterações substanciais no modo e estilo de governar, sobretudo, com tecnocratas capazes, incorruptiveis e que representem todas as camadas sociais envolvidas na transformação do país.

Angola | “MILAGRE”. BISPOS VOLTAM A PENSAR PELA PRÓPRIA CABEÇA


Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) manifestaram-se hoje indignados com o “quadro deplorável de degradação” da saúde no país, lamentando a “escandalosa e gritante” falta de medicamentos e a “desumanidade endémica” nos hospitais.

Pelos vistos, provavelmente graças à interferência de Jorge Mário Bergoglio que terá metido uma cunha ao Papa Francisco, os bispos voltaram a ter a capacidade de pensar pela própria cabeça e, dessa forma, darem voz a quem a não tem. Milagre? Talvez.

A declaração dos bispos católicos foi hoje feita pelo vice-presidente da CEAST, José Manuel Imbamba, numa conferência de imprensa de balanço da primeira assembleia plenária anual, que decorreu de 8 a 14 de Março, na província do Namibe.

Para a CEAST, que ainda assim (perante o espectro de uma compulsiva “exoneração”) saúda o anúncio do Governo sobre o recrutamento de novos médicos, enfermeiros e outro pessoal para o sector da saúde, o actual quadro sanitário do país abre espaço para “muitos charlatães extorquirem e explorarem os pobres”.

Provavelmente a CEAST não reparou que “muitos charlatães que extorquem e exploram os pobres” integram os mais altos cargos públicos do país, gozando de uma abjecta impunidade e de uma não menos abjecta imunidade.

“Lamentamos ainda a facilidade com que produtos impróprios para o consumo humano entram no país e recomendamos para o efeito maior rapidez na correcção desses males, assim como renovamos o compromisso de manter viva a cooperação através da Cáritas”, disse José Manuel Imbamba.

No comunicado de imprensa, apresentado pelo também porta-voz da CEAST, os bispos angolanos congratularam-se com o levantamento da proibição da extensão do sinal da Rádio Ecclesia, emissora católica de Angola, em todo o país, feito pelo Presidente angolano, João Lourenço.

“E pelos novos anúncios referentes à reforma do projecto de construção da basílica da Muxima e das negociações para o Acordo-quadro entre a República de Angola e a Santa Sé”, adiantou.

Os bispos angolanos encorajam igualmente João Lourenço a “prosseguir no caminho da reforma do Estado”, para que todos os angolanos primem pela dignidade, honra e nobreza de espírito, fazendo com que as assimetrias regionais desapareçam, a cultura da justiça se fazendo se afirme e os bens de todos a todos beneficiem”.

Durante esta primeira assembleia plenária anual, que também serviu para a abertura do jubileu dos 50 anos da CEAST, os bispos católicos procederam ainda à plantação de árvores no deserto do Namibe, com vista a travar a desflorestação naquela localidade.

“E para que a busca desenfreada e egoísta do dinheiro e do lucro fácil não matem a natureza e a biodiversidade. Daí que recomendamos maior vigilância na luta contra os malfeitores do meio ambiente”, argumentou.

Na ocasião, o arcebispo de Saurimo condenou ainda o surgimento estranho pelo país de “ceitas cristãs e anticatólicas” que no seu entender transportam mensagens que constituem em “autênticas e graves ameaças à unidade, harmonia e integridade das famílias”.

“Pelo que, os bispos solicitam e a apelam aos órgãos competentes para que assumam as suas responsabilidades legais a fim de porem cobro nesta situação”, alertou.

Que a voz do Povo seja a voz de Deus

“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.

Alguém da CEAST, do Governo, da Assembleia Nacional etc. se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?

O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.

“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, general João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (doze anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

Folha 8 com Lusa

PORTUGAL | A evidência está à vista, mas ainda sobram muitos inocentes a deixarem-se degolar


Jorge Rocha* | opinião

Se não tivéssemos uma imprensa, que se dedica ao acessório e esquece o essencial, os portugueses não ficariam tão espantados com o teor dos contratos estabelecidos pelo Estado com algumas entidades privadas a quem dá excelentes oportunidades de negócio e ainda lhes paga os custos. Nesse particular os governos de Cavaco Silva foram verdadeiros campeões e Passos Coelho só fez figura de amador, porque o setor empresarial do Estado já se reduzira a uma parca expressão e a troika também não era propriamente parva para possibilitar negociatas tão escandalosas. Embora como se constata abaixo, também ocorreram com maior recato!

O que houve de positivo na histeria alimentada pelas televisões e pelos jornais a respeito da condição estrutural da Ponte 25 de abril foi o facto de a opinião pública voltar a ser recordada que, além de propiciar lautos dividendos aos donos da Lusoponte através das portagens pagas entre as duas margens do Tejo, também se responsabiliza pelos custos da manutenção. É caso para dizer que a Lusoponte fica com o filet mignon  e os contribuintes lusos ainda pagam para desosssar e remover para o lixo o que sobra no prato.

Que a estória vem de longe lembra-o Francisco Louçã na sua crónica de sábado transato, quando recorda como, em 1992, Champalimaud comprou o Banco Pinto & Sotto Mayor com recurso a um cheque careca. Na época, nem o vigarista em causa, nem Cavaco Silva, que era primeiro-ministro desde 1985, foram incomodados pelo Ministério Público sobre o escândalo de que eram protagonistas. E assim se compreende como Leonor Beleza, uma das principais cavaquettes, acabou por se tornar na presidente da Fundação lançada com os dinheiros do suposto filantropo, mas afinal resultantes do esbulho cometido às finanças públicas.

O artigo de Louçã é bastante elucidativo, e até deveria ser de leitura obrigatória para essa mesma opinião pública distraída com trivialidades para nunca chegar a entender o logro em que vai caindo. Porque denuncia-se nele a forma como os CTT - aqui sim um crime efetivamente cometido por Passos Coelho - está a ser descapitalizado para os seus acionistas encherem os bolsos antes de a empresa ser retomada, já falida, pelo Estado, então incumbido de a sanear financeiramente. Tendo dado 27 milhões de euros de lucros no ano passado, a sua Administração decidiu atribuir mais do dobro aos tais «investidores», que continuam a provar a «excelência da gestão privada» à conta da eliminação das reservas e do património remanescente.

E os exemplos vão-se repetindo: a Fosun comprou a Fidelidade com os dinheiros desta empresa seguradora, também logo aplicados noutros negócios internacionais sem qualquer relação com os seus interesses ou atividades. E o mesmo se vai passando com a TVI, que a Altice deseja comprar para logo a pôr no mercado, auferindo mais-valias que fundamentem a continuação do seu endividamento junto de entidades bancárias, que já começam a fazer contas à vida quanto ao buraco com que lidarão, quando o grupo de Patrick Drahi der o estoiro por muitos previsto como estando para breve.

O capitalismo selvagem, feito de trapaças tão notórias, continua a mostrar a sua vitalidade. Até quando?

PORTUGAL | O baile de Cristas


Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

A ambição da líder do CDS é ter um par que possa estar à altura da lide. No baile de Cristas, faz escola aquela formosa ideia olímpica da dupla de patinadores no gelo em que o homem age em balanço firme para o apogeu da criatividade feminina em rodopio, pirueta no andarilho. O que a Direita portuguesa parece precisar, segundo Cristas, é de outra agilidade. Declara a hora do CDS se fazer poder como partido maioritário no Centro-Direita e, como tal, a ambição é (des)medida pela volatilização do PSD. Meio ano de letargia e um arranque contemporizador de Rui Rio chegam para transportar a líder do CDS para um outro mundo de cobiça eleitoral, ainda que não almeje senão manter a votação nas eleições Europeias para depois disparar subitamente ao furto eleitoral de 15% aos sociais-democratas em sede de Legislativas. Para chegar ao poder como maior partido da Direita, Cristas pretende enfiar o PSD num táxi.

Fosse eu um grande fã de Leni Riefenstahl e teceria louvores à estética nazi. Felizmente que em matéria de civilização ou barbárie, a estética conta muito pouco ou nada. Não é de espantar que a não muito aficionada Assunção Cristas tenha de "pensar muito, muito, muito, muito" para ter pena dos animais que são lidados numa tourada, actividade que olha como "um bailado". Ainda hoje há quem faça fogueiras sem nunca pensar na Inquisição. Queimar os livros de Hemingway ou os traços angulares de Picasso como companhia tauromáquica é um baile de confraria que mesmo os maiores marialvas não podem desdenhar. Mas se o CDS pretende vir a sair de Lisboa, rumando ao íntimo do país, ao encontro do volátil centro político que enfiará o PSD num habitáculo para cinco, prepare-se então para enfrentar o touro pelos cornos: há um lado pouco resolvido no CDS contemporâneo que não impede protofascismos internos e odes aos antigos costumes, como se comprova no Congresso pelos votos em Abel Matos Santos, vice-presidente do partido na capital. A inquestionável qualidade de alguns dos fazedores do programa eleitoral do CDS para 2019 ainda não permite, infelizmente, o liminar saneamento programático de alguns colunistas do "Observador".

Entre a pouco ética polémica sobre Nádia Piazza e a nada razoável condenação de Pedro Passos Coelho a info-proscrito no ISCP, sobra um verdadeiro caso-de-canudo-e-alguidar na arte da mentira política. As ténues ligações de Feliciano Barreiras Duarte, novo secretário-geral do PSD à Universidade de Berkeley, constavam do currículo e relatório profissional da sua tese de mestrado que não versava propriamente sobre turismo ou propaganda. Rui Rio, campeão da ética, desculpa o indesculpável e, mesmo não correndo riscos de se confinar a um táxi, coloca-se a jeito para o baile. Não será a destruir a imagem de seriedade com que se anuncia que poderá vir a dançar como parte maior do par.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* Músico e jurista

A MERETRIZ GISELE E O “MAMÃO REDONDO” DA TRETA DA LUSOPONTE


Antes também havia tempestades mas não havia a moda de as batizarem. Talvez por isso havia menos tempestades. Atualmente é um ver se te avias. Vêm umas atrás das outras. Todas rebuscadas. E as mais femininas são umas vaidosas de primeira apanha. Percebe-se agora porque há tantos anos as tempestades eram muito menos. Aparentemente, as suas insistentes presenças na passerelle devem-se ao vedetismo com que são anunciadas e de quanto delas fazem tema na comunicação social. 

Esta agora, Gisele, desde ontem, a rabejar por aí de saia travada e bumbum saliente, apetecível (aos olhos), é mais uma dessas vedetas. Filha desta e daquela é como soltam os impropérios que lhe dirigem os que vêem e sofrem estragos que a meretriz causa. Gisele é seu nome. Afinal uma qualquer vagabunda, carregada de betumes, pós e batons, digna de uma qualquer “rua do crime”, seja onde for. No Maputo ou em Lisboa, no Cais de Sodré de cheiros antigos mas modernizado e 'vamp' da Lisboa que está a perder os seus bairros castiços, as suas tradições, conduzindo a  que o que ainda existe seja mais para turista ver que outra coisa. A Lisboa falta a líbia de antes... e a lábia.

Exatamente sobre essa vadia Gisele é que abre o Expresso Curto de hoje. Que trazemos aqui mais em baixo. Cristina Figueiredo, da equipa do tio Balsemão Bilderberg e mais o que lhe convier, fala da Gisele como uma pura desgraçada que nos amola o quotiano. Dêem-lhe atenção. E depois há mais. Claro. É de ler e ficar a saber. 

Aborda igualmente os fogos e bláblá. A limpeza de terrenos e os brados dos que acham mal o prazo dado, e mais isto e aquilo. Parece que o que querem é mais fogos e mais mortandade. São calões, são vadios como a Gisele? Um bando de protestantes que não querem limpar, que querem ter os seus terrenos privados todos abagunçados, sem caminhos para os operacionais chegarem melhor aos fogos. Uma corja de contestários da treta. Ah! E agora por treta. O volumoso Ferreira do Amaral, ex-ministro e senhor da GALP, da Lusoponte e etc., diz que a dita concessionária da ponte 25 de Abril, que precisa de obras, já pagou essas obras - Lusoponte garante que já pagou manutenção da ponte. Dizer o contrário "é treta".

‘Eta’ que ele sabe mesmo fazer bons negócios! Talvez por isso lhe chamam por alcunha “o mamão redondo”. Pena que não tenha dado vantagens aos portugueses quando manuseou os dinheiros públicos em ministro, como agora suga o que é público e pago por todos os portugueses em prol das empresas que o mantêm anafado, reboliço e com contas chorudas nos bancos… Se calhar até em paraísos fiscais… Não?

Por hoje está dito. Quem não gostar que ponha à borda do prato. É que há tanta gente por aí com fome! (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Fogo (e fúria?) em dia de tempestade

Cristina Figueiredo | Expresso

Ontem, ao início da noite, a Proteção Civil emitiu um aviso à população, dando conta do agravamento das condições meteorológicas para os próximos dias. A depressão Gisele promete "aumento da agitação marítima (em toda a costa), precipitação (pontualmente forte), instabilidade (trovoada), vento forte (possibilidade de ocorrência de fenómenos extremos), e queda de neve". Mas é com este cenário por pano de fundo que António Costa leva esta tarde até à Assembleia da República, para mais um debate quinzenal, o tema dos incêndios florestais.

Talvez porque hoje é o dia em que termina o prazo (o jornal i diz que o Governo vai prorrogá-lo) para os proprietários limparem os terrenos. Daqui a pouco, de resto, o primeiro-ministro e o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses reúnem-se em São Bento e farão uma declaração sobre "a necessidade de limpeza de mato".

Talvez porque ontem Xavier Viegas, autor do relatório sobre os incêndios de Pedrogão, foi à Assembleia da República falar (à porta fechada) sobre o capítulo 6 (o tal que não foi divulgado publicamente) e o que disse não pode deixar ninguém indiferente: "Faltou em Pedrógão o trabalho de busca e salvamento, ou seja, a prestação de socorro médico falhou porque houve falhas nas buscas, que não foram coordenadas”. E sobre isto, e porque não podemos deixar que a chuva e o vento nos ofusquem a memória daqueles dias trágicos de calor e chamas, é ler esta discreta mas tocante reportagem (publicada no último domingo no Notícias magazine) sobre o rasto traumático que os incêndios de 17 de junho e 15 de outubro de 2017 deixaram nos bombeiros envolvidos.

Talvez, por fim, porque este é o primeiro debate quinzenal depois do congresso do CDS de que Assunção Cristas saiu com ganas de conquistar o mundo e o PS não esconde a ânsia de a "por no sítio". O tema dos incêndios serve que nem uma luva para esse fim, como bem se antevê lendo este artigo publicado no Jornal de Notícias onde a secretária-geral adjunta socialista, Ana Catarina Mendes, não poupa críticas à líder centrista acusando-a de, enquanto ministra da Agricultura (entre 2011 e 2015), pouco ou nada ter feito pelo ordenamento e limpeza florestais. O debate (com início marcado para as 15h) promete.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

Pedro Santana Lopes regressou ao comentário político na SIC Notícias, ontem à noite. Ia falar do PSD e do Montepio. Acabou por só ter tempo de falar no PSD, usando alguns paninhos quentes mas sem deixar de passar a mensagem de que as suas impressões sobre o primeiro mês de Rui Rio (seu ex-adversário) na liderança do partido não são as melhores. "Tem sido um mês complicado", reconheceu, na mesma intervenção onde admitiu (numa frase com o seu quê de autobiográfico) que "às vezes se fazem escolhas na melhor das intenções e não correm bem" e lamentou "quando as pessoas dão cabo elas próprias do (seu) estado de graça". Não resistiu a lembrar a Rio que "as afirmações de superioridade moral são sempre muito complicadas" e terminou a classificar o episódio Feliciano Barreiras Duarte(que incluiu no seu curriculum vitae uma referência a uma passagem pela Universidade norte-americana de Berkeley que nunca aconteceu) como "uma história embaraçosa".

Pena Santana, também ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, já não ter tido tempo de falar sobre o Montepio e comentar a decisão do Governo de conceder um crédito fiscal à associação mutualista que permitirá salvar a instituição até aqui tecnicamente falida. A solução indignou o diretor do Expresso, é considerada "criatividade contabilística para tapar os olhos" pelo antigo ministro das Finanças Bagão Felix, mas Mário Centeno foi ontem ao Parlamento dizer que só está "a aplicar a lei"e o PS fala em "normalidade". Numa daquelas alianças estranhas mas que de vez em quando acontecem, PSD, BE e PCP criticam todos a decisão do Governo - e os dois primeiros querem mesmo ver tudo muito bem explicado.

Há um novo surto de sarampo, desta vez a norte. Em 34 casos suspeitos, a Direção Geral de Saúde já confirmou sete.Três estão internados.

A greve dos professores continua, hoje na região centro, depois de a FENPROF falar que, ontem, na região sul, houve níveis de adesão na ordem dos 70%. Os docentes protestam, recorde-se, contra o facto de o Governo não querer contabilizar a totalidade do tempo em que as carreiras estiveram congeladas agora que retomaram as progressões. Henrique Monteiro, no seu Expresso Longo semanal, disserta sobre "Para que serve uma greve da função pública?"

As autoridades marítimas aguardam por nova preia-mar para tentar desencalhar o navio Betanzos, encalhado há uma semana nos bancos de areia do Bugio, na foz do Tejo.

O Sporting defronta o Plzen às 18h00, na Doosan Arena, na República Checa. É a segunda mão dos oitavos de final da Liga Europa. Se passarem aos quartos de final (e as perspetivas são boas pois venceram a primeira mão, em Alvalade, por 2-0), os leões encaixam um prémio de um milhão de euros (atribuído pela UEFA). Pode seguir o antes, o durante e o depois do desafio na SIC Notícias, em emissão especial a partir das 17h.

...E LÁ FORA

Triste efeméride a que se celebra hoje: sete anos de guerra na Síria. Foi a 15 de março de 2011 que milhares de sírios saíram à rua em protesto contra a prisão de 15 jovens que tinham escrito na parede da escola "o povo quer a queda do regime". Desde então o regime tem feito tudo para destruir o povo. E, infelizmente, tem sido bem sucedido. Os números da guerra são impressionantes: mais de meio milhão de mortos, entre eles 24 mil crianças.

A guerra diplomática entre o Reino Unido e a Rússia está nas manchetes dos jornais ingleses. Depois da primeira-ministra britânica, Theresa May, ter anunciado ontem a expulsão de 23 diplomatas russos - na sequência da tentativa de envenenamento, em solo inglês, do ex-espião Sergei Skripal e da sua filha -, a Rússia prepara-se para retaliar. Um tweet da embaixada russa em Londres mostra que o estilo Trump está a fazer escola: "A temperatura das relações Rússia-Reino Unido desceu para 23 graus negativos, mas nós não receamos tempo frio".

A notícia é esta: o parlamento espanhol proibiu as esterilizações forçadas em pessoas com deficiência. Tive de ler e voltar a ler antes de conseguir fechar a boca de espanto: eram permitidas até aqui?

O Barcelona goleou o Chelsea por 3-0 e qualificou-se assim para os quartos de final da Liga dos Campeões. No lado B da competição, o Manchester United ficou de fora ao ter perdido em casa, na terça-feira, frente ao Sevilha, o que deu pretexto ao Pedro Candeias para escrever este texto: "Já ninguém quer ser Mourinho". De bestial a besta ou, noutra versão, de como a vida é como os interruptores.

AS MANCHETES DOS JORNAIS

"Pausas para rezar tiram têxteis portugueses em África" (Jornal de Notícias)
"Fogos: Governo quer abrir 2400 km de caminhos em terrenos privados" (Público)
"Função Pública envelhecida: um quarto dos funcionários tem mais de 55 anos" (Diário de Notícias)
"Santa Casa entra no Montepio com participação simbólica" (i)
"Benfica esconde cartilha de rivais" (Correio da Manhã)
"221 milhões de euros - sem bónus no IRC seria este o prejuízo do Montepio" (Jornal de Negócios)
"O mundo negro da fraude alimentar" (Visão)
"Gato Fedorento - eles voltarm (só por um dia, só para nós)"(Sábado)
"Vieira segurou Paulo Gonçalves" (A Bola)
"Jesus dá a receita" (Record)
"Herrera: renovação alinhavada" (O Jogo)

O QUE ANDO A LER E A VER

Faz hoje exatamente dois meses que assumi funções como editora de Política na SIC. "A caixa que mudou o mundo" está a mudar, e de que maneira, a minha vida (de quase trinta anos na imprensa escrita). E confesso: na voragem destas primeiras semanas à descoberta do "maravilhoso mundo" da televisão, os livros têm ficado para trás, amontoando-se em pilha num "stand by" sem fim à vista. Serve este intróito para me desculpar: não tenho conseguido ler nada para além dos jornais do dia. E mesmo nestes há tanto para ler que exige tempo que não tenho tido! Só de ontem para hoje, esta espécie de "mesa de cabeceira" virtual acumulou vários artigos/dossiês sobre Stephen Hawking, o físico inglês que morreu ontem, aos 76 anos. Há-os no Expresso - comece por "o homem que nos explicou o espaço morreu sem lá ter ido" -, no Observador, no Público, no Diário de Notícias, no francês Le Monde, no americano New York Times. A Universidade de Cambridge, onde Hawking foi professor toda a vida, também lhe dedica uns quantos textos (além de um vídeo tocante). Mas foi no inglêsThe Guardian que encontrei uma abordagem diferente (e este texto li mesmo) para uma pergunta que me surgira logo de manhã, quando ouvi a notícia da sua morte: e se Stephen Hawking tivesse nascido noutra época, ou noutro país? A colunista Zoe Williams ensaia uma resposta (obviamente política) para concluir algo arrepiante: o cientista nunca teria sobrevivido, no seu próprio país,na época atual de austeridade. Zoe é implacável: "Capaz de comunicar usando apenas os músculos de uma das bochechas, ele usava um dispositivo discursivo impossível de imaginar ser fornecido por um sistema [nacional de saúde] que tem tão pouco interesse no que as pessoas com deficiência têm para dizer"; conta que Hawking estava neste momento "em campanha contra a crise no SNS, a sua suborçamentação, a sua privatização, o congelamento dos salários públicos e outras pressões sobre os funcionários", com uma argumentação muito definida: "Ele sabia que não poderia ter sido o físico que foi sem os cuidados médicos que recebeu. E defendia (...) que estes cuidados estavam debaixo de um ataque político sustentado". Vale a pena ler, porque vale muito a pena pensar exatamente nisto: quantas pessoas incapacitadas passam ao lado de uma vida realizada, numa época em que a ciência já pode tanto, simplesmente porque - reocnheça-se - continuam longe de ser prioridade para os políticos?

Uma curiosidade ou, melhor dizendo, uma coincidência cósmica: Hawking nasceu no exato dia em que se completavam 300 anos sobre a morte de Galileu (8 de janeiro de 1942) e morreu no dia do 139º aniversário de Albert Einstein. E sobre o génio que concebeu a Teoria da Relatividade o diário britânico The Guardian dava conta ontem de uma série de cartas escritas pelo físico à sua irmã Maja que vão ser tornadas públicas entre 18 e 20 de abril e leiloadas pela Christie's entre 2 e 9 de maio. Numa delas, em 1925, Einstein escreveu este desabafo algo surpreendente para quem tinha então apenas 46 anos: “Estou feliz no meu trabalho, mesmo se neste e noutros assuntos começo a sentir que o brilhantismo da juventude já é passado.”

E por falar em brilhantismo na juventude, sugestão para o próximo fim-de-semana: se vive em Lisboa ou perto, dê um salto ao cinema S.Jorge onde, no sábado, às 17h, é exibido, no âmbito do festival de animação Monstra, o filme "The yellow submarine", comThe Beatles. Não é a cópia remasterizada que assinala os 50 anos da película e que será exibida (numa única vez), a 8 de julho no Reino Unido. Mas vale sempre a pena ver no grande ecrã (eu nunca vi) uma "obra-prima subsersiva", como a classificou em tempos o argumentista dos Simpsons Josh Weinstein. Numa das canções da banda sonora, o "It's all too much" (de George Harrison), encontrei as frases perfeitas para encerrar este Curto com um convite a que se faça ao mundo, através dos jornais, das televisões, das rádios, na medida da sua curiosidade (a força motriz de qualquer génio): "All the world is birthday cake. So take a piece but not too much". Tenha um dia bom.

A política estrangeira do Presidente Macron


Thierry Meyssan*

Segundo o Presidente Macron, «A França está de volta» («France is back» - em inglês no texto). Ela pensaria jogar um papel internacional de novo, após dez anos de ausência. No entanto, Emmanuel Macron jamais explicou que política pensa fazer. Retomando elementos que já desenvolveu nestas colunas e recolocando-os, ao mesmo tempo, tanto no contexto europeu como no da História desse país, Thierry Meyssan analisa a viragem que acaba de ser iniciada.

Quando Emmanuel Macron se apresentou como candidato à presidência da República Francesa, ignorava tudo a propósito de Relações Internacionais. O seu mentor, o Chefe da Inspeção-geral de Finanças (um corpo de 300 altos-funcionários), Jean-Pierre Jouyet, deu-lhe uma formação acelerada.

O prestígio da França havia sido consideravelmente diminuído pelos dois presidentes precedentes, Nicolas Sarkozy e François Hollande. Devido à sua falta de prioridades e às suas inúmeras reviravoltas, a posição Francesa era percebida na actualidade como «inconsistente». Assim, ele iniciou o seu mandato encontrando-se com o maior número de Chefes de Estado e de Governo, mostrando que a França se reposicionava como uma potência mediadora, capaz de falar com todos.

Após os apertos de mão e os convites para banquetes oficiais, precisava de dar um conteúdo à sua política. Jean-Pierre Jouyet [1] propôs-lhe ficar no campo atlântico, apostando tudo nos Democratas norte-americanos que, segundo ele, deveriam regressar à Casa Branca talvez mesmo antes das eleições de 2020. Na altura em que os Britânicos deixam a União Europeia, a França estreitaria a sua aliança com Londres fortemente continuando ao mesmo tempo a manter relações com Berlim. A União deveria ser recentrada na governança do euro. Ela colocaria um termo ao livre-comércio com os parceiros que não o respeitam e criaria grandes empresas na Internet capazes de rivalizar com as da GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon). Deveria igualmente dotar-se de uma defesa comum contra o terrorismo. Junto com os seus aliados, ela deveria envolver-se na luta contra a influência russa. Finalmente, a França prosseguiria a sua acção militar no Sahel e no Levante.

Em Setembro de 2017, Jean-Pierre Jouyet foi nomeado embaixador da França em Londres. Em Janeiro de 2018, a França e o Reino Unido relançavam a sua cooperação diplomática e militar [2]. Ainda em Janeiro, os dois Estados formavam uma instância secreta, o «Pequeno Grupo», para relançar a colonização franco-britânica do Levante [3].

Esta política, que jamais foi abordada em público, ignora tanto a história da França como a demanda alemã para desempenhar um papel político internacional mais importante. A quarta maior economia do mundo é, com efeito, setenta anos após a sua derrota, ainda mantida num papel secundário [4].

No que diz respeito ao mundo árabe, o Presidente Macron —enarca e antigo empregado da Rothschild & Cie— adoptaram o ponto de vista dos seus dois consultores na matéria: o franco-tunisino Hakim El Karoui —um outro ex-Rothschild & Cie— para o Magrebe e do antigo embaixador em Damasco, Michel Duclos —também um enarca— para o Levante. El Karoui não é um produto da integração republicana, antes da alta burguesia transnacional. Ele alterna entre um discurso republicano, no plano internacional, e um outro comunitário no plano interno. Duclos é um autêntico neo-conservador, formado nos Estados Unidos de George W. Bush por Jean-David Levitte [5].

Ora, El Karoui nunca compreendeu que os Irmãos Muçulmanos são um instrumento do MI6 britânico, e Duclos que Londres nunca digeriu os acordos Sykes-Picot-Sazonov que lhe fizeram perder metade do seu império no Médio Oriente [6]. Os dois homens não vêem, pois, qualquer problema na nova «entente cordial» com Theresa May.

Ora, pode-se desde já verificar certas incoerências desta política. Em aplicação das decisões do «Pequeno Grupo», a França retomou o hábito da equipa do Presidente Hollande de repassar à ONU as posições dos seus empregados da oposição síria (os que se reivindicam da bandeira do mandato francês sobre a Síria [7]). Mas os tempos mudaram. A carta do actual presidente da «Comissão síria de negociação», Nasr al-Hariri, transmitida em nome da França ao Conselho de Segurança, difama não apenas a Síria mas também a Rússia [8]. Ela acusa uma das duas principais potências militares do mundo [9] de perpetrar crimes contra a Humanidade, o que viola a posição «de mediação» de um membro permanente do Conselho. Se Moscovo preferiu ignorar esta linguagem inconveniente, Damasco respondeu-lhe com rispidez [10].

Em suma, a política de Emmanuel Macron não difere muito da de Nicolas Sarkozy e de François Hollande mesmo se, devido à presença de Donald Trump na Casa Branca, ela se apoia mais no Reino Unido do que nos Estados Unidos. O Eliseu prossegue com a ideia de uma recuperação económica das suas multinacionais não em França, mas às custas do seu antigo Império colonial. Trata-se das mesmas escolhas que as do socialista Guy Mollet, um dos fundadores do Grupo de Bilderberg [11]. Em 1956, o Presidente do Conselho francês fez aliança com Londres e Telavive para conservar as suas acções no Canal do Suez nacionalizadas pelo Presidente Gamal Abdel Nasser. Ele propôs ao seu homólogo britânico, Anthony Eden, que a França integrasse a Commonwealth, que ela prestasse vassalagem à Coroa e que os Franceses adoptassem o mesmo estatuto de cidadania que os Irlandeses do Norte. [12]. Este projecto de abandono da República e de integração da França no seio do Reino Unido sob a autoridade da Rainha Isabel II jamais foi publicamente discutido.

Pouco importam o ideal de igualdade de direitos, expressa em 1789, e a rejeição do colonialismo expresso pelo Povo francês face ao golpe de Estado abortado de 1961 [13], aos olhos do Poder, a política estrangeira não deriva da democracia.

Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org | Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas:
[1] “Da Fundação Saint-Simon a Emmanuel Macron”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 19 de Abril de 2017.
[2] “A «Entente cordial» Franco-britânica”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria) , Rede Voltaire, 30 de Janeiro de 2018.
[3] « Syrieleaks : un câble diplomatique britannique dévoile la "stratégie occidentale" » («Sirialeaks :um telegrama diplomático britânico revela a “estratégia ocidental”»- ndT), par Richard Labévière, Observatoire géostratégique, Proche&Moyen-Orient.ch, 17 février 2018.
[4] É igualmente o caso do Japão.
[5] Jean-David Levitte, aliás «Diplomator», foi representante permanente da França nas Nações Unidas em Nova Iorque (2000-02), depois embaixador em Washington (2002-07).
[6] De um ponto de vista britânico, os acordos Sykes-Picot-Sazonov, de 1916, não são uma partilha equitativa do mundo entre os três impérios, mais uma concessão do Reino-Unido para se assegurar do apoio da França e da Rússia (Tripla Entente) contra o Reich alemão, a Austria-Hungria e a Itália (Triplice).
[7] « La France à la recherche de son ancien mandat en Syrie », par Sarkis Tsaturyan, Traduction Avic, Oriental Review (Russie), Réseau Voltaire, 6 octobre 2015. Em 1932, a França outorga à Síria, sob protectorado, uma nova bandeira. Ela era composta de três faixas horizontais representando as dinastias Fatímidas (verde), Omíadas (branco) e Abássidas (negro), símbolos dos muçulmanos xiitas quanto à primeira e sunitas quanto às duas seguintes. As três estrelas vermelhas representam as três minorias cristã, drusa e alauíta. Esta bandeira permanecerá em vigor no início da República Árabe Síria e regressará, em 2011, com o Exército Sírio Livre.
[8] « Accusation de la Syrie et de la Russie par la France », par François Delattre, Réseau Voltaire, 9 février 2018.
[9] “O novo arsenal nuclear russo restabelece a bipolaridade do mundo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 7 de Março de 2018.
[10] « Réponse de la Syrie à la France », par Bachar Ja’afari, Réseau Voltaire, 28 février 2018.
[11] “O que Você ignora sobre o Grupo de Bilderberg”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Komsomolskaïa Pravda (Rússia) , Rede Voltaire, 23 de Setembro de 2012.
[12] “When Britain and France nearly married” («Quando a Grã-Bretanha e a França quase se uniram»- ndT), Mike Thomson, BBC, January 15, 2007. «Frangland? UK documents say France proposed a union with Britain in 1950s : LONDON : Would France have been better off under Queen Elizabeth II ? », Associated Press, January 15, 2007.
Guy Mollet não retomava nisto a proposta de União franco-britânica, formulada por Winston Churchill e Anthony Eden em 1940, de fusão provisória das duas nações após a derrota francesa na luta face ao Reich nazi. Ele inspirava-se, de facto, no contexto da crise do Suez e na esperança de salvar o Império francês, na proposta de Ernest Bevin, onze anos antes, de criar um terceiro bloco face aos EUA e à URSS, juntando os impérios britânico, francês e neerlandês no seio de uma União Ocidental. Este projecto foi abandonado por Londres em favor da CECA (antecessora da União Europeia), no plano económico, e da OTAN no plano militar.
[13] Em 1961, um Golpe de Estado militar, organizado nos bastidores pela OTAN, tentou derrubar o General-presidente Charles De Gaulle e manter a política colonial francesa. Maciçamente, os Franceses recusaram apoiá-lo. « Quand le stay-behind voulait remplacer De Gaulle » («Quando o stay-behind queria substituir de Gaulle»- ndT), por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 10 septembre 2001

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