domingo, 14 de outubro de 2018

Departamento de Estado desvenda seus planos para garantir a supremacia global dos EUA


Sergey Latyshev

Ao falar no Comité de Relações Exteriores do Senado, o secretário de Estado adjunto para a Europa e Eurásia, Wess Mitchell, declarou que os EUA estão a punir a Rússia porque Moscovo impede Washington de estabelecer controle sobre a Eurásia de modo a restaurar a sua supremacia mundial... 

Os EUA, finalmente, admitiram abertamente porque lutam contra a Rússia e que não aceitarão nenhum outro resultado no atual confronto com Moscovo senão a sua capitulação, porque a supremacia mundial dos EUA é impossível sem o controlo total sobre a Eurásia, que atualmente não têm.

Tudo isso não são conjeturas dos "teóricos da conspiração" ou "propaganda de Putin", mas a quinta-essência da política dos Estados Unidos, tal como afirmado pelo secretário de Estado adjunto para a Europa e Eurásia Wess Mitchell no seu discurso perante os membros da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Mitchell explicou aos senadores que o financiamento ao Departamento de Estado depende no essencial da política dos EUA em relação à Rússia. Ele qualificou o "reconhecimento de que a América entrou num período de grande competição de poder" como "o ponto de partida da Estratégia Nacional de Segurança", tendo enfatizado que os governos anteriores não estavam suficientemente preparados para isso e não prepararam o país para vitória nesta competição.

O alto representante do Departamento de Estado enfatizou ainda: "Ao contrário das hipóteses otimistas dos governos anteriores, a Rússia e a China são concorrentes sérios que estão a construir os recursos materiais e ideológicos para contestar a primazia e a liderança dos EUA no século XXI".

Depois disto Mitchell detonou uma bomba. No entanto, isto apenas será uma surpresa para aqueles que não compreenderam ainda que a Rússia já foi envolvida num estado de guerra híbrida ativa com os EUA: 

"Ela (a Rússia) continua a estar entre os principais interesses de segurança nacional dos Estados Unidos impedir o domínio da massa terrestre eurasiática por poderes hostis".

Neste ponto Mitchell detonou uma bomba atómica com terríveis consequências destrutivas, não apenas uma bomba comum.

Em primeiro lugar, o estabelecimento do controle total sobre a Eurásia é declarado como a tarefa mais importante para os EUA. Uma reivindicação é feita para a obtenção de uma vitória clara da civilização do Mar sobre a civilização da Terra, centro e único pilar de apoio da Rússia. Em segundo lugar, Washington abertamente declara a prioridade das exigências mais estritas da geopolítica no sentido mais catastrófico (O Mar deve inundar a Terra) acima de quaisquer trivialidades de direitos humanos usadas na "diplomacia pública".

Em terceiro lugar, um desafio é lançado à própria existência da Rússia – ela apenas pode cessar o seu domínio na sua própria área geográfica de existência, sendo fragmentada ou dividida em pequenos Estados fantoches. Em quarto lugar, a Rússia é qualificada de país "hostil". Isso implica que a guerra híbrida foi declarada há muito tempo e que os EUA tentarão, como Mitchell observou antes, vencer. Assim, ele reconheceu que as tentativas de Moscovo de chegar a um acordo com Washington podem ser bem-vindas apenas se forem uma capitulação.

Enfim, finalmente, e em quinto lugar, a menção de Mitchell de "poderes hostis" no plural só pode significar que ele quis subentender o aliado estratégico da Rússia – a China, a única potência independente na periferia da Eurásia. Os EUA consideram a China seu principal concorrente económico e ameaça militar, que em alguns aspetos é tão poderosa quanto a ameaça russa, e a longo prazo ainda mais perigosa. Assim, "impedir o domínio" também da China nos espaços abertos da Eurásia implica o mesmo cenário que para a Rússia: desmantelar o Império Celeste atraindo alguns países para o cuidado e favor de Washington, e que não tenham quaisquer reivindicações geopolíticas.

Esta é a escala em que as coisas estão.

Devemos nos preparar para a terceira guerra mundial? 

Em termos gerais, o que quer que se faça, Mitchell declarou que os EUA se preparam para um conflito universal, uma nova guerra mundial, e "o objetivo central da política externa do governo é preparar a nossa nação para enfrentar esse desafio, fortalecendo sistematicamente os fundamentos militares e políticos do poder americano". O caminho para a vitória é a destruição da Rússia, contra a qual é necessário, de acordo com o plano do Departamento de Estado, submeter e unir vizinhos da Rússia e vassalos americanos na Europa para dançarem segundo a música de Washington.

A diplomacia, de acordo com Mitchell, é um elemento menor nas relações com a Rússia, que, a propósito, círculos influentes em Moscovo teimosamente se recusam a reconhecer, acalentando a ilusão de "fazer um acordo" com Washington sobre algo além da capitulação. O alto representante do Departamento de Estado designou claramente que "nossa política para com a Rússia procede do reconhecimento de que, para ser eficaz, a diplomacia dos EUA deve ser apoiada por poder militar inigualável e totalmente integrado com nossos aliados e todos os nossos instrumentos de poder".

Mitchell gabou-se de que, no último ano e meio (quando, acrescentamos, o "agente russo" Donald Trump já estava sentado na Casa Branca), os EUA obtiveram dos aliados da NATO um aumento de 40 mil milhões de dólares em gastos militares e "alcançados virtualmente todos os objetivos políticos" nesse sentido, incluindo o estabelecimento no âmbito da aliança do Atlântico Norte de dois novos Comandos, a implementação de preparações híbridas de guerra e "grandes iniciativas plurianuais para fortalecer a mobilidade, a prontidão e a capacidade da aliança". Aqui, obviamente trata-se de poder ofensivo e não defensivo. E não diz respeito apenas aos países da NATO.

A linguagem de Mitchell revela que os EUA consideram a sua política em relação à Rússia em termos militares: "Nós colocamos particular ênfase em reforçar os Estados da linha de frente da Europa que são mais suscetíveis à pressão geopolítica russa. Na Ucrânia e na Geórgia, levantamos as restrições do governo anterior à aquisição de armas defensivas para resistir à agressão territorial russa". O Cáucaso, a região do Mar Negro, até mesmo a Europa Central são chamadas por Mitchell de zonas de combate geopolítico contra a Rússia, competindo "por corações e mentes".

E aqui o Departamento de Estado dos EUA, de acordo com as suas declarações, encontra-se na linha de frente: todas as 50 missões diplomáticas americanas na Europa e na Eurásia "desenvolvem, coordenam e executam planos de ação sob medida para repelir operações de influência russa nos seus países anfitriões". A este respeito, os Balcãs mereceram uma menção especial, onde "a diplomacia americana desempenhou um papel de liderança na resolução da disputa pelo nome entre a Grécia e a Macedónia e está-se empenhando com a Sérvia e o Kosovo para impulsionar o diálogo liderado pela UE".

É improvável que pessoas sérias tenham sequer a menor dúvida sobre a quem se deve a crise nas relações entre a Rússia e a Grécia, e que não foram de modo algum diplomatas russos que tentaram romper o entendimento mútuo entre Atenas e Skopje e que "subornaram" alguém, por vezes usando para esse propósito "espiões em sotaina". A representante oficial do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova , por exemplo, apontou diretamente para os americanos por terem sido os criadores do escândalo diplomático, declarando: "nós sabemos". E agora foi também Mitchell quem confirmou ter sido o Departamento de Estado que fez tudo, e não o desprezível primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que simplesmente correu para o lado dos inimigos da Rússia.

Derrotar a Rússia economicamente 

"Em paralelo" com esses esforços destinados a abalar a Rússia, segundo Mitchell, os EUA levam a cabo toda uma série de ações de natureza económica: 217 entidades físicas e jurídicas russas estão sob sanções, seis missões diplomáticas fechadas, "60 espiões foram removidos do solo dos EUA" com o Departamento de Estado "estreita e efetivamente coordenado com os aliados europeus". Aliás, a propósito, Mitchell admitiu involuntariamente por que motivo os serviços secretos anglo-saxónicos precisavam do "caso Skripal" e quem organizou esta provocação.

O alto representante do Departamento de Estado expressou satisfação com o curso da guerra económica contra a Rússia: "em média, as empresas russas sancionadas" perdem cerca de um quarto de sua receita operacional, a avaliação total de ativos de uma empresa cai uns 50% e é assim obrigada a reduzir o seu pessoal num terço. De acordo com as estimativas de especialistas do Departamento de Estado dadas por Mitchell, "nossas sanções, cumulativamente, custaram ao governo russo dezenas de milhares de milhões de dólares além do impacto mais amplo nos sectores estatais e o efeito inibidor das sanções dos EUA na economia russa." Mitchell deu a situação da empresa RUSALl e também dos ataques ao rublo russo, que perdeu fortemente por esse motivo, como um exemplo de êxito na guerra híbrida contra a Rússia.

Vamos esmagá-los até capitularem 

No entanto, se a Rússia parar de resistir à expansão dos EUA na Eurásia – em primeiro lugar, na Ucrânia – parar de combater a política dos EUA na Síria – que Mitchell caracterizou como "agressão russa", então agitaremos a bandeira branca, então a América estará pronta para negociar a capitulação: "Mas em todas essas áreas, cabe à Rússia, não à América, dar o próximo passo. A nossa política permanece inalterada: imposição constante de custos até que a Rússia mude de rumo".

Há alguns momentos ainda mais curiosos no discurso de Mitchell. Ao argumentar sobre a política da Rússia, mas sem ter a oportunidade de saber em que ela realmente consiste, ele atribui a lógica americana e seus métodos de política externa às ações de Moscovo.

Auto-exposição 

Aqui estão algumas citações: 

"Nossa estratégia é animada pela constatação de que a ameaça da Rússia evoluiu para além de ser simplesmente uma ameaça externa ou militar; inclui operações de influência descarada sem precedentes, orquestradas pelo Kremlin (na realidade Washington, nota do autor) no solo de nossos aliados e mesmo aqui nos Estados Unidos".

"A ameaça de operações de influência russa existia muito antes da eleição presidencial de 2016 e continuará muito depois desse ciclo eleitoral, ou do próximo, ou do próximo. Como os recentes expurgos do Facebook revelam, o Estado russo promoveu vozes marginais na esquerda política, não apenas na direita, incluindo grupos que defendem a violência, a invasão de prédios federais e a derrube do governo dos EUA.

A Rússia fomenta e financia causas polémicas – e depois fomenta e financia as causas opostas a essas causas. A tese de Putin é que a Constituição Americana é uma experiência que fracassará se for contestada de maneira correta a partir de dentro. Putin quer desmembrar a República Americana, não a influenciar uma eleição ou duas, mas a inflamar sistematicamente as linhas de fracturas que existem em nossa sociedade".

Tendo acusado a Rússia moderna de usar métodos "bolcheviques" e "soviéticos" no impasse geopolítico com os EUA, Mitchell fez de Putin o "pai" da política externa dos EUA desde há algum tempo: "uma estratégia de caos para efeito estratégico".
Obrigado, sr. Mitchell, pela sua franqueza

Na generalidade, vale a pena ser grato a este eminente funcionário do Departamento de Estado. Mitchell não apenas delineou os propósitos da política externa dos EUA, mas também revelou os métodos que Washington pretende usar para colocá-los em prática. Ele mostrou a todos os que estão dispostos a encarar a verdade de frente o perigo assustador que os EUA representam para o resto do mundo e, em primeiro lugar, para a Rússia.

Ver também: 
  A supremacia militar perdida dos EUA

A versão em inglês encontra-se em thesaker.is/...
e o original (em russo) em cont.ws/@sensei/1049508

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

A BARBÁRIE NAZI DA US AIR FORCE


A chamada "coligação" liderada pelos EUA atacou hoje 13 a cidade síria de Hajin com bombas de fósforo branco. A Convenção de Genebra proíbe a utilização deste tipo de munição contra civis.

O império estado-unidense segue assim os passos da Legião Condor hitleriana na Guerra Civil Espanhola.

Mas esta notícia não é dada nos media corporativos que se auto-proclamam como "referência".

Resistir.info

Há 20 anos na República Democrática do Congo – A Batalha de Kindu I


Martinho Júnior | Luanda

1- Faz 20 anos que em Angola e na República Democrática do Congo, sob impulso do choque neoliberal, as batalhas se sucediam em frentes relativamente voláteis com a definição dos campos de manobra:

Angola havia-se tornado aliada da RDC sob a Presidência de Laurent Kabila, no seguimento da tomada do poder pela força do mais antigo rebelde congolês, apoiado na altura (1ª fase de operações militares) pelo Uganda e o Ruanda.

Com Laurent Kabila à frente do novo governo que havia apeado Mobutu, quer o Uganda, quer o Ruanda, aliando-se ao“Rassemblement Congolais pour la Démocratie », provocam a 2ª guerra do Congo (que ocorreu entre 1998 e 2003), na tentativa de colocar em Kinshasa alguém identificado com seus propósitos, sob a influência do “lobby” dos minerais com tentáculos internacionais desde os Estados Unidos.

Os dois países dos Grandes Lagos estabeleceram assim uma plataforma de aproximação a Savimbi, pelo que Angola, tirando partido da aliança com o novo governo congolês, com a noção geoestratégica da expansão das linhas, passou a ser militarmente parte activa na guerra dentro da RDC, para além da guerra que ocorria dentro do seu próprio território.

Há 20 anos o objectivo no leste, contra as Forças Armadas do Congo, era Kindu, a capital do Maniema (a noroeste dos lugares por onde em 1965 se estabeleceu a guerrilha do Che no Congo, a sul de Kisangani e situada na margem esquerda do caudaloso rio Congo), por causa do seu estratégico aeroporto…


2- A partir dum discreto gabinete de apoio, fora das estruturas oficiais, eu e dois outros patriotas angolanos, José Herculano Pires e Alberto José Barros Antunes Baptista, ambos já falecidos, passámos a dar apoio ao Estado Maior Geral das FAA, com informação e análise, de forma a contribuir para defender o estado angolano e o da RDC, contra a plataforma que então integrava, entre outros, Savimbi, Paul Kagame e Yoweri Museveni…

A síntese que se segue, então produzida, refere-se a acontecimentos de há precisamente 20 anos, acontecimentos que refiro hoje como choque neoliberal, na tentativa do capitalismo financeiro transnacional tomar, sem quaisquer obstáculos de natureza humana, o miolo mais suculento de África, instrumentalizando aqueles três protagonistas.


3- Enquanto na Venezuela se assistia ao início da afirmação socialista e bolivariana contra o neoliberalismo, tendo à frente o Comandante Hugo Chávez e o Pólo Patriótico, em África (Angola e República Democrática do Congo) uma poderosa onda de choque se abatia, tocando em toda a extensão o tecido humano de ambos os países, devassados desde o passado de trevas e da Conferência de Berlim.

É na esteira desses acontecimentos que haveria em consequência e mais tarde, com geometrias variáveis, de ser instalada a terapia neoliberal, vocacionada para os campos político, económico e financeiro, debilitando-os ainda mais e, apesar dos seus esforços, alimentando o caudal das vulnerabilidades e incertezas que se arrastam desde o passado… até nossos dias, com todas as consequências humanas que isso tem acarretado.

Martinho Júnior - Luanda, 12 de Outubro de 2018

Ilustrações:
Localização de Kindu, no leste da RDC;
O Presidente Laurent Kabila;
Aeroporto de Kindu;
Porto de pirogas em Kindu (travessia do rio Congo);
O Presidente Paul Kagame, do Ruanda (ainda nas vestes dum guerrilheiro).

A BATALHA DE KINDU

1 ) TÍTULOS:

Rebeldes Congoleses capturam localidades do LESTE; (GOMA).
Os rebeldes do CONGO visam a queda do Governo – HRVOJE HRANJSKI – “API”, (KALIMA).
Combatentes rebeldes no LESTE do CONGO – HRVOJE HRANJSKI – “API”, (KALIMA).
Rebeldes Congoleses têm como objectivo a base aérea – HRVOJE HRANJSKI – “API” – (KALIMA).
Avião a jacto abatido no CONGO.

2 ) SÍNTESE:

No início do mês, a 03 OUT 98, o “WASHINGTON POST” dava a conhecer uma ofensiva em várias frentes dos rebeldes, a NORTE e SUL de KISANGANI:
A NORTE, com o objectivo em BUTA, a meio caminho entre a fronteira Ugandesa e a Capital da REPÚBLICA CENTRO AFRICANA, BANGUI (na estrada do NORTE).
A SUL, com a tomada de UBUNDU e KALIMA, de forma a preparar o ataque sobre KINDU, a estratégica base aérea com que as FAC contam para atingir todo o LESTE do País.
O Correspondente da “API” refere a presença do Batalhão do Comandante ARTHUR MULUNDA, com 1.500 homens, que teria chegado de BUKAVU para a área de combate, tomado KALIMA e aparentemente recebido reforços nessa localidade, onde podem aterrar transportes ANTONOV AN – 72.
Notícias contraditórias foram dadas sobre KINDU, mas os rebeldes parece terem tomado posições em áreas periféricas, cercando a localidade e a base aérea, utilizando capacidade anti aérea e acabando por abater um avião civil duma Companhia Congolesa (não referenciada), a 10 OUT 98.
O tipo de actividade táctico – operativa assemelha-se à normalmente empregue pela Organização Armada de SAVIMBI, mas é de supor que a ofensiva em várias frentes esteja simultaneamente a ser apoiada pelas UPDF, a NORTE e pelas FPR a SUL, (com o reforço de efectivos seus).
As notícias da “API” corroboram as divulgadas pela “ZA NOW”, da ÁFRICA DO SUL e pelos jornais Ugandeses.

3 ) MAIS ALGUMAS CONCLUSÕES:

A ameaça sobre KINDU por parte da coligação rebelde, é uma ameaça que é tida como “podendo determinar o futuro da guerra Congolesa que dura há dois meses”, retirando ou diminuindo, no caso da sua perda, a capacidade das FAC e aliados de atingir alvos importantes na FRENTE LESTE, com a utilização da sua arma aérea.
A sua perda colocará em risco o sistema de defesas que rodeia o KATANGA e a ligação LUBUMBASHI – LIKASI – KAMINA – KIKWIT – KINSHASA, que em relação a ANGOLA constitui o “cinturão de segurança”possível à volta da nossa fronteira LESTE.
Por conseguinte, garantir que KINDU se mantenha em poder das FAC e dos aliados é também importante para o escalonamento do conjunto das Forças que mantêm a acção da coligação rebelde na RDC longe das nossas fronteiras, evitando a ligação física com as linhas da Organização Armada de SAVIMBI no LESTE do nosso País.

Se estabelecermos um paralelo entre o cerco a KINDU e o esforço de cerco que está a ser feito sobre SAURIMO, parece-nos evidente que a estratégia da coligação rebelde passou a ser reconhecidamente comum: cercar as maiores bases aéreas de forma a procurar que a aviação Angolana não possa ter alternativas para atingir o LESTE e de forma a, pelo menos, diminuir a pressão da arma aérea sobre a possibilidade da coligação rebelde vir a estabelecer ligação dos GRANDES LAGOS à REGIÃO DAS GRANDES NASCENTES, no centro do nosso País.

Portugal | E só se demite o ministro?


Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Há os inimigos externos. Há os inimigos internos. E ainda há os do interior. É um general habituado a pensar o estado da defesa nacional que classifica o momento de desprestígio que as Forças Armadas atravessam.

Não é difícil de perceber onde estão uns e outros. E o humor subtil está no facto de os maiores correligionários do atual pântano estarem justamente dentro das unidades, para além das sucessivas decisões políticas que foram reduzindo um dos pilares da Democracia a um coro anedótico nacional.

A demissão do ministro Azeredo Lopes, sustentado no lugar até ao limite do sustentável, não responde às perguntas sobre o assalto a Tancos, quem fez?, com quem fez?, para quê?, quantos mais houve?, cuja falta de respostas permite alimentar todo o tipo de especulações.

Mais grave. A saída do governante deveria arrastar o Chefe de Estado Maior do Exército. E por sua vez o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. Só que a Polícia Judiciária Militar responde diretamente ao ministro. Um escudo. Portanto, não só não se demitem, uns por encolherem os ombros perante o crime, outros por encobrirem a descoberta do crime, como o mais certo é virem a receber um louvor pelos serviços prestados à Nação.

O desafio de António Costa é, agora, encontrar um nome forte, que trate da política e não da caserna. Ou, em ano de eleições, num momento em que em todo o Mundo são cada vez maiores as exigências que se colocam às Forças Armadas, acumular a pasta e começar a preparar, com o peso político nacional e internacional que ostenta, uma reforma do setor.

E se são urgentes, embora difíceis, pactos de regime na Saúde, na Educação, na Justiça, ou na Segurança Social, o consenso político sobre o papel das Forças Armadas é um facilitador. Caso contrário, continuaremos a achar normal ter empresas de segurança a guardar paióis, e um exército de 5500 soldados, que representa menos de metade do total de funcionários da Câmara de Lisboa.

Não é normal, pois não?

* Diretor do JN

Portugal | Feliz ano novo, governo


Pedro Santos Guerreiro | Expresso | opinião

À hora da missa, António Costa mudou de assunto. Substituiu ministros queimados ou inúteis. E amanhã há Orçamento. O governo está pronto para outra – para outra campanha eleitoral

Estávamos nisto da despedida de Joana Marques Vidal e do despedido Azeredo Lopes, nisto de analisar um Orçamento que distribui méritos por parceiros políticos e que vai ser discutido na base do “é eleitoralista/não é eleitoralista”, nisto de Tancos, nisto da Saúde e dos professores e dos impostos e do défice e... Estávamos e já não estamos, não da mesma maneira. Porque António Costa não mudou apenas de ministros, mudou de assunto. Hoje há remodelação, amanha há Orçamento e daqui a nada estamos em campanhas eleitorais, três em 2019.

Uma remodelação desta envergadura é uma vassourada em descontentamentos, mas é também uma chicotada muito mais do que psicológica: é política.

Os descontentamentos começam por ser do próprio primeiro-ministro, e ele saberá quais, mas eram também dos tutelados. Os quatro ministros de saída tinham já pavios curtos, ou porque os foram queimando ou porque nunca os acenderam. No primeiro caso estavam Azeredo Lopes e Adalberto Campos Fernandos, no segundo estavam Caldeira Cabral e Castro Mendes.

Azeredo demitiu-se com pouca autoridade e até respeito dos militares, e envolto em conspirações, ou dele ou contra ele. Desvalorizou o assalto a Tancos até ao limite do intolerável, esquivando-se tanto às balas que acabou por se esquivar das suas próprias funções. Quando as armas foram recuperadas, a farsa abateu-se sobre ele. Pode mesmo nunca ter sabido de nada, nem sequer de ser ministro.

Adalberto Campos Fernandes foi uma deceção, por entrar como um ministro preparadíssimo e sair com uma ação política submissa ao ministro das Finanças e com um discurso de negação de problemas evidentes na Saúde. No fim, a argumentação já parecia cólera e a Saúde era só dinheiro, falta de dinheiro. Os médicos e os enfermeiros hoje cantam vitória, mas nem sabem porquê, apenas sobre quem.

Manuel Caldeira Cabral foi um menino simpático, que estranhamente nunca foi capaz de ter marca nem evidência de mérito numa economia em crescimento invulgar e com acelerada quebra de desemprego. Não teve protagonismo nem política pública, foi um ministro desconhecido, mais talhado para a universidade que para a ação. Mal se deu por ele, mal se dará pela falta dele.

Filipe Castro Mendes teve a vantagem política da desvantagem da governação. Quem não faz nada não corre riscos e quem diz simpatias não gera polémicas. O primeiro-ministro deve ter adorado o silêncio ao princípio, pois assim se poupou às rabanadas de um setor vivaz mas pouco vivo. O ministro foi útil em ser inútil, mas o vazio criou a câmara de eco para o grito desse vazio. A Cultura é Ministério mas não existiu.

Varridos os descontentamentos, entram nomes politicamente mais fortes, que herdam um Orçamento em que não intervieram. Não vêm pois mudar as políticas, porque já não podem alterá-las profundamente, mas vêm para mudar a sustentação política das suas áreas e reforçar o alinhamento com o primeiro-ministro, de quem são próximos.

Graça Fonseca vai ter um Orçamento aumentado, mais em percentagem do que em valor, e Gomes Cravinho é experiente e respeitado, dele se pretendendo pelo menos a serenidade de quem entra com folha limpa num terreno cheio de sujidade. Marta Temido é uma surpresa, sendo cedo para avaliar sequer o que dela se pode esperar. Pedro Siza Vieira será o que já era, ministro da Economia, e deixará de ser o que não podia ser, o homem da energia, onde tinha incompatibilidades com origem na sua experiência profissional, o da ligação às empresas. É um homem tecnicamente muito forte e politicamente muito próximo do primeiro-ministro. Passa a pasta da energia a Matos Fernandes, o ministro do Ambiente que é muito mais forte do que o seu sorriso permanente sugere.

Não é uma equipa de sonho, é uma equipa para um ano de eleições. Daqui a um ano terão passado três, culminando na mais importante, as legislativas. Toda a ação do primeiro-ministro converge para robustecer a posição do governo para que o PS vença essas eleições. Começou este domingo com uma remodelação que vira a página das polémicas que consumiam o governo e continua amanhã na apresentação de uma proposta de um Orçamento do Estado, com mais dinheiro nos bolsos dos portugueses e menos défice nos cálculos das Finanças. Porque Mário Centeno, esse, permanece no centro de tudo. Esse só ele se remodelará, não antes de entregar contas públicas equilibradas, com mais receita pública a legitimar mais despesa pública. Deste outubro de Orçamento ao próximo outubro das legislativas vai ser um ano de arromba. António Costa já distribui as peças e já está a comer as doze passas. Feliz ano novo.

Foto: António Costa, fotografado em agosto no Terreiro do Paço pelo Expresso – Ana Baião

Portugal | Remodelação no Governo. Saiba quem sai e quem são os novos ministros


António Costa faz remodelação com novos ministros da Defesa, Economia, Saúde e Cultura

A previsível saída de Azeredo Lopes trouxe consigo uma imprevisível remodelação do Governo em larga escala, envolvendo cinco ministérios e a um dia da entrega do Orçamento de Estado para 2019. Marcelo Rebelo de Sousa "aceitou hoje as propostas do Primeiro-Ministro de exoneração dos atuais Ministros da Cultura, da Saúde e da Economia, a seu pedido, e dos Ministros Adjunto e do Ambiente", pode ler-se no site da Presidência da República.

Os novos ministros nomeados são assim:

- Ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira (anteriomente Manuel Caldeira Cabral)
- Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho (sucessor de Azeredo Lopes)
- Ministra da Cultura, Graça Fonseca (pasta anteriormente tutelada por Luís Filipe Castro Mendes)
- Ministra da Saúde, Marta Temido (substituindo Adalberto Campos Fernandes)

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, passa a ser ministro do Ambiente e da Transição Energética, com a inclusão da Secretaria de Estado da Energia na sua esfera de competências. A Secretaria de Estado da Energia, desde a formação do atual Governo, esteve na área da Economia.

Com as mudanças agora operadas, o número de ministros desce de 17 para 16, já que Pedro Siza Vieira passa a ser ministro Adjunto e da Economia. De referir, ainda, que no XXI Governo Constitucional aumenta o número de ministras de três para cinco

As tomadas de posse terão lugar esta  segunda-feira, 15 de outubro, pelas 12h00, no Palácio de Belém.

Além disso, cessam igualmente funções os Secretários de Estado com a exoneração do respetivo Ministro. A posse dos correspondentes Secretários de Estado, que serão entretanto nomeados, terá lugar quarta-feira, 17 de outubro, pelas 11h00, no Palácio de Belém.

Notícias ao Minuto | Foto Global Imagens

Tempestade à portuguesa| O Leslile “bufou” e parte de Portugal apagou


A tempestade (Leslie) que assolou Portugal durante a noite passada rumou com intensidade mais a norte de Lisboa, arrazando o centro do país e grande parte do norte.

Lisboa preparou-se para receber a bestialidade do Leslie mas foi só afetada ligeiramente. Pelas 11 horas da noite, depois de uma ventania e chuvada inclementes, a bonança começou a instalar-se. Sentimos o ar mais “lavado”.

O mesmo não aconteceu a norte de Lisboa. Disso mesmo fomos rebuscar um pouco do Expresso e do ponto da situação acerca do mini-furacão (tufão) que veio do Oceano Atlântico sem ser convidado e dizimou árvores e linhas elétricas, deixando centenas de milhares de portugueses às escuras, sem eletricidade que se prolongará durante dias, até se efetuarem as necessárias reparações. Registaram-se alguns feridos mas sem gravidade.

Por esta hora (11 da manhã) ainda o norte de Espanha sofre as inclemências do Leslie.

Saiba mais, no Expresso, através das ligações que aqui deixamos.

Expresso


Furacão que passou por Portugal danificou mas não devastou. EDP deixou milhares sem luz e admitiu a gravidade da situação


A tempestade Leslie deixou 200 linhas de alta/média tensão fora de serviço. As reparações são um trabalho para os próximos dias e vão exigir soluções temporárias, diz a EDP Distribuiição


A chuva ainda vai continuar durante a tarde. A agitação marítima também. É preciso continuar atento

Foto Reuters/Rafael Marchante

Timor-Leste | Cartas de Amor quem as não tem? Pedaços de dor sentidos por alguém…


Eusebio Corsino Araujo (Mau Laka CASCOL)* | opinião

A recente moda das cartas do Presidente do CNRT não é de agora. Não precisamos recuar aos tempos da prisão de Cipinang para obter da escrita de Xanana Gusmão verdadeiras pérolas da língua oficial timorense e também verdadeiros tratados de ciência política, obras da mais ilustrativa hipocrisia, populismo e demagogia politica do herói libertador e combatente de outros tempos ao herói com pés de barro do presente.

Deixemos de lado a carta à Emilia e, fiquemo-nos apenas pela peça de retórica e verborreia política recentemente enviada à primeira figura da Nação, ao Presidente Lu Olo, uma vez mais, com o sarcasmo que lhe é conhecido, ao nível da “Arte da Guerra” de Maquiavel, começando desde logo por manifestar preocupação com o estado psicológico do Presidente.

Tratando-se de uma graçola provocatória já repetida e felizmente sem qualquer aplicabilidade ao destinatário, acaba ela própria por ser mais reveladora do estado psicológico do Presidente do CNRT, a merecer atenção e quiçá uma consulta de diagnóstico num especialista internacional, diferente claro, daqueles que reza a má língua, afirmam que frequenta em trânsito por Bali. 

É que dizer-se uma coisa hoje e o seu contrário amanhã, apontar o dedo ao adversário pela assinatura do contrato do barco para o Oé-Cusse quando foi ele que o assinou ou, querer criminalizar erros dos outrém quando atrás de si arrasta centenas de casos e outros senão piores pelo menos iguais, é sinal de que já existe, além do ódio cego e inveja destrutiva ao irmão Mari Alkatiri, uma enorme descompensação psicológica a merecer cuidado e atenção. 

E, aqui sim, sem ironia, aconselho seriamente o camarada Xanana Gusmão a lembrar-se da idade que tem, que o álcool, o stress e o cigarro que não o larga, entre outros vícios e maus hábitos, são péssimas companhias e não ajudam na saúde física e mental.

Deixemos então a forma e vamos ao conteúdo. E logo aqui, uma questão se coloca. Será que Xanana Gusmão já não tem o contacto telefónico de Lu Olo, não o consegue visitar e discutir os problemas olhos nos olhos ou, tem e não o quer fazer pelas razões que ele próprio conhece e que todos nós imaginamos? E, porque o faz, afrontando o Presidente, quando sabe que o PM Taur semanalmente se reúne com o PR Lu Olo e que no VIII Governo há ministros que são da 2ª linha do CNRT?

O CNRT está hoje mais sem rumo e fragmentado sendo a 1ª linha a de Xanana e dos seus apaniguados Kalbuady e companhia, a 2ª a linha dos contestatários intelectuais do CNRT onde se encaixa Dionísio Babo e Ágio e a 3ª a linha que não conta para nada, a da mediocridade da representatividade parlamentar do CNRT com a figura cómica trágica da 4ª classe do “Dr Arão” na liderança e, por isso, sabendo Xanana que esta coligação não durará muito mais e que, em breve haverá de novo eleições, começa já, com estas célebres cartas, a estratégia de guerrilha para tentar de novo o que nunca conseguiu, dividir a Fretilin.

Por fim, como consegue Xanana enviar cópia da Auditoria ao PR Lu Olo antes mesmo de ela ser publicada e tornada pública no site oficial do Tribunal? Há um Estado dentro do Estado? O Estado da Justiça e o Estado a que isto chegou?!

Que a relação de Xanana com a Justiça sempre conheceu momentos de verdadeiro conluio ou de total desprezo consoante o interesse pessoal do momento já se sabe mas, que para além disso, ainda seja conivente com os seus interesses políticos é que se apresenta como mais uma infeliz certeza. 

Cabe agora aos órgãos da Nação, Parlamento e Ministério Público mandar averiguar porquê, como e quem facilitou o acesso e a fuga de informação do Tribunal para o gabinete do Presidente do CNRT. O Parlamento deve constituir uma comissão de inquérito e averiguar do segredo de Justiça e aplicar igual critério na análise das auditorias a RAEOA e às muitas outras feitas ao V e VI Governo sem que disso tivesse resultado qualquer processo criminal ou de responsabilização política. E nisto há no mínimo um responsável, o então PM e o Ministro do Planeamento e Investimento Estratégico! 

O País e o povo ainda querem acreditar na Justiça porque nas cartas de Xanana Gusmão, já só acreditaquem quer, por muito floreado e poesia com que as pinta! 

O povo está desnorteado, perdido no limbo do amor pela sua pátria, na decepção por tanta roubalheira de políticos e numa identidade que parece não se afirmar perante o mundo e nisto, temos que agradecer a “Sua Excelência o Presidente do CNRT, pela maneira, não só simpática, como contundente, como nos está a ensinar a interpretar as situações que envolvem a construção do Estado, de que Sua Excelência de forma magnifica, está a representar perante nós, vulgares cidadãos de Timor-Leste que votaram em si”.

- Eusebio Corsino Araujo (Mau Laka CASCOL)


*Artigo de opinião em Business Timor – 1 outubro 2018 | também publicado em Timor Agora

Na foto: Xanana Gusmão

As incoerências da ministra Dulce de Jesus e a visita de Teresa Ribeiro a Timor-Leste


Num momento em que vivemos uma situação conturbada devido às incoerências da Ministra da Educação Dulce de Jesus, a Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal está a fazer uma visita oficial a Timor-Leste.

M. Azancot de Menezes | Jornal Tornado

Após ter sido recebida pelo Presidente da República Democrática de Timor-Leste (RDTL), no dia 8 de Outubro de 2018, a Secretária de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, Teresa Ribeiro, prestou declarações aos jornalistas sobre as razões da visita oficial ao nosso país e em relação ao principal tema abordado durante o encontro com o Chefe de Estado Francisco Guterres / Lu´Olo.

A questão da língua portuguesa em Timor-Leste, como não podia deixar de ser, mereceu destaque nas suas declarações aos jornalistas e despertou-me a atenção porque transpareceu das palavras de Teresa Ribeiro uma mensagem clara ao Estado timorense no sentido de se assumir, de uma vez por todas, uma postura firme sobre a opção a seguir, se o português ou outra língua.

A Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação declarou que Portugal está empenhado no ensino da língua portuguesa em Timor-Leste “se for essa a vontade dos timorenses”. Timor-Leste quer ou não quer a língua portuguesa? Aqui reside a grande confusão que decorre das incoerências registadas sempre que mudam os governos, em particular, os ministros da educação.

Recomendações do III Congresso Nacional da Educação devem ser cumpridas

Durante o VII Governo Constitucional, formado pela FRETILIN e pelo PD, não havia qualquer dúvida sobre essa matéria. Mari Alkatiri, enquanto Primeiro Ministro, mas também António da Conceição, na qualidade de Ex-Ministro da Educação, foram categóricos, coerentes e inequívocos.

No III Congresso Nacional da Educação, realizado em 2017, Alkatiri defendeu uma linha de pensamento segundo a qual a melhor forma de reforçar a nossa diferença nesta região geográfica e o nosso papel em contexto de globalização é “fazer do português a língua de ensino e da educação em parceria com o tétum; fazer do português a língua da ciência e do domínio da tecnologia; fazer do português a língua para o desenvolvimento e, inevitavelmente, fazer do tétum a língua para afirmar a nossa maneira diferente de pensar…”. António da Conceição afirmou que “as línguas oficiais no sistema educativo devem ser entendidas enquanto meios, instrumentos e recursos para um único fim, ou seja, o acesso a uma educação de qualidade por todos os cidadãos”.

Na perspectiva de académicos nacionais altamente conceituados, e refiro-me a Benjamim da Corte-Real Araújo, Director do Instituto Nacional de Linguística da Universidade Nacional de Timor Lorosa´e  (UNTL), Professor e Investigador desta única universidade pública do país, o apelo neste III Congresso foi no mesmo sentido, ao declarar que “há necessidade de elevar a carga horária para a aprendizagem da língua portuguesa”, solicitando que se desse “ouvidos às conclusões advindas do III Congresso Nacional da Educação”.

Ministra da educação Dulce de Jesus é incoerente em relação à política linguística e prejudica gravemente o futuro de Timor-Leste

O que rapidamente podemos concluir é que as políticas educativas no domínio das línguas, refiro-me ao tempo do VII Governo Constitucional, eram coerentes com a Constituição da RDTL e coerentes com princípios científicos e pedagógicos elementares. Portanto, interrogo-me, por que razão a Senhora Ministra da Educação não valoriza as recomendações do III Congresso Nacional da Educação em matéria linguística (e outras)? Por que razão as recomendações de Benjamim Corte-Real, note-se, Director do Instituto Nacional de Linguística da Universidade Nacional de Timor Lorosa´e  (UNTL), um especialista na matéria, não são ouvidas nem achadas pela Senhora Ministra da Educação Dulce de Jesus?

Recentemente, o Jornal Tornado entrevistou uma académica da UNTL, Sabina da Fonseca, doutorada em linguística pela Universidade Nova de Lisboa. Na opinião desta académica, “a língua de ensino deve ser o português; a iniciação à leitura e à escrita deve ser em português; se queremos projectar a educação das crianças para o futuro, o ensino deve ser em língua portuguesa com recurso ao tétum”. Segundo Sabina da Fonseca “o tétum está em fase de desenvolvimento e deve apoiar-se ao português para se desenvolver”. Esta académica foi mais longe e adiantou que “o ensino-aprendizagem nas línguas maternas só irá contribuir para retardar e complicar a aprendizagem das crianças”.

Por que razão a Ministra da Educação Dulce de Jesus não valoriza os académicos especialistas da UNTL, a universidade mais prestigiada do país, e prefere ouvir as opiniões de  membros de Organizações Não Governamentais, como a Fundação Alola, entre outras? Será que na opinião da Senhora Ministra da Educação os académicos da UNTL não possuem competências científicas e pedagógicas?

A Senhora Ministra da Educação afirma publicamente que defende a língua portuguesa. De facto, visita várias instituições como os «CAFE» e o «Projecto Formar Mais», inaugura bibliotecas com livros em língua portuguesa, contudo, demonstrando total incoerência, cometeu um erro que se não for corrigido será um erro histórico.

Qual foi esse erro? Decidiu propor no Parlamento Nacional que fossem anulados os Decretos-lei 3/2018 de 14 de Março e 4/2018 de 14 de Março. E porquê? Para retirar horas de ensino em língua portuguesa na Educação Pré-Escolar e no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Na prática trata-se do início de mais uma tentativa para a erradicação da língua portuguesa do sistema de ensino nacional.

Por estas e por outras razões é que a Senhora Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação portuguesa terá afirmado que Portugal está empenhado no ensino da língua portuguesa em Timor-Leste “se for essa a vontade dos timorenses”.

Por estas e por outras razões é que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e o resto do mundo olham para nós sem saber bem para onde vamos e o que realmente queremos.

*M. Azancot de Menezes, professor universitário |  também colabora no Timor Agora e em Página Global

Macau | Jason Chao contesta argumento da PJ para não divulgar dados de escutas telefónicas


O activista Jason Chao contestou a justificação avançada pelas autoridades para não divulgar as estatísticas das escutas telefónicas. Num comunicado ontem enviado aos órgãos de comunicação social, o ex-presidente da Associação Novo Macau explica que os códigos de processo penal de Macau, Portugal e Alemanha “podem ser considerados como sendo da mesma família” e que o ordenamento jurídico deste último obriga à divulgação anual das estatísticas das intercepções das comunicações. 

“Portanto, a salvaguarda no Código de Processo Penal de Macau e o facto de que o ordenamento jurídico de Macau é de ‘tradição de direito civil’ não devem servir como argumento contra o pedido de divulgação dos números de intercepção de telecomunicações”, considerou o activista.

Segundo explicou Jason Chao, o desenvolvimento do ordenamento jurídico português esteve sob uma forte influência alemã desde o início do século XX e os códigos de processo penal de Macau, Portugal e Alemanha “podem ser considerados como sendo da mesma família”. De acordo com o activista, o Governo alemão está obrigado por lei a publicar as estatísticas relacionadas com a intercepção de telecomunicações anualmente.

Quando questionado pelos jornalistas sobre as estatísticas das escutas telefónicas, durante a conferência de imprensa do Regime Jurídico da Intercepção e Protecção de Comunicações, em finais do mês passado, Wong Sio Chak afirmou que as autoridades não mantêm dados sobre estes casos. “Nós nunca fazemos estatística sobre o número dos casos em que nós escutamos. Isto tem a ver com sigilo. Se nós referirmos estes números também tem que ter autorização do juiz”, justificou, na altura o secretário para a Segurança. C.V.N.

Ponto Final

Moçambique | Renamo ameaça abandonar negociações de paz


Principal partido da oposição acusa a Frelimo de fraude nas eleições municipais de quarta-feira e de “empurrar” Moçambique para “um novo ciclo de conflitos”.

Atrasos na publicação de resultados não são uma novidade em Moçambique, mas após três dias de escrutínio continuam sem ser divulgados os votos finais em mais de um terço dos 53 municípios do país. E, como têm notado observadores e ONG, os atrasos centram-se em autarquias onde a Renamo, principal força da oposição, estava em vantagem.

“Se o voto popular não for respeitado a Renamo vai romper com as negociações e as consequências que daí advirem serão da inteira responsabilidade do Presidente [Filipe Nyusi] e da Frelimo”, disse o coordenador interino da Renamo, Ossufo Momade, que falava em videoconferência a partir da serra da Gorongosa para os jornalistas em Maputo. O partido denuncia irregularidades em cidades de pelo menos seis províncias e já rejeitou oficialmente os resultados em quatro autarquias.

Na quinta-feira à noite, o Centro de Integridade Pública (CIP), que faz a sua própria contagem, já alertava que a lentidão no processamento e divulgação dos resultados era “preocupante em alguns municípios”, sempre em casos onde a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) estava “a liderar a tendência de voto”.

Marromeu, na província de Sofala, foi cenário de episódios de grande tensão, com a polícia a disparar balas de borracha e gás lacrimogéneo e a desaparecer durante um dia com as urnas de dez centros de voto, entretanto devolvidas ao pessoal da STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral).

A Renamo alerta, entre outras, para a situação de Monapo, em Nampula, onde esteve à frente, com 49,16%, antes de serem encontrados 1300 boletins de voto extra que reverteram o resultado e deram a vitória à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Momade diz que a Renamo tem cópias de editais das 63 mesas de voto da cidade que confirmam a sua vitória.

Segundo a contagem do CIP logo no dia seguinte à votação, a Renamo estava “em condições de ganhar dez ou mais municípios, o que seria um máximo histórico” – o partido nunca governou em mais de cinco. A Frelimo chegou a estas eleições com o poder em 49 das 53 autarquias.

As eleições municipais eram o primeiro teste à nova lei eleitoral acordada no âmbito do processo de paz negociado pelo líder histórico da Renamo Afonso Dhlakama até à sua morte, em Maio, com o Presidente Nyusi. O partido da oposição não aceitara os resultados das eleições gerais de 2014, ao que se seguiram três anos de confrontos e muitas mortes.

“Não queremos guerra mas também não admitimos nem aceitamos qualquer tentativa de pôr em causa a vontade popular”, sublinhou Momade. “O que mais nos preocupa é o silêncio cúmplice do Presidente da República”, acrescentou, acusando a Frelimo de querer “empurrar a Renamo para um novo ciclo de confrontos”.

Sofia Lorena | Público | Foto: Ricardo Franco, Lusa

Missão de observação da CPLP diz que eleições autárquicas moçambicanas respeitaram práticas de referência


A missão eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) considerou hoje em Maputo que as eleições autárquicas respeitaram "as práticas internacionais de referência", apesar de "incidentes pontuais e localizados".

"As eleições autárquicas moçambicanas do dia 10 de outubro de 2018 decorreram, na generalidade, em consonância com as práticas internacionais de referência", refere a declaração preliminar da missão de observação eleitoral da CPLP, lida pelo chefe da equipa, o cabo-verdiano Amílcar Spencer Lopes.

Amílcar Spencer Lopes enfatizou que o escrutínio cumpriu as normas preceituadas na Constituição da República de Moçambique e na legislação eleitoral do país.

Segundo o chefe da equipa, "os princípios democráticos e direitos políticos consagrados nos instrumentos legais internos e nas normas internacionais foram observados durante o escrutínio".

A localização e o acesso às assembleias de voto permitiram uma participação efetiva do eleitorado e os horários de abertura das urnas foram, na generalidade, cumpridos, acrescentou.

A missão de observação eleitoral da CPLP reconheceu o registo de incidentes, mas assinalou o caráter isolado e localizado destes.

Amílcar Lopes Spencer explicou que constrangimentos de ordem financeira impedem que a CPLP possa acompanhar todo o processo eleitoral até à contagem final e divulgação dos resultados pelos órgãos eleitorais de nível central.

A missão de observação eleitoral da CPLP era constituída por 18 membros, distribuídos por sete equipas que acompanharam o sufrágio em cinco dos 53 municípios do país.

A equipa observou 180 mesas de voto em 72 assembleias, o correspondente a 365.036 eleitores inscritos.

PMA // SR | Lusa | Foto: António Silva

Angola | Processo de privatização parcial da Sonangol em curso

O ministro dos Recursos Minerais e Petróleo anunciou ontem, em Luanda, um projecto de privatização parcial do capital da holding petrolífera angolana Sonangol depois de Junho do próximo ano, no fim do Programa de Regeneração da companhia em curso desde Agosto.

Diamantino Azevedo discursava na abertura de um encontro entre a Comissão Instaladora da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG) e as companhias que operam em Angola, para a apresentação do Plano de Reestruturação do Sector Petrolífero, um processo iniciado em Agosto com a instituição da Agência e a retirada da função de concessionário da Sonangol.

O ministro declarou que, enquanto se passa a função de concessionária da Sonangol para a ANPG, a companhia petrolífera nacional desencadeia um Programa de Regeneração a fim de se focar nos negócios nucleares, constituídos pelos fluxos ascendente e descendente da cadeia produtiva de petróleo (pesquisa, exploração, produção, refinação e distribuição).

Esse processo, adiantou, vai levar à privatização de algumas empresas não nucleares do grupo e, no futuro, à privatização parcial da Sonangol por dispersão bolsista, um processo ligado às boas práticas dessa indústria. “É o que se passa hoje com as grandes companhias petrolíferas mundiais”, afirmou. 

A apresentação do modelo de funcionamento foi feita pelo coordenador adjunto da Comissão Instaladora da ANPG, Jorge Abreu, que lembrou as três etapas pelas quais o processo decorre e que iniciam em Janeiro de 2019, a fase de preparação da transmissão da função de concessionária para a Agência.

Nesta fase inicial, prosseguiu, a função de concessionária vai-se manter na Sonangol, concentrando-se na relação com os operadores e respondendo ao Conselho de Administração da Agência.

A segunda fase vai de Janeiro a Junho de 2019 e é designada por “Transição”, na qual o Conselho de Administração da ANPG vai dirigir o processo de autonomização e as entidades corporativas da Sonangol se obrigam a prestar serviços à Agência.

A terceira fase, de “Optimização da Transição”, vai de Junho de 2019 a Janeiro de 2020 e abrange a migração dos activos da função de concessionária para a Agência Nacional de Petróleo e Gás. 

Os funcionários da Sonangol que cuidam desta função transitam para a ANPG, sendo que “a questão remuneratória não será prejudicada”, uma referência à manutenção dos salários e eventuais privilégios.

Jorge Abreu declarou que o plano de reestruturação do sector petrolífero em curso é irreversível e não vai afectar a estabilidade dos negócios na indústria petrolífera angolana, algo que persegue a assinatura de novos contratos e a exploração de campos marginais.

Madalena José | Jornal de Angola

Angola | É urgente cultivar conceitos de honra e comprometimento


Luciano Rocha | Jornal de Angola | opinião

Honra, comprometimento, vergonha, dever são, entre tantos outros, vocábulos que têm vindo a perder sentido nas sociedades consumistas caracterizadas e avaliadas pelas aparências, nas quais o lema norteador é o enriquecimento a qualquer custo.

Em Angola, longe vai o tempo em que palavra dada era mais importante do que documento assinado hoje. Com ela não se voltava atrás. Ai de quem o fizesse sem justificação plausível, de preferência atempada.  Passava a ser pessoa desonrada, indigna de aperto de mão. Tempos houve que alguns casos culminavam com duelos. Desses não me lembro, ainda cá não andava neste mundo. Conheço-os de estórias, mas recordo-me do livro  de vales nas mercearias de bairro, com pagamento no fim do mês e igualmente de outro, cujo nome não me lembro, sem papel químico, como o primeiro, onde o dono da loja também apontava a dívida. Era estreito e comprido, quase sempre com o fiado a ser saldado  ao sábado. Nestes procedimentos simples havia honra.

Como havia honra de quem aceitava um emprego, um cargo. Jamais passava pela cabeça de alguém desonrar o compromisso, o salário ganho com trabalho honrado. Muito menos justificar eventual fraco rendimento laboral, como o que recebia ao fim do mês por muito pouco que fosse. 

Por isso, muitos de nós, crianças e adolescentes da minha geração, vestiram camisas passajadas, calções remendados, quedes quase sem solas, sandálias “mil vezes” consertadas nos sapateiros de bairro. Os nossos pais, na maioria, não tinham carro, que era luxo ao alcance de poucos. Andavam a pé ou, quando muito, de maximbombo, com passe mensal.

Já escrevi mais do que uma vez, mas volto a fazê-lo, não tenho saudades desses tempos de dificuldades tantas, mas enoja-me ver diluir-se, cada vez mais, o sentido de honra, do compromisso, da vergonha. Gente capaz de tudo, até de vender corpo e alma, para levar uma vida a que não tem direito.

Todos conhecemos casos - são tantos que é difícil não dar por eles - de pessoas que, na corrida  desenfreada atrás do “deus dinheiro”, ocupa cargos para as quais não estão minimamente preparadas. Muitas deles conseguidos pelo túnel escorregadio e envenenado do nepotismo de várias vestimentas, mas outros, é bom sublinhar, por lhes ter sido reconhecidas potencialidades, que nem sempre conseguiram fazer crescer.  Mesmos estes, raramente tiveram a dignidade de apresentar a demissão. E foram-se arrastando nos lugares, incapazes de abdicar de hábitos e vícios que foram adquirindo. Pelo dinheiro, pela vaidade, deixaram-se vestir pela desonra.

Se este sentimento de honradez tivesse sido cultivado mais entre nós, em vez de ser quase consagrado ao desprezo, à risada dos seguidores de vida luxuosa a qualquer preço, que crescem como salalé em casa de adobe, talvez o nosso Governo dispusesse agora de mais espaço de manobra para “melhorar o que está bem, corrigir o que está mal”, a Procuradoria Geral da República não tivesse tanto trabalho em mãos, o presente - sobretudo o futuro imediato - da maioria dos angolanos fosse menos penoso, e a vigarice, ainda à solta, já não existisse. Pelo menos, em tão grande número.

Se muitos dos que ocuparam - e os que, eventualmente, ainda ocupam - cargos importantes que não dignificaram, se não se tivessem deixado levar pelo turbilhão da ganância e da luxúria para as quais, a maioria não estava preparada, se tivessem declinado cadeiras onde os sentaram ou demitido a tempo, talvez  as nossas cadeias não ficassem, a breve prazo, tão cheias e Angola não precisasse de começar, outra vez, a ser reconstruída.

Neste momento difícil, mais um, que Angola vive, é importante que se comece a cultivar sentimentos de honra, comprometimento, vergonha. Para que as novas gerações não se sintam constrangidas ao ouvir falar de nós, pelo contrário se orgulhem do legado recebido.

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