terça-feira, 4 de setembro de 2018

Brasil | O legado do jornalista Júlio Prates de Castilhos para a política gaúcha


             
O Jornal A Federação (1884-1937) - Órgão do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) - reproduziu, em grande parte, o pensamento político de Júlio Prates de Castilhos (1860-1903), que preferia o manejo da pena ao discurso na tribuna parlamentar. Considerado o “príncipe do jornalismo político”, ele defendeu o conceito de que a imprensa não precisa limitar-se apenas ao registro do acontecimento político, mas pode ser o instrumento para modificar-lhe o curso.

Nascido no Rio Grande do Sul, a experiência jornalística de Júlio de Castilhos proveio de sua atuação no jornal estudantil A Evolução (1879). Gerado dentro do Clube 20 de setembro da Faculdade de Direito de São Paulo, neste jornal, aos 19 anos, ele já combatia o regime monárquico. Com o título “O Precoce jornalista Júlio de Castilhos” (2017), o artigo do doutor Antonio Hohlfeldt e do mestre. em Comunicação Social Fábio Rausch registra que, segundo a historiadora Helga Piccolo, entre junho e agosto de 1880, Júlio de Castilhos foi redator do jornal paulistano A República (1878-1882), oriundo também do ambiente acadêmico.
  
Aos 21 anos, já formado em Direito, ele retornou ao Rio Grande do Sul e, em 1882, fundou, com outros companheiros, o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).

Como redator d’A Federação, ele escreveu  uma série de artigos, denominados de “Sophismas Liberais”. Nestes editoriais, que somam 16 textos e foram escritos no período de fevereiro a junho de 1884, ele defendeu e justificou a forma republicana como o modelo ideal de governo. 
   
Em 2005, os jornalistas Antônio Hohlfeldt e Fábio Flores Rausch realizaram, em Porto Alegre, no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, uma pesquisa na qual foram analisados estes editoriais d’A Federação escritos por Júlio de Castilhos. Trata-se de artigos, visando à desconstrução de três princípios básicos defendidos pelos monarquistas: “Não temos homens para a República”, “Temos liberdade demais” e “O exemplo das Repúblicas Sul-Americanas”.

Na opinião do jornalista e pesquisador Francisco Rüdiger, A Federação influenciou os acontecimentos e não somente os reproduziu. Cada edição era uma página de um Alcorão partidário. Ser um assinante do jornal era a credencial de um republicano.  

A Federação enfrentou oposição, especialmente, do jornal “A Reforma” (1869-1912).  Com este último ocorreram acirrados embates políticos entre Gaspar Silveira Martins (1835-1901) e Júlio de Castilhos (1860-1903).

Em 1885, A Reforma  também registrou debates do jornalista monarquista e anticlerical Carlos Von Koseritz (1830-1890), respondendo às críticas do líder republicano Júlio de Castilhos.
  
Proclamada a República (1889), Silveira Martins então presidente da Província, foi para o exílio na Europa. Em 1890, Júlio de Castilhos foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul, participando, como líder da bancada gaúcha, da Constituinte de 1891. Em 14 de julho de 1891, promulgou-se a primeira Constituição do Rio Grande do Sul. Escrita por Júlio Castilhos, tinha o caráter centralizador e foi inspirada na filosofia positivista de Augusto Comte (1798-1857). No dia seguinte à sua promulgação, ele assumiu a presidência do Estado.

Pressionado pela oposição devido ao fato de ter dado apoio ao presidente do Brasil Deodoro da Fonseca (1827-1892), quando este fechou o Congresso Nacional em 03/11/1891, Castilhos renunciou em 12/11/1891.

Com o seu afastamento, nosso Estado, até junho de 1892, viveu um período de crise política, pejorativamente, chamado de “Governicho” pelo próprio Júlio de Castilhos.  Reeleito, Castilhos foi empossado, em 25/01/1893, com o apoio do presidente da República marechal Floriano Peixoto (1839-1895), que assumiu o cargo após a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca. A oposição gaúcha considerou o pleito uma fraude, recrudescendo o ódio partidário.  


Ao retornar para o Rio Grande do Sul, após o exílio, Silveira Martins fundou, em Bagé, em 1892, o Partido Federalista (PF) que defendia o unitarismo e o parlamentarismo. Reunindo os maragatos (lenço vermelho), que haviam sido alijados do poder, ele passou a liderar uma acirrada oposição aos Pica-Paus (lenço branco) representantes do poder castilhista.  

O debate político, por meio da imprensa, configurou-se, de forma inevitável, numa guerra fratricida, eclodindo a Revolução Federalista ou da Degola (1893-1895), que nos deixou o saldo de 10.000 mortes. Vencedor, o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) consolidou o seu poder, por cerca de 40 anos, no cenário da política gaúcha.

* Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação HJC

Imagens:
! - Julio de Castilhos / Gravura de  Ângelo Agostini / Revista Don Quixote 
2-  Constituição do Rio Grande do Sul / 1891  Tipografia de A Federação / Acervo Musecom 
3-   A Federação de 14-07-1884 / Acervo Musecom
4- Gaspar Silveira Martins

Artigo publicado no Almanaque Gaúcho / Zero Hora em 01/09/2018.
Bibliografia ;
BAKOS, Margaret (Org.) Júlio de Castilhos / Positivismo, Abolição e República. Porto Alegre: IEL, EDIPUCRS, 2006.
FRANCO, Sérgio da Costa. Júlio de Castilhos e sua época. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1988.
------------------------------------  Dicionário Político do Rio Grande do Sul /1821-1937. Porto Alegre: Suliani Letra & Vida, 2011.
FREITAS, Décio. O homem que inventou a ditadura no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2000.
LEITE, Carlos Roberto Saraiva da Costa. História da Imprensa.  In: “Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa – 30 anos”. Porto Alegre: CORAG, 2004.

Boaventura: Excessos do Judiciário podem levar à destruição do sistema democrático


"Quando se demoniza a democracia, vem esse populismo, de extrema direita, e o Bolsonaro é exatamente uma expressão disso, uma consequência indireta da Lava Jato", diz sociólogo português

Glauco Faria, da RBA

São Paulo –  "Todas as pessoas são a favor da luta contra a corrupção, mas a corrupção não pode ser a única luta do Judiciário em nenhum país, não pode estar separada da legitimidade, de princípios fundamentais e da defesa do sistema democrático, porque levada ao excesso dessa forma pode contribuir para a destruição do próprio sistema democrático." A avaliação é do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que aponta os riscos para o Brasil de um cenário no qual não se distinguem os três poderes da República.

Paradoxalmente, aquele que seria o mais autônomo entre eles é quem mais depende do poder político. "Nessa medida, é muito fácil criar o ódio, sobretudo quando temos uma televisão midiática extremamente monopolizada, com os brasileiros passando quatro a cinco horas por dia vendo esses programas, no sentido de demonizar os políticos em geral e a democracia", aponta. "Quando se demoniza a democracia, vem esse populismo, de extrema direta, e o Bolsonaro é exatamente uma expressão disso, uma consequência indireta da Lava Jato ou, se quiser, da forma como foi conduzida, e portanto há que viver com essa realidade."

Na entrevista exclusiva concedida à RBA, em meio ao 24º Seminário Internacional de Ciências Criminais, Boaventura traça um panorama das transformações pelas quais passaram a América Latina e o Brasil desde o início dos anos 2000, com a emergência de movimentos e governos progressistas que tiveram de enfrentar a resistência da direita e a interferência de atores externos. "A direita ganharia mais facilmente as eleições de 2018 se não tivesse ocorrido o golpe. Portanto eles devem pensar duas vezes no custo político em que se envolveram, mas aqui há muitos agentes internacionais por trás deles que permitiram toda essa impaciência para destruir o 'perigo petista'.

Confira abaixo os principais trechos da primeira parte da entrevista.

A América Latina no início dos anos 2000 e o Fórum Social Mundial

Era um momento de muita esperança neste continente, o governo Chávez tinha de alguma maneira inaugurado em 1998 uma certa renovação, havia um grande fermento que vinha e que resultava diretamente, no caso da Argentina e do Brasil, dos próprios processos de democratização que tinham ocorrido nos vinte anos anteriores. Começam os movimentos, nos anos 1980, quando surge o MST e, portanto, esses movimentos, muito fortes, vão dar uma ideia de que este continente era um continente de esperança, depois de tanto martírio, de tanta guerra e tantas ditaduras, morte e violência.

E realmente essa esperança estava de alguma maneira bem fundamentada, porque havia uma riqueza dos movimentos sociais, basta ver que era o único continente onde começava a se falar de alguma maneira do socialismo do século XXI, não se falava disso em nenhuma outra parte do mundo fora da América Latina. O Fórum Social Mundial surge justamente nesse contexto e nesse caldo que aponta para fortalecimento da luta da esquerda. Muitos dos governos progressistas que vieram a surgir na América Latina devem alguma coisa à mobilização do Fórum Social Mundial. Lembro de Fernando Lugo, antes de ser presidente, que veio do Paraguai de ônibus porque não tinham dinheiro para pagar a passagem.

Portanto, houve realmente uma mobilização muito grande. Em 2003 temos o Lula no governo, um momento de muita esperança em geral, mas não apenas ao nível dos partidos e dos governos, mas dos movimentos sociais que continuaram muito fortes, com alianças intercontinentais, inclusive a que nós temos hoje, por exemplo, com a Via Campesina ou a Marcha Mundial das Mulheres, que nasceram e se fortaleceram acima de tudo no Fórum Social Mundial. Também foi um momento enorme para interconhecimento, para o movimento indígena, por exemplo, que praticamente nem se conheciam uns aos outros na América Latina e dentro do próprio Brasil.

Os governos progressistas e o recuo

O que aconteceu, entretanto, é que os governos progressistas chegaram e uma corrente de esquerda de muitos intelectuais aqui da América Latina, com os quais devo dizer que não estou totalmente de acordo, fazem uma distinção entre progressivismo e esquerda, isto é, os governos eram progressistas, mas não eram de esquerda. Penso que essa distinção não faz muito sentido, eram de esquerda e se equivocaram, e obviamente cometeram erros. Eram progressistas, mas não reacionários, que é o que se opõe, e eram de esquerda e não de direita. Por que essa distinção começa a ser feita? Porque realmente é o sinal do desespero e de frustração, porque foi um continente que criou grande expectavas e numa década as expectativas transformaram-se em frustrações.

Como é que se transformam tão rapidamente? Por erros obviamente internos dos próprios governos progressistas e por uma influência externa que é o imperialismo norte-americano, muito claramente, sobretudo a partir de 2009. Havia uma situação muito específica naquela altura e tempo, de crescimento do mercado internacional das matérias primas provocado pelo impulso e desenvolvimento da China, com uma rentabilidade enorme para os países que as produziam. O Brasil era um deles, outros países da América Latina também, como a Argentina. Houve aqui um ambiente extraordinário que permitiu uma dinâmica social orientada por estes governos, que vinham de movimentos sociais e tinham uma política muito semelhante à da social-democracia europeia – era assim que o Lula designava seu governo, como social-democracia à latino-americana, lamentando aliás que os europeus a estivessem abandonando.

Tudo isso era possível para aquela conjuntura, mas sem se tocar na matriz econômica, na estrutura de classe e no modelo de desenvolvimento. Sem tocar no modelo financeiro e midiático. Isso fez com que a certa altura os próprios movimentos sociais começassem a sentir uma grande frustração. Em outros países, como no caso da Bolívia, houve uma divisão total entre os movimentos, como no caso equatoriano.

Influência dos Estados Unidos

Mas há também uma intervenção externa que começa a ter lugar sobretudo a partir de 2009, com o golpe das Honduras, e não foi antes porque o Estados Unidos estavam completamente envolvidos desde 2003 na guerra do Iraque e, portanto, haviam se esquecido praticamente da sua política na América Latina por estarem ligados ao Oriente Médio. A essa altura, em 2009, começam a olhar outra vez para o continente e a ver que o que estava surgindo aqui uma dinâmica autonomista que se opunha em causa ao princípio fundamental de toda a diplomacia e domínio norte-americanos, que se resumem a uma expressão: acesso aos recursos naturais.

Estavam a surgir aqui muitas coisas e um dos casos mais graves era obviamente o Brasil, na medida em que o país hegemonizava aqui na América Latina, não só pela sua dimensão, mas também pelo fato de ser um membro importante dos Brics. Portanto, estava a ser uma alternativa que entrava em linha de confrontação com o dólar, unindo Rússia, China, Brasil, Índia e África do Sul.

Como não havia nesse momento, digamos, a ameaça comunista – era difícil de se inventar agora, como se inventaram antes as ditaduras por haver a Revolução Cubana – passam a  se fazer golpes institucionais usando o Judiciário. Já se fazia, há décadas, grandes investimentos no Ministério Público, por parte da CIA e das organizações. Estudei isso por conta do caso colombiano no qual, para se fazer a tal luta contra a corrupção, contra a guerrilha, se fez um Judiciário musculoso, muito agressivo, inquisitorial e nada respeitoso em relação aos processos em nome da luta contra as drogas e contra o terror.

Esse modelo começou a dar esses frutos em 2009/2012, pulou para o Paraguai e depois chegamos em 2016. O que se passou no Brasil desde então não se pode explicar sem exatamente analisar essa necessidade de se liquidar, neutralizar qualquer política de autonomia no continente, garantindo o acesso (dos EUA) aos recursos naturais. Obviamente, o imperialismo norte-americano é uma coisa muito diferente do imperialismo de antes, não é apenas a CIA ou os militares como a gente pensa, mas uma série de organizações, muitas vezes privadas, financiadas pelos irmãos Koch. Estes são realmente os grandes potencializadores das políticas conservadoras nos Estados Unidos, de extrema direita mesmo, mais conservadora, que tem outras ramificações. A Atlas (Foundation), que é um reduto importante, onde está o Instituto Milllenium, Instituto Mises e muitos outros institutos que estão em funcionamento no Brasil e que fizeram com que hoje os valores de direita fossem quase "chiques".

Os custos políticos para a direita

Portanto, houve eventos internos e uma interferência externa que levaram à situação em que o Brasil se encontra hoje, uma situação muito complexa, precisamente por ser no país que sediou o Fórum Social Mundial. Ainda hoje muita gente me pergunta, no mundo, enquanto estou fazendo minhas palestras, como foi possível neste país tantos retrocessos em tão pouco tempo, e de uma maneira tão violenta e com tão pouca resistência. E realmente assim foi. Penso que os movimentos sociais já estavam de alguma maneira desmobilizados, por diferentes razões, como os que pensavam que já não era necessária mobilização social porque o governo era amigo, e outros que tinham sido hostilizados pelo governo e que portanto não estavam em pé de guerra para defender as suas reivindicações.

Estão acordando agora. Os retrocessos que se cometeram nos últimos dois anos foram de tal ordem que transformaram esse político genial que é Lula da Silva em um mártir, e os lados, digamos, mais frágeis e críticos dos seus governos não podem se discutir hoje. O que é também problemático, penso que devemos fazer uma discussão desses erros, até porque o tipo de governo que ele fez não se pode reproduzir no futuro.

A direita ganharia mais facilmente as eleições de 2018 se não tivesse ocorrido o golpe. Portanto eles devem pensar duas vezes no custo político em que se envolveram, mas aqui há muitos atores internacionais por trás deles que permitiram toda essa impaciência para destruir o “perigo petista”.

Os poderes que se confundem

Nós temos vários candidatos de esquerda e vários candidatos de direta neste momento, mas a simetria termina aqui. Sempre digo que a direta está fragmentada até o segundo turno, dando uma aparência de fragmentação exatamente para garantir que haja apenas candidatos de seu campo no segundo turno. No segundo turno, ela será brutal em liquidar aquilo que não quiser, e vai fazer com todos os instrumentos e toda força que tem.

Pode o jogo sair das mãos (da direita), porque há muito atores no jogo brasileiro, o populismo está aí, o Bolsonaro é o exemplo, mas ele responde não só a uma política de grande descrédito da democracia levada a cabo muitas vezes pelas próprias instituições democráticas. Todas as pessoas são a favor da luta contra a corrupção, mas a corrupção não pode ser a única luta do Judiciário em nenhum país, não pode estar separada da legitimidade, de princípios fundamentais e da defesa do sistema democrático, porque levada ao excesso dessa forma pode contribuir para a destruição do próprio sistema democrático. E é esse o risco que corremos nesse momento, porque qualquer político que tenha o seu nome associado em uma delação, que tenha sido feita sem nenhuma prova, tem o seu currículo obviamente manchado e a sua carreira comprometida.

Nessa medida, é muito fácil criar o ódio, sobretudo quando temos uma televisão midiática extremamente monopolizada, com os brasileiros passando quatro a cinco horas por dia vendo esses programas, no sentido de demonizar os políticos em geral e a democracia. Quando se demoniza a democracia, vem esse populismo, de extrema direta, e o Bolsonaro é exatamente uma expressão disso, uma consequência indireta da Lava Jato ou, se quiser, da forma como foi conduzida, e portanto há que viver com essa realidade.

Os mercados querem um candidato de direita, não tem que ser o Bolsonaro, provavelmente pode ser ele na medida em que apoie a liberalização, privatização de tudo, como quer o Instituto Millenium e o Mises, a ala mais conversadora da direita. Um Alckmin provavelmente acabará por fazer mais ou menos a mesma coisa.

Isso é feito pelo interesse internacional, obviamente que não foi algo impensado, foi tudo calculadíssimo para que isso se desse e provavelmente pode até ter êxito. Só que nunca tem êxito completo porque a sociedade felizmente tem outras dinâmicas, a sociedade começa a mover-se, as pessoas começam a fazer comparações sobre como era nos “terríveis tempos do Lula”. Como é que se vive hoje? Começam a fazer comparações, “ah, mas esse senhor não foi que o nos pintaram” e, portanto, as pessoas começam a acordar, e isso começa a notar-se já, na opinião pública.

Quem defende a democracia é a esquerda

Tenho defendido que nesse momento em que vivemos é a esquerda que tem que defender a democracia, e não a direita. E não é só aqui, penso isso na Europa. Porque a direita se vendeu de tal maneira aos interesses do neoliberalismo que não tem capacidade, mesmo que queira, para poder impor alguma regra ao capitalismo. Se não houver regras ao capitalismo é o capitalismo que impõe regras, situação em que nos encontramos neste momento.

A esquerda, até porque perdeu realmente a vertente revolucionária, perdeu a vertente comunista, digamos assim, de uma alternativa total, hoje garante a democracia em todo o mundo. É dela que eu espero isso, acho que a direta está totalmente deslegitimada. A dirita brasileira é golpista, quer dizer, não consigo identificar no Brasil ninguém genuinamente de direita, com uma política de direita que tenha sido contra o golpe, que tenha visto as limitações da Lava Jato e esses perigos. Isto é, colocados a democracia e o interesse republicano acima do interesse partidário. Não, porque é uma sociedade de extração colonial, que realmente continua com muitos vieses colonialistas, oligárquicos, em que sempre privatizaram o Estado, onde o Executivo, o Legislativo e o Judiciário praticamente não se distinguem uns dos outros.

Com o Judiciário mais autônomo do mundo, nenhum outro que eu conheço entre os grandes países do mundo tem o controle do próprio orçamento como tem o vosso Judiciário e, no entanto, acaba sendo o mais dependente do poder político. Isto é muito estranho, o candidato que vier a ganhar tem que tirar as lições do passado. Se for um candidato de esquerda tem que ter muito realismo, porque houve muita destruição nesse processo e é preciso nesse momento neutralizar algumas destas contrarreformas que foram feitas, por exemplo, o Teto de Gastos, obviamente um suicídio social, um absurdo.

Só isso vai levar muito tempo. Um governo de esquerda vai tentar em um primeiro momento minimizar os danos já causados, não vai ter nenhuma possibilidade de poder avançar com as políticas que nós podíamos ter avançado no início da primeira década do milênio, a reforma política, reforma da mídia e a reforma tributária, que era fundamental. Vai, acima de tudo, reduzir os riscos e começar a partir daí a criar condições para uma outra hegemonia, que a meu entender pode e tem que passar pela unidade da esquerda, e eventualmente, quem sabe, o surgimento de mais algum partido de esquerda. O Brasil, sendo um país com muitos movimentos sociais, não tem nenhum partido de movimentos como existe em outros países, por exemplo, na Espanha, com o Podemos. Aqui, os partidos sempre ficaram relativamente tentando ser os proprietários dos movimentos, mas os movimentos não pertencem a ninguém e, portanto, eles próprios podem sair organizados.

Esquerda confrontacional

Se for um governo de esquerda, eu mesmo apoiarei enquanto for reconhecidamente de esquerda, e não vou entrar nestas distinções se “é de esquerda” ou “é progressista” porque isso não faz muito sentido. Acho que vai ser uma política de realismo numa primeira fase, para começar a ver se há forças para atravessar esse cenário internacional de crises, no qual o mercado financeiro tem um controle como nunca havia tido antes.

Portanto, se não se tirar dos ricos, não haverá nada para dar aos pobres. E isso pode ser o fim de qualquer expectativa nova em um governo de esquerda. Será necessário tirar dos ricos, a única maneira ou, digamos, mais simples que se pode fazer, é a via tributária. Uma política tributária nova que finalmente permita que se faça aquilo que a democracia pensava, quem tem mais paga mais, quem tem menos paga menos. Estamos em uma situação absolutamente inversa.

Mas o realismo não é cedência, o realismo vai ser confrontacional, porque foram muito agressivos e não vão abrir mão daquilo que já quiseram fazer. Até agora não conseguiram abrir mão da Previdência, que é a mãe de todas as reformas, mas conseguiram no caso do pré-sal, que já está profundamente minado. Aquilo que se puder fazer será de enfrentamento, não tenho dúvidas.

Nós criamos um momento de tão baixa intensidade de democracia que, aqui no Brasil, qualquer medida, por pequena que seja no sentido contrário, será confrontacional, não vai ser uma política de alianças. E, portanto, se um governo de esquerda pensar em alianças nesse momento, vai ser traído em um segundo momento. E não é preciso esperar por um Temer, vai ser uma coisa muito mais grotesca e mais rápida. Vão ter que aprender que não há e não vai haver uma conciliação de classes nos próximos tempos porque a direita mostrou que efetivamente isso não é um arranjo de conjuntura, ela quer continuar a ter o poder todo nas mãos, o poder político, econômico e social.


RBA – Rede Brasil Atual | Cortesia para PG de Alberto Monteiro de Castro

Lula no The New York Times: Eu quero democracia, não impunidade


Ex-presidente Lula publicou artigo no New York Times; leia íntegra em português

Dezesseis anos atrás, o Brasil estava em crise; seu futuro incerto. Nossos sonhos de nos transformarmos em um dos países mais prósperos e democráticos do mundo pareciam ameaçados. A ideia de que um dia nossos cidadãos poderiam desfrutar dos padrões de vida confortáveis ​​de nossos colegas na Europa ou em outras democracias ocidentais parecia estar desaparecendo. Menos de duas décadas após o fim da ditadura, algumas feridas daquele período ainda estavam cruas.

O Partido dos Trabalhadores ofereceu esperança, uma alternativa que poderia mudar essas tendências. Por essa razão, mais que qualquer outra, vencemos nas urnas em 2002. Tornei-me o primeiro líder trabalhista a ser eleito presidente do Brasil. Inicialmente, o mercado financeiro se abalou; mas o crescimento econômico que seguiu tranquilizou o mercado. Nos anos seguintes, os governos do Partido dos Trabalhadores que chefiei reduziram a pobreza em mais da metade em apenas oito anos. Nos meus dois mandatos, o salário mínimo aumentou 50%. Nosso programa Bolsa Família, que auxiliou famílias pobres ao mesmo tempo em que garantiu que as crianças recebessem educação de qualidade, ganhou renome internacional. Nós provamos que combater a pobreza era uma boa política econômica.

Então este progresso foi interrompido. Não através das urnas, embora o Brasil tenha eleições livres e justas. Em vez disso, a presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment e foi destituída do cargo por uma ação que até mesmo seus oponentes admitiram não ser uma ofensa imputável. Depois, eu fui mandado para a prisão, por um julgamento questionável de acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.

Meu encarceramento foi a última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil. Pretende-se impedir que o Partido dos Trabalhadores seja novamente eleito para a presidência. Com todas as pesquisas mostrando que eu venceria facilmente as eleições de outubro, a extrema direita do Brasil está tentando me tirar da disputa. Minha condenação e prisão são baseadas somente no testemunho de uma pessoa, cuja própria sentença foi reduzida em troca do que ele disse contra mim. Em outras palavras, era do seu interesse pessoal dizer às autoridades o que elas queriam ouvir.

As forças de direita que tomaram o poder no Brasil não perderam tempo na implementação de sua agenda. A administração profundamente impopular do presidente Michel Temer aprovou uma emenda constitucional que estabelece um limite de 20 anos para os gastos públicos e promulgou várias mudanças nas leis trabalhistas que facilitarão a terceirização e enfraquecerão os direitos de negociação dos trabalhadores, e até mesmo seu direito a uma jornada de oito horas de trabalho. O governo Temer também tentou fazer cortes na Previdência.

Os conservadores do Brasil estão trabalhando muito para reverter o progresso dos governos do Partido dos Trabalhadores, e eles estão determinados a nos impedir de voltar ao cargo no futuro próximo. Seu aliado nesse esforço é o juiz Sérgio Moro e sua equipe de promotores, que recorreram a gravações e vazamentos de conversas telefônicas particulares que tive com minha família e com meu advogado, incluindo um grampo ilegal. Eles criaram um show para a mídia quando me levaram para depor à força, me acusando de ser o “mentor” de um vasto esquema de corrupção. Esses detalhes aterradores raramente são relatados na grande mídia.

Moro tem sido celebrado pela mídia de direita do Brasil. Ele se tornou intocável. Mas a verdadeira questão não é o Sr. Moro; são aqueles que o elevaram a esse status de intocável: elites de direita, neoliberais, que sempre se opuseram à nossa luta por maior justiça social e igualdade no Brasil.

Eu não acredito que a maioria dos brasileiros aprove essa agenda elitista. É por isso que, embora eu possa estar na cadeia hoje, eu estou concorrendo à presidência. E por isso que as pesquisas mostram que se as eleições fossem realizadas hoje, eu venceria. Milhões de brasileiros entendem que minha prisão não tem nada a ver com corrupção, e eles entendem que eu estou onde estou apenas por razões políticas.

Eu não me preocupo comigo mesmo. Já estive preso antes, sob a ditadura militar do Brasil, por nada mais do que defender os direitos dos trabalhadores. Essa ditadura caiu. As pessoas que estão abusando de seu poder hoje também cairão.

Eu não peço para estar acima da lei, mas um julgamento deve ser justo e imparcial. Essas forças de direita me condenaram, me prenderam, ignoraram a esmagadora evidência de minha inocência e me negaram Habeas Corpus apenas para tentar me impedir de concorrer à presidência. Eu peço respeito pela democracia. Se eles querem me derrotar de verdade, façam nas eleições. Segundo a Constituição brasileira, o poder vem do povo, que elege seus representantes. Então, deixe o povo brasileiro decidir. Eu tenho fé que a justiça prevalecerá, mas o tempo está correndo contra a democracia.

Luíz Inácio Lula da Silva | em Opera Mundi

Luta de Classes nos EUA


No meio de uma violenta ofensiva anti-sindical por parte de Donald Trump, dos governos de vários Estados e das grandes corporações, o ano de 2018 continua marcado por fortes lutas e vitórias laborais.

André Levy | Abril Abril | opinião

O Presidente Trump anunciou ao Congresso na passada quinta-feira, dia 30 de Agosto, que iria usar o seu poder executivo para cancelar o aumento salarial de 2,1% dos funcionários públicos federais previsto para o próximo ano, anunciando também que não haveria nenhum aumento em 2019. O aumento salarial representaria cerca de USD$25 mil milhões e a sua suspensão contrasta com outras rubricas aprovadas no orçamento federal, como o corte fiscal de USD$1,5 milhares de milhões – privilegiando sobretudo os ultra-ricos – e com o aumento salarial de 2.6% nas forças armadas, como parte da despesa militar.

O congelamento é apenas mais um episódio do ataque de Trump aos funcionários públicos federais. Em Maio assinou três ordens executivas tornando mais fácil despedir e disciplinar estes trabalhadores; ordenando às agências federais renegociar contratos com os sindicatos; e limitando a realização de trabalho sindical durante o horário de trabalho. Porém, a 25 de Agosto as ordens executivas foram canceladas por um juiz federal distrital, indicando que as ordens «limitam a capacidade das agências para manter uma mente aberta, e participar inteiramente nas discussões durante as negociações colectivas». Este foi apenas um episódio recente na constante luta entre os trabalhadores e seus sindicatos contra as forças do capital e os seus actuais representantes no Governo.

Nos EUA, trabalhadores sindicalizados ganham cerca de mais USD$200/semana que trabalhadores não sindicalizados, têm melhores benefícios de saúde e pensões, laboram em locais de trabalho mais seguros. No entanto, a taxa de sindicalização em 2017 era de 10.7% (14,8 milhões de assalariados), um decréscimo relativamente a 1983, o primeiro ano com dados comparáveis, quando a percentagem de trabalhadores sindicalizados era de 20.1% (17,7 milhões de assalariados), e bem abaixo dos anos do pós-guerra quando a taxa superava os 30%. É significativo contrastar a evolução da taxa de sindicalização com a distribuição de riqueza nos EUA, pois a desigualdade diminui com a crescente sindicalização no pós-guerra e tem vindo a aumentar desde então, acompanhando a descida de sindicalização.

A quebra de sindicalização não é específica aos EUA, mas transversal aos países da OCDE, diminuindo de 30% em 1985 para 17% actualmente1. Os níveis dos EUA, porém, estiveram sempre entre os mais baixos dos países industrializados. A causa estará, em parte, na sua história de sistemática e violenta guerra aos sindicatos e direitos laborais, uma luta de classes onde alguns dos indivíduos e empresas mais ricas do mundo recrutaram exércitos de forças de segurança, advogados, jornalistas e legisladores para as suas fileiras.

A actual campanha anti-sindical é coordenada, entre outros, pela Rede de Política Estadual (SPN, State Policy Network) que reúne mais de 60 «grupos de reflexão» financiados por empresas e bilionários, como a família Walton (dona da Walmart) e os irmãos Koch. Uma das tácticas é um assalto directo usando chamadas telefónicas automáticas, correio tradicional e eletrónico, redes sociais e visitas a casa, para persuadir os trabalhadores a desfiliarem-se do seu sindicato. Os funcionários públicos, sector com taxas mais elevadas de sindicalização, têm sido particularmente alvejados, resultando em quebras de filiação na ordem dos 5-20%, segundo documentos internos da SPN.

Em 2011, no Wisconsin passou a primeira lei no país que obrigada à recertificação anual do sindicato. A lei, entretanto seguida no Iowa e Florida, obrigada os sindicatos a gastar tempo e recursos para, todos os anos, assegurarem os votos da maioria dos trabalhadores num local de trabalho para serem seus reconhecidos representantes. A SPN designa tais leis «Direito de Voto do Trabalhador». Aliás todas as medidas adoptam designações eufemistas, alegando defender os direitos e liberdades individuais enquanto atacam o direito de associação e acção colectiva. É também o caso da terceira táctica, ainda não aprovada em nenhum estado, designada «Escolha do Trabalhador», a qual prevê que um trabalhador não-sindicalizado possa desvincular-se do contrato colectivo de trabalho (CCT) e negociar um contrato individual. Tal permitirá ao empregador atribuir um «prémio de mérito» ao trabalhador não-sindicalizado, encorajando a desfiliação.

Mas de longe a táctica mais em prática são as leis do «direito-ao-trabalho». Tais leis proíbem CCT entre empresas e sindicatos que, beneficiando todos os trabalhadores, estipulem que todos (mesmo os não sindicalizados) paguem quota ao sindicato. Alegando defender a liberdade de um trabalhador decidir, ou não, pagar, as leis têm por objectivo real enfraquecer os sindicatos, a sua capacidade negocial e autonomia financeira. Os resultados são evidentes: em estados onde tais leis estão em vigor os salários, pensões e benefícios de saúde dos trabalhadores são mais baixos.

Ao nível federal, esta tática obteve em Junho uma vitória marcante, na decisão do Tribunal Supremo (5 contra 4) do caso Janus versus AFSCME. No sector público, o Tribunal Supremo havia determinado, em 1977 (caso Abdood versus Direcção de Educação de Detroit) que os sindicatos poderiam cobrar quotas de não-membros desde que esses fundos fossem usados para a contratação colectiva e resolução de problemas. A mais recente decisão determina que funcionários públicos não-sindicalizados não são obrigados a pagar a quota sindical, muito embora beneficiem do contrato colectivo negociado pelo sindicato.

O Tribunal concordou com o funcionário, alegando assim defender a Primeira Emenda da Constituição que protege a liberdade de expressão, neste caso defendendo o direito do trabalhador não apoiar as ações políticas do sindicato. Mas os sindicatos contestam que tal não estava em causa, pois os não-membros já têm direito a reembolso de quantias gastas em actividades políticas não directamente sindicais, tais como apoiar a campanha eleitoral de um candidato político. Mas, afirmam, deveriam contribuir no caso das negociações colectivas, pois não é justo que beneficiem dos ganhos sem partilharem nos custos de negociação.

A luta anti-sindical prossegue ao nível estadual. As leis «direito ao trabalho» estão presentes em 27 dos 50 estados dos EUA. Embora muitos destes estados tenham aprovado estas leis nos anos 1940-50, no seguimento da Lei Taft-Hartley que as tornou legais, alguns estados aprovaram-nas já no novo século: Oklahoma em 2001, Indiana e Michigan em 2012, Wisconsin em 2015, Kentucky e Virgínia Ocidental em 2017, o que representa um novo assalto conservador aos direitos laborais.

Em 2017 o parlamento estadual de Missouri, de maioria do Partido Republicano, aprovou uma lei «direito ao trabalho» que o governador Eric Greitens prontamente promulgou. Mas a constituição do estado do Missouri prevê a possibilidade de um «veto dos cidadãos» por via de um referendo. Os sindicatos prontamente começaram a recolher assinaturas para submeter a lei a votos este ano, tendo recolhido mais de 300 mil assinaturas (três vezes mais que o exigido por lei). Segundo a sindicalista que coordenou a iniciativa, Jessica Podhola, os activistas bateram à porta de mais de 870 mil casas, fizeram um milhão de chamadas telefónicas e distribuíram cem mil cartazes. A legislatura tentou subverter o escrutínio, antecipando o referendo de Novembro (aquando da eleição nacional intercalar) para Agosto (dia de eleições primárias). Mesmo assim, 67% dos eleitores rejeitaram a medida, uma percentagem maior que numa votação semelhante no estado em 1978, apesar de a taxa de sindicalização ter entretanto diminuído em dois terços.

Esta foi uma importante vitória laboral e sindical num ano marcado por outras lutas e vitórias significativas, como a luta dos taxistas de Nova Yorque contra a Uber, ou as marcantes lutas dos professores nos estados de Virgínia Ocidental2, Oklahoma, Kentucky, Arizona, Carolina do Norte e Colorado, ao qual se vem juntar Porto Rico e Washington. No final de Agosto, os trabalhadores da Walt Disney World, parque de diversões na Florida de uma das mais ricas empresas do mundo, após nove meses de negociações, conseguiram um novo contrato colectivo que inclui um significativo aumento do salário mínimo de $10 para $15/hora (até 2021). A vitória vem no seguimento de conquista semelhante pelos trabalhadores da Disneylândia na Califórnia. O salário mínimo nacional estabelecido pelo governo federal é de $7,25, e a subida do salário mínimo até $15 tem sido uma reivindicação sindical por todo o país, com vitórias em vários estados e cidades.

Notas:
1.Os níveis mais elevados verificam-se na Islândia (90%), Suécia (67%) e Finlândia (64%).
2.Vale a pena ouvir o canto de vitória dos trabalhadores, após terem sido atendidas as suas reivindicações: «Quem fez a história? Nós fizemos história!»

Foto: Trabalhadores do sindicato de metalúrgicos (United Steelworkers) na companhia de gás National Grid gás manifestam-se em frente ao parlamento do Estado de Massachusetts, a 27 de Junho de 2018.  Fonte: Patrick Whittemore/Boston Herald

Cismo num grande sismo que vai acontecer e… nicles!


Tremeliques e bom dia. Os tremeliques foram associados a um sismo 4.6 no norte e centro de Portugal. Coisa pouca. E quem pergunta se for um sismo a sério de 7. qualquer coisa ou mais como está Portugal preparado? Não se ouve nem vimos perguntarem. Certo é que se perguntarmos aparecem por aí uns entendidos do “cuspo” debitar palavras “sábias” e sossegar as futuras vítimas de um sismo valente que irá ocorrer em Portugal e levar uma caterva de portugueses para os anjinhos. Ah, pois vai ser. Cismo com isso.

Recordando algumas “coisitas”: Como estão os portugueses esclarecidos acerca do que devem fazer em caso do sismo que vai acontecer? Nos empregos, nas escolas, nas suas casas, nos centros comerciais, nas ruas e etc. eles sabem o que devem fazer de mais recomendável para minorar os riscos de perderem a vida devido ao sismo? Não. Cismo com o que vai acontecer e… nicles!

Quanto à construção antisismica… Essa que devia ser escrupulosamente exigida e abundantemente fiscalizada o que é feito? Quem a faz? Está devidamente legislada? Não. Quem a faz? Tretas, porque cai tudo em saco roto… Pois então andam a brincar connosco. E os portugueses deixam e só se lembram de santa bárbara quando troveja.

E a prevenção? E a Proteção Civil? E… Oh, oh, oh. Blá, blá, blá.

Cismo com isto e com a displicência dos que legislam, dos que governam, dos que constroem à toa e dos que os fiscalizam à toa.

Pensemos nisto e saibamos exigir o que seja imprescindível para que em Portugal estejamos preparados o melhor possível para o grande sismo que lá vem. E sabemos que sim, que vai acontecer… Do estilo do de 1755. Porque não? Sabemos que sim. O sismo e o resto. Uma tragédia em grande estilo.

Ah, a senhora de Fátima… Pois. Pois. Pois.

Os roubos e as vigarices em Pedrógão e "arredores". Credo, não é novidade. Mas quem não sabe que há humanos de aparência que são um nojo e desumanos? E que até nem é por acaso que são eleitos vigaristas e ladrões na política. Eleitos exatamente pelos tais "xicos-espertos do povinho", que está sempre na disposição de deitar as manápulas ao que pertence aos alheios. Esses são os tais "amigos do alheio". Então e agora até o PR Marcelo está admirado? Sempre assim foi. Ah! Estão todos a fazer de conta, a representar, não é?

Adiante que estamos com pressa. Basta deixar por aqui mais um bom dia, além do que o autor do Curto de hoje avança já a seguir.

Boas festas aos animais quadrúpedes… Agora por isso: já repararam que os cãezinhos e gatinhos nas trelas se parecem cada vez mais com os donos que connosco se cruzam? Uns simpáticos, outros trombudos, uns agressivos, outros “fofinhos”…  Coisa gira! (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A droga do povo luso

João Vieira Pereira | Expresso

Medina todo o terreno A área metropolitana de Lisboa tem cerca de 2,8 milhões de habitantes e têm quase todos um vicio em comum: o automóvel. Mais de metade dos seus habitantes (57%) usam o seu carro para se deslocarem. Percentagem que não tem parado de aumentar à custa da diminuição do uso dos transportes públicos.

Este valor é a prova do falhanço, ao longo de décadas, de toda uma estratégia. Lisboa tem o pior registo quando comparado com outras cidades europeias onde o uso do automóvel é consideravelmente menor.

Por dia entram 370 mil carros em Lisboa. A grande maioria vem pela autoestrada do Norte, de longe o acesso mais congestionado, seguindo-se a autoestrada de Cascais e a ponte 25 de Abril. O uso do automóvel chega a ser quase 5 vezes superior ao dos transportes públicos. Os números publicados pelo Expresso assustam.

É fácil culpar as pessoas, mas o problema está na falta de alternativas. Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa quer mudar isso através de uma redução drástica do preço. O custo dos transportes públicos para quem vem de muito longe é sem dúvida um entrave e um incentivo ao uso do carro. Poupar mais de €150 por mês pode mudar comportamentos, mas não chega.

É preciso uma aposta clara no investimento em disponibilidade, qualidade e rapidez. É fácil agora Mário Centeno passar por ministro 'bonzinho' que até deixou Medina baixar os preços dos transportes, mas onde andava ele quando as empresas públicas de transportes asfixiavam com falta de investimento? Em média, nos países europeus 50% dos custos operacionais das empresas de transportes são suportadas por dinheiros públicos. Em Portugal essa percentagem é de 15%.

E aquele hábito de culpar a troika ou o anterior Governo já não serve. Já foi usado demasiadas vezes. Não estamos no final de 2015, estamos no final de 2018, três anos depois essa desculpa já perdeu o prazo de validade.

Talvez por isso o Governo queira mesmo avançar com a medida. O Público e o Negócios escrevem nas edições de hoje que Matos Fernandes, ministro do Ambiente, defende a medida desde que seja aplicada a todo o país. Contudo não garante que a mesma seja inscrita já neste Orçamento do Estado e defende que as câmaras terão de ajudar a suportar o custo da mesma (€95 milhões).

Presos por informar Há temas que jamais podem ser esquecidos. A denúncia dos ataques à liberdade de imprensa é um deles: dois jornalistas da Reuters foram condenados a sete anos de prisão em Myanmar (antiga Birmânia), depois te terem sido alvo de uma armadilha montada pela polícia. Os jornalistas em causa publicaram várias reportagens sobre o assassínio em massa de muçulmanos rohingya. Michelle Bachelet, alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, pediu já ao Governo birmanês que fossem de imediato libertados. Pedido seguido por Paris e Londres.

OUTRAS NOTÍCIAS

A terra tremeu Um sismo 4,6 na escala de Richter foi registadono mar esta terça-feira de manhã 130 quilómetros a Noroeste de Peniche. Não há registo de vítimas ou danos.

Marcelo preocupado 

O crescente caso de alegadas irregularidades na reconstrução de habitações afetadas pelos incêndios de Pedrógão e enviadas para o Ministério Público caíu com surpresa e preocupação no colo de Marcelo Rebelo de Sousa. Sobre o assunto, o Presidente da República disse "não é um caso, não são dois casos, não são dez casos - são 21 casos, em 160 e tal habitações prontas e 261 correspondendo ao panorama global".

O jornal 'i' escreve hoje que mais de metade do dinheiro que veio de Bruxelas para ajudar na recuperação dos incêndios (€26 milhões em €50 milhões) ficou nas mãos do Estado central.

Instrução do Marquês Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Bárbara Vara e Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena, entregaram requerimentos para a abertura de instrução do processo Marquês. Mais se podem seguir. A instrução de um processo é uma espécie de pré-julgamento que serve para um juiz avaliar se os indícios recolhidos pelo Ministério Público são suficientes para levar os acusados a julgamento.

Flexisegurança, lembra-se? Os números não deixam margem para dúvidas. Menos de um em cada quatro trabalhadores por conta de outrem (23,4%) cumprem um horário de trabalho “normal”, isto é, sem recurso a qualquer modalidade flexível.

Cheira a festa e a eleições Os sindicatos da função pública querem aumentos salariais entre os 3% e os 4% para 2019 e a atualização das remunerações e das carreiras. Tudo aprovado antes do Orçamento do Estado ficar fechado. Veja aqui a lista das reivindicações. Só lá falta a chave do euromilhões.

Acabou o sonho americano João Sousa está fora do US Open, depois de perder em três sets com Novak Djokovic. Também Federer tombou na mesma ronda, às mãos do australiano John Millman.

Plástico até ao final do ano O grupo de trabalho que foi criado em fevereiro para estudar incentivos fiscais para diminuir o uso de sacos de plástico tem de apresentar as suas conclusões até ao final do ano. O prazo inicial era 31 de maio.

Finalmente Angola A SIC Notícias e a SIC Internacional África estão de volta a Angola, após mais de um ano sem emissão naquele país.

Olha o mau tempo Começou ontem e promete continuar hoje. Sete distritos da região Norte continuam sob aviso amarelo devido à previsão de chuva e trovoada, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Luz verde A EDP vai construir dois novos parques eólicos no Brasil depois de ter ganho contratos de longo prazo para a venda de energia eólica.

EDP anticoncorrência A elétrica é acusada pela Autoridade da Concorrência de manipular a oferta de produção, o que terá resultado num prejuízo de €140 milhões para o consumidor. A empresa nega.

Pavão na Eleven A Eleven Sports, aquela empresa que veio para Portugal para desafiar a Sport TV, escolheu Jorge Pavão de Sousa para assumir o cargo de diretor-geral.

Lula não desiste O PT vai recorrer para o Supremo Tribunal Federal e para a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas com o objetivo de conseguir que Lula da Silva se possa candidatar nas próximas eleições.

Setembro quente. Os analistas dizem que há agora cinco grandes riscos para a economia global. Jorge Nascimento Rodrigues descreve-os um por um.

O caos do Brexit O que pode correr mal? Empregos em risco, falta temporária de alimentos, entrada de mercadorias mais demorada, fronteira entre Irlanda do Norte e a República da Irlanda reforçada, incerteza legal dos contratos com a União Europeia. O pior cenário aqui.

O ex-ministro de Theresa May Boris Johnson publicou ontem um artigo no Daily Telegraph onde defende que o atual plano para o Brexit é uma capitulação a Bruxelas e que as objeções da Europa são cosmética. O seu partido Conservador não hesitou em atacá-lo e em defender May. O Reino está cada vez menos unido.

Macron em apuros… remodela 16 meses depois o brilho de Macron está morrer? Daniel Ribeiro conta de Paris como desde o escândalo, no início do verão, com o seu chefe da segurança, nada funciona. E como a demissão de Nicolas Hulot, aquela que era a única estrela do Governo, é uma calamidade. Para esta terça feira há a promessa de uma remodelação ministerial.

Os EUA podem mudar Começam esta terça feira as reuniões para a confirmação pelo Senado do juiz Brett M. Kavanaugh como membro do Supremo nos Estados Unidos. A confirmar-se a sua nomeação, o equilíbrio daquele tribunal está em risco. Está à vista uma maioria conservadoraque poderá levar a mudanças em temas fraturantes como o aborto ou as restrições a acesso a armas. O The New York Times explica-lhe tudo o que está em causa.

A sua nomeação, rodeada desde o início de polémica, está no cabeçalho de todos os jornais depois de, na sexta-feira, a Casa Branca ter proibido o acesso pelo Senado a mais de 100 mil páginas de documentos sobre a passagem de Kavanaugh, como advogado, pela administração de George w. Bush.

Podemos sempre contar com Trump Há quase uma semana que Donald Trump não atacava o procurador-geral Jeff Sessions. Desta vez foi por causa da investigação a dois congressistas, Hunter e Chris Collins, apoiantes do Presidente americano.

Nos EUA, não há quem trabalhe A política de Trump de dificultar o acesso de imigrantes ao país está a criar dificuldade a muitos negócios. Quem se queixa são os empresários.

Argentina na austeridade 6.000 milhões de dólares de cortes para levar o país a um excedente orçamental. O plano é do ministro das Finanças da Argentina, Nicolás Dujovne. Tudo para convencer a líder do FMI, Christine Lagarde, com quem se reúne hoje.

Chamas de indignação A destruição do Museu Nacionalestá a provocar uma onda de indignação. O Brasil uniu-se contra a tragédia e no Rio de Janeiro houve manifestações para todos os géneros. A maior indignação prende-se com um excesso de austeridade motivada pelo desvio de fundos para os Jogos Olímpicos. Aos poucos vai-se sabendo a dimensão dos estragos. A vice-diretora do Museu, Cristiana Serejo, estima que 90% do acervo esteja destruído.

E se Salvator Mundi for falso? O quadro mais caro do mundo custou 450 milhões de dólares e foi comprado pelo Departamento de Arte e Cultura dos Emirados Árabes Unidos, devia ser exposto no próximo dia 18. Só que a exposição foi mais uma vez adiada, no seguimento de especulações sobre a sua autenticidade.

TV Putin A vida semanal do Presidente russo vai ser glorificada num programa de televisão.

Israel promete A imprensa internacional diz que nos últimos meses Teerão tem transferido mísseis para uma zona próxima do território israelita. O ministro da Defesa de Israel garante que vai responder a “qualquer ameaça” e “provocação” do Irão.

Crónicas da Venezuela Pedro Miguel Costa, é o jornalista enviado pela SIC à fronteira entre o Brasil e a Venezuela. De lá traça o retrato possível de miséria económica e moral de quem foge da fome, que contrasta com a revolta de quem os recebe. A seguir aqui as suas crónicas.

Sánchez, o malabarista O chefe do Governo espanhol quer um novo referendo na Catalunha. Não sobre uma possível independência mas sobre um novo estatuto para a região, onde está implícito mais autonomia.

Messi já não risca? Um dos melhores jogadores do mundo está fora dos melhores do mundo. Pela primeira vez em doze anos, Lionel Messi não figura entre os três finalistas a melhor jogador do ano, no prémio "The Best", organizado pela FIFA. Após a votação de fãs, jornalistas, selecionadores e capitães de seleções o trio é composto por Cristiano Ronaldo, Mohamed Salah e Luka Modric.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

9,3% é quanto deve subir este ano o preço das casas em Portugal de acordo com a Standard & Poor's. Valorização que para o ano deve abrandar.

1,6 mil milhões é quanto cresceu a dívida pública em julho. No total o Estado deve uns singelos €248,2 mil milhões. O mesmo que dizer 125,6% do PIB. A meta estabelecida pelo Programa de Estabilidade era de 122,2% para o final do ano…. Está quase.

400 homens fugiram de uma prisão na Líbia no seguimento de confrontos entre grupos rivais

10 é o número de lojas que a cadeia de supermercados Mercadona quer ter em Portugal até ao fim do próximo ano.

A CMVM quer que os auditores rodem ao fim de 10 anos. É a nova proposta do regime jurídico de auditoria que está em discussão.

O QUE EU ANDO A LER

Há quatro anos que a revista Fortune publica a lista anual de empresas que conseguem combinar o lucro com a procura do bem geral. A “Shared Value Initiative” reúne dezenas de empresas que ao tentarem resolver problemas de saúde pública, ambiente e questões sociais conseguem retorno para os seus acionistas.

Esta maneira diferente de avaliar empresas está longe de se suportar em conceitos como responsabilidade social ou beneficência. Pelo contrário, parte do princípio de que a única maneira de realmente conseguir que as empresas resolvam os problemas que nos rodeiam, de uma maneira sustentável, é através dos negócios.

A empresa que lidera o ranking deste ano é a indiana Reliance Jo, uma companhia de telecomunicações que nasceu em 2016 e que trouxe ao mercado indiano acesso a equipamento e a internet de alta velocidade a preços muito baixos, abrindo assim este mercado para centenas de milhões de pessoas. Em apenas 22 meses alcançou os 215 milhões de clientes.

A lista é longa e nela estão empresas como a Merck, que desenvolveu a vacina contra o Ébola, ou a Inditex. Entre as 57 empresas há ainda outra espanhola (o Santander) e claro.. nenhuma portuguesa.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima terça-feira e cuidado com a…. chuva. Volta verão que já estamos com saudades.

Portugal | Temos sol e bom vinho, não precisamos de isenções fiscais


Mariana Mortágua *| Jornal de Notícias | opinião

Nos últimos anos, milhares de pensionistas estrangeiros têm comprado casa em Portugal para viver entre nós. São bem-vindos. Mas não é justo que o façam ao abrigo de um regime que os isenta de IRS, tanto aqui como no país de origem. Também não é justo que qualquer pessoa que tenha trabalhado fora de Portugal por mais de cinco anos pague sobre o seu salário um IRS reduzido à taxa de 20%, desde que tenha uma profissão "qualificada" (médicos, professores, profissionais liberais, altos quadros empresariais e, nalguns casos, administradores e investidores).

Não é justo, mas são estas as regras do Regime Fiscal para o Residente não Habitual, criado em 2009 pelo Partido Socialista e altamente promovido pelo Governo de Passos e Portas.

Neste benefício - que em 2017 custou ao Estado 433 milhões de euros em impostos não arrecadados - não são considerados os motivos da entrada ou saída do país e o valor dos rendimentos em causa. A única condição é que seja comprada ou alugada uma casa em Portugal.

Porque custa muito dinheiro, mas, sobretudo, porque é injusto face a quem às vezes com tantas dificuldades pagou sempre os seus impostos em Portugal, devemos ser muito exigentes em relação a este regime. Para que serve? Quem beneficia? Cumpre o seu objetivo? Como é controlado?

Não há respostas claras. Não é claro que seja decisivo para a atração de pensionistas, ou que as vantagens compensem os custos da discriminação criada. Não é claro que tenha contribuído para a atração de profissionais qualificados. Pode beneficiar fiscalmente apenas os salários altos.

Temos apenas três certezas. Primeiro, o Governo tem escondida (apesar de pedida pelo Bloco no Parlamento) uma auditoria muito crítica feita pela Inspeção-Geral das Finanças em 2015. Segundo, é uma forma de "dumping fiscal" a nível internacional e uma discriminação a nível nacional. Terceiro, contribuiu para o aumento do preço do imobiliário, como sublinhava em 2014 o secretário do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS: "a função de criar condições para o mercado de turismo residencial funcionar está cumprida. Quer o regime fiscal para residentes não habituais, que é dos mais competitivos da Europa, quer as autorizações de residência, chamados vistos gold... contribuíram decisivamente para este resultado de 39 casas por dia vendidas a estrangeiros".

São três certezas que bastam para pôr fim a este regime de privilégio fiscal.

*Deputada

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