segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ministra australiana em Timor-Leste após acordo sobre receitas de petróleo e gás


Camberra, 30 jul (Lusa) - A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália visita hoje Timor-Leste para reparar as relações bilaterais, depois de uma disputa entre os dois países sobre receitas de gás e petróleo e que incluiu também alegações de espionagem.

"A assinatura do nosso tratado histórico de fronteiras marítimas abriu um novo capítulo nas relações entre a Austrália e Timor-Leste", disse Julie Bishop à cadeia televisiva Australian Broadcasting Corporation (ABC).

Bishop, que está em Díli para se encontrar com líderes recém-eleitos, é a primeira ministra australiana a visitar Timor-Leste nos últimos cinco anos.

A Austrália e Timor-Leste assinaram recentemente um acordo que compartilha as receitas de petróleo e gás do Mar de Timor.

Timor Leste tinha contestado a validade de um acordo de partilha de receitas assinado em 2006, alegando que a Austrália tinha realizado escutas em gabinetes governamentais em 2004 para obter uma vantagem injusta nas negociações.

"Foi uma questão de tensão constante, foi uma preocupação para nós em termos do nosso relacionamento com Timor-Leste e estou satisfeita por nos termos conseguido comprometer com um processo que conduziu a um resultado justo e equilibrado", pelo que "agora podemos continuar a apoiar Timor-Leste na realização de seu potencial económico", acrescentou a ministra à ABC.

Em 2017, Timor-Leste retirou a queixa que tinha apresentado contra a Austrália no mais alto tribunal das Nações Unidas, o que foi visto como um ato de boa vontade antes do novo acordo que estabelece que a maior parte do rendimento do Mar de Timor pertence a Díli.

A Austrália confirmou em junho que havia acusado um ex-espião australiano e o seu advogado de conspiração por revelarem informações secretas relativas à alegação de espionagem.

JMC //MIM

Moçambique | Ossufo Momade: "Estamos preparados para uma vitória retumbante"


Em entrevista exclusiva à DW África, líder interino da RENAMO diz ter "a máxima certeza" que o partido vai vencer as autárquicas. Sobre a fuga de quadros do MDM para a RENAMO, fala em "filhos" que voltam a casa.

O líder interino da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, não tem dúvidas: o maior partido da oposição vai vencer as eleições autárquicas de 10 de outubro.

Numa conversa exclusiva com a DW África, Momade fala da polémica em torno da "fuga de quadros proeminentes" do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) para a RENAMO, afirmando que é natural receber de braços abertos os filhos que voltam para casa e querem ajudar o partido a vencer as eleições.

Depois das eleições, diz o líder interino, será altura para eleger o sucessor oficial de Afonso Dhlakama. 

DW África: Especulou-se sobre uma possível coligação entre a RENAMO e o MDM. Porque é que ela não vingou?

Ossufo Momade (OM): Eu não sei quem é que havia falado, mas do nosso lado nunca houve essa intenção. Nunca tivemos a intenção de nos coligarmos com o MDM, o partido nunca falou sobre isso.

DW África: A RENAMO não pondera coligar-se com outras forças para ficar mais forte e conseguir mais facilmente alcançar os seus objetivos?

OM: Não, isso vai depender dos próprios órgãos do partido. Neste momento, está a falar com um membro da RENAMO que é coordenador da Comissão Política - não posso adiantar nada em relação a isso. Só depois de um encontro do coletivo pode sair uma posição adequada em relação a esse propósito.

DW África: A RENAMO está a desfalcar o MDM, tirando os seus mais proeminentes quadros, e não só. Porque é que optou por esta estratégia?

OM: As pessoas é que aparecem, voltam para casa. Quando um filho volta para casa, é um bom filho, recorda-se do pai. Nós recebemos com as duas mãos. A estratégia do partido é colocar as pessoas nos lugares próprios, que possam ajudar o partido a ir para a frente. Todo o partido quer progredir e a progressão é a vitória em qualquer eleição.

DW África: O facto de a RENAMO ter ficado fora das corridas autárquicas nos últimos anos foi determinante para apostar em figuras bem aceites, experientes neste tipo de corrida eleitoral?

OM: Esses que entraram no MDM – porque alguns apostaram no MDM, uma vez que a RENAMO não tinha concorrido – agora, com a possibilidade de a RENAMO concorrer a estas eleições em outubro, pensam que o único partido que pode garantir a vitória é a RENAMO. Por isso, eles próprios voltaram para casa. Temos confiança na vitória nas autarquias. Sabe-se muito bem que a maioria que está no MDM é da RENAMO. Agora, quando um filho volta para casa, nunca é chutado. Por isso, apostamos nos quadros que ontem estavam na RENAMO e hoje voltaram. O partido não teve outra opção a não ser confiar neles na liderança das listas do partido.

DW África: O que espera das autárquicas de outubro?

OM: A vitória. Espero a vitória, na medida em que estamos preparados para uma vitória retumbante em várias autarquias. Essa vitória vai-nos conduzir a uma vitória em 2019.

DW África: E se tal não acontecer?

OM: Vai acontecer. Temos a máxima certeza. A FRELIMO tentou boicotar a sessão extraordinária [no Parlamento, para debater a legislação eleitoral] porque estava a ver-se numa situação complicada.

DW África: Substitui um líder carismático e bem aceite, tanto na ala política como na ala militar. Foi também bem aceite nas duas correntes quando foi indicado para o cargo que ocupa atualmente?

OM: É difícil responder, na medida em que eu fui eleito através da Comissão Política e, neste momento, estou sediado onde estava o líder, na serra da Gorongosa. A eleição foi na parte política e hoje estou a conviver com aqueles que sempre conviveram com o presidente - a ala militar. Resta-me saber... (risos) é uma pergunta complexa.

DW África: Quando será eleito ou indicado definitivamente o líder da RENAMO?

OM: Neste momento, temos uma preocupação: as eleições autárquicas. As atividades políticas estão a decorrer normalmente. Depois dessas eleições, pensamos realizar o congresso e é daí que vai sair o presidente do maior partido da oposição.

DW África: Quando é que planeia sair da Gorongosa?

OM: A minha saída será depois da conclusão de todo o processo de integração das forças residuais da RENAMO [nas Forças de Defesa e Segurança] e desmobilização daqueles que não vão poder estar na polícia.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

HIV/SIDA | Cada vez mais denúncias de contaminação intencional em Angola


Há diariamente novas denúncias de contaminação propositada com HIV, segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA. Organização alerta que é preciso mais investimento público para ações de combate.

Todos os dias, há pelo menos 10 denúncias de pessoas contaminadas de propósito com HIV, de acordo com dados da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO).

A contaminação dolosa é crime. Em Angola, os autores incorrem em penas de até 24 anos de prisão. Mas muitos casos não são denunciados na Justiça, as vítimas temem represálias dos agressores, e o problema agrava-se.

O coordenador da ANASO, António Coelho, diz que o número de denúncias aumentou, mas que ainda há um longo caminho a percorrer, e pede urgentemente uma mudança de atitude, "no sentido de abandonarem tal prática e se juntarem a nós na sensibilização daqueles que ainda entendem que devem contaminar os demais."

Punição

Não é a primeira vez que se fala em contaminação dolosa em Angola. Há dez anos que o assunto é debatido com frequência na sociedade, mas, segundo o jurista Agostinho Canando, o Estado tem sido demasiado brando na aplicação da lei.

Canando comenta que a Procuradoria-Geral da República tem de intervir. "Se a onda de contágios continuar, volta e meia, teremos uma Angola toda contaminada porque a PGR nunca faz nada", diz.

No entanto, cientistas referem que não está provado que a criminalização resolve o problema da contaminação dolosa. Dizem, inclusive, que leis "mal concebidas" podem até piorar a situação, porque levam os agressores a esconder-se e não procurar ajuda, segundo um documento publicado durante a conferência internacional sobre a SIDA, que termina esta sexta-feira (27.07) na Holanda.

Na conferência deste ano, o ressurgimento de novos casos da doença em alguns países do mundo foi uma das preocupações. Milhares de ativistas pediram maior acesso a medicamentos antirretrovirais e mais dinheiro para campanhas de sensibilização sobre o HIV.

Combate ao vírus requer mais recursos

Segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA, nos últimos anos, Angola tem registado em média 25 mil novas contaminações com HIV e 13 mil mortes de pessoas infetadas. As províncias do Kuando Kubango, Cunene, Moxico, Lundas, Kwanza-Norte e Luanda registam o maior número de contágios. As mulheres são as mais afetadas e os kovens entre os 15 e os 24 anos são a faixa etária mais vulnerável.

António Coelho, da rede ANASO, pede ao Governo angolano mais financiamento, para se intensificar a luta contra o HIV/SIDA no país. "A situação da SIDA em Angola continua preocupante e, em alguns casos, alarmante. No atual contexto, a resposta é fraca, sobretudo, por falta de fundos e de compromissos."

O responsável sublinha ainda que é preciso um debate alargado na sociedade sobre estas questões e acabar, de uma vez por todas, com a discriminação de pessoas com HIV.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Angola | DOS NOSSOS REFÉNS TRATAMOS NÓS


Sem qualquer cerimónia, duma forma rudimentar como que a realçar a truculência militar, o general-presidente João Lourenço esmurrou a mesa da diplomacia exigindo a Portugal que enviasse, em papel, claro, o processo contra Manuel Vicente, o seu protegido de estimação.

Sedrick de Carvalho | Folha 8 | opinião

A justiça portuguesa ainda levou o calhamaço processual ao tribunal de Lisboa, mas depois cedeu aos bastidores diplomáticos retirando o ex-vice-presidente de Angola do rocambolesco caso de corrupção de procurador do Ministério Público.

Pouco depois, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, declarou que a instituição que chefia não tem condições técnicas para investigar processos de natureza complexa, como, por exemplo, os indícios de crimes da antiga direcção da Sonangol chefiada por Isabel dos Santos e referidos pelo actual presidente do conselho de administração.

A 20 de Outubro, menos de um mês desde a sua nomeação, Carlos Panzo foi exonerado do cargo de secretário dos assuntos económicos do presidente da República alegadamente por ser alvo de uma investigação por parte da Procuradoria Federal Suíça. A investigação é sobre suspeita de lavagem de dinheiro, mas é apenas, como referiu a porta-voz suíça, uma investigação e Panzo está coberto pela presunção de inocência até prova em contrário.

O procurador-geral angolano à altura era o nefasto João Maria de Sousa, um habilidoso protector de corruptos da sua laia, e deu um pequeno espectáculo mediático antes de abandonar a casa da mãe Joana. Em conferência realizada numa noite em finais de Novembro, João Maria confirmou ter aberto um inquérito contra o exonerado e que seria pedido à congénere suíça, mediante carta rogatória, o envio dos elementos de provas.

Entretanto, João Maria foi substituído quase um mês depois. Meses passados e a carta rogatória ainda não foi respondida. E Carlos Panzo continua, aparentemente, longe dos corredores da presidência. A questão que se coloca: como se justifica a exoneração e abertura de inquérito contra Carlos Panzo, simples investigado na Suíça, perante a blindagem canina presidencial a Manuel Vicente, amplamente investigado e, principalmente, acusado em tribunal português?

A couraça com que se reveste Manuel Vicente ganhou forma de conselheiro para assuntos de petróleo e gás do presidente da República, para além de ser deputado à Assembleia Nacional. Ou seja, um foi afastado supostamente para não macular o timoneiro contra a corrupção, mas, dias depois, o mesmo timoneiro associa-se a um sujeito do topo da pirâmide da corrupção em Angola. Mas a diferença entre o conselheiro e o ex-secretário é longitudinalmente grande tanto no formato como no objecto.

No formato, o estatuto de conselheiro não vincula o sujeito ao governo, mas no objecto se destaca pela importância perante o aconselhado, dependendo largamente do que este disser sobre a matéria específica. O secretário é vinculativo ao Executivo, pela super-presidência, no formato e objecto.

Amarrado ao parlamento, que lhe confere imunidades nos termos do artigo 150.º da CRA, para além do estatuto de ex-vice-presidente da República, Manuel Vicente está mais sob as rédeas do novo-quase-dono-disto-tudo, faltando tornar-se o plenipotenciário do partido.

Os filhos de José Eduardo dos Santos também estão encurralados, e Isabel e Filomeno dos Santos começam a sentir cada vez mais o cerco a apertar-se. O processo que decorre no tribunal de Ghent, Bélgica, sobre esquemas de certificação e venda de diamantes que favoreceram Isabel dos Santos através da Ascorp, e em que foram apreendidos oito mil milhões de dólares, é outra corda no pescoço da primogénita do ex-rei sol, que se encontra no cadafalso também com a Atlantic Ventures.

O general Geraldo Sachipengo Nunda, ex-chefe do Estado-Maior General das FAA, arrolado no processo “Burla à Tailandesa”, arrisca-se a ser o primeiro membro sénior da nomenclatura a sentar-se no infame banco dos réus nesse xadrez judicial que se inicia intramuros.

Sem se compreender se realmente a tentativa de burla é o verdadeiro motivo para constituição do general em réu, o certo é que Sachipengo Nunda não é apenas ex-chefe do Estado-Maior General das FAA mas também, e talvez mais importante, empresário diamantífero em sociedade com vários generais, como os irmãos Luís e Emílio Faceira.

Todos esses processos, desde Manuel Vicente e Carlos Panzo, passando por Isabel dos Santos e Zenú, Nunda e companhia, são instrumentos de controlo às mãos de João Lourenço, que continuará a negociar a transladação de processos judiciais e a instaurar outros contra figuras que eventualmente se neguem a endeusá-lo, tal como o jovem António Rodrigues que não tomou posse como ministro e agora passa pelo crivo da PGR.

Colocados em xeque, o fatal mate estará dependente do movimento dos intimados. Assim, podemos dizer que João Lourenço está apenas a dizer que dos nossos reféns, como Manuel Vicente e Isabel dos Santos, tratamos nós.

Guiné-Bissau | PM pede provas do tráfico de droga no país


Confrontado com recentes declarações do líder do Parlamento sobre o tráfico de droga, Aristides Gomes pede a Cipriano Cassamá que apresente mais dados e estratégias de combate.

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, desafiou o líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, a apresentar provas e estratégias de combate ao tráfico de droga que disse estar a aumentar no país.

"Nós gostaríamos que essa pessoa que citou [Cipriano Cassamá] ponha à disposição das autoridades nacionais e estrangeiros os dados de que dispõe para que se possa colaborar na resolução do problema", afirmou Aristides Gomes, em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, este sábado (28.07), à chegada de uma visita de dois dias à Guiné-Conacri.

Ao discursar numa sessão parlamentar na passada quarta-feira, Cipriano Cassamá, que não citou nomes, disse que o tráfico de droga voltou ao país e pediu que se parasse com o que considera de anarquia na Guiné-Bissau.

"As pessoas devem parar com o negócio de droga. As pessoas têm que parar com anarquia neste país", afirmou Cassamá, que se expressava em crioulo, numa sessão extraordinária no Parlamento, perante deputados. 

Sem citar casos concretos e num tom visivelmente irritado, o líder do Parlamento exortou os guineenses a procurarem "outras alternativas para melhor gerir o país", nomeadamente a criação de impostos, ao invés da venda de droga, observou.

Cipriano Cassamá questionou "a quantidade de aviões que chegam ao país", para assinalar a "venda de droga" que, notou, acontece nos últimos tempos.

Tema recorrente

Confrontado com estas declarações, o primeiro-ministro guineense admitiu que "há dificuldades nessa matéria", mas pediu a quem tiver provas que colabore com as autoridades.

"Que eu saiba fui a primeira autoridade da Guiné-Bissau a denunciar, a fazer uma análise e apresentar propostas concretas sobre essa matéria", assinalou Aristides Gomes, sem nunca referir a palavra droga.

O narcotráfico é um tema recorrente na Guiné-Bissau. Em fevereiro do ano passado, numa entrevista exclusiva à DW, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, acusou o Governo guineense de fechar os olhos à entrada de droga no país e apontou o dedo ao Presidente da República, José Mário Vaz, acusando-o "de estar ligado ao negócio do narcotráfico".

Lusa | em Deutsche Welle

Portugal | O lixo na política

Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

O caso Ricardo Robles trouxe para a praça pública a discussão sobre os vícios à Esquerda e à Direita, como se alguma ideologia carregasse consigo a exclusividade da transparência e do rigor. Nenhum partido ou corrente política pode invocar uma espécie de superioridade moral ou ética. É confundir os termos querer encontrar características humanas específicas de um ou de outro espetro político.

A questão, politicamente, é outra. É que se os erros e trapalhadas existem em qualquer quadrante, cabe aos próprios partidos pugnar pela verticalidade e pela coerência. De Catarina Martins espera-se bem mais do que invocar mentiras dos jornais e uma cabala contra o Bloco de Esquerda. As dúvidas esclarecem-se com factos e argumentos. Não com desculpas esfarrapadas.

Exigir clareza neste caso não é uma questão de falso moralismo, como também se tem ouvido. Claro que todos os cidadãos têm o direito de fazer negócio e de investir em qualquer ramo. A diferença, no caso de quem está na vida pública, é que tem de o fazer em coerência com o que diz, com as iniciativas políticas que toma e com as leis que promove ou vota. A responsabilidade do detentor de um cargo público é acrescida. Porque pode influenciar a vida de milhares de pessoas, porque mexe na gestão de dinheiros públicos, porque escolheu ter uma missão e poderes que o cidadão comum não tem.

Faltam, nos tempos que correm, políticos inspiradores. Impolutos, verticais, carismáticos e mobilizadores. Na vida pública há formiguinhas incansáveis e que vestem a camisola, claro que sim. Mas é difícil acreditar e evitar a desconfiança que se instalou na sociedade em relação aos políticos. Cabe-nos exigir mais e elevar a fasquia ética na vida pública. E cabe aos partidos manterem as casas exemplarmente limpas. Da Esquerda à Direita. Sem se desculparem com o lixo do vizinho.

* Subdiretora | Imagem em Editora Multicultural/Pedro Cardoso

Renúncia | BE reúne comissão de emergência para escolher sucessor de Robles


A direção bloquista vai voltar a reunir-se, esta segunda-feira à noite, em torno do caso de Ricardo Robles, na sede do partido, em Lisboa. Em cima da mesa, estará unicamente a decisão de quem irá substituir o agora vereador demissionário.

Esta é a segunda vez em três dias que o BE reúne em torno do caso de Ricardo Robles, que tem estado em destaque no panorama político nacional desde sexta-feira, por um prédio comprado, em Alfama, para investimento imobiliário. A comissão política tinha agendado a próxima reunião para 11 de setembro, mas a renúncia de Robles aos cargos na Câmara de Lisboa e na concelhia obrigou os dirigentes a convocar novo encontro.

Depois de a direção bloquista ter concluído que "a conduta do vereador Ricrdo Robles em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e continuará a propor" e de Catarina Martins ter saído em defesa do coelga de partido, o autarca veio, esta segunda-feira, a demitir-se de funções.

Na base da "decisão pessoal" tomada, está uma notícia avançada pelo "Jornal Económico", na passada sexta-feira, que dá conta que, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda, em 2017, reavaliado em 5,7 milhões de euros. A notícia caiu mal à oposição, com o PSD a pedir a demissão do bloquista, especialmente por Robles ser um acérrimo crítico da expeculação imobiliária.

Jornal de Notícias | Foto: Arquivo/Global Imagens

Ricardo Robles: Festa, canastra e boa comidinha


A “novela” Robles-BE ainda hoje dá letras na falta de melhor, também aqui no Curto que se segue. Sensatez do autor do Curto de hoje na abordagem, tirando uma ou outra farpa. Se fossem todos assim estávamos bem. Certo é que o “caso” surgiu com empolamentos, com mentiras, com falta de investigação apurada. Esses autores de ficção foram uns escribas de Maria-Vai-Com-As-Outras. Prescindiram do método com o rigor ético e profissional dos jornalistas. E desses estão a haver demasiados. Pior para nós, os leitores. Pior ainda mais para os que permitem serem manipulados.

Que o vereador do BE, Ricardo Robles, “tinha ganho milhões de euros numa operação imobiliária” e era mentira. Catarina também o disse, com verdade. Porém, esconder o bocadinho do sol com a peneira também foi o que fez. Na verdade tudo indica que antes houve intenção de Robles e associada (irmã?) de venderem com lucros especulativos um imóvel. Depois alguém recuou, ao que se julga saber… Diz-se que “à mulher de César não basta ser, tem de parecer”. Robles, não pareceu, à priori, realmente contra a especulação imobiliária no que era de sua propriedade. Pois. Está dito. Comerem-nos por parvos é que não.

Robles demitiu-se dos cargos

Mas Robles hoje demitiu-se de vereador e dos órgãos do Bloco de Esquerda. Já é notícia. Fez bem. Alivia o BE do fantasma que criou. Além disso agora já pode retomar o negócio e-s-p-e-c-u-l-a-t-i-v-o com imóveis. Aquele que foi referido e outros mais. Ninguém tem nada com isso. Uns milhões de euros mais dão um jeitão. A maioria dos portugueses era o que queria, dava-lhes jeito e sempre seria um desafogo. Festa, canastra e boa comidinha. Quem não quer?

Outros temas interessantes pode ler neste Curto que apresentamos tardiamente e que vem a seguir. Amanhã é outro dia. Goze o sol que aparece de vez em quando neste ‘inverão’. Saúde. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Venham a nós os “casos” políticos

Pedro Lima | Expresso

Bom dia,

Não há nada como uma boa história política, onde se confronta a conduta de um político com as declarações que foi fazendo ao longo dos anos, para animar estes tempos em que parte significativa dos portugueses mergulha de férias. Ainda para mais quando essa história é apimentada pelo facto de incidir sobre o Bloco de Esquerda e sobre o tema tão na ordem do dia da especulação imobiliária. O Bloco é o tradicional partido da contestação em Portugal e raramente é alvo de polémicas, por isso é natural um certo frisson em alguns sectores mais à direita com este tema que marcou o fim-de-semana.

O “caso Robles”, iniciado com a notícia do Jornal Económico de sexta-feira que dava conta de que o vereador da câmara de Lisboa, Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda, tinha a intenção de vender um prédio em Alfama, adquirido em 2014, gerando uma mais-valia de 4,7 milhões de euros, continua assim a dar que falar. Luís Marques Mendes, no seu comentário deste domingo da SIC, resumia desta forma a sua análise ao caso: compromete a carreira política de Robles e o Bloco e a sua líder, Catarina Martins, “saem muito mal desta história”.

Não está em causa qualquer ilegalidade, mas sim a incongruência do discurso contra a especulação imobiliária e a prática de Robles – é o que mais se tem ouvido por estes dias. Mas Catarina Martins reagiu, algo enervada, disparando contra a imprensa e contra o PSD, que pediu a demissão de Robles. Rui Rio reagiu, algo irónico, dizendo que achou uma “certa piada” à reação da líder do Bloco. O prédio foi vandalizado – alguém pintou na parede a frase “Aqui podia morar gente”, o slogan que o partido utiliza para colocar em edifícios devolutos. E o caso parece começar a ter consequências dentro do próprio Bloco, a julgar pela afirmação feita na edição de hoje do jornal “i” por Luís Fazenda, fundador e dirigente do partido: “O Bloco tem de fazer uma reflexão e tirar conclusões”. Aguardam-se por isso reações a esta reação.

Entretanto, o tema já envolveu a Presidência da República, que veio desmentir ter na sua posse, à espera de promulgação, qualquer lei relacionada com o direito de preferência dos inquilinos na compra dos imóveis colocados à venda pelos proprietários. Catarina Martins tinha dito que só faltava a promulgação do Presidente para que essa lei, que "põe em causa interesses mobiliários", fosse para a frente mas afinal o Bloco teve de vir esclarecer que a lei já foi aprovada no Parlamento e cabe aos serviços da Assembleia da República enviá-la ao Presidente – o que ainda não aconteceu.

E, como é tradição nestas coisas, vão surgindo novas revelações de um caso que parece ter vindo para ficar e que não vai largar o Bloco de Esquerda tão cedo. O dono de um café de Alfama conta como foi “despejado” por Ricardo Robles.

Entretanto, enquanto o país se distrai com estes desenvolvimentos – e com as tricas políticas que lhe estão subjacentes -, há um Serviço Nacional de Saúde (SNS) em agonia. Francisco Louçã chamou-lhe o “incêndio deste verão”, no artigo que assina no caderno de Economia do Expresso deste sábado: “Vai ser preciso gastar muito para salvar o SNS, que hoje só sobrevive pela tenacidade e amor-próprio de profissionais desesperados”. Se não leu, não perca aqui.

E há transportes públicos a rebentar pelas costuras. O caso da CPé uma vergonha nacional, grita-se aos quatro ventos. Mas o que é certo é que ano após ano a situação piora. O Governo garante que agora é que é: o concurso para a compra de comboios está a ser preparado. E a supressão de comboios que está prevista, nomeadamente para as linhas de Cascais e de Sintra, só será válida durante os meses de agosto e setembro.

OUTRAS NOTÍCIAS

Mais um título para o futebol português – a final do Euro sub-19 deu a vitória a Portugal frente à Itália. Foi um jogo cheio de golos, com algumas reviravoltas, mas em que Portugal levou a melhor vencendo por 4-3 – e é um bom augúrio para uma série de jogadores que há dois anos já se tinham sagrado campeões europeus sub-17 no Azerbaijão. E uma excelente notícia para o país, que tem pela frente mais uma geração de ouro. Pode ver aqui as fotos dos festejos dos novos campeões da Europa.

E vão… nove. José Maria Ricciardi vai também candidatar-se à presidência do Sporting. Se dúvidas houvesse de que o clube está vivo, o número de candidatos às eleições de 8 de setembro no Sporting talvez conseguisse dissipá-las. O antigo homem forte da banca de investimento do grupo Espírito Santo não surpreende com esta candidatura – há anos que declara publicamente o seu amor ao clube. Junta-se a Frederico Varandas, Pedro Madeira Rodrigues, Fernando Tavares Pereira, João Benedito, Zeferino Boal, Dias Ferreira, Carlos Vieira e Bruno de Carvalho na lista de candidatos.

Este domingo foi também dia de Chão da Lagoa, e logo com um regresso de peso: Alberto João Jardim deu um ar da sua graça e a sua presença foi mesmo um dos pontos altos da tradicional festa do PSD-Madeira. Enterrado o machado de guerra dentro do PSD madeirense, as baterias voltaram a estar viradas para o governo da República e para a Geringonça. Rui Rio também lá esteve, com elogios a Jardim. Segundo disse o líder do PSD, para alguém ser primeiro-ministro tem de ir primeiro ao Chão da Lagoa.

Os incêndios continuam na ordem do dia na cena internacional: na Grécia o balanço das vítimas mortais já vai nas 91 e na Califórnia os fogos voltaram a estar na ordem do dia neste fim-de-semana. Portugal tem estado livre desta tragédia este ano. E há mesmo especialistas que dizem que a probabilidade de grandes fogos este verão é muito baixa.

Vêm aí dias muito quentes, com os termómetros a poderem chegar aos 44 graus no Alentejo. A “culpa” é de uma massa de ar quente e seco vinda do Norte de África.

Foi libertada a adolescente palestiniana que agrediu dois soldados israelitas. Esteve oito meses presa e foi recebida em festa em Ramallah. É mais um símbolo da luta dos palestinianos em mais uma altura de ânimos exaltados naquela região do Médio Oriente.

Hoje é o Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas. Há uma estimativa que aponta para que cerca de 21 milhões de pessoas sejam vítimas de trabalho forçado. O Papa Francisco pediu ontem uma luta firme contra este crime.

PRIMEIRAS PÁGINAS

“Algarve precisava de 67 médicos no Verão mas não chegou nenhum” – Público

“Disparam morte de condutores com álcool no sangue” – Jornal de Notícias

“Associação de proprietários diz que Ricardo Robles promove o alojamento local” – I

“160 casais esperam doação de esperma” – Correio da Manhã

“ANA tem de fazer mais estudos sobre o Montijo” – Jornal de Negócios

“São de ouro” – A Bola

“Putos de ouro” – Record

“Ouro ao minuto Éder” – O Jogo

O QUE EU ANDO A LER

“Saberes nómadas”, de Eduardo Esperança, professor no Departamento de Sociologia da Universidade de Évora, propõe-nos uma viagem em jeito de reflexão ao conhecimento, património e valores sociais num mundo em que a informação está por todo o lado.

“A nova necessidade de atenção cresceu a tal ponto que começou a crescer o número de companhias que pagam a quem visitar os seus sites”, pode ler-se numa das passagens do livro sobre “o valor da atenção”.

“Ocorre-me frequentemente ter de mostrar aos meus alunos mais jovens como era o trabalho de investigação antes do Google e da Web, frente a uma estante com livros e muitos papéis em cima da mesa; deslocações infindáveis às bibliotecas onde se poderia encontrar tal documento ou livro, e o prazer, que entretanto desapareceu, de fazer uma viagem de dois ou três mil quilómetros, a Paris ou a Londres, para encontrar um livro, uma edição, uma biblioteca e voltar com a sensação de ter acrescentado uns metros ou um nó ao novelo do conhecimento”, conta o autor.

Por agora é tudo, tenha um excelente dia e continue a acompanhar o que mais interessa no mundo em expresso.impresa.pt e no Expresso Diário a partir das 18h.

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