sábado, 22 de setembro de 2018

Moçambique | Um país cada vez mais na lama


@Verdade | Editorial

É lamentável e até chega a criar revolta quando o nome do nosso país consta da lista dos 10 piores países do mundo. Em mais um top 10, Moçambique ocupa a décima posição como um dos piores países do mundo no que diz respeito ao desenvolvimento humano. Neste momento, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,437, o que significa que a expectativa de vida melhorou muito pouco, a escolaridade expectável permanece inalterada assim como os anos de estudo, mas piorou o rendimento per capita dos moçambicanos.

Divulgado recentemente, o IDH contém actualização das estatísticas mundiais e foram recalculados usando novas metodologias pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). E os dados estatísticos mais actualizados indicam que, mesmo com um Ministério dedicado ao desenvolvimento humano, a “Pérola do Índico” continua entre os piores países do globo, atrás de Estados literalmente falhados como a Eritreia, o Yémem, o Sudão ou a Guiné-Bissau. É, sem dúvidas, bastante vergonhoso para os moçambicanos.

Esta informação vem, por um lado, rebater a propaganda do Governo da Frelimo segundo a qual tem vindo a investir no desenvolvimento humano e na saúde dos moçambicanos. Por outro, essa situação é reveladora do quão o Governo tem estado a marimbar-se pelas degradadas condições em que vivem milhares de cidadãos moçambicanos que freneticamente lhes te confiado o destino da nação.

Há 43 anos de Independência Nacional, esperava- se que os moçambicanos desfrutassem de um ensino com mínimo de qualidade aceitável e acesso à saúde. Como se isso não bastasse, os rendimentos dos moçambicanos têm vindo a trocar-se devido à uma crise financeira e económica provocada por um bando de indivíduos preocupados em levar água para os seus moinhos à custa do sofrimento do povo. Porém, é bastante lamentável a situação que hoje o país atravessa.

Não obstante as boas condições que o país oferece, há falta de vontade política por parte do Governo da Frelimo em melhorar as condições do povo moçambicano e o relatório do PNUD prova isso. Em quatro décadas de Independência, os moçambicanos já deviam ter, no mínimo, acesso ao cuidados médicos e medicamentosos, e a escolas condignas, para além de um rendimento capaz de cobrir a cesta básica para uma família-tipo Moçambique composta por cinco pessoas.

Tudo a postos para arranque da campanha eleitoral em São Tomé


Começou à meia-noite deste sábado a campanha para as eleições legislativas, autárquicas e regionais de 7 de outubro. Na corrida estão sete forças políticas. A oposição desconfia de esquema de fraude do partido no poder.

Nos próximos 15 dias, os partidos políticos são-tomenses mobilizam-se no terreno na caça ao voto, apresentando as suas propostas aos militantes e simpatizantes. Das sete forças políticas, a Ação Democrática Independente (ADI, no poder), o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP/PSD) e a coligação formada pelo Partido da Convergência Democrática (PCD, segunda maior força da oposição), Movimento Força para a Mudança Democrática (MDFM) e União dos Democratas para Cidadania (UDD) são os potenciais candidatos à vitória.

"São Tomé e Príncipe para todos" é o slogan da campanha do MLSTP/PSD. "Neste momento o país caiu numa indigência e nós temos que dignificar o são-tomense na sua própria terra", afirma o presidente do maior partido da oposição, Jorge Bom Jesus. "Para nós o desenvolvimento tem de ser desenvolvimento humano. Cada são-tomense conta", sublinha.

Para Jorge Bom Jesus, o desenvolvimento do país depende dos próprios são-tomenses. "São Tomé e Príncipe só pode avançar se os próprios são-tomenses colocarem a mão na massa, porque os são-tomenses são atores e beneficiários deste próprio desenvolvimento. A cooperação internacional não será outra coisa se não o complemento do nosso esforço nacional", defende.

Promessas de emprego

A restauração da democracia, a reforma do setor da Justiça e de outras instituições e o emprego são duas das prioridades do manifesto da coligação formada Por PCD, MDFM e UDD. "Na área económica e social, há grandes prioridades. Uma delas é a garantia do emprego", diz o líder do MDFM, Carlos Neves.

Na caça ao voto, a ADI trabalha com vista a mobilizar a juventude e os eleitores indecisos. Patrice Trovoada, líder do partido no poder e primeiro-ministro são-tomense, promete empregos através do Centro de Empreendedorismo Jovem, com uma linha de crédito de 20 milhões de dólares das petrolíferas americana Komos Energy e Britânica BP.

"A juventude é o futuro e ela cria coisas novas, necessidades novas, modelos de negócios novos através da sua capacidade de sonhar, inovar, de transformar e de exigir coisas que não são da nossa geração", diz Trovoada.

Alerta de fraude eleitoral

Antes do início da campanha eleitoral, a ADI tentou eliminar da corrida eleitoral a coligação PCD-MDFM-UDD. O partido no poder impugnou junto do Tribunal Constitucional a candidatura das três forças políticas por considerá-la irregular. Entretanto, na terça-feira (18.09), o Tribunal Constitucional chumbou a impugnação da ADI, dizendo ser extemporânea e fora do prazo.

A coligação das três forças politicas, que já participaram no passado na governação do país, desconfia agora da atitude da ADI. "Provavelmente, o que estará por trás será passar a ideia da imparcialidade deste Tribunal Constitucional para depois, no dia 7, tentar tirar proveito com eventuais reclamações que poderiam conhecer desfechos a favor do poder", acredita Arlindo Carvalho, presidente do PCD.

Cerca de 90 mil eleitores são este ano chamados às urnas para eleger, a 7 de outubro, os novos deputados e membros das assembleias distritais e regionais do país.

Ramusel Graça (São Tomé) | Deutsche Welle

Angola | Supremo iliba general em caso de tentativa de burla ao Estado


O Tribunal Supremo aplicou prisão preventiva a oito arguidos da chamada "burla tailandesa". E ilibou o ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, Geraldo Sachipengo Nunda, arquivando o processo.

Em Angola, o Tribunal Supremo (TS) decidiu na quarta-feira (19.09) arquivar o processo que envolvia Geraldo Sachipengo Nunda, de 65 anos, general e ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), no caso conhecido por "burla tailandesa", uma tentativa para burlar o Estado angolano no valor de 50 mil milhões de dólares.

Entretanto, o Supremo aplicou a prisão preventiva a oito dos arguidos na investigação. Num comunicado de imprensa citado pela agência de notícias Lusa, o Supremo refere também a prisão domiciliária de outros dois arguidos, como medida de coação.

Dos oito arguidos que ficam em prisão preventiva, quatro são tailandeses, Raveeroj Ritchchoteanan, 50 anos e considerado o mentor da tentativa de burla, Monthita Pribwai, 28 anos, Manin Wantchanon, 25 anos e Theera Buapeng, 29 anos, bem como Andre Louis Roy, canadiano de 65 anos, e Million Isaac Haile, eritreu de 29 anos.

Com a mesma medida de coação ficaram também os réus Celeste Marcelino de Brito António e Christian Albano de Lemos, ambos angolanos, enquanto a prisão domiciliária foi decretada a Ernesto Manuel Norberto Garcia, de 51 anos, ex-diretor da Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP) e antigo secretário para a Informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), e José Arsénio Manuel, general das FAA, 62 anos.

Segundo o Tribunal Supremo, os arguidos foram pronunciados pela prática dos crimes de associação criminosa, fabrico e falsificação de títulos de crédito, falsificação de documentos e uso de documentos falsos, burla por defraudação na forma frustrada, promoção e auxílio à imigração ilegal e tráfico de influência.

Sem provas contra o general

Em relação ao general Nunda, o TS alegou não ter vislumbrado, quer na peça acusatória, quer na instrução contraditória, "indícios que configurassem quaisquer infrações penais", pelo que, em consequência, optou pelo arquivamento definitivo dos autos.

A tentativa de burla de 43,5 mil milhões de euros começou, segundo a acusação, em 27 de novembro de 2017, quando chegou a Angola um grupo de dez pessoas com visto de fronteira, do qual fazia parte os quatro arguidos tailandeses, bem como os prófugos Pracha Kanyaprasit, Kanphitchaya Kanyaprasit, Watcharinya Techapingwaranukul, igualmente oriundos da Tailândia.

A delegação era ainda composta pelo arguido canadiano e pelo seu conterrâneo Pierre Rene Tchio Noukekan (prófugo) e Miyazaki Yasuo (igualmente prófugo), japonês. 

O grupo chefiado por Raveeroj Ritchchoteanan, criador e presidente da alegada Fundação Mundial com o seu nome, com o fito de erradicar a pobreza e promover educação e saúde de qualidade na Ásia e em África, chegou a Angola por intermédio da arguida Celeste de Brito, que foi estudante na Tailândia, onde conheceu o prófugo Pierre Rene Tchio Noukekan e com o qual "manteve sempre contato desde aquele período até à data da sua chegada a Angola".

Indícios

O Ministério Público refere na acusação que foi Celeste de Brito quem solicitou cartas às instituições do Estado angolano a convidar a fundação a realizar financiamentos em Angola, tendo antecipadamente sido enviada uma cópia do cheque no valor de 5,2 mil milhões de dólares "para fazer prova da capacidade financeira da empresa", bem como de vários documentos da empresa Cetennial, sociedade em que é presidente Raveeroj Ritchchoteanan.

O visto de entrada dos cidadãos tailandeses, segundo a acusação, foi solicitado em 07 de novembro de 2017 pelo ex-diretor da UTIP ao Serviço de Migração e Estrangeiros, em nome da empresa de Celeste de Brito.

Segundo a acusação, no mesmo dia em que os arguidos chegaram a Angola, foi realizado um encontro na sede da UTIP com representantes de bancos comerciais, ocasião em que Raveeroj Ritchchoteanan exibiu o cheque de 50 mil milhões de dólares. Ao processo estão arrolados 34 declarantes

Agência Lusa, tms | em Deutsche Welle

Ex-ministro dos Transportes em prisão preventiva em Luanda


Segundo a PRG angolana, Augusto da Silva Tomás encontra-se detido desde esta sexta-feira (21.09) por suposto envolvimento no desvio de fundos do Conselho Nacional de Carregadores.

De acordo com um comunicado divulgado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola esta sexta-feira (21.09), o antigo ministro dos Transportes angolano, Augusto Tomás, teria sido detido, indiciado pela prática dos crimes de peculato, corrupção, branqueamento de capitais, entre outros crimes puníveis pelo Código Penal. 

No documento, a PGR refere que o processo corre os seus trâmites na Direção Nacional de Investigação e Ação Penal (DNIAP), relacionado ao caso que investiga atos de gestão do Conselho Nacional de Carregadores (CNC), órgão afeto ao Ministério dos Transportes.

A nota informa também que, além do ex-governante, foi igualmente detido Rui Manuel Moita, ex-diretor-geral adjunto para a Área Técnica do CNC.

Ambos ficarão em prisão preventiva, decretada nos termos da Lei das Medidas Cautelares em Processo Penal.

"O processo prossegue a instrução preparatória com caráter secreto, com vista à sua conclusão e posterior remessa ao tribunal competente", lê-se no comunicado.

Mais cedo, o porta-voz da PGR, Álvaro João, havia informado ter sido aplicada a medida de coação de prisão preventiva a Augusto da Silva Tomás e a "alguns membros do Conselho Nacional de Carregadores".

A detenção de Augusto Tomás foi igualmente confirmada à agência Lusa por fonte dos serviços prisionais, que informou que o antigo governante angolano se encontra "privado de liberdade" desde a tarde desta sexta-feira, no Hospital Prisão São Paulo.

Exoneração polémica

Augusto da Silva Tomás foi afastado do cargo de ministro dos Transportes pelo Presidente de Angola, João Lourenço, em junho deste ano, não tendo sido avançados os motivos da sua exoneração - a primeira entre os ministros empossados em setembro de 2017 - pelo novo chefe de Estado angolano.

A exoneração de Augusto Tomás, antigo ministro da Economia e Finanças de Angola e na tutela dos Transportes desde a presidência do então chefe de Estado José Eduardo dos Santos, ocorreu envolta em polémica sobre uma anunciada parceria público-privada para a constituição de uma companhia aérea.

Na altura, João Lourenço declarou apenas, sem avançar mais pormenores, que a parceria não iria avançar.

"Não vai adiante, não vai sair, não vai acontecer, por se tratar de uma companhia fictícia", disse João Lourenço.

Sobre o Conselho Nacional de Carregadores, a Inspeção-Geral do Estado já tinha anunciado este ano que estavam a decorrer investigações, por alegada gestão danosa àquele órgão tutelado pelo Ministério dos Transportes.

Agência Lusa, cvt | em Deutsche Welle

Angola | "Zenú" dos Santos e Walter Filipe formalmente acusados pelo MP


"Zenú" dos Santos antigo responsável do Fundo Soberano de Angola e Walter Filipe ex-governador do BNA foram acusados formalmente de crimes de burla, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.

O ato criminal de que são acusados José Filomeno dos Santos (Zenú) e Walter Filipe, resulta da alegada transferência para o Reino Unido de "500 milhões de doláres". Em março do corrente ano, os dois foram constituídos arguidos pela Procuradoria-Geral da República.

Esta semana, o órgão judicial formalizou a acusação junto do Tribunal Supremo que deverá marcar o julgamento nos próximos dias para que José Filomeno dos Santos "Zenú" antigo responsável do Fundo Soberano de Angola e de Walter Filipe ex-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), sentem no banco dos réus.

Em declarações à DW África, Ilídio Manuel jornalista angolano analisa o caso com reticências.

"Eles podem agravar essa medida com uma prisão domiciliária, mas nunca serão detidos e aguardar o julgamento na cadeia. Ainda que eles venham a ser julgados e condenados eles não vão mediatamente para cadeia porque vão recorrer das sentenças e as sentenças terão efeitos suspensivos (por causa do recurso) só depois de o caso transitar em julgado é que eventualmente vão para cadeia".

Ilibados deste processo?

Ilidio Manuel vai mais longe e não descarta a possibilidade de "Zenú" dos Santos e Walter Filipe serem ilibados deste processo.

"Aliás, há um grande ceticismo por parte da opinião pública. Poucos acreditam na seriedade e vêem nisso mais uma série de manobras e vão jogando com a lei de forma a ilibar essas pessoas que ontem eram os tais intocáveis, os tais arguidos improváveis e que, agora, de arguidos improváveis eventualmente chegarão a réus”.

No outro processo conhecido como "Burla à Tailandesa" ao político do MPLA, Norberto Garcia, foi-lhe aplicada a prisão domiciliária pelo Tribunal Supremo.

O caso envolve cidadãos nacionais e estrangeiros que tentaram burlar o Estado angolano no montante de 50 mil milhões de dólares. O esquema foi revelado em 2017. No mesmo caso estava implicado, o antigo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas Angolanas Geraldo Sachipengo Nunda, que já foi ilibado das acusações.

"Acho que, aqui há uma fuga para frente por parte da justiça de forma a contornar a enorme pressão social", diz o jornalista angolano.

Prisão domiciliária

Recorde-se, que não é a primeira vez que se aplica a prisão domiciliária em Angola. A medida já foi aplicada aos 17 ativistas acusados de tentativa de golpe de Estado em 2015, lembra Ilídio Manuel.

"Depois da Procuradoria-Geral da República ter feito uma série de acusações de golpe de Estado, o próprio Presidente da República e o ministro do Interior depois não conseguiram provar isso em tribunal. Eles usaram esse mesmo mecanismo justamente para tirar os jovens da cadeia e lavar a face da justiça", destacou Ilídio Manuel.

Manuel Luamba (Luanda), Agência Lusa

Por que a Alemanha não esquece o seu passado


Na escola, alunos aprendem exaustivamente sobre as atrocidades do nazismo. Nas ruas, memoriais e museus não deixam que a verdade histórica seja esquecida. Estratégia é lembrar do passado para que erros não se repitam.

Nos ensinos fundamental e médio, tive algumas poucas aulas sobre a ditadura militar no Brasil. Aprendi em linha cronológica quem foram os generais, quais atos institucionais foram implementados, mas nunca fui informada pelos professores sobre a tortura institucionalizada, sobre quantas pessoas foram mortas ou quantas desapareceram. Eu também não tive a oportunidade de conhecer as histórias individuais de quem se posicionou contra o regime. As aulas de literatura me permitiram ao menos saber da poesia, da arte e da dor por trás das canções de protesto e de exílio.

Foi na faculdade de jornalismo que tive uma visão abrangente sobre os horrores desse período. Conheci a história do jornalista e professor Vladimir Herzog, ex-diretor na TV Cultura. De origem judaica, os pais de Herzog, da antiga Iugoslávia, imigraram ao Brasil para fugir da perseguição nazista, mas o filho não sobreviveu à ditadura brasileira. Foi torturado e morto pelos militares, que forjaram um suicídio nas dependências do DOI-CODI, para onde o jornalista tinha sido levado para prestar depoimento. Apenas há dois meses, o Estado brasileiro foi condenado pelo assassinato de Herzog, considerado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos como um crime contra a humanidade.

Levou décadas para a Alemanha lidar duplamente com o passado nazista e o passado soviético. A lembrança sobre o Holocausto foi construída ao longo de anos como uma mensagem duradoura às futuras gerações. Por meio de museus, memoriais, disciplinas nas escolas, filmes e livros, a Alemanha formou uma memória cultural sobre as atrocidades do passado, sobretudo sobre a perseguição contra os judeus, para garantir que as presentes gerações não permitam que esses erros históricos se repitam.

Meu namorado, alemão, aprendeu exaustivamente por seis anos sobre o regime nazista nas disciplinas de História, Política e Geografia. Foram ao menos cinco horas de aulas semanais sobre a Segunda Guerra Mundial, campos de extermínio, o Terceiro Reich e o extremismo de direita, xenofobia e toda a história que culminou com a ascensão de Adolf Hitler ao poder. 

Os alunos não são poupados de ver cenas reais de documentários mostrando a fumaça saindo das câmaras de gás onde milhões de judeus foram mortos e nem de ver os corpos sendo arrastados por tratores nos campos de concentração até as valas. Os alunos também são informados sobre o assassinato de negros, de pessoas de origem roma e de homossexuais durante o regime nazista. "Ouvimos e vimos tanto sobre esse período até ficarmos horrorizados e não aguentarmos mais. Mas tudo isso é para se ter certeza que as presentes gerações não deixarão isso acontecer de novo”, conta ele que é neto de uma holandesa que escondia judeus em casa para que não fossem mortos pelos nazistas.  

Trazer os fatos ao conhecimento do público, admitir os erros e dar espaço à reconciliação são as estratégias que a Alemanha lança mão para atingir um entendimento nacional de que é preciso superar o passado, transformando regimes violadores de direitos humanos em democracias. Por isso, os alemães são ensinados a se confrontar com o Holocausto. Ao mesmo tempo, leis criminalizam fazer gestos alusivos ao nazismo, exibir símbolos nazistas e relativizar que houve extermínio de judeus, inclusive com pena de prisão.  

Nas ruas, é comum topar com pequenos memoriais nas calçadas que homenageiam as vítimas do Holocausto. As chamadas Stolpersteine ("pedras de tropeço”), sinalizam que na casa em frente viveu um judeu morto pelo regime nazista. As placas – são mais de 60 mil em toda a Europa – indicam o nome, a data de nascimento e o dia em que a vítima foi levada ao campo de concentração.

Em muitas partes da Alemanha, cada passo é, de fato, um tropeço na história. Símbolos, memoriais e museus não deixam alemães, imigrantes e turistas ficarem alheios ao passado do país. Isso se reflete em políticas públicas que têm o objetivo de garantir que a verdade sobre o horror do nazismo não seja questionada por boatos e mentiras. E, nesse sentido, a meu ver, a educação escolar tem o papel crucial de formar uma sociedade consciente e informada.   

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.

Karina Gomes | Deutsche Welle

Reino Unido | May foi "humilhada" durante a cúpula e "seu Brexit está arruinado" - imprensa do RU


May diz que Brexit chegou a 'impasse' e descarta novo referendo

'Durante este processo, tratei a União Europeia com nada menos do que respeito. O Reino Unido espera o mesmo', disse May

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, afirmou nesta sexta-feira (21/09) que o processo de retirada do país da União Europeia, o Brexit, chegou a um impasse.
Em comunicado oficial, May criticou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmando que ao rejeitar as propostas britânicas o representante europeu não teria "explicado ou feito uma contraproposta. Portanto, estamos em um impasse", disse.

May argumentou que os líderes europeus encarregados das negociações deveriam apresentar alternativas e não apenas descartar as propostas que Londres elabora.

O anúncio vem após a realização de uma cúpula realizada na última quarta e quinta-feira na cidade de Salzburgo, na Áustria, entre May e representantes europeus, na qual as propostas britânicas foram rejeitadas.

"Não é aceitável simplesmente rejeitar as propostas do outro lado sem uma explicação detalhada e sem contrapropostas", disse May em discurso transmitido em rede nacional pela televisão britânica.

A primeira-ministra ainda disse que não irá "reverter o resultado do referendo [que decidiu a saída da UE] nem quebrar o meu país".

"Durante este processo, eu tratei a União Europeia com nada menos do que respeito. O Reino Unido espera o mesmo", destacou a conservadora. Para Theresa May, "a melhor solução para o Reino Unido é sair com um acordo", embora a May tenha destacado que "nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim".

May afirmou que "apesar do progresso que fizemos, existem duas grandes questões que nós permanecemos em discordância", se referindo a duas propostas feitas pela UE.

A primeira implicaria a permanência do Reino Unido na união aduaneira, zona de comércio única onde circulam livremente todas as mercadorias dos países que são membros do bloco. A outra consistiria em um acordo de livre comércio padrão, mas que colocaria a Irlanda do Norte como parte do mercado europeu.

Para May, tais propostas são "inaceitáveis", pois a primeira "ridiculariza" a ideia do Brexit, e a outra separa a Irlanda do Norte das demais regiões do Reino Unido.

Durante a cúpula de Salzburgo, Donald Tusk, declarou que as ideias de May para a saída do Reino Unido da UE não irão funcionar, destacando que seu plano - conhecido como Chequers - é a única alternativa em negociação para a nação britânica e que, se não for aceite, o país está preparado para deixar o bloco europeu sem um acordo.

Após a reunião, a imprensa britânica classificou o desempenho de May como um "fracasso", destacando que a primeira-ministra foi "humilhada" durante a cúpula e que "seu Brexit está arruinado".

Opera Mundi

Israel usa um avião militar russo como escudo


Em 17 de Setembro de 2018, cerca das 22:00 h (hora local), um turbo-propulsor militar russo Il-20, desapareceu dos monitores dos radares no Mediterrâneo, aproximadamente a 35 quilómetros da costa síria. Regressava à base aérea de Hmeymim, com 14 pessoas a bordo.

O incidente ocorreu quando uma batalha estava a ser travada na área. Quatro F-16 israelitas, a partir de águas internacionais, atacaram o Instituto Internacional das Indústrias Técnicas, de Latakia. A defesa antiaérea síria conseguiu destruir em vôo, vários mísseis inimigos.

Israel ataca agora, todos os centros de pesquisa científica relacionados com os exércitos. Trata-se de continuar o programa de assassinato de cientistas militares não-israelitas do Médio Oriente, como já foi concretizado no Irão e no Iraque.

Os Estados Unidos acusaram imediatamente a Síria de, inadvertidamente, destruir o avião no calor do momento.

No entanto, a Síria acusa a fragata francesa, a Auvergne, de ter participado na batalha, o que Paris nega como habitualmente.

Numerosos satélites observaram a batalha de 17 de Setembro e mantêm os registos.

O Ilyushin Il-20 era um quadrimotor movido a hélices que estava a efectuar uma missão de observação das forças ocidentais na área, no momento em que a batalha começou.

O estudo dos registos mostra que (1) a França disparou mísseis contra a Síria (2) um dos aviões israelitas escondeu-se atrás do aparelho russo, de modo que um tiro sírio apontado para ele, alcançou o Il-20.

O facto de usar um avião de um terceiro país para se proteger da DCA inimiga, constitui um acto de guerra. Foi o que Israel fez contra a Rússia.

Fazer atoleiros na Síria é um passo rumo à "mudança de regime" em Washington DC

Os “capacetes brancos”, agentes dos serviços secretos britânicos, começaram a filmar em Idlib encenações de ataques químicos a fim de tentar justificar novo bombardeamento dos EUA à Síria
Alastair Crooke [*]

O governo dos EUA deixou de hesitarescreveu David Ignatius em 30 de Agosto: agora insiste em que tem "interesses duradouros" na Síria, para além de matar terroristas do Estado Islâmico – e "que não planeia retirar suas forças de Operações Especiais do nordeste sírio em qualquer momento próximo". "Neste momento", disse a Ignatius um funcionário do governo, "nossa tarefa é ajudar a criar atoleiros [para a Rússia e o regime sírio], até conseguirmos o que queremos".

Os EUA, ao que parece, mudaram de política em meados de Agosto (afastando-se dos entendimentos de Julho em Helsínquia, alcançados entre os presidentes Trump e Putin), em favor de uma busca de algo que recupere a sua influência máxima nas etapas finais da guerra síria. Isto representa, aparentemente, uma última tentativa desesperada de impor a vontade dos EUA no cenário da guerra síria – através da manutenção em jogo em Idlib da "carta" jihadista, como alavanca sobre qualquer transição política; e analogamente, mantendo o "porrete do PKK" curdo no nordeste da Síria, como influência sobre a Turquia e para conter o Irão.

Estamos, na verdade, a assistir a uma viragem de 180º : o novo enviado de Pompeo na Síria, James Jeffry, deixou isso bem claro: "Agora", disse ele, "os Estados Unidos não tolerarão um ataque – Ponto". (Referindo-se à ofensiva iminente no enclave jihadista, na província de Idlib.)

"Qualquer ofensiva é para nós objectável como uma escalada imprudente", disse ele. "Acrescenta-se a isso, se você usar armas químicas, ou criar fluxos de refugiados ou atacar civis inocentes… as consequências… são que mudaremos nossas posições"… Perguntado sobre se a eventual retaliação dos EUA a qualquer ofensiva em Idlib, com ou sem armas químicas, incluiria ataques aéreos, Jeffrey disse, "pedimos repetidamente permissão para operar" e "esse seria um caminho" [para responder].

O objectivo é expulsar o Irão da Síria; infligir uma humilhante bofetada estratégica à República Islâmica a fim de agravar a 'dieta' económica imposta à sua economia; alavancar uma transição política, na qual o presidente Assad seja afastado e, acima de tudo, evitar admitir qualquer aparência de fraqueza estratégica dos EUA.

A liderança da Rússia já desconfiava que os EUA pretendiam descarrilar a última grande operação da coligação para concluir o conflito sírio. Isso agora está confirmado. Um alto responsável do Kremlin disse ao Al-Monitor , na condição de anonimato, que os responsáveis americanos pretendem actuar como sabotadores, em grande estilo: "Eles estão raivosos por termos obtido supremacia ao tratar desta crise e agora querem colocar seus bastões em todas as rodas que tentamos mover".

Isto vai ainda mais além: com a linguagem Jeffrey de "não ataques, ponto"; com a linguagem do Departamento de Estado a insinuar novas sanções económicas, como a alavancagem; e as ameaças contra o Irão, trata-se de provocações e efectivamente de ultimatos contra a Rússia e o Irão.

Esta é uma grave "viragem" nos acontecimentos. Não sabemos porque Trump virou as costas tão enfáticamente aos "entendimentos" de Helsínquia – excepto pelas extraordinárias pressões políticas e psicológicas a que está submetido: O funeral "apoteótico" de McCain como a essência das "virtudes americanas" , o artigo sedicioso do New York Times atribuído a um membro sénior da equipe da Resistência na Casa Branca, que reivindicou especificamente êxito em sabotar a política de Trump de détente com a Rússia; o livro de Woodward a ridicularizar o presidente; e agora Obama a juntar-se a este coro na sexta-feira com uma insinuação óbvia de que o Trumpismo de alguma forma está a alimentar o nazismo.

Faltam agora 60 dias para as eleições intercalares. E, como escreve Tom Luongo, "o medo da derrota pelo Estado Profundo é palpável… E agora o que está claro para mim, é que o Estado Profundo é feito a chicotear a esquerda progressista para que se torne frenética contra Donald Trump. Eles agora estão abertamente a entregar-lhes forcados e a agrupá-los para uma tomada hostil do Gabinete Oval".

Este é o ponto. "Não mais hesitação" (como disse Ignatius). A chamada Resistência está a fazer todo o possível – à outrance – tanto para desacreditar Trump politicamente antes das eleições intercalares como para desacreditar e demonizar a Rússia (com o Reino Unido – como de costume – a fazer o seu papel de apoio acusando dois russos no caso Skripal).

A Europa movimentou-se politicamente em consequência das guerras comerciais de Trump, do seu desdém pela NATO e do seu desprezo pela elite globalista "liberal" da UE. A auto-denominada "Resistência" está pronta para "arriscar tudo" – não só internamente contra Trump, mas contra a Rússia, também, para assegurar – e o seu enorme mercado consumidor que não pode escapar para a esfera russo-chinesa. Assim, a Rússia deve ser denegrida como o "inimigo" com o qual qualquer aliança é impensável.

Estará "esta gente" realmente pronta a provocar a Rússia e o Irão, até ao ponto da confrontação directa contra eles, militarmente? Parece que sim: James Jeffrey disse exactamente isso, ao Washington Post "Em alguns aspectos, estamos potencialmente a entrar numa nova fase, onde há forças dos diferentes países a enfrentarem-se umas às outras, ao invés de perseguir seus objectivos separados", disse ele, listando a Rússia, os Estados Unidos, o Irão, a Turquia e Israel. Por outras palavras, a "Resistência" fará todo o possível no processo até Novembro, tanto internamente contra Trump, quanto externamente, a tentar provocar, insultar a Rússia [para levá-la a] algum acto que permita à "Resistência" retratar a Rússia como "vinho novo numa velha garrafa da URSS"

James Jeffrey adverte a Rússia: "nenhuma ofensiva (em Idlib) – ponto" a fim de acabar com o último abcesso de jihadistas extremados. Mas a ofensiva já começou. O que aconteceu então na cimeira de sexta-feira em Teerão, entre Erdogan, Putin e Ruhani? Comentaristas estão a dizer que nenhum acordo foi alcançado sobre a ofensiva de Idlib – que os EUA tiveram êxito: sua posição dura contra o ataque aos jihadistas levou a ofensiva para um matagal. Mas, de facto, o acordo chave já havia sido alcançado antes da cimeira, e não na mesma – a Turquia colocou a HTS (também conhecida como an-Nusra ou al Qaeda) na sua lista de terroristas. Esta foi o resultado chave – o mais significativo.

Erdogan é um político, um político consumado. Ele tem sido patrono destes insurgentes. Ele se considera como um líder sunita, um otomano, o "guia" para a Irmandade Muçulmana global. Ele foi vitalmente instrumental na insurgência síria – a causa dela, por assim dizer. Mas agora a presença contínua da jihad em Idlib é insustentável (mesmo para a Turquia). No entanto, como pode ele – politicamente – repudiar esses insurgentes, que a Turquia tão cuidadosamente alimentou? Quais poderiam ser as consequências em termos de segurança (bombardeios em Istambul?) de se aliar publicamente à sua destruição? Qual seria o dano à sua cultivada imagem como defensor do sunismo?

Era necessária uma plataforma na qual as necessidades de um político de atender as suas várias clientelas eleitorais fossem vistas publicamente – e na televisão – para serem conhecidas. E foi isso o que aconteceu. Erdogan ergueu-se para eles. Argumentou a sua posição – como representante de um estado poderoso junto a outros estados poderosos – sublinhando o seu interesse (político). Sim, ele "ergueu-se para uma ovação". Por que outro motivo Putin e Rouhani teriam permitido um tal desempenho aparentemente medíocre dos líderes principais aparentemente a discutirem entre si – e perante as câmaras – a menos que se entendesse que Erdogan precisava "fazer o seu show"?

A Turquia já classificou a an-Nusra como [organização] terrorista. A ofensiva continuará (e baixas civis inevitavelmente ocorrerão, pois os jihadistas estão fundidos na população civil de Idlib – como na verdade aconteceuquando os EUA, o Reino Unido e a França bombardearam Raqqa para derrotar o ISIS em 2017 com "mais cartuchos de artilharia lançados em Raqqa do que em qualquer outro lugar desde o fim da guerra do Vietname").

E os americanos provavelmente farão o seu próprio "show off" para o público – possivelmente com Tomahawks – a fim de mostrar a Rússia e a Síria como "monstros desumanos". 

12/Setembro/2018

Ver também: 
  Syrian War Report – September 12, 2018: Militants Filming Staged Chemical Attack in Idlib

[*] Ex-diplomata britânico, fundador e director do Conflicts Forum com sede em Beirute.

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

ALEMANHA, REPÚBLICA DE BANANAS


A intromissão do embaixador dos EUA nos assuntos internos da Alemanha, nomeadamente os eleitorais, assemelha-se àquelas que os seus homólogos fazem habitualmente no terceiro mundo.

O embaixador R. Grenell manifesta publicamente grande "excitação" (sic) com a onda de conservadorismo na Bundsrepublik e declara que quer fortalecer a vaga de líderes conservadores por toda a Europa, mencionando um "rockstar" (sic) da direita austríaca como exemplo a seguir.

Os que tanto falavam numa suposta intromissão russa nas eleições dos EUA não se coibem de fazerem uma intromissão real nos assuntos dos seus vassalos.

Resistir.info

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