sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Juízes holandeses substituem-se ao poder político


A histeria do aquecimento global

Pierre Lévy [*]

No dia 9 de Outubro o tribunal de recursos de Haia emitiu uma sentença aterradora, espantosa e particularmente perigosa. Ele ordenou ao governo dos Países Baixos que reduzisse as emissões de gás com efeito estufa (GEE) ainda mais drasticamente do que inicialmente previsto.

Em França, este veredicto foi classificado como "histórico" pelo coro quase unanimemente entusiasta das forças políticas e dos media que se dizem "de referência". Ele é "histórico" efectivamente, não tanto pelas suas implicações climáticas mas sim pelas jurídicas e políticas.

Em primeiro lugar, ele é de facto sem precedentes: em princípio, os tribunais estão destinados a aplicar a lei (não a produzir jurisprudência). Neste caso, os juízes não aplicaram o direito nacional, eles o criaram. Pois não há nenhum texto jurídico que prescreva uma obrigação quantificada de redução dos GEE.

O Tribunal de Haia – que confirmava um julgamento de primeira instância de Junho de 2015 – atenuou a ausência de texto normativo pela acumulação de referências a uma profusão de tratados e acordos internacionais: convenção quadro da ONU, protocolo de Quioto, plano de acção de Bali, acordos de Copenhague, Cancu e Durban. E, para fazer peso, até a convenção europeia dos direitos do homem...

Os juízes holandeses têm portanto conhecimentos científicos particularmente aguçados, a ponto de decidir que as emissões de GEE deverão ser reduzidas em pelo menos 25% daqui até 2020 (base em 1990). E isto, a fim de "proteger a vida e a vida familiar dos cidadãos". A instituição judiciária reivindicou princípios e declarações gerais para ela própria fixar uma norma aplicável.

Em nome, por exemplo, desta mesma protecção da "vida familiar dos cidadãos", um juiz poderia assim aumentar o nível do salário mínimo se ele julgasse que o montante em vigor não fosse suficiente para lutar contra a pobreza – objectivo que figura em muitos tratados internacionais... ou então decidir ao contrário abolir o sistema de protecção social se, por obediência ultraliberal, ele considerar que este último é um prejuízo para o bem estar geral.

Portanto surge o segundo escândalo deste acontecimento: juízes que se substituem aos poderes legislativo e executivo a fim de tomar decisões eminentemente políticas. A sacrossanta separação dos poderes é assim espezinhada, sem que os habituais fanáticos do "Estado de direito" encontrem nada para dizer.

Isto pode exemplificar-se concretamente: se, amanhã, uma nova maioria parlamentar saída da urnas decidir não mais prosseguir no sentido de tais imposições climáticas (hipótese académica, infelizmente), o julgamento manter-se-ia em vigor. A decisão política é assim transferida ao poder judicial. Será preciso recordar que os juízes não são responsáveis perante os eleitores?

É de notar que cerca de 900 acções semelhantes estão a decorrer no mundo, das quais dois terços nos Estados Unidos. Isto ilustra a tendência bem conhecida, saída do mundo anglo-saxão, para uma judiciarização da vida colectiva. Cento e vinte processos comparáveis foram iniciados na União Europeia, dos quais 50 no Reino Unidos. Mas é exactamente o espírito da UE que está em causa: fazer a criação do direito por instâncias não eleitas e não politicamente responsáveis, como ilustra o exemplo do Tribunal de Justiça Europeu.

O fundo deste assunto

Terceiro aspecto, evidentemente não dos menores: o fundo deste assunto, no caso o aquecimento climático (e mais geralmente as "desregulamentações" ambientais), acusado de todos os males, um "cataclismo" planetário representando "o maior desafio da história da humanidade", segundo a fórmula empregue por 200 personalidades do mundo da cultura há algumas semanas. Não divagaremos aqui acerca da competência científica de artistas, cineastas e cantores (certamente notáveis nas suas próprias especialidades) que afirmam sem hesitar que "ao ritmo actual, em algumas décadas, não restará mais nada", nem, sobretudo, sobre a sua legitimidade política para apelar a "medidas potencialmente impopulares" (sem entretanto ousar precisar quais são).

Seria vão esperar compensar aqui em algumas frases os turbilhões de propagandas quotidianas que visam impor a ideia de que, na falta de medidas restritivas drásticas, o planeta corre a passos largos para as catástrofes mais espantosas já vistas. O último míssil até à data não é senão o enésimo relatório do Grupo de Peritos Intergovernamentais sobre o Clima (GIEC) descrevendo consequências ainda mais pesadas do que as anteriormente anunciada, mas indicando oportunamente que, finalmente, não é demasiado tarde para "agir". Recordemos que em 2009 a Conferência de Copenhaga (COP15) fora unanimemente avaliada como a "última oportunidade" antes de, finalmente, fracassar.

Ninguém põe em dúvida a competência dos peritos do GIEC mas este organismo, por natureza sob o controle dos Estados, exclui de facto as vozes discordantes.

Ora, desde que se fala de clima, e mais especificamente de ambiente, o que não faltam são peritos – o que falta são debates. Uma precisão útil neste contexto: um debate faz-se entre interlocutores que não partilham o mesmo ponto de vista... Idealmente, tais debates deveriam incluir todos os elementos do caso – e não somente os dos promotores. Pois o mínimo que se possa dizer é que, quanto ao culpado do "aquecimento", a instrução do processo é conduzida exclusivamente pela acusação. Que este possa igualmente ter consequências positivas é uma questão tabu.

Além disso, um elemento, entre muitos outros, merece ser mencionado: todos os modelos e planos de redução das emissões de GEE, mesmo considerados insuficientes pelos juízes holandeses, têm uma coisa em comum: eles baseiam-se na estagnação, ou melhor num fraco aumento do crescimento em países como os da UE, como tem sido o caso desde há anos – 2% a 2,5% no máximo, muitas vezes menos.

Se a aventura do crescimento fosse reiniciada com ritmos bem mais elevados, isso abalaria todas as reduções de emissões planificadas. Certamente, uma política económica austeritária inalterada é uma hipótese improvável. Mas aqueles que ainda querem combater em favor do progresso económico e social – alta do nível de vida, da protecção social e dos serviços públicos, reindustrialização – deveriam estar conscientes de que isso passa por um crescimento consideravelmente mais forte do que actualmente, o que implica evidentemente uma alta significativa do consumo de energia, inclusive fóssil. Nesta perspectiva progressista (para tornar a dar um sentido a esta palavra, que Emmanuel Macron tenta inverter), um crescimento "à chinesa" é uma condição certamente não suficiente, mas muito necessária para responder às necessidades sociais.

Mas a realidade é que o chamado sistema a que Karl Marx chamou capitalista chegou ao fim do seu papel histórico. Por longo tempo ele permitiu o desenvolvimento das forças produtivas, ao preço da exploração do homem pelo homem, para retomar as palavras do autor de O Capital. A exploração continua presente, mas verifica-se que a máquina, tendencialmente, tem sido cada vez menos capaz de produzir riquezas, nomeadamente porque esta é fagocitada pela proliferação das finanças.

Era portanto inevitável que um tal sistema em fim de curso segregasse uma ideologia que justificasse o crescimento fraco ou mesmo o decrescimento, e se trajasse com a vontade de impor aos povos a resignação mediante um vestuário pós-moderno, que certas forças "de esquerda", mesmo de "ultra-esquerda", envergam – senão com elegância, pelo menos com suficiência.

Para dizer tudo de uma vez, os actuais Torquemadas, vestidos de verde – ou adornados com uma toga da Batávia – não têm nada a invejar, em matéria de tolerância e cultura do debate, aos seus ancestrais da Santa Inquisição. 

11/Outubro/2018

[*] Jornalista, redactor-chefe do jornal mensal Ruptures, ex-redactor do diário L'Humanité (1996-2001), antigo sindicalista da CGT francesa.

O original encontra-se em ruptures-presse.fr/partages/jugement-pays-bas-rechauffement-climat-lahaye/ 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Brasil | O empreendedor Barão de Mauá (1813-1889)


“O melhor programa econômico e governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”  (Barão de Mauá) 


Nascido há 205 anos, no dia 28 de dezembro de 1813, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, o gaúcho Ireneu Evangelista de Sousa faz parte da galeria dos grandes nomes da história brasileira.

Filho de João Evangelista de Ávila e Sousa e de Maria de Jesus Batista de Carvalho, ele foi entregue, com oito anos de idade, após a morte de seu pai, aos cuidados de seu tio Manuel José de Carvalho que o levou para o interior de São Paulo onde o menino foi alfabetizado.

Ao completar nove anos de idade, ele passou a morar com outro tio – João Batista de Carvalho - que era comandante de embarcação da marinha mercante e transportava couro e charque do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro Na Capital imperial, Ireneu começou a trabalhar num estabelecimento comercial, como caixeiro do armazém, podendo se manter, pois morava e alimentava-se no local.

Após dois anos, o futuro Barão de Mauá passou a trabalhar na loja de tecidos do português Antônio José Pereira de Almeida. Desenvolto e inteligente, o jovem conquistou a confiança e a admiração do patrão que, após ter falido, indicou-o à empresa do escocês Ricardo Carruthers mantinha negócios importantes de importação e exportação com os ingleses. Ireneu, dedicado ao seu trabalho, logo prosperou, assumindo o cargo de gerente. Aos 23 anos de idade, falando de forma fluente a língua inglesa, assumiu a condição de sócio nos negócios.

No ano de 1839, quando o seu patrão retornou ao Reino Unido, deixou-o responsável pela gerência dos negócios no Brasil. Carruthers foi também o responsável pela introdução de Mauá na maçonaria.

 Quando eclodiu a Revolução Farroupilha (1835-1845), na Província gaúcha, sua mãe viúva e sua única irmã se mudam - a pedido do próprio Ireneu - para o Rio de Janeiro.  Naquele período, ele ajudou conterrâneos liberais a escapar das prisões na Capital do império.
  
Em 1841, ele se casou com sua sobrinha Maria Joaquina de Souza O casal teve dezoito filhos, dos quais apenas onze sobreviveram. Os óbitos eram atribuídos ao grau de parentesco existente entre o casal.
  
 Passados dois anos, em 1843, ele já era considerado um homem de posses, morando num solar na Rua do Catete. Modesto e de costumes simples, apenas empreendeu algumas viagens à Inglaterra, visando a seu aprimoramento acerca da indústria e do comércio. O contato com a mentalidade empresarial dos ingleses – líderes da Revolução industrial - foi determinante para a formação do pensamento empreendedor de Mauá.

A iniciativa de Ireneu Evangelista de Sousa em comprar, em Niterói (RJ), uma pequena fundição na Ponta da Areia, do britânico Charles Colman, deu início, em 11 de agosto de 1845, à indústria naval brasileira. Com esta iniciativa, Ireneu quadruplicou o seu patrimônio.

Em seu dinâmico empreendedorismo, ele fundou também a Companhia Fluminense de Transportes (1852), e criou a Companhia de Navegação a Vapor do rio Amazonas (1853), obtendo então o direito à navegação por 30 anos. A Amazônia teve pela primeira vez um transporte regular entre seus pontos mais distantes.

No ano de 1851, fundou a Companhia de Gás, que possibilitou a introdução da moderna iluminação pública na capital imperial, substituindo os antigos lampiões a óleo de peixe.

Considerado o seu grande legado, Ireneu Evangelista de Sousa foi o responsável pela construção da primeira estrada de ferro do Brasil. No dia 30 de abril de 1854, com a presença de dom Pedro II, ocorreu a sua inauguração, ligando o porto de Estrela, que se situava ao fundo da Baía da Guanabara e Raiz da Serra, em direção à cidade de Petrópolis. Nesta época, foi-lhe conferido o título de Barão de Mauá. Em homenagem à sua esposa, a locomotiva foi denominada de "Baroneza". Importada da Inglaterra, ela fazia um percurso de 14,5 km e tinha bitola de 1,68m.   

Ao final da década de 1850, Mauá fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, abrindo filiais em várias capitais brasileiras e de outros países, como Londres, Buenos Aires e Montevidéu; além, é claro, da cosmopolita New York. Ajudou também a fundar o segundo Banco do Brasil, pois o primeiro havia falido em 1829. Tudo no Brasil que remetesse a desenvolvimento e ao progresso, onde não houvesse exploração de mão de obra escrava, tinha a marca de Mauá.  Na realidade, ele era um “estranho no ninho” num país ruralista, escravocrata e latifundiário.

Homem liberal e abolicionista, Mauá forneceu recursos financeiros para a defesa de Montevidéu, quando o Brasil decidiu intervir em 1850 nas questões do Prata.  Este fato fez com que se tornasse “persona non grata” no Império. Suas fábricas passaram a sofrer sabotagens criminosas e os negócios foram prejudicados pela legislação que sobretaxava as importações de matéria prima para as suas indústrias.  No ano de 1857, o seu estaleiro foi criminosamente incendiado.

 Grande opositor do sistema escravocrata e do tráfico de escravos, ele compreendia que a partir de um comércio livre e com trabalhadores remunerados, o Brasil poderia alcançar um real progresso. Com o término do tráfico negreiro, a partir da Lei Eusébio de Queirós (1850), o capital até então utilizado no comércio de escravos passou a ser investido na industrialização. Dentro deste contexto, Mauá passou a se dividir entre as atividades de industrial e banqueiro, acumulando, no auge de seus 40 anos de idade, uma considerável  fortuna.

De acordo com Sérgio da Costa Franco em seu livro “Dicionário Político do Rio Grande do Sul (2011), Mauá foi eleito pra a Câmara dos Deputados, em quatro legislaturas sucessivas (1853-1866), representando o Rio Grande do Sul.  Após algum tempo,  ele deixou a política, para cuidar dos negócios, que se encontravam ameaçados desde a crise bancária de 1864.

A perseguição imposta pelos poderosos proprietários escravocratas, que não se alinhavam à modernidade capitalista, exercida por Mauá, contribuiu, sem dúvida, à sua derrocada financeira.

Em 1870, Mauá implantou o telegráfico submarino, ligando o Brasil com a Europa. Diante de tantas contribuições, ele recebeu em 1874 o título de Visconde de Mauá. 

No ano de 1875, com o encerramento do Banco Mauá, ele se obrigou a vender a maioria de suas empresas a estrangeiros. Apesar da sua valiosa contribuição no campo social, político e econômico, Mauá teve que enfrentar o espectro da falência. Causada propositalmente, a sua crise financeira poderia ter sido evitada com um empréstimo governamental, o qual lhe foi recusado. 

No ano de 1884, aos 70 anos de idade, após ter liquidado as dívidas com os seus credores, Mauá recebeu carta de reabilitação de comerciante, passando a exercer a atividade de corretor de mercadorias, especialmente na área da cafeicultura.

Bastante fragilizado, sofrendo com a diabetes, o Visconde de Mauá só descansou após pagar todas as suas dívidas, encerrando a sua existência com nobreza de caráter, embora os reveses sofridos. Em 1999, ele foi o tema central de um filme, sendo interpretado pelo ator Paulo Betti.

Há exatamente 129 anos, Mauá faleceu, aos 75 anos, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, no dia 21 de outubro de 1889. Sem dúvida é um nome que fulgura entre os brasileiros que lutaram e dignificaram essa Nação.

*Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Bibliografia
BELLOMO, Harry Rodrigues; ERTZOGUE, Marina Hainzereder; ARAÙJO, Thiago Nicolau de.  Dicionário Biográfico Sul-Rio-Grandense. Porto Alegre: EST, 2006.
BESOUCHET, Lídia (1978), Mauá e seu tempo, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
DI RUSSO, Berlane: Nome de Rua / Personagens e Lugares das Ruas de Porto Alegre. Porto Alegre: EST, 2000.
.FRANCO, Sérgio da Costa. Dicionário Político do Rio Grande do Sul /1821-1937. Porto Alegre: Suliani Letra & Vida, 2011.
LESSA, Luiz Carlos Barbosa. Calendário histórico Cultural do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Corag / IEL, 1985.

Imagens
1-  Retrato do Barão de Mauá
2-  Imagem da primeira locomotiva : A Baroneza (1854)
3-  Companhia de Gás (1851)

Brasil: silenciar é mentir


De um lado, um democrata de provas dadas; do outro, um antidemocrata de convicções assumidas. A escolha é simples e é clara.

Francisco Assis | Público | opinião

Com tantas e tão importantes coisas a ocorrerem na Europasinto-me impelido a escrever, uma vez mais, sobre o Brasil. Por estes dias, que correm tumultuosos e quase insanos, não é só o destino imediato do seu país que está nas mãos do povo brasileiro. É algo bem mais vasto. Nem sempre é fácil destrinçar a linha, por vezes muito ténue, que separa a civilização da barbárie. O próprio movimento civilizacional engendrou historicamente múltiplas formas de barbárie. Há, porém, ocasiões em que essa demarcação se pode estabelecer com absoluta nitidez. Quando assim é, tudo se torna simultaneamente mais simples e mais dramático. Conhecemos alguns episódios da história europeia, penosamente trágicos, em que facínoras de índole antidemocrática e antiliberal se guindaram ao poder por via do voto popular. Não ignoramos o que daí resultou. É por isso mesmo que, no próximo domingo, os brasileiros terão de fazer uma escolha de consequências verdadeiramente globais. O triunfo de um celerado, cultor da violência, apólogo do liberticídio, da supressão dos direitos humanos, da erradicação do pensamento divergente, repercutir-se-ia muito negativamente por toda a humanidade.

A democracia é o regime da palavra: da palavra dialógica, da palavra como expressão de um conceito, como argumento, como forma de persuasão. É por isso que os debates são tão importantes num regime democrático. A recusa em debater é ao mesmo tempo manifestação de medo e de arrogância. Quem foge aos debates furta-se a um dever elementar da disputa democrática e revela quão impreparado está para o desempenho de qualquer função pública. Não é por acaso que os ditadores fecham os parlamentos, eliminam a imprensa livre e perseguem as vozes discordantes. Ao recusar-se a participar em qualquer debate com o seu adversário, Bolsonaro exibe, de modo absolutamente transparente, a sua verdadeira índole: a de um homem que se recusa a respeitar as regras básicas de um regime democrático.

Nos últimos dias, o candidato de extrema-direita brasileiro não se limitou a fugir à discussão directa e frontal no espaço público, como era seu dever. Fez questão de recordar-nos quem é. Declarou, entre outras coisas, que “os marginais vermelhos serão banidos da pátria”, que “ou saem ou vão para a cadeia”, que Fernando Haddad “vai também, não para fazer uma visita [a Lula], mas para ficar alguns anos”, e que, uma vez que Haddad “gosta tanto dele”, remata, “vão apodrecer os dois na prisão”.

Não é possível ignorar estas afirmações nem fazer de conta que elas verdadeiramente não querem dizer o que dizem. É por demais evidente que a eleição de uma personagem desta natureza significa abrir uma porta para a instalação de um regime de permanente violência, a qual aliás já se tem vindo a manifestar um pouco por todo o país. Um medo difuso percorre a sociedade brasileira.

Perante isto, são incompreensíveis as reservas que algumas personalidades oriundas do espectro político da direita tradicionalmente liberal e democrática continuam a colocar à candidatura de Fernando Haddad. É desde logo inadmissível que se pretenda estabelecer qualquer paralelismo entre a governação do PT e tudo quanto se tem passado na Venezuela. O PT governou o Brasil durante 13 anos, na adesão integral às regras constitucionais, sem interferir na autonomia do poder judiciário, jamais pondo em causa a liberdade de imprensa e garantindo o respeito por todos os princípios constitutivos de um Estado de Direito democrático. Com o PT nunca ocorreu nada de remotamente parecido com o que infelizmente hoje se observa na Venezuela. Tão-pouco as administrações petistas levaram a cabo políticas de estatização económica, de perturbação do normal funcionamento do aparelho produtivo ou de confisco arbitrário da propriedade privada. Só por profunda desonestidade se pode dirigir ao Partido dos Trabalhadores uma crítica dessa ordem.

Também não colhe a tese de que o PT aumentou a conflitualidade política e social no país. Essa já existia há muito tempo, é fruto das inenarráveis desigualdades sociais e económicas, que aliás o PT combateu com algum sucesso. A violência que caracteriza a sociedade brasileira não é o resultado de uma governação que sempre visou promover o reforço da igualdade, da tolerância e da coesão, é antes o inevitável produto dos múltiplos processos de segregação que lamentavelmente continuam a prevalecer no país.

É relativamente ociosa a discussão sobre saber se Bolsonaro preenche ou não integralmente os requisitos necessários para poder ser etiquetado de fascista. São mesmo caricatos alguns exercícios de carácter quase escolástico que visam ilibá-lo desse tipo de suspeita. Para alguns autores, a designação de fascista só pode ser aplicada num contexto de tal pureza e rigidez doutrinária que provavelmente nem ao próprio Mussolini assentaria na perfeição. O fascismo seria assim uma espécie de abstracção teórica, insusceptível de concretização histórica. Deixemo-nos desses pruridos terminológicos pouco sérios. É óbvio que Bolsonaro, pelo que diz e representa, se enquadra na figura de um proto-fascista.

Seja como for, o que estará em causa no próximo domingo é uma disputa que não compreende nenhum tipo de ambiguidade: de um lado, um democrata de provas dadas; do outro, um antidemocrata de convicções assumidas. A escolha é simples e é clara, e perante ela não há meio-termo possível. Como dizia Miguel de Unamuno, “há momentos em que silenciar é mentir”.

*Eurodeputado do PS

Brasil | MPF abre investigação contra Paulo Guedes, guru de Bolsonaro


O guru econômico do candidato do PSL à Presidência da República é suspeito de cometer “crimes de gestão temerária ou fraudulenta”

O Ministério Público Federal abriu nesta quinta-feira (25) uma nova investigação contra Paulo Guedes, guru econômico de Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República.

De acordo com o jornal “O Globo”, o economista é suspeito de ter obtido “benefícios econômicos” a partir de possíveis “crimes de gestão temerária ou fraudulenta", que teriam sido cometidos em investimentos de fundos de pensão.

O Ministério Público quer saber se o guru de Bolsonaro aplicou valores captados dos fundos de pensão de maneira irregular, causando prejuízos milionários aos aposentados das estatais.

Guedes será intimado para prestar depoimento em Brasília no dia 6 de novembro. A operação já havia aberto uma investigação preliminar para apurar as suspeitas contra ele, no início deste mês de outubro, e acabou descobrindo uma outra possível fraude.
Outro lado

A defesa de Paulo Guedes nega irregularidades e fala em “perplexidade” com a instauração da investigação a “a 72 horas das eleições”.

Notícias ao Minuto

Foto: André Valentim | Divulgação

Angola procura fórmula ideal para baixar custos de internet


Operadora Angola Cables defende mais digitalização e eficiência para fazer baixar os custos para o consumidor. É preciso mudanças e mais investimento na educação para elevar a taxa de acesso às novas tecnologias.

A inclusão digital em Angola ainda é uma miragem, apesar da cotação que o país detém em África. Os preços de acesso à internet em Angola não são acessíveis. Atualmente, na rede móvel, o custo de 100 megabytes (MB) é de cerca de 1,60 dólares americanos (o equivalente a cerca de 0,016 dólares por megabyte). Confrontado pela DW África com estes dados, António Nunes, administrador da operadora de telecomunicações Angola Cables, reconhece que os tarifários ainda são caros, comparado com os preços praticados no mercado internacional.

"Hoje não. Mas eu perguntaria o que é que é hoje acessível? Um dos grandes dilemas que nós temos em África na sua generalidade é que o preço da internet continua muito alto. Não é uma questão só de Angola especificamente", afirma.

Ainda são preços proibitivos, admite, recordando que os africanos pagam duas vezes mais os serviços de acesso aos conteúdos através da Europa. "O facto de termos alguns países que ainda bloqueiam a entrada de players (operadores) no mercado faz com que o valor dos serviços seja mais alto", explica.

Baixar as tarifas aplicadas no mercado

E será possível baixar os custos no acesso a dados ou à informação digital? "Possível é sempre. Uma das ideias e uma das propostas de valor que estamos a realizar é, efetivamente, ao podermos trazer esta internet para África e ela ser algo que nós possamos entregar aos mercados africanos com maior eficiência. Passando a ser mais local, nós conseguimos reduzir o preço do custo da internet", responde António Nunes.

É por esta razão que a operadora angolana, há nove anos no mercado, está a investir em infraestruturas internacionais, com o objetivo de otimizar o valor do custo. "Por exemplo, desde que a Angola Cables entrou no mercado, os custos da transmissão internacional baixaram mais de 100%. Portanto, temos vindo a trazer valor para o mercado",destaca.

Por outro lado, ainda de acordo com o administrador da Angola Cables, quanto maior for o número de operadores mais eficiente será o processo de redução dos preços ao consumidor. "O que temos que fazer é conseguir por um lado arquivar o conteúdo em África – e esta é uma das razões pelas quais nós estamos a desenvolver data centers - e, por outro lado, como estamos a consumir este produto em África maioritariamente, pagarmos em África e não termos que transportar este mesmo conteúdo da Europa até aqui", explica Nunes.

"Só estes fatores diferenciadores fazem com que o preço do custo da internet desça significativamente. Portanto, isso traz valor para o mercado e traz uma diminuição brusca da utilização deste tipo de produto", explica. "Esta é uma das propostas de valor que nós queremos trazer para Angola", precisa.

Inclusão digital em marcha

Angola está a passar por uma crise profunda devido à dependência do petróleo, com efeitos no plano social. No entanto, reconhece que a inclusão digital no país é um desiderato entre as prioridades do Estado angolano, com o envolvimento de parceiros tecnológicos como a Angola Cables.

Além disso, António Nunes considera que, apostando na recuperação da economia, também é necessário investir mais na educação da população. "Um dos fatores fundamentais é ensinar a população", sublinha. "Sem dúvida nenhuma que a digitalização de todo este processo é uma forma de nós conseguirmos acelerar a inclusão desta população. Através dos sistemas de informação e da internet, podemos capacitar as populações de uma forma muito mais acelerada."

Foram já construídas várias infraestruturas de telecomunicações e o país já dispõe de mais de 15 mil quilómetros de fibra instalada, o que vai permitir o acesso à informação pela população de forma mais acelerada em comparação com o processo tradicional.

Angola como centro de conetividade de África

O gestor da multinacional angolana, formado na Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, foi um dos oradores, esta quarta-feira (24.10), no Portugal Digital Summit, num painel que apresentou projetos destinados a acelerar a inovação com tecnologias digitais avançadas. Nunes deu a conhecer operações e investimentos em curso de instalação de cabos de fibra ótica de alta velocidade, o que poderá transformar Angola no centro da conectividade entre África, o Ocidente e o Oriente.

"O facto de colocarmos Angola dentro da arena com estas infraestruturas, teremos que ter benefícios relativamente a isso, porque estamos dentro do processo. Até agora já investimos cerca de meio bilião de dólares em cabos submarinos. Por isso, nesta fase, é uma fase de recuperação do investimento feito. Mas estamos atentos àquilo que venha a ser a próxima evolução dentro deste tipo de infraestruturas", diz.

Com a ligação Sul-Sul, entre África e a América Latina, a Angola Cables passou a alimentar os data centers do continente africano através do Brasil ou da Europa. Alexandre Fonseca, presidente da Associação da Economia Digital de Portugal (ACEPI), sustenta que o desenvolvimento do digital terá impactos no crescimento da economia africana, em particular dos países lusófonos.

"Quanto melhor for a infraestrutura que liga África à América Latina e à Europa, mais rápido e melhor se fará o desenvolvimento destes países. E essa é uma das grandes oportunidades, até na perspetiva de acesso à informação, e pela importância da democracia", conclui.

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

Foto: Portugal Digital Summit apresentou projetos destinados a acelerar a inovação com tecnologias digitais avançadas

"CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" - QUIBALA NO CORAÇÃO!


…Quando apesar da independência, todos os patriotas têm mesmo assim tanta pedra que partir, acarretar e britar!...

...Dia 20 de Outubro de 2018 foi assim numa das capitais da pedra em Angola, mesmo ali em que uma fortaleza e quartel colonial está erigido sobre um ciclópico penedo ancestral:


QUIBALA NO CORAÇÃO, POR QUE PEDRA HÁ AINDA QUE PARTIR, ACARRETAR E BRITAR...

E TUDO AINDA POR CAUSA DA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL"!

Apontamento de um dia de Martinho Júnior

Quibala, 20 de Outubro de 2018.

EM SAUDAÇÃO À "OPERAÇÃO TRANSPARÊNCIA"...


VOLTO A LEMBRAR O CICLO DE ARTIGOS PUBLICADOS HÁ 5 ANOS, SOB O TÍTULO "AINDA O VALE DO CUANGO", QUE FOI ENTRETANTO TAMBÉM RELEMBRADO NUM DIA DE ÁFRICA!...

DIA 25 DE MAIO É DIA DE ÁFRICA

MUITOS SE INTERROGAM COMO UM CONTINENTE TÃO RICO SE TEM AFUNDADO NA MISÉRIA, EM TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS QUE PARECEM NÃO TER FIM.

POR ISSO É JUSTO LEMBRAR O CASO DE ANGOLA E COMO A CONTRA REVOLUÇÃO, AQUELA QUE FOI USADA CONTRA O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO, SE FOI EQUACIONANDO AO LONGO DOS TEMPOS.

OS RISCOS NO VALE DO CUANGO NÃO PARARAM DEPOIS DA “GUERRA DOS DIAMANTES DE SANGUE”, PELO QUE ANGOLA DEVE AVALIAR O QUE POR LÁ ACONTECE E COMO AQUELES QUE AO VALE SE REFEREM SE POSICIONAM FACE AOS FENÓMENOS!


O VALE DO CUANGO SOFRE HOJE OS IMPACTOS DA MIGRAÇÃO ILEGAL PROVENIENTE DA ÁREA ISLÂMICA DE ÁFRICA O QUE PODE ESCONDER INTERESSES QUE VÃO CONCORRER COM NOVAS AMEAÇAS QUE PODEM COLOCAR EM RISCO A PAZ.

AINDA O VALE DO CUANGO – I


1 – Quando elaborei a 4 de Janeiro de 2011 o artigo sobre o Vale do Cuango sabia que havia de voltar, mais ano menos ano, ao tema.

Se há de facto em Angola região onde a deliquescência sócio-política-administrativa tem sido crónica é precisamente naquela região imediatamente a sul da fronteira comum da RDC com Angola, em especial no triângulo que tem a norte o município de Luremo e a sul a linha definida entre Xá Muteba, a sudoeste e Capenda Camulemba, a sudeste.

Esse é de facto um autêntico “triângulo das Bermudas” em termos de insuficiências político-administrativo e onde maior expressão têm ganho rebeldes, traficantes e todo o tipo de ilegais que afluem às “minas de Salomão”.

Os fluxos migratórios de ilegais provenientes de países africanos islâmicos aumentaram sintomaticamente em direcção a Angola desde 2011, precisamente o ano em que o regime de Kadafi foi varrido pelos ocidentais e pelos seus aliados das “Primaveras árabes” e uma atmosfera neo colonial se desabou sobre África!

Os relacionamentos de Angola com países do espaço CEDEAO têm vindo a reflectir a conjuntura neo colonial daquela região: sendo um país africano que lutou pela sua independência e contra o “apartheid”, Angola teve dificuldades maiores na Costa do Marfim e na Guiné Bissau.

Com a crise instalada no Mali, mantendo-se as dificuldades de relacionamento de Angola com vários componentes do espaço CEDEAO, os fluxos migratórios ilegais aumentaram e uma parte substancial desses fluxos entraram em Angola directamente na região da bacia hidrográfica do Cuango, por motivos óbvios: a exploração dos diamantes aluviais num dos rios angolanos que mais os garante, como atractivo para os financiadores e os mentores dos migrantes e para os próprios migrantes.

De certo modo terá sido Savimbi, a seu tempo, o maior dos “beneficiados” da ausência de combate ao tráfico ilícito de diamantes na sequência da prisão dos oficiais que melhor evitaram a “abertura” dessa “oportunidade” até 1985.

Ele espreitou sua oportunidade e deu no que deu: uma guerra atroz a partir dos negócios com “diamantes de sangue”, que desarticularam a vida nacional entre os anos de 1992 e 2002, antes do cartel intervir com o processo Kimberley e do seu desaparecimento físico!
Será que agora se poderá repetir o fenómeno com outros protagonismos, mas correspondendo a incentivos que indiciam a mesma matriz de sempre, tendo em conta a inclinação neo colonial dos países CEDEAO e a influência da evolução da situação deles, o que inclui a massiva migração em curso?

2 – A partir de 2011 desencadearam-se perturbações em cadeia pelo Magreb, tendo o Mali como fulcro da desestabilização.

A CEDEAO alinhou por inteiro com a “FrançAfrique” e deu oportunidade à Operação Serval ainda em curso.

No ataque de retaliação de organizações terroristas a In Amenas na Argélia, a organização islâmica radical que o levou a cabo a partir do território líbio, foi comandada por “o zarolho” Mokhtar Belmoktar, argelino de nacionalidade, que ao mesmo tempo era um dos grandes “senhores” do Sahel, “Mr Marlboro” (por traficar cigarros)…

…Entre os tráficos do contrabandista Mokhtar Belmoktar constava o da droga e o de diamantes…

O Mali possui, ao que se faz constar, 30 kimberlites, todavia os diamantes que Mokhtar Belmoktar traficava seriam originários do Mali, ou seriam um resultado da migração dos malianos para a RDC e Angola, quando se sabe que uma parte dessa migração foi “encaminhada” para o garimpo artesanal e ilegal?...

“O zarolho” terá morrido durante um ataque de forças tchadianas no norte do Mali, nas montanhas de Adrar des Ifhogas, entre Kidal, a sul e Tessalit, a norte, a 2 de Março de 2013; será que com ele acabou o tráfico de cigarros, drogas e diamantes por todo o Sahel?

3 – Por conseguinte é oportuno lembrar o que então afirmei em relação a esse vazio político-administrativo no Vale do Cuango:

…“O cartel de diamantes, o intrincado lobby dos minerais e os poderes ligados às elites e à hegemonia, tiveram sempre o vale do Cuango como uma referência obrigatória, como se ali se espraiassem as minas de Salomão e não é por acaso, que depois de tantos jogos africanos instrumentalizados pelas manipulações das potências ocidentais e em particular dos Estados Unidos, surjam num cínico corolário experts como Theresa Whelan, (Subscretária da Defesa para África durante a última fase da Administração de George Bush) que chegam à conclusão de que afinal em África existem zonas onde os poderes centrais têm pouca capacidade de intervenção político-administrativa, num vazio que é por vezes aproveitado para, ao mesmo tempo que se promove a deliquescência dos vulneráveis estados africanos, se incentivarem rebeldes, etno nacionalismos, tribalismos… e as explorações mais desenfreadas e vis dos mais diversos minerais, sobretudo diamantes aluviais e coltan.

As estratégias Norte Americanas em África, dirigidas para as regiões de insuficiente cobertura política-administrativa, fazem hoje parte dos conceitos absorvidos pelo AFRICOM e isso é um inquestionável sinal que nos obriga a reflectir sobre esse tipo de fronteiras e sobre a natureza de estados como o Uganda e o Ruanda, dominados por elites de feição subordinadas a esses interesses extra continentais dispostos à manipulação histórica, à opressão, ao desequilíbrio, às estratégias de tensão a que se habituaram e até às guerras de rapina.

Os regimes do Uganda (Yoweri Museveni) e do Ruanda (Paul Kagame) têm sido identificados como servis aos propósitos dos Estados Unidos e do AFRICOM, enquanto plataformas de acção em direcção leste (Somália) e oeste (particularmente a RDC, mas também com influência na situação transfronteiriça em Angola)”…

(…)

…Milhões de aventureiros de todas as origens, mas acima de tudo provenientes de África enquanto continente marginalizado, desprotegido e miserável, concorrem para chegar a Angola e às minas de Salomão como as do Cuango.

É necessário que os estados implicados na Região e muito particularmente Angola e a RDC, promovam conhecimentos e iniciativas comuns em relação a essa jóia emblemática que constitui o vale do Cuango, tributário como o Cassai do 2º pulmão do planeta, a extensa bacia do Congo, o Amazonas de África.

Em África o Congo tornar-se-á ainda mais importante e decisivo do que é ao longo deste século, pois os desertos quentes imensos que cobrem uma parte colossal do continente estão em fase de aumentar a sua superfície”…

4 – A região está a fugir ao controlo do estado no que diz respeito ao tráfico de diamantes e migração ilegal, essencialmente no vale do Cuango, com maiores incidências num triângulo que tem a norte Luremo, a sudoeste Xá Muteba e a Sudeste Capenda Camulemba.

Nessa região as povoações “surgem como cogumelos”: algumas delas desaparecem de repente, mas outras prosperam e engrossam; entre as povoações consideradas “bem sucedidas” estão: Muxinda, Kaissesse, Samba e Xamutelengue… povoações que são tão recentes que não aparecem nos mapas, mas constituem rota dos políticos da oposição…

Os políticos da oposição e seus “aderentes”, ao que se fez constar das campanhas pré-eleitorais, parecem apenas despertos para as questões que directamente às comunidades angolanas, que vivem em relativa pobreza, mas na sua passagem nada fizeram constar da migração ilegal, da exploração e dos negócios ilegais de diamantes e da massiva presença islâmica ao ponto de em algumas localidades estarem presentes as leis a charia.

É evidente que isso não é por acaso: quanto mais foram postas em causa as leis angolanas, mais desestabilização e a desestabilização tem sido quase sempre o húmus desta oposição, conforme à cartilha do seu principal mestre, Savimbi!

A implantação dos garimpeiros estará a ser estimulada por interesses emparceirados entre nacionais e estrangeiros, operando particularmente nos ricos vales aluviais do Cuango e do Cassai (com seus afluentes), admitindo-se que esse esforço se tenha estendido até ao vale do Cuanza (planalto do Bié).

O grosso das redes indicia aproveitar-se de vários factores favoráveis de implantação, desde a permeabilidade das fronteiras terrestres com a RDC, até às relativas facilidades em função de manipulação e/ou corrupção de autoridades locais nos locais e áreas de exploração e negócio, passando também, em relação aos executivos mentores das redes, por facilidades migratórias obtidas em Luanda.

A região, ao que muitos indicam, terá já milhões de pessoas e os estrangeiros, em especial os de origem de países islamizados africanos, são a maioria!

Uma parte dos diamantes que foge ao controlo de Angola (e do processo Kimberley), está a sair pela fronteira terrestre com a RDC em direcção a Kinshasa e outra parte sai por Luanda; a que sai por Luanda, em função dos parceiros nacionais das redes, escapa-se de forma clandestina pelo aeroporto de Luanda, utilizando muitas vezes as vantagens do trânsito nas salas VIP…

A recordar:

Fotografia:
 As quedas Tazua no Cuango internacional; antes as quedas eram conhecidas por quedas Guilherme; a foto é de 1974.

A consultar:
- Technical review of Diamond concessions on the Cuango river, northern Angola – www.infomine.com/index/pr/Pa145202.PDF 
- UNITA’s diamond mining and exporting capacity – http://www.issafrica.org/pubs/books/Angola/14Dietrich.pdf 
- Un government au service des enterprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des 
- Le Canard Enchaîné l’a révélé hier : Le Qatar finance les terroristes d'Aqmi et du Mujao – http://www.cridem.org/C_Info.php?article=630368 
- Al Qaeda in the Islamic Maghreb: Who’s Who? Who is Behind the Terrorists? – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
- Mokhtar Belmoktar le gangster djihadiste spécialiste de la prise d’otages – http://www.20minutes.fr/monde/algerie/1081861-algerie-mokhtar-belmoktar-gangster-djihadiste-specialiste-prise-dotages 
- Algerian Militant Mokhtar Belmokhtar, ‘Mr. Marlboro,’ Jihadist or Thug? – http://www.theworld.org/2013/01/algeria-mokhtar-belmokhtar/ 
- Islamist militant Mokhtar Belmokhtar 'killed in Mali' – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-21645769
- UNITA quer transformar Cafunfu em novo bastião – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/29105
- Visita de Isaías Samakuva nas Lundas, terra rica e uma população pobre - Por Manuela dos Prazeres – http://protectoradodalunda.blogspot.com/2011/03/visita-de-isaias-samakuva-nas-lundas.html

Angola | Uma comunidade à prova de guerra psicológica!


Martinho Júnior | Luanda 

Apesar de em Angola se terem feito sentir décadas de guerra psicológica movida por aqueles que duma forma ou de outra alinharam na voracidade do capitalismo mercenário e neoliberal, ao sabor do poder financeiro transnacional e das capacidades de sua subversão…

Apesar do módulo de por vezes tão precária sobrevivência que têm comprovado com sua própria trajectória muitos patriotas que como autênticos “mambizes” (para recordar como exemplo um antecedente histórico ocorrido nos alvores da independência de Cuba no século XIX), deram corpo, vida e alma, sob juramento, a uma parte substancial da Comunidade da Segurança do Estado em Angola…

Apesar de muitos se esvaírem em vida e deixarem como herança o imenso que há a fazer em termos de Reintegração Social, luta contra a pobeza e luta contra o subdesenvolvimento, com suas viúvas e órfãos…


A “ASPAR”, Acção Social Para Apoio e Reinserção, enquanto patriótica trincheira de luta, dá provas de sustentabilidade pela vida, pelo amor e pelo respeito à identidade que merece incondicionalmente todo o povo angolano!

Esta semana foi enviada a quem de direito a 10ª remessa de expedientes, composta por 321 processos, a fim de ser exequível a passagem à reforma de oficiais patenteados atingidos pelas obstruções que em parte caracterizaram essa guerra psicológica!

Desse modo fazem-se constar um total de 5.348 processos de camaradas e companheiros de luta que aguardam pela definição de suas reformas e pensões, a juntarem-se a mais de 14.000 não patenteados pelas Forças Armadas, que compõem os 3 graus funcionais dos oficiais operativos antigos membros dos Serviços e actuais membros da ASPAR, componentes da Comunidade da Segurança do Estado!


Por outro lado, na decidida forja da Caixa de Previdência que irá socorrer a emérita Comunidade, várias Assembleias Provinciais de esclarecimento da ASPAR estão em curso, como as aqui ilustradas: Caxito, capital do Bengo (a 29 de Setembro de 2018) e Quibala (Cuanza Sul, 20 de Outubro de 2018).

A 24 de Outubro de 2018, será realizada na Sede Nacional da ASPAR em Luanda, ao Zango III, uma Assembleia de esclarecimento similar para interagir com os membros da Comunidade residentes em Luanda!

Deixo aqui expresso um sinal de profundo respeito e gratidão para com o camarada Presidente João Lourenço, Comandante-em-Chefe das FAA e seu Executivo sob a chefia do camarada General Fernando Garcia Miala, por ter tornado possível a sonho dos patriotas poderem alimentar com capacidade de unidade, coesão e integração, ainda que articulando, uma pátria para todos a começar nas culturas introduzidas em suas próprias trincheiras de luta, conformando que O MAIS IMPORTANTE É RESOLVER OS PROBLEMAS DO POVO!

Martinho Júnior - Luanda, 21 de Outubro de 2018

Angola | Construir ou reconstruir


Sousa Jamba | Jornal de Angola | opinião

Um dos meus livros favoritos é intitulado a “Tirania das Palavras.” Publicado em 1936 pela Stuart Chase, o cerne do argumento desta obra é que às vezes ficamos tão encurralados nas palavras que perdemos a noção da realidade.

Angola está a reconstruir ou a ser construída? Quando se dá muito ênfase no termo “reconstrução” passamos cada vez mais a gastar tempo com o retrovisor da história, imaginando um passado, e facilmente caímos numa mitologia. Nova Lisboa, o Huambo do tempo colonial, foi uma grande cidade com várias salas de cinema, com salões de concertos em que figuravam artistas internacionais etc. Porém , nós os negros, não fazíamos parte de todo o esplendor desta localidade. Nós vivíamos nos bairros do Bom Pastor, Cacilhas, Bomba Alta, etc, em casas de adobe, usando água da cacimba, fogareiros a carvão e candeeiros a petróleo. O que devemos é construir um futuro em que todos os Angolanos possam viver com uma certa dignidade. 

Há jovens no Huambo hoje que não fazem a mínima noção do tempo colonial ou mesmo da guerra. Esses jovens querem e devem criar: o Estado deve criar um clima em que a sua criatividade possa brilhar. Mas eles devem ser norteados por valores baseados numa ética profunda. 

A guerra teve um efeito profundamente negativo no nosso país. Angolanos como nós da diáspora têm que ter aquela capacidade de empatia para podermos apreciar a grande tragédia que ocorreu por cá. Felizmente, já estamos a lidar com jovens, como já disse, que não conheceram a guerra – isto é, de alguma forma, uma mais valia; estes jovens não vão estar a reconstruir um passado que não viveram; a estes jovens deve é ser dada a oportunidade para criar e construir. 

Recentemente, estive na vila das Boas Águas, perto do Huambo. Esta localidade, que está ao longo do caminho de ferro, tinha a fama no tempo colonial de produzir muitas maçãs. Quando cheguei lá havia apenas uma loja, cheia de vinho português. Os habitantes da vila viviam em casas pequenas que tinham sido construídas numa iniciativa que, no papel, fazia muito sentido, mas na prática estava a provar ser um grande desastre. As casas, aparentemente, iriam resolver o problema da habitação social, etc. Pessoas que viviam em aldeias (encontrei até parentes meus) vieram para essas pequenas casas. Algumas dessas casas já tinham adições de adobe que iriam servir como currais para animais ou mesmo quartos adicionais para membros da família. Porque razão é que não se pensou em ter equipas técnicas que pudessem projectar casas usando materiais locais mas que elevassem a qualidade de vida dos cidadãos? 

Estive recentemente no Huambo a conhecer a periferia da cidade com um jovem arquitecto. Ele foi formado no Huambo. Ele disse-me que no passado tinha tido uma proposta para projectar uma loja numa aldeia que iria usar materiais locais. Infelizmente, o projecto nunca chegou a ser realizado. Há, em Angola, muito talento que deve ser explorado avidamente. Nos bairros da periferia no Huambo há muitas jóias arquitectónicas – casas que dão gosto de ver. Fala-se muito da arquitectura colonial no Huambo que é muito arrojada, o que é verdade. Isto surgiu em parte porque os jovens arquitectos vindos da metrópole sentiam uma certa liberdade em inventar. Porquê é que os nossos jovens não podem continuar a inventar? Porque razão um edifício no Huambo do pós guerra – a Biblioteca Municipal – é produto de um arquitecto português? 

Há, no Huambo, um edifício na Sanjuca – casa feita na forma de foguetões amarelos – que suscita muita emoção; muitas pessoas não podem com aquela criação. Eu discordo. Não sei quem foi o arquitecto por trás da obra – porém, noto alguém com paixão, é uma visão vibrante. Paramos diante daquele edifício e conseguimos dialogar com uma outra Angola; devemos mesmo dialogar com várias outras Angolas. É isto que dará ao país uma qualidade singular e de valor. 

Nas minhas andanças pelo Planalto, visitei três mercados municipais – do Bailundo, Kachiungo e Chinguar. No Bailundo, os produtos estavam a ser vendidos em condições que deveriam preocupar todos: carne coberta de moscas a ser vendida perto de poços em que várias coisas estavam a apodrecer; crianças cobertas de lama ou poeira a brincar por todo o lado. Claro que em todos mercados que visitei não havia nenhuma medida para garantir o mínimo de higiene. As casas de banho eram rudimentares e não havia nem água ou sabão. Depois de uma epidemia, suspeito, haverá pânico. Interroguei-me porque razão, por exemplo, é que a administração local não promovia um concurso em que vários jovens arquitectos pudessem projectar mercados municipais dignos e sustentáveis usando material local? 

Se superarmos a noção de que estamos a construir e não reconstruir então vamos ser forçados a ter um diálogo sério sobre a planificação das cidades, vilas, e mesmo das aldeias. Estou a escrever isto cá no Chiumbo, perto de Manico, aldeia fundada pelos meus avôs – Njamba e Manico. Ali há formas de cultivar que não mudaram por séculos. Outro dia vi famílias com enxadas a trabalhar o solo – tarefa que podia ser facilitada se houvesse pequenos tractores a mão usados na Índia e China, e que devem custar o mesmo preço que um gerador. Cá está uma grande oportunidade de um empresário montar uma fábrica para providenciar pequenas máquinas que seriam acessíveis a muita gente. Aqui ainda não é preciso aqueles projectos agrícolas gigantescos, apoiados com milhões do Estado, mas que resultam em muita sucata e dívidas gigantescas.

Investigações em Angola: "Todos os caminhos levam a José Eduardo dos Santos"


Exonerações e detenções para combater a corrupção dominam o debate em Angola. Mas para o jurista Rui Verde, havendo investigações, "no final da história" estará sempre o ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

As exonerações e detenções de altas figuras ligadas ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos dominam o debate em Angola. Um artigo publicado esta terça-feira (23.10) pelo portal Maka Angola, intitulado "O caminho de Angola para a justiça: processando os culpados e recuperando os bilhões roubados", diz que inúmeras investigações foram levadas a cabo para levar à justiça pessoas acusadas de beneficiarem ilicitamente durante os anos de Governo de José Eduardo dos Santos.

Alguns nomes de peso, como o antigo vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, aparecem em diversas denúncias. A DW África entrevistou o jurista e colaborador do Maka Angola Rui Verde, para saber como figuras do alto escalão angolano terão beneficiado de operações ilícitas e como poderão ser afetados pela "caça às bruxas" e combate à corrupção do atual Presidente de Angola, João Lourenço. 

DW África: De que forma o antigo vice-presidente angolano Manuel Vicente, o general Manuel Hélder Vieira Dias, conhecido como "Kopelipa", e o tenente-general Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino" terão beneficiado de forma ilícita do Banco Espírito Santo Angola (BESA)?

Rui Verde: A resposta parece simples: ficaram com o banco para eles próprios, aparentemente sem terem pago "um tostão". O que vem descrito é uma série de operações que estas pessoas fizeram com facilidade por estarem ligadas ao poder angolano. Tomaram conta desse banco [BESA], transformando-o no atual Banco Económico. O método concreto foi uma assembleia geral, que reduziu o capital oficial do banco a zero, e em que eles depois disseram que entrariam com capital oficial, e terão entrado com esse capital, um ano depois, mas fruto de um empréstimo dado pelo próprio banco. Ou seja, foi o próprio banco que, supostamente falido, deu-lhes o dinheiro para entrarem com capital oficial para o banco, uma situação a confirmar-se fraudulenta. 

DW África: Especificamente em relação ao antigo vice-presidente Manuel Vicente, dada a relação de proximidade ao atual Presidente, João Lourenço, o que acha que poderá acontecer?

RV: O engenheiro Manuel Vicente é uma daquelas pessoas cujo nome sai em vários assuntos apenas para poder ser sempre ignorado. Ele pode ter sido protegido neste caso da "Operação Fizz", que ocorreu em Portugal, envolvendo a suposta corrupção de um procurador do Ministério Público português. Mas eu não acredito que possa ser protegido em relação a todos os assuntos em que aparece. Obviamente, pelo menos tem de ser investigado, podendo até ser inocente. Mas, de facto, o engenheiro Manuel Vicente é referido em quase todas as grandes fraudes que acontecem em Angola - desde o dinheiro da China a este caso do banco BESA.

DW África: Acha que os dois generais Leopoldino do Nascimento "Dino" e Hélder Vieira Dias "Kopelipa", detentores das maiores fortunas do país, poderão escapar da onda anti-corrupção, que inclui exonerações e detenções em Angola?

RV: Em relação à onda de exonerações, já foram exonerados. De eventuais detenções, não sabemos, pois isso depende da instalação, ou não, de um processo crime pelo Ministério Público. Mas esse caso, como se sabe, também tem repercussões com Portugal: está ligado à falência do Banco Espírito Santo (BES). Portanto, era um caso em que a cooperação entre Portugal e Angola deveria começar a funcionar de modo sério. Os ministérios públicos angolano e o português deveriam, de uma vez por todas, investigar essa situação do banco BESA, que está ligada obviamente à situação do BES, em Portugal. Seria um exemplo magnífico para se perceber que a corrupção está a ser combatida ao mesmo tempo em Angola e Portugal.

DW África: E por que motivo acha que as investigações não terão sido reabertas pelos portugueses?

RV: As autoridades portuguesas têm sido muito tímidas em enfrentar os problemas de fraudes financeiras angolanas, exatamente porque o Estado português, para a sua sobrevivência, dependia do dinheiro que vinha de Angola. Ou seja, não iriam atacar aqueles que estavam a por dinheiro em Portugal, essa é a realidade. Agora, a situação terá mudado em Angola e talvez seja altura de Portugal "dar uma ajuda" neste combate à corrupção generalizado. A queda dos bancos irmãos, BES e BESA, afetou Portugal e Angola, assim como os contribuintes dos dois países. Portanto, justifica-se uma intervenção conjunta. 

DW África: Segundo o Maka Angola, "com a ajuda e bênção do então Presidente José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente, o general 'Kopelipa' e o general 'Dino' criaram uma complexa rede de empresas no espaço de poucos anos". Acredita em investigações, e eventual punição, se comprovada a culpa, também do ex-Presidente José Eduardo dos Santos?

RV: Acho que, no final, como se dizia antigamente, todos os caminhos vão dar a Roma. Nesse caso de Angola, todos os caminhos vão dar a José Eduardo dos Santos. Todos os casos aconteceram de baixo da vigilância dele e, em algumas situações, com ordens diretas dele, como o caso de uma transferência de 500 milhões de dólares para Inglaterra, uma outra situação que também está a ser investigada agora. Mas no final da história estará sempre o ex-presidente José Eduado dos Santos, que tem responsabilidades políticas e, em alguns casos, eventualmente criminais, porque deu ordens ou permitiu, por omissão, que os fatos acontecessem. 

Tainã Mansani | Deutsche Welle

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