segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SOB O OLHAR SILENCIOSO DE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO – III


Martinho Júnior | Luanda 
  
COMPASSO TERCEIRO DE QUATRO PEQUENOS COMPASSOS DE DECIFRAGEM HISTÓRICA

A independência nacional angolana segundo a saga do herói nacional António Agostinho Neto, só foi possível alcançar e preservar assumindo-a desde logo na luta armada e muito antes de sua proclamação, tornando-a intelectual, anímica e sensitivamente personalizável, entranhável e transformando todo esse empolgante fervor pessoal em actos estratégicos, vocacionados e abertos a um longo caminho que colectivamente os combatentes dessa e por essa causa, se dispunham a interpretar e trilhar.

A forja do homem livre chamado de António Agostinho Neto, foi vivida em sua própria vida, sendo crucial a aprendizagem intelectual da consciência crítica de luta que teve desde praticamente o seu nascimento em Catete (com a educação que recebeu a partir do berço) às universidades portuguesas, elas mesmo já em estado de maturação e contradição de ruptura, distanciando-se cada vez mais do enxofre do fascismo e do colonialismo de então.

Teve também a sabedoria de, ao aprendê-lo passo a passo desde a juventude na universidade duma vida em luta, com um inquebrantável espírito de missão estar aberto e sensível à experiência e aos ensinamentos daqueles que em Portugal assumiam também como sua essa luta, enfrentando na clandestinidade os desafios e os riscos impostos pelo monstro fascista e colonial.

Isso foi feito, isso ocorreu portanto e desde logo, enfrentando solidariamente os mesmos desafios e riscos que se prendiam a um discernimento capaz de mobilização de sua vontade e de outras vontades, transferindo sua preocupação vanguardista para Angola, assumindo Angola no âmbito dum movimento crescente e imparável, que os poderes dominantes levando por arrasto a vassalagem do próprio fascismo-colonialismo português, pouco a pouco tornaram tão combatido como o MPLA.

Isso foi feito com outros imprescindíveis lutadores e combatentes dessa época em que foi possível a libertação de África, com Amílcar Cabral, com Samora, com o Che e com Fidel de Castro, entre outros insignes lutadores de África disposta à libertação!

Isso foi feito por que sobretudo a aliança dos movimentos de libertação de África com a Cuba Revolucionária geraram por si a substância geoestratégica, o cimento da manobra libertadora no continente!

Isso foi feito por que se pôde começar a avaliar com consciência crítica inteligente e clarividente, com espírito de luta e vontade de assumir a liberdade, os conteúdos retrógrados da opressão colonial, do “apartheid” e do neocolonialismo, avaliando com respeito e ao mesmo tempo, quem, onde e como estavam as alianças capazes do seu reforço, tendo em conta as linhas de sua maturação histórica antes mesmo da germinação da luta de libertação em África.


O carácter de homem livre encarnado por António Agostinho Neto, antecipava nele e com ele a independência de Angola que se colocava no horizonte!

Assim homem livre e independência respondiam com identidade civilizacional à barbárie e às longas trevas impostas ao povo angolano e aos povos de África!

Entre ganhar a consciência crítica e assumir a capacidade estratégica para vitalizar o movimento de libertação MPLA, desde a génese do pensamento de António Agostinho Nero, foi a Casa do Império o pequeno passo talvez mais visível, mas outros pequenos passos alguns dos quais invisíveis mas seguros em sua época, por que assim houvera que ser, terão sido tanto ou mais decisivos, todos eles em estreita confluência…

A capacidade estratégica da luta contra o colonialismo, advém em António Agostinho Neto dessa maturação de consciência crítica tornada dialética e vanguardista, livre de amarras passadas e suas contemporâneas, como também livre em relação ao futuro tão ávido de justiça social, de socialismo, de amor, de dignidade, de coerência, de solidariedade, de internacionalismo e de imenso respeito para com a Mãe Terra!…

Esquecê-lo no seu exemplo pessoal e colectivo, inibindo a educação patriótica que aos angolanos é devida, é esquecer o húmus da pátria angolana e sua identidade, é quebrar o rumo patriótico que advém do movimento de libertação em África, é contribuir para que o domínio tentacular da hegemonia unipolar se instale e tolha as visões estratégicas nutridas pela memória e os ensinamentos de António Agostinho Neto!

Ao não se honrar o passado e a nossa história, ao não se evocarem a memória e os ensinamentos de António Agostinho Neto, ao se perder da clarividência socialista para se implantar a hipocrisia e o cinismo social-democrata, ou uma metamorfose elitista de última geração, quanto Angola, quanto África tem perdido de sua identidade, dignidade e coerência histórica e antropológica, quanto tem perdido de força anímica capaz de ampla mobilização, para levar por diante a longa luta contra o subdesenvolvimento?

Martinho Júnior. - Luanda, 10 de Agosto de 2018

Fotos:
- Conferência histórica alusiva aos 55 anos do MPLA, no dia 7 de Dezembro de 2011; intervenção do camarada Jorge Risquet (já falecido), companheiro da IIª coluna do Che no Congo e um dos artífices da linha da frente progressista informal contra o baluarte da internacional fascista e colonialista na África Austral (Exercício Alcora); foto tirada por mim nesse evento;
- Conferência histórica alusiva aos 55 anos do MPLA, no dia 7 de Dezembro de 2011; intervenção do camarada comandante Dibala, um dos comandantes de coluna que assinou a proclamação das FAPLA e apoiaram fielmente António Agostinho Neto na Conferência de Lusaka, quando o império fazia mais um esforço para neutralizar o MPLA na África Austral (Exercício Alcora); foto tirada por mim nesse evento.

Angola | Justiça proíbe Abel Chivukuvuku de criar novos partidos


Segundo o Tribunal Constitucional, o líder da CASA-CE não pode sobrepor suas decisões aos partidos da sua coligação. Chivukuvuku pretendia criar o PODEMOS-JA e o DIA.

Em Angola, o Tribunal Constitucional interditou o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) de formar um novo partido político no país, dando provimento a um pedido de esclarecimento de cinco das seis forças da coligação.

Segundo o acórdão, as decisões de Abel Chivukuvuku, enquanto presidente da CASA-CE, não podem sobrepor-se aos partidos coligados, como criar formações dentro da coligação, esvaziando também o papel dos chamados "independentes" que integram a coligação, concluindo que não podem fazer parte do Conselho Presidencial.

Em causa está a pretensão de Abel Chivukuvuku em criar dois partidos políticos -- Podemos-Juntos por Angola (PODEMOS-JA) e Desenvolvimento Inclusivo de Angola (DIA) --, cujos processos remeteu ao Tribunal Constitucional, que considerou a pretensão "ilegal".

Conflito

O Tribunal Constitucional deu, assim, provimento parcial a um pedido de esclarecimento feito em maio por cinco dos seis partidos integrantes da CASA-CE a propósito de um conflito que os opõe ao seu presidente, Abel Chivukuvuku, acusado de desvio de fundos.

O processo emergiu da interpretação dos poderes dos partidos em relação à organização e funcionamento da coligação e o papel e as competências do seu presidente.

No acórdão, o tribunal esclarece que o presidente da CASA-CE não é líder dos partidos coligados, mas sim apenas um "simples" coordenador da plataforma, segundo os métodos adotados pelos partidos políticos.

"Sendo a CASA-CE uma coligação para fins eleitorais e atividades políticas conexas, não pode esta estrutura ser uma individualidade distinta dos partidos que a integram, pelo que deve haver uma adequação dos Estatutos ao Acordo Constitutivo da Coligação e à Lei dos Partidos Políticos", refere-se no acórdão.

"Os cidadãos ditos independentes não podem criar partidos dentro da CASA-CE, por esse ato ser ilegal", frisou o Tribunal Constitucional.

Em relação às questões financeiras, o Tribunal Constitucional deliberou que elas são de competência da coligação e que, caso haja litígios quanto a um eventual uso indevido dos dinheiros públicos, o Tribunal de Contas poderá entrar em cena.

Coligação

A CASA-CE foi fundada em 2012 e é uma coligação de seis partidos políticos angolanos -- Bloco Democrático (BD), Partido Pacífico Angolano (PPA), Partido Apoio para Democracia e Desenvolvimento de Angola - Aliança Patriótica (PADDA-AP), Partido Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA), Partido Nacional de Salvação de Angola (PNSA) e Partido Democrático Popular de Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA).

Nas primeiras eleições gerais em que participou, em 2012, a CASA-CE elegeu oito dos 220 deputados à Assembleia Nacional, face aos 6% de votos obtidos (345.589), a mesma percentagem conquistada nas presidenciais, em que Chivukuvuku ficou em terceiro lugar.
Nas últimas eleições gerais, realizadas em agosto de 2017, a CASA-CE aumentou quase para o dobro a sua votação a nível nacional em termos nominais (639.789 votos - 9,45%), duplicando o número de deputados (16), com Abel Chivukuvuku, antigo destacado dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), a manter a terceira posição.

Agência Lusa | Deutsche Welle

Cidadãos dos PALOP na Alemanha denunciam racismo na cidade do Pegida


Em Dresden, o racismo piorou desde que o movimento anti-imigração Pegida surgiu em 2014, afirmam cidadãos dos PALOP a morar na cidade. Dizem ainda que o partido de extrema-direita AfD legitima a discriminação.

O movimento anti-imigração Pegida realiza frequentemente protestos em várias cidades da Alemanha. Em Dresden, os protestos são semanais. Nas suas manifestações, os apoiantes do movimento, os chamados "Patriotas Europeus Contra a Islamização do País", proferem um discurso de ódio contra estrangeiros, exigem o encerramento das fronteiras da Alemanha e o fim da imigração ilegal, entre outras exigências.

Quem vive na cidade diz que o racismo tem sido rotina desde a criação do movimento, em 2014.

"Está muito pior aqui. Está muito mal mesmo, aqui na Saxónia. Estamos a viver com muita dificuldade nessa cidade," afirma o soldador angolano Massumo Neluimba, que mora há 18 anos em Dresden

Legitimação do racismo

Além das manifestações semanais do Pegida, a capital da Saxónia é um dos redutos mais fortes do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Depois de eleita como a terceira maior força do Parlamento alemão, a AfD quer agora tornar-se o maior partido no Parlamento da Saxónia, nas eleições estaduais de 2019. 

Massumo Neluimba conta que já foi vítima de racismo nos transportes públicos da cidade e que, nos dias em que o Pegida sai às ruas, evita estar por perto.

"Todas as segunda-feiras eu fico em casa, não saio à rua. Quando eles fazem a manifestação, não tenho coragem de sair. Fico em casa, porque sei que são pessoas que não gostam de estrangeiros. Sinto-me intimidado. Pode acontecer alguma coisa ou podem bater-me. Antes das 18 horas tenho de estar em casa para não acontecer um problema grave", relata.

Matilde Djaló é portuguesa de origem moçambicana. Veio para Dresden há três anos, para fazer uma formação para cuidar de idosos. Logo à chegada, deparou-se com um protesto do Pegida.

"Num dia desses, eu saí à rua e havia essa manifestação. Foi muito estranho, porque todo o mundo praticamente só olhava para mim e dizia 'Ausländer raus, Ausländer raus,' que significa imigrante fora, não queremos imigrantes aqui", descreve.

"Foi um choque para mim, foi um grande choque, porque eu não estava à espera daquilo. Porque eu acordo às quatro da manhã para trabalhar e chego à rua e as pessoas dizem 'Ausländer raus," lamenta.

Matilde relata também outras situações em que se sentiu constrangida: "É um bocadinho estranho chegar à rua e as pessoas dizerem: 'aquela é preta'. É triste, ninguém gosta de ouvir isso. Eu nunca ouvi isso em toda a minha vida. Chego aqui, as pessoas olham para mim, já me chamam de preta. Eu sei que sou, mas não preciso que alguém me diga, aquela é preta," critica.

Propaganda anti-imigrantes

Nas suas campanhas contra os imigrantes, tanto o Pegida como a AfD divulgam constantemente, nas redes sociais, reportagens sobre crimes cometidos por estrangeiros. Matilde Djaló diz que sofre na pele este tipo de manipulação da informação.

"Eu sinto que sou colocada no mesmo pacote, mas não é o que acontece no dia a dia. Porque também qualquer um pode cometer [crimes], mesmo os próprios alemães fazem isso. Só que escondem, não contam a realidade deles, contam a realidade dos outros. Porque também a preocupacao maior é afastar os imigrantes", avalia.

A moçambicana Olga Carlos é enfermeira e vive há 32 anos em Dresden. Ao longo de todo esse tempo, viu o racismo passar por altos e baixos. Para ela, as manifestações contantes do Pegida e a presença da AfD nos parlamentos estadual e alemão têm contribuído para o aumento do racismo nos últimos anos.

"Naturalmente senti tanta, tanta diferença, porque já em 1991 havia muito racismo aqui na Alemanha. Depois ficou muito calmo aqui em Dresden e sentia-me à vontade. Mas depois começou este movimento Pegida e, então, a pessoa já sentia alguma diferença na rua, nos carros elétricos".

Tratamento hostil

A enfermeira trabalha há 27 anos num hospital religioso, atualmente com pacientes com cancro. Apesar de contribuir para o bem estar dos doentes, muitas vezes recebe de volta um tratamentto hostil.

"Os doentes que estão aí perguntam se naquela enfermaria só meteram estrangeiros para trabalhar. Até já tive doentes que disseram: 'Hoje é segunda-feira. Se eu estivesse lá fora, hoje teria ido à manifestação'. Exatamente esses doentes é que têm tido esses problemas de nos chamar de estrangeiros. Isso não foi sempre assim. Aliás, no local de serviço nunca senti nenhum racismo. Tanto com os médicos, como com as colegas enfermeiras, não há nenhum racismo, nunca senti isso," afirma Olga Carlos.

Segundo dados de um inquérito de 2016, 22,5% da população alemã tem origem migratória, mais da metade destas pessoas são cidadãos alemães. Boa parte deles contribuem para impulsionar a forte economia do país, com a sua força de trabalho e o pagamento regular de impostos. Apesar disso, o racismo faz parte da vida destes cidadãos. Muitos não acreditam que a discriminação racial irá diminuir em Dresden.

"Com o número de imigrantes que vêm entrando aqui, acho que as coisas vão piorando, porque o Pegida vai sempre tocar na mesma tecla, que são os imigrantes que fazem isso. Acho que isso vai aumentar, não vai parar", considera Matilde Djaló.

"Aqui não se muda nada. Já estou aqui há 18 anos. O que eu vejo ou o que eu já vi... Não melhora aqui, nunca vai melhorar", acrescenta Massumo Neluimba.

Já a enfermeira moçambicana Olga Carlos entende que muitos alemães ainda não se adaptaram a esta realidade e batalha por uma maior consciencialização.

"Eu digo-lhes: vocês têm de ter cuidado. O alemão, hoje em dia, não é mais loiro e com os olhos azuis, porque já estamos misturados. Eu, por exemplo, não sou estrangeira, sou alemã. Os meus filhos também são alemães. Então, eles só veem a cor e começam logo a dizer que você é estrangeiro", finaliza.

Uma mudança de mentalidade parece difícil, mas certamente seria um bom caminho para um futuro de mais igualdade numa sociedade tão plural como a alemã.

Cristiane Vieira Teixeira (Dresden) | Deutsche Welle


Na foto: Manifestação do Pegida no centro histórico de Dresden

Brasil é um grande paraíso fiscal para os mais ricos


Especialistas discutem qual a reforma tributária que o país realmente precisa para a cobrança de impostos ser mais justa

A atual lógica de tributação no Brasil precisa ser invertida para se cobrar mais impostos sobre renda e patrimônio, e menos sobre o consumo. Do jeito que está hoje, os mais pobres são penalizados, enquanto os mais ricos concentram riqueza ano após ano. Especialistas em tributação, reunidos em Porto Alegre para o lançamento do livro A Reforma Tributária Necessária - Diagnósticos e Premissas, analisaram a situação brasileira durante o evento realizado na terça-feira (14) e sugeriram algumas medidas urgentes para que o Brasil possa reduzir a imensa desigualdade que condena milhões de pessoas à pobreza.

O livro, que pode ser baixo daqui (arquivos em PDF), conta com a contribuição de 42 especialistas e foi elaborado pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco) e pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Anfip).

Os autores sugerem que a reforma tributária no Brasil seja pautada por oito premissas:

1- Ser pensada na perspectiva do desenvolvimento;

2- Ser adequada para fortalecer o Estado de Bem-estar Social;

3- Promover sua progressividade pela ampliação da tributação direta (tributação da renda das pessoas físicas e das pessoas jurídicas; tributação internacional para combater a evasão e os paraísos fiscais; tributação das transações financeiras; e tributação da propriedade e a riqueza;

4- Promover sua progressividade pela redução da tributação indireta;

5- Restabelecer as bases do equilíbrio federativo;

6- Considerar uma tributação ambiental;

7- Aperfeiçoamento da tributação sobre o comércio internacional;

8- Fomentar ações que resultem no aumento das receitas, sem aumentar a carga, pela revisão das renúncias fiscais e pelo combate à evasão fiscal.

Um segundo livro será lançado ainda este ano com sugestões de medidas para se aumentar a tributação da renda, patrimônio e transações financeiras no país. Desta maneira, estimam os economistas, seria possível aumentar a arrecadação brasileira em R$ 400 bilhões. Por outro lado, haveria cortes de impostos sobre o consumo e folha salarial da ordem de R$ 280 bilhões.

Leia o posicionamento de alguns dos especialistas que contribuíram com o livro:
Rafael Georges, coordenador de campanhas da Oxfam Brasil

Uma reforma tributária progressiva é a principal e mais urgente medida que pode ser tomada para a redução da desigualdade no Brasil. O enfrentamento da desigualdade passa, ainda, pela revogação do Teto de Gastos (Emenda Constitucional 95) do governo federal, que cria uma competição entre gastos sociais; a revogação de partes da reforma trabalhista, que colaboram para a precarização da condição dos trabalhadores; e uma forte agenda de investimentos em educação.

É preciso ainda enfrentar as desigualdades de natureza discriminatória, como o fato de mulheres e negros receberem abaixo do que ganham os homens brancos no Brasil, nas mesmas condições. A mulher chega em determinado nível da sua carreira ou da sua trajetória e não consegue ganhar mais, porque ela tem que cuidar dos filhos, seja ela de classe média, baixa ou alta. Ela fica em casa, reduz sua renda e tem menos poder.

Quanto aos negros, toda hora que você vai tentar explicar, seja porque os negros têm menos estudo, seja porque têm menos acesso à universidade, conforme você vai confrontando esses dados, chega-se à mesma conclusão: há diferenças que só o racismo explica. Um médico negro ganhar 80% do que ganha um médico branco, só o racismo explica. Ninguém admite o racismo, mas ele está aí.

A gente tem que assumir isso de uma vez: sim, o Brasil é racista, e vamos fazer políticas para corrigir essa anormalidade histórica.

Eduardo Fagnani, professor da Unicamp e coordenador dos trabalhos de elaboração do livro

O objetivo é subsidiar e fomentar a discussão sobre o sistema tributário brasileiro, ao mesmo tempo que se contrapõe a uma visão que vem sendo defendida há mais de duas décadas: que a reforma tributária deve focar na simplificação de impostos.

Qual o problema disso? É que não enfrenta a questão crucial, que é a desigualdade. A segunda questão crucial é que, quando você acaba com várias contribuições e cria uma só, o IVA (impostos sobre valor agregado), essas contribuições são constitucionalmente vinculadas ao financiamento da Previdência Social, então você acaba com o financiamento da proteção social. Além de não enfrentar o problema da desigualdade, você acaba com a proteção social.

Se somadas, as isenções fiscais concedidas hoje pela União (cerca de R$ 370 bilhões) e a sonegação tributária (cerca de R$ 500 bilhões), o valor que o Brasil deixa de arrecadar com impostos se aproxima dos R$ 900 bilhões, isso sem contar que estados e municípios também concedem benefícios fiscais.

Para efeito de comparação, todos os entes federativos somados arrecadaram R$ 2,2 trilhões em impostos em 2017. O que se deixa de arrecadar corresponde a 65% da receita tributária federal e a 50% da receita tributária se você somar União, estados e municípios.

Na questão do imposto de renda, por exemplo, a sugestão é que pessoas com renda de até quatro salários mínimos sejam isentas do IR, adote-se alíquotas progressivas para quem receber entre 5 e 25 salários mínimos, a manutenção da alíquota maior atual (27,5%) para quem recebe até 40 salários mínimos, uma nova tarifa de 35% para quem ganha entre 40 e 60 salários mínimos e uma outra de 40% para aqueles com vencimentos acima de 60 salários mínimos. Isso ainda muito abaixo dos países europeus, alguns deles chegam até a 60%. Mas, se você fizer isso, uma coisa que vai penalizar somente 750 mil declarantes num total de 27 milhões, que vão pagar mais imposto, você pode ter um aumento de quase R$ 180 bilhões.

A ideia é reduzir a participação dos impostos sobre o consumo na arrecadação total dos atuais 50% para a casa dos 35%, próximo da média da OCDE (34%) e, mesmo aumentando a tributação sobre a renda, ainda manter a carga tributária geral do país abaixo dos 35% do PIB, que é a média da OCDE (hoje está na casa dos 32%).

Pedro Lopes Araújo Neto, mestre em Contabilidade, professor de Ciências Contábeis e auditor fiscal do Tesouro do Estado do Rio Grande do Norte

A percepção de que a carga tributária brasileira é alta não deixa de ser verdadeira, mas isso acontece pelo fato de que, na comparação com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil - que ainda não é membro da entidade - seria o segundo que mais tributa bens e serviços.

Por outro lado, diferentemente dos países desenvolvidos, não taxa lucros e dividendos, e mesmo os impostos sobre a renda são mais baixos do que a média. Quem paga imposto de renda no Brasil é a classe média assalariada. Os empresários pagam muito pouco imposto.

Até mesmo os Estados Unidos, que sempre é citado como país de baixos impostos, tributa em até 50% a renda e o patrimônio dos seus contribuintes. O Brasil tem uma fórmula inversa, cobrando muito pouco da renda, cobrando muito do consumo. Se o empresário não paga, quem vai pagar é o trabalhador.

Jorge Abrahão, professor e ex-economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

Não existe uma fórmula secreta que determina que se deve taxar mais a renda do que o consumo, mas ao se observar as experiência internacionais dos países que têm menos desigualdades, verifica-se que eles adotam modelos mais progressivos e justos de tributação.

Em Ciências Sociais e em Economia, é importante a gente ver os casos de maior sucesso. Neles, há de fato um equilíbrio entre imposto de renda e tributação sob consumo. Tentar baixar um pouco o imposto sobre o consumo e ampliar sobre a renda, acho que esse é um elemento. Grande parte da população brasileira nem percebe que paga imposto. Principalmente os mais pobres, e estamos falando de 80% da população, não chega nem a pagar imposto de renda.

Mas sobre cada produto que ela compra, paga imposto, só que isso ela não percebe. A ideia de que a gente paga muito imposto é muito um discurso de quem paga pouco imposto. Aqueles que estão no topo da pirâmide, em termos relativos, a alíquota que recai sobre a renda deles é quase nula, mas eles têm um discurso de quem paga muito imposto.

É preciso voltar a se tributar lucros e dividendos, que passaram a ser isentos de impostos no Brasil em 1995. É inaceitável que isso continue, até porque esses lucros e dividendos não cumprem papel algum, a não ser para a especulação e permanência patrimonial de um conjunto muito pequeno da população brasileira. É preciso corrigir isso.


RBA | em Vermelho

Brasil | Bolsonaro: Um idiota perigoso


Pensamentos do sr. Bolsonaro

Cid Benjamin [*]

Sobre a ditadura (I): "O erro foi torturar [os presos políticos] e não matar" ( youtube.com/watch?v=6_catYXcZWE ).

Sobre a ditadura (II): "Se ela tivesse matado mais gente, teria sido melhor" ( dgabc.com.br/Noticia/120841/bolsonaro-isso-e-que-da-torturar-e-nao-matar ).

Sobre negros (I): "Quilombola não serve nem pra procriar" (ressoemfoco.uol.com.br/noticias/bolsonaro-quilombola-nao-serve-nem-para-procriar ).

Sobre negros (II) , ao ser perguntado sobre qual seria sua reação se um filho se relacionasse com uma negra: "Eu não corro o risco, meus filhos foram bem educados". (youtube.com/watch?v=9T5ZSAO1MVg ).

Sobre o massacre do [Presídio] Carandirú: "A PM [Polícia Militar] deveria ter matado mais de mil presos, e não só 111 ( jairbolsonaro.blogspot.com.br/2014/04/massacre-do-carandiru.html ).

Sobre o país: "Só vai mudar com guerra civil, matando uns 30 mil" ( youtube.com/watch?v=-fMdCwlwg8E ).

Sobre homossexuais: "Eu seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí" ( https://goo.gl/U16ZNs ).

Sobre estupro: "Não te estupro porque você é muito feia e não merece", para a deputada Maria do Rosário (youtube.com/watch?v=LD8-b4wvIjc ).

Sobre honestidade: "Eu sonego imposto. Sonego o que for possível" ( https://www.youtube.com/watch?v=xaCMswaNXI4 ).

Sobre a Amazônia: "A Amazônia não é do Brasil. Devemos entregá-la aos Estados Unidos porque não sabemos explorá-la" ( youtube.com/watch?v=pwxDm_yvaxk ).

As frases acima – de cunho fascista, racista, misógino, homofóbico e entreguista, e que, ademais, fazem apologia de crimes – são do deputado Jair Bolsonaro. A autenticidade das citações pode ser conferida na internet.

Que haja quem diga tais barbaridades, paciência. Idiotas existem. Mas é preocupante um idiota estar em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente.

O fenômeno reflete o crescimento do neofascismo, que cria o clima de ódio responsável pelo assassinato de Marielle Franco [vereadora no Rio de Janeiro] e pelos tiros à caravana de Lula.

É bom abrir o olho. Quando, nos anos 20 do século passado, Hitler surgiu na Alemanha também foi considerado uma figura caricata.

Deu no que deu.

Adenda:
Sobre política externa: Bolsonaro diz que se for eleito retira o Brasil da ONU ( www.youtube.com/watch?v=sYk5R6JvrOs )

[*] Jornalista 

O original encontra-se em https://odia.ig.com.br/opiniao/2018/04/5532557-um-idiota-perigoso.html 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Os gregos nunca se viram tão gregos, nem os portugueses, nem outros povos


Há muito que sabemos que os gregos se têm visto gregos com a “crise”. Coisa que por lá foi provocada por uma chusma de fatores, como cá e pelo mundo, sendo a principal as vigarices e roubos de banqueiros e outros vigaristas, alguns até primeiro-ministro e ministros. Foi (e ainda é?) um fartar vilanagem. Há empresários, associados à alta finança, pelo mundo inteiro e também na Grécia e em Portugal, que continuam na sua senda de vigarizar e roubar os povos. Quase sempre com absoluta impunidade. Lá cai um ou outro para “tapar” os olhos aos plebeus. Afinal eles são todos muito honestos, exceptuando uns quantos. Só que os “quantos” aproximam-se em números da maioria. Governantes idem e outros criminosos que andam por aí de gravatas e colarinhos brancos. Uns pestes para a sociedade que se quer justa e democrática. Não escapa em tudo isto iguais exemplos no próprio sistema da justiça. A corrupção e os crimes económicos de toda a espécie são endémicos e situam-se alapados à alta finança e à denominada alta sociedade. Quer dizer: aqueles e aquelas que se prestam a vigarizar e a roubar tendo por seguro a impunidade - ponto e adiante que se faz tarde.

Certo é que os gregos nunca se viram tão gregos como nestes últimos anos, nem os portugueses, nem os do sul da Europa. Até parece que foi uma “bomba” com destino exato lançada a propósito. E depois na UE chamaram-nos PIGS. Quando porcos afinal são aqueles que roubam e vigarizam. Os do costume, na UE e pelo resto do mundo.

É precisamente sobre a Grécia a abertura do Expresso Curto de hoje. Lavra de Pedro Cordeiro, do Expresso. Segunda-feira, verão realmente, calor, modorras após o almoço (para os que almoçam), umas sestas que até apetecem mas que para a maioria não pode acontecer. Devia acontecer com as previsões de calor mas não…

Do Curto há muito para ler. Consideramos que já esgotámos a nossa lauda de abertura do PG para este mesmo Curto. Quando não jamais teriam paciência para tanta lenga-lenga. Não com este calor que já faz nesta manhã.

Avancem para este Curto, então. Sem mais delongas provocadas por nós. Bom dia. Boa semana. Boas festas aos… Já sabem: os animais que passam por nós estão primeiro. Os de quatro patas. Claro. Aos outros, nossos semelhantes, é melhor dar tempo ao tempo para não sofrermos prejuízos nem desilusões. Vamos com calma e na paz que o senhor Costa  primeiro-ministro e o senhor Marcelo PR nos impingem… por bem. Então está bem. Pois. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O sol quando nasce (também) é para os gregos

Pedro Cordeiro | Expresso

Bom dia! Começo a semana no Oeste a olhar para leste, não só porque veio desse lado o nascer do sol a que a preparação deste Expresso Curto me permitiu assistir mas porque é a oriente que fica a Grécia, berço da democracia e país que hoje fica mais livre (mas ficará?). Termina esta segunda-feira o resgate da República Helénica, iniciado há oito anos na sequência da crise da dívida soberana que pôs em risco a moeda única europeia.

Tropeço, também para levante mas mais perto, nesta notícia de última hora vinda da Catalunha: a polícia regional catalã matou a tiro um argelino que invadiu a esquadra de Cornellà de Llobregat (arredores de Barcelona) munido de arma branca e a gritar “Deus é grande” em idioma árabe. Passou-se isto pouco antes das seis da manhã.

Voltando à Grécia, após três pacotes de ajuda financeira num total de mais de 300 mil milhões de euros, foi possível converter o défice de 15,4% do PIB (2009) num superavit de 0,8% (2017), mas à custa de uma contração de 25% da economiagrega e muito graças a aumentos de impostos que minam o crescimento. O Governo grego encabeçado pelo Syriza (aliança esquerda radical), o tal que resultou da zanga do povo com os partidos ditos “do costume” mas acabou por seguir exatamente a mesma cartilha (troika 1-Varoufakis 0), celebra uma “saída limpa” (onde é que eu já ouvi isto?), mas o jornal “I Kathimerini” alerta que “poucos gregos acreditam que as suas vidas vão melhorar ou que as perspetivas do país se assemelharão às dos demais países resgatados da Zona Euro”.

Persistem dificuldades de acesso aos mercados internacionais; a austeridade não vai acabar, prevendo-se novos cortes nas pensões já em janeiro, uma de várias medidas que visam excedentes primários de 3,5% até 2022 e que se estenderão pela próxima década; os credores permanecerão alerta; o crescimento económico ainda é débil (menos de 2% este ano); os bancos estão pejados de ativos tóxicos; e as reformas estruturais ficaram por fazer, sobretudo no combate à corrupção e à fraude fiscal.

“The Guardian” também desaconselha euforias pela partida das “instituições”, que é como quem diz o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que, a seu ver, “governam o país na prática desde 2010”. Não houve, escreve o diário britânico, história de sucesso, tributo à solidariedade ou abordagem de bom senso, antes um “falhanço colossal” pautado por “incompetência, dogma e atrasos desnecessários, com os interesses dos bancos colocados à frente das necessidades das pessoas”. Recorde-se que o objetivo inicial era que a Grécia recuperasse o acesso aos mercados num prazo de dois anos, o que nem remotamente foi alguma vez possível, sentencia o editor de Economia, Larry Elliott.

Recomendo, por fim, este vídeo do “Financial Times” que resume em menos de dois minutos o estado da economia grega: 20% de desemprego (mais do dobro do valor pré-crise) e quebra de 70% no investimento, naquele que é hoje o quarto país mais pobre da União Europeia, à frente da Bulgária, Croácia e Roménia, os mais recentes Estados-membros. Nada que ver, frisa o “Público”, com o fim do programa de reajustamento português. Já agora, leia-se o que tem a dizer a revista “The New Yorker” sobre os dez anos da crise global, de um ponto de vista americano.

Para o ano há legislativas na Grécia e as sondagens parecem favorecer a Nova Democracia, partido de centro-direita que foi um dos responsáveis pelo estado a que o país chegou há oito anos. O outro, o socialista PASOK, após a implosão do seu eleitorado, diluiu-se numa aliança de centro-esquerda a quem são vaticinados 8,5% dos votos. À espreita está sempre a neonazi Aurora Dourada (10% nas sondagens) e longe parecem os sons da canção velhinha em que o greco-egípcio-francês Georges Moustaki traça paralelos entre a sua Grécia e Portugal, libertados da ditadura em 1974.

OUTRAS NOTÍCIAS

Olhando agora cá para dentro, vão-se sabendo mais dados sobre a morte do empresário Pedro Queiroz Pereira, sábado, aos 69 anos. O homem mais conhecido por PêQuêPê terá morrido no seu iate, então ancorado em Ibiza, depois de cair de umas escadas, escreve um jornal local. A queda pode ter sido provocada por um ataque cardíaco. Aguardam-se os resultados da autópsia. O Expresso recorda o percurso do falecido e republica uma entrevista de há dois anos em que este frisava a coragem necessária para investir em Portugal. O Observador perscruta as origens da sua fortuna e evoca a guerra com o BES, que ajudou ao colapso do banco de Ricardo Salgado.

Desapareceu também Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra (1982-98) que o Público retrata.

Não querendo dar a este Expresso Curto aromas de câmara ardente, cabe ainda relembrar, neste texto da “The New Yorker”, o grande homem que foi Kofi Annan, sétimo secretário-geral das Nações Unidas, desaparecido no sábado aos 80 anos. É impressionante a atualidade de uma conversa entre o ganês e o Expresso há dez anos.

Na frente desportiva, e quando só falta jogar o Vitória de Guimarães-Feirense, a primeira liga de futebol é liderada, à condição, pelo Futebol Clube do Porto, campeão em título. Os dragões venceram ontem o Belenenses na sua casa emprestada (Estádio do Jamor) por 3-2, com um penálti em tempo de descontos (96 minutos), como conta o Diogo Pombo. Um dia antes, o Benfica vencera o Boavista por 2-0, no Bessa, e o Sporting dera-se bem (2-1) na receção ao Vitória de Setúbal. Ainda no que toca aos leões, o Record resume um debate entre os inúmeros candidatos à liderança do clube (sem a participação d’Aquele-Que-Não-Pode-Ser-Nomeado). Para a semana há dérbi lisboeta, sábado às 19h.

O ex-diretor da CIA John Brennan admite processar Donald Trump depois de o Presidente dos EUA lhe ter retirado as autorizações de acesso a informação de confidencial, um gesto sem paralelo relacionado com a investigação em curso às ligações russas da campanha que o levou à Casa Branca. “Foi um claro sinal de que se alguém se lhe opuser, ele utilizará todas as ferramentas à sua disposição para o castigar”, acusa o homem que liderou os serviços secretos externos entre 2013 e 2017.

Austeridade à paquistanesa. O novo primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, quer fazer os ricos pagar mais impostos (menos de 1% da população paga imposto sobre o rendimento) e anunciou um esforço de redução da dívida, para acabar com “o mau hábito de viver de empréstimos e ajuda de outros países”. Empossado no sábado, vai vender a frota de carros governamentais à prova de bala e propõe-se viver numa casa simples, não no palácio que lhe é oficialmente destinado, e contentando-se com dois empregados em vez dos 524 a que teria direito. Ao mesmo tempo, promete combater a pobreza, a iliteracia e as alterações climáticas. Causou alguma surpresa a escolha de muitos membros do Executivo vindos da equipa do ditador militar Pervez Musharraf (2001-2008).

O descambar da situação na Venezuela e na Nicarágua, onde a democracia se desmorona e a insegurança galopa, gera ondas migratórias recebidas com dificuldade nos vizinhos Peru, Colômbia, Brasil ou Costa Rica, cujos governos tentam lidar com o influxo de pessoas desesperadas e conter a pouco surpreendente reação popular xenófoba. Da Venezuela de Nicolás Maduro terão fugido já 2,3 milhões de pessoas, calcula a ONU. O país prepara-se para ver cair cinco zeros de todos os preços, num plano económico que não deverá paliar os graves problemas que fazem alastrar a pobreza numa nação rica em recursos naturais e humanos.

Faz amanhã meio século que a União Soviética esmagou a Primavera de Praga, nome por que ficou conhecida a tentativa de reforma política na Checoslováquia liderada por Alexander Dubček, que almejava por um “socialismo de rosto humano”. Democratizado em 1989, dividido em 1993 entre Chéquia e Eslováquia, o país (ou os dois a que deu origem) ainda não vive em paz com o peso do que foi a presença da URSS e do que é hoje a influência da Rússia. “The Guardian” aborda o tema e propõe uma galeria fotográfica sobre os acontecimentos de 1968.

Nesse mesmo ano, recorda o “Observador”, Salazar remodelava pela última vez o seu Governo, já depois da queda e antes da cirurgia que o afastaria para sempre do poder.

Em vésperas do casamento de mais uma neta da rainha Isabel II (Beatriz, filha do príncipe André), “The Washington Post” refere o recente enlace entre Ivar Mountbatten, primo da monarca, e o seu namorado James Coyle (em jeito muito moderno e aberto, o aristocrata será levado ao altar pela sua ex-mulher). O periódico americano aproveita para recordar a longuíssima história da homossexualidade na família real britânica, em que um dos casos mais destacados (e com influência na condução política do país) foi o do rei Eduardo II, no século XIV.

MANCHETES DE HOJE

JN: Fatura da luz é a segunda mais cara da Europa
Público: Inspetores da Educação caíram 40% desde 2001
i: Mais de mil guardas “transformados” em bombeiros deixam GNR sem patrulhas
Correio da Manhã: SMS de Bruno incendeia balneário
Negócios: Emprego no imobiliário duplicou em três anos
O Jornal Económico: Ministra do Mar tem 600 milhões para financiar economia azul

O QUE EU ANDO A LER

Num percurso que volta à Grécia com que este texto começou, tem-me acompanhado neste verão a biografia de Leonard Cohen, “I’m your man”, por Sylvie Simmons. Meio milhar de deliciosas páginas com histórias da vida e da arte deste santo do meu altar, que morreu há quase dois anos. Com fotos curiosas e depoimentos copiosos dos muitos com quem se cruzou (de Judy Collins a David Crosby), esta obra de 2012 só deixa de fora o último disco e a doença final do poeta e músico, de resto cobertos num soberbo texto de 2016 de “The New Yorker”. Tenho para mim que Cohen devia ter recebido o Nobel de Dylan, mas não vou amargar, que ele não ligava muito a isso. Tive a sorte de vê-lo três vezes ao vivo. Hallellujah.

O QUE EU ANDO A VER

Na capela do Rato até 9 de setembro, é favor não perder a instalação “Perto do Chão”, de Carlos Nogueira (nota de transparência, somos amigos). O artista transformou aquele espaço de culto de forma capaz de nos suscitar um estremecimento de alma, e mais não digo.

Boa semana, sigam toda a atualidade no Expresso online e aguardem pelo Diário às 18h. Amanhã de manhã, novo Curto a fumegar… sejam felizes!

Portugal | Aliança, Iniciativa Liberal e as boas notícias para a “geringonça”


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Santana Lopes veio agitar as águas já por si revoltosas do PSD, desde a saída do grande líder Pedro Passos Coelho e da presidência do inócuo Rui Rio. Uma multiplicidade de vozes do PSD submergiram da também habitual mediocridade para criticar a iniciativa de Santana Lopes. José Eduardo Martins consegue mesmo afirmar que a dita iniciativa do ex-candidato à liderança do PSD e ex- de praticamente tudo é uma “salganhada ideológica”. José Eduardo Martins é a mesma pessoa que já afiançou o seu apoio a Pedro Duarte, desafiador da liderança do PSD.

Com efeito, a intenção já manifestada por Santana Lopes e que aposta no conservadorismo como ideologia não será tão desprovida de sentido como eventualmente possa parecer. De resto, existe quem procure avidamente esse conservadorismo e não o encontre nem no PSD, nem tão-pouco no cristão CDS, cuja liderança não passa de uma animação colorida sem qualquer espécie de conteúdo.

Na verdade, pouco vêem com bons olhos a decisão de Santana de sair do PSD para criar outro partido, um espaço político que, para todos os efeitos, pode vir a representar uma ameaça ao PSD e ao CDS, apesar desse espaço político, quase partido denominado Aliança, ser, aparentemente e para já, irrelevante, pelo menos a julgar pelas sondagens.

Mas não é só no PSD que as críticas surgem em catadupa. O recém-criado partido Iniciativa Liberal (IL) acusa Santana Lopes de se aproximar aos novos movimentos europeus entretanto já próximos do dito Iniciativa Liberal, assim como Santana Lopes é acusado de copiar o programa partidário do IL.

Tudo boas notícias para a “geringonça”.

Em rigor, o sucesso da famigerada “geringonça”, não poderia passar sem uma reação da direita. A confusão e as divisões da direita são, obviamente, uma boa notícia para os partidos à sua esquerda. Mas é sobretudo a ideologia que subjaz quer à futura Aliança de Santana Lopes, quer à Iniciativa Liberal – liberalização de tudo e mais alguma coisa, começando pela Segurança Social e Saúde – que vem não só lembrar a importância de uma esquerda unida, como pressionará PSD e CDS a endurecerem posições e adoptarem medidas semelhantes às destes partidos que, para já, parecem insignificantes.

Neste contexto a “geringonça” reforça a sua importância, podendo mesmo contar com estabilidade, coisa rara por estes dias nos partidos à sua direita.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Presidente timorense promete diálogo para resolver impasse político


Díli, 20 ago (Lusa) - O Presidente timorense comprometeu-se hoje a manter o diálogo com o primeiro-ministro para ultrapassar o atual impasse político e garantiu que a formação do Governo, por concluir há quase dois meses, será resolvida com serenidade.

"Alguns chamam-lhe crise, outros impasse. Eu opto por chamar-lhe desafio. O termo desafio exige de nós capacidade, inteligência e diálogo, falarmos frente a frente, de coração aberto, com vontade de encontrar a melhor solução para o nosso povo e nação", disse, em Díli, Francisco Guterres Lu-Olo.

"É isto que está a acontecer atualmente. Como Presidente da República, procuro manter o diálogo com o primeiro-ministro no sentido de garantir a boa governação ao longo do seu mandato de cinco anos. É esta a minha obrigação como Presidente da República, segundo a Constituição. Estamos em diálogo. De forma serena e respeitando as competências de cada um, consagradas na nossa Constituição", frisou.

Francisco Guterres Lu-Olo falava nas cerimónias do 43.º aniversário das Falintil, braço armado da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e, desde 1987, o braço armado da resistência timorense que a 01 de fevereiro de 2001 foram convertidas nas atuais forças de defesa F-FDTL.

O chefe de Estado timorense considerou o "espírito das Falintil" como elemento motivador para a ação da liderança política e da população em geral para decidir o que querem deixar "como legado dos guerrilheiros das Falintil às gerações atuais e futuras".

Um "amor pela pátria e pelo povo", um "espírito de sacrifício, coragem, coração aberto, solidariedade e de entrega total à luta pela libertação nacional", que obriga a encontrar soluções de diálogo e consenso, disse.

"Despertar com o espírito das Falintil significa pôr de parte os interesses individuais, partidários ou de grupo, em prol do amor pelo povo e pela pátria", sublinhou Lu-Olo.

Há quase dois meses que o processo de formação do Governo, saído das eleições de 12 de maio, está num impassse, depois de o Presidente timorense ter recusado empossar alguns nomes escolhidos pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, por terem "o seu nome identificado nas instâncias judiciais competentes" ou possuírem "um perfil ético controverso".

Na semana passada, o primeiro-ministro timorense pediu ao Presidente Lu-Olo o adiamento 'sine die' da tomada de posse de três membros do executivo, "em solidariedade" com um outro grupo de elementos do Governo que ainda não foram nomeados.

A carta de Taur Matan Ruak respondia a um ofício do Presidente relativo à nomeação de Samuel Marçal para o cargo de ministro do Planeamento e Investimento Estratégico, do ministro do Petróleo e Recursos Minerais, Alfredo Pires, e do secretário de Estado das Pescas, Rogério Araújo.

O impasse mantém-se em relação a nove nomes. Sete do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Francisco Kalbuadi Lay, Virgílio Smith, Tomás do Rosário Cabral, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus, Hélder Lopes, Amândio de Sá Benevides, Sérgio Gama da C. Lobo, e dois do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), António Verdial de Sousa e José Manuel Soares Turquel de Jesus.

O CNRT, o KHUNTO e o Partido Libertação Popular (PLP) integram a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), coligação que venceu as legislativas com maioria absoluta.

Numa primeira cedência do Governo, o primeiro-ministro eliminou da lista de nomeados dois dos nomes inicialmente propostos, que estão, atualmente, envolvidos em processos já nos tribunais: Gastão de Sousa, proposto como ministro do Planejamento e Investimento Estratégico (MPIE), e Marcos da Cruz, indicado para vice-ministro da Agricultura e Pescas.

Com a nomeação dos três novos membros, continuam por nomear seis membros do Governo, incluindo o ministro das Finanças.

ASP // EJ

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