terça-feira, 27 de novembro de 2018

EXCELENTES EM TODOS OS NÍVEIS, AS RELAÇÕES ANGOLA-CUBA

Intervenção do Comandante Fidel na ONU, a propósito da ajuda internacionalista cubana a Angola, em 1975 – https://www.youtube.com/watch?v=DxgX8V9VssY

Martinho Júnior, Luanda 

1- Na tarde do dia 15 de Novembro de 2018, comemorou-se o 43º aniversário da cooperação diplomática Angola-Cuba, desta feita com a realização dum Colóquio no Instituto Superior de Relações Internacionais Venâncio de Moura (ISRI).

Do Programa destacaram-se as intervenções do Embaixador Alfredo Dombe, Director Geral do ISRI (palavras de boas vindas), o discurso de abertura do Secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas, Domingos Custódio Vieira Lopes, a primeira comunicação do Dr. Fernando Jaime e a segunda do General Francisco Pereira Furtado, para se encerrar com o discurso da Embaixadora de Cuba em Angola, Ester Glória Armentero Cardena.

Ficou evidenciado a proficuidade dos relacionamentos bilaterais consolidados por enlaces de história comum de vários séculos (recorde-se que a heroica escrava Carlota, cujo nome sublinhou a Operação que veio em socorro do MPLA face à agressão na disputa pela independência de Angola a 11 de Novembro de 1975, era originária de Angola).

Percebeu-se a partir do conjunto das intervenções, quanto os processos de luta de libertação na América Latina e Caraíbas e os processos de luta de libertação em África, têm tanto em comum desde suas raízes e tão influentes foram e são nos relacionamentos sul-sul no âmbito dum Não-Alinhamento activo (que em África se distendeu de Argel ao Cabo da Boa Esperança), cujo argumento transcende o que por conveniência dos poderosos da Terra, tem sido considerado no estrito âmbito da Guerra Fria.

A prova está aí: 43 anos depois de 1975, os relacionamentos Angola-Cuba são excelentes e exemplares na guerra como na paz, próprios de sensibilidades irmãs cuja saga se foi intensificando e se impôs nos momentos mais decisivos vividos por Angola na sua afirmação de independência, de soberania e de internacionalismo, sobretudo no espaço crítico da África Austral.

O empenho e a contribuição de Cuba, em sectores vitais como a educação e a saúde, é um factor que tem sido exponencial na contemporânea luta contra o subdesenvolvimento em Angola, algo que é necessário intensificar e ampliar!


2- Os intervenientes passaram em revista a luta contra o colonialismo e contra o “apartheid” numa completa identidade de interpretações, sendo de realçar a intervenção do General Francisco Pereira Furtado, que com toda a propriedade abordou os meandros da Batalha do Cuito Cuanavale que abarcou toda a Frente Sul, desde os aspectos de preparação, de logística, ou de manutenção de linhas, até ao êxito da paragem da ofensiva inimiga no Cuito Cuanavale (a sudeste), à contra-ofensiva na direcção de Calueque (a sudoeste), que foi decisiva para fazer sentar a África do Sul à mesa das conversações, preâmbulo da independência da Namíbia e do próprio fim do “apartheid”.

Com toda a propriedade que lhe assiste como um cabo-de-guerra que esteve por dentro do teatro de operações angolano, o General Francisco Pereira Furtado desfez o “equívoco” de algumas interpretações em relação à Batalha do Cuito Cuanavale.

Todo o seu argumento está precisamente de acordo com as posições críticas que o General Paulo Lara e eu próprio temos assumido, repondo-se finalmente a verdade que faltava por deliberada miopia que só favorecia a interpretação dos falcões do “apartheid” e a “leitura transversal” dos cristãos-democratas do “Le Cercle”, ainda na esteira das conjugações derivadas do Exercício ALCORA, muito depois da independência de Angola.

A partir de agora reduz-se o espaço interpretativo das inteligências que, em função do argumento do “apartheid”, pretendem cobrir não só a sua derrocada, como a vitalidade das capacidades elitistas que se lhe sobreviveram e movem ainda em nossos dias, intimamente associadas aos interesses sincronizados do cartel dos diamantes e do “lobby dos minerais”, sustentáculo dos Democratas nos Estados Unidos!

Nesse sentido, percebe-se quer a conjugação de interesses na fronteira comum Angola-Namíbia-Zâmbia-Zimbabwe-Botswana, determinantes nos projectos do KAZA-TFCA (https://www.kavangozambezi.org/en/), quer a progressão em direcção ao norte das explorações de diamantes que da África do Sul se instalaram no Botswana, com os olhos no degrau seguinte, o próprio Cuando Cubango (Angola).

A área de Parques Nacionais Transfronteiriços do Botswama é logicamente a maior do KAZA-TFCA…

Uma das áreas de prospecção mais importantes da De Beers em Angola, coincidiu com o campo de operações da asa sudeste da Batalha do Cuito Cuanavale (entre Cuito Cuanavale e Mavinga).


3- Num momento em que os médicos cubanos do Programa Mais Médicos se retiram do Brasil em função da arrogância intempestiva e fascista do eleito Presidente Jair Bolsonaro, em Angola crescem as espectativas no sentido de fortalecer ainda mais as relações bilaterais na avenida da irmandade Angola-Cuba.

Se Cuba mantém uma relação exemplar para com África, os países africanos que se libertaram do colonialismo português por via da Luta Armada de Libertação Nacional, sendo maioria na CPLP, deveriam honrar o passado e a sua história, levando Cuba para a CPLP, ultrapassando os atavismos falaciosos da língua, que em África jamais foi obstáculo algum na guerra como na paz!

Martinho Júnior - Luanda, 17 de Novembro de 2018


Ilustrações:
Símbolo do ISRI (cujas instalações definitivas serão inauguradas no próximo ano);
Intervenção do General Francisco Pereira Furtado;
Intervenção da Embaixadora de Cuba em Angola, Ester Glória Armentero Cardena.

Trump rejeita relatório sobre aquecimento global


Presidente dos EUA diz que não acredita em conclusões de documento elaborado por 13 agências federais. Relatório confirma mudança climática e prevê consequências drásticas, do meio ambiente à economia e saúde.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rejeitou nesta segunda-feira (26/11) as conclusões de um relatório do governo americano, que alerta para os graves impactos do aquecimento global na economia e saúde pública dos EUA.

"Eu vi, li um pouco e está tudo bem. Eu não acredito", afirmou Trump a jornalistas na Casa Branca. O presidente destacou ainda que não acredita nas previsões de impactos devastadores apontados no relatório divulgado na sexta-feira passada.

"Nunca estivemos mais limpos do que somos agora, e isso é muito importante para mim, mas se estamos limpos e todos os outros lugares estão sujos, não é tão bom", afirmou Trump.

O documento, encomendado pelo Congresso americano, inclui pareceres de 13 agências federais e foi escrito por 300 cientistas. O relatório estima que o país pode perder "muitas centenas de milhares de milhões de dólares" até ao final do século devido às mudanças climáticas. O relatório adverte que o aquecimento global trará caos ao meio ambiente, economia e saúde pública nos EUA.

O relatório aponta como o aquecimento global, resultante da queima de combustíveis fósseis está prejudicando os EUA, e como se manifesta nos diferentes setores da economia, incluindo a energia e a agricultura.

Ele detalha como as temperaturas ascendentes vão ameaçar os campos agrícolas mais baixos, elevar a probabilidade de inundações e incêndios florestais, entravar a produção de energia e aumentar a incidência de doenças tropicais no país. Ainda assim, ação governamental imediata poderia abrandar os impactos mais extremos.

O documento destaca ainda que as mudanças climáticas causarão perdas enormes à infraestrutura e propriedades, além de impedir o crescimento econômico. Com base em numerosos estudos, os autores do relatório asseguraram que 90% do atual aquecimento global é causado pela ação humana.

O relatório contradiz as opiniões de Trump, que tem repetidamente negado a mudança climática como sendo um trote dos chineses. Em 2017 ele retirou os EUA do Acordo do Clima de Paris, um esforço internacional conjunto para combater a elevação das temperaturas globais.

CN/lusa/rtr/afp | Deutsche Welle

A Marinha Ucraniana viola o espaço marítimo russo


Marinha Ucraniana violou deliberadamente o espaço marítimo russo na Crimeia em 25 de novembro de 2018.

Considerando a entrada das vedetas blindadas de artilharia Berdyansk e Nikopol e do rebocador Yani-Kapou nas suas águas territoriais como um acto hostil, a Rússia capturou-os. O Conselho de Segurança e Defesa da Ucrânia propôs ao Presidente Petro Poroshenko a introdução da lei marcial “durante 60 dias”. O Conselho de Segurança da ONU deve-se reunir urgentemente a pedido de ambas as partes.

A Ucrânia não reconhece a anexação da Crimeia à Federação da Russia após o referendo de autodeterminação em 2014. Por conseguinte, considera que o território terrestre e marítimo da Crimeia é seu. Desde a abertura da ponte russa entre os dois lados do Estreito de Kerch, a Marinha Ucraniana está a militarizar o Mar de Azov, transferindo para lá o que resta da Marinha nacional.

A Rússia não reconhece o golpe de Estado efectuado em Kiev com a ajuda dos Estados Unidos, a favor dos grupos nazis. Considerando que os golpistas tomaram várias medidas contra a minoria russa na Ucrânia, inclusive a remoção do estatuto da língua russa, a Federação da Rússia aceitou o referendo da autodeterminação da Crimeia e acolheu-a no seu seio. No entanto, não se pronunciou sobre o estatuto da região separatista de Donbass, que também pediu a sua adesão à Federação e onde prosseguem combates.

Entrando em conflito com o bloqueio levado a cabo pela Ucrânia, à península da Crimeia, Moscovo construiu uma ponte entre as duas margens do Estreito de Kerch. Em face da militarização ucraniana do Mar de Azov, o FSB instituiu um procedimento de busca dos navios mercantes, tanto ucranianos como russos, ao entrar e ao sair do canal Kerch-Enikal. Essas buscas, geralmente de 3 horas, por vezes duraram até 36 horas, provocando desordens nos portos ucranianos de Berdyansk e Mariupol e nos portos russos.

Em 21 de Novembro, a Rússia emitiu um comunicado contra a militarização do Mar de Azov [1].

Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos

O movimento dos Coletes Amarelos estende-se pela França, Bélgica e na Bulgária


O movimento de «Coletes Amarelos», que começou, em 17 de Novembro de 2018, na França metropolitana, estende-se para os Departamentos ultramarinos, para a Bélgica e para a Bulgária.

Segundo o Ministério francês do Interior, o pico de manifestantes teria sido atingido no dia 18 de Novembro, às 17h, com 287. 710 pessoas. Não existe nenhuma outra contagem disponível tornando este número inverificável. Além disso, não dá ideia da mobilização já que os manifestantes organizam piquetes de guarda.

Sendo o movimento pacífico, surtos de violência estalaram de maneira esporádica sem que se possa distinguir se provêm de manifestantes ou de provocadores. Eles são amplamente noticiados pelos principais média (mídia-br), os quais tentam assim desacreditar este movimento.

Num Departamento francês do Oceano Índico, a ilha da Reunião, o toque de recolher foi decretado em 14 das 34 comunas.

O movimento não tem organização e propaga-se via Internet. Ele mobiliza principalmente as classes médias, primeiro nas zonas rurais, e agora igualmente nas cidades. Ele insurge-se contra uma pressão fiscal excessiva.

Na Assembleia Nacional, a 21 de Novembro, o antigo candidato à eleição presidencial de 2017, Jean Lassalle, violou deliberadamente as regras usando um colete amarelo durante as sessões de perguntas ao Governo. O Presidente da Assembleia, Richard Ferrand, anunciou que lhe serão aplicadas sanções.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

A guerra dos metais raros

A face oculta da transição energética e da digitalização

José Ferrer [*]

O livro La guerre des métaux rares: La face cachée de la transition énergétique et numérique [1] , de Guillaume Pitron, jornalista francês colaborador de Le Monde Diplomatique, é de leitura fácil e revela uma grande contradição dos nossos dias:

a) Proclama-se, com o aval de numerosos Chefes de Estado e de Governo que, por causa do chamado aquecimento global, temos de abandonar rapidamente os combustíveis fósseis, substituindo-os por tecnologias energéticas verdes, também ditas renováveis ou limpas.

Estas hão-de ser crescentemente conseguidas e bem aproveitadas com o aprofundamento da digitalização nos mais variados campos da economia, mas isto só se consegue actualmente com o indispensável concurso dos chamados metais raros. "A cada aplicação verde o seu metal raro" (p. 36).

b) A contradição reside em que os metais raros são relativamente escassos na crosta terrestre, dando-se a triste circunstância adicional de a sua extracção e refinação serem processos duplamente problemáticos do ponto de vista energético e ambiental.

A inferência é inevitável e G. Pitron não se inibe de a expor: a mutação tecnológica que se pretende impor não resolve a questão ambiental em causa. Esta passa sobretudo pela alteração dos locais de ocorrência da poluição.

Compreender-se-á assim o apelo que o autor insere no epílogo do livro: paremos para pensar, uma vez que a revolução industrial, técnica e social que é preciso realizar há-de passar pela revolução das consciências.

Ou seja, digamos que, para o autor, o ambientalismo ainda não se livrou do seu estádio infantil, já que proclama objectivos, vias e políticas nem sempre coerentes entre si e, portanto, não sustentáveis a vários títulos.

É interessante notar que esta tese fundamental do livro é formulada por um autor que 

i) Aparentemente, aceitou (e parece continuar a aceitar a maioria de) os mandamentos da cartilha ambientalista,
ii) Em particular, não mostra qualquer dúvida acerca da teoria do alegado aquecimento global gerado pela emissão antropogénica dos gases com efeito de estufa,
iii) Parece acreditar em que a questão ambiental irá ter solução no quadro do capitalismo (chega a usar a expressão"capitalisme vert", (p. 17),
iv) A sua França há-de recuperar posições perdidas no cotejo internacional, incluindo na segurança militar.

Assim se perceberá porque sequer tem uma palavra de questionamento sobre a legitimidade de se impor a países economicamente atrasados caminhos diferentes dos seguidos pelos países desenvolvidos, como manda a Agenda Ambiental dominante, vide o Acordo de Paris, de 2015. 

G. Pitron foi construindo a sua tese a partir do que se foi apercebendo acerca das limitações na disponibilidade de metais raros [2] e, em particular, dos metais chamados terras raras (sobretudo lantanídeos).

A exemplo de milhões de pessoas, Pitron não terá estudado a ciência química senão a nível muito elementar [3] . Em particular, jamais terá tido, antes de trabalhar para este livro, a possibilidade de se aproximar da série de problemas que a extracção mineira e as metalurgias colocam do ponto de vista de economia da produção industrial, da poluição [4] e da demanda energética [5] .

Tópicos que, manifestamente, lhe criaram um certo espanto à medida que foi viajando pelo mundo, visitando minas e outras instalações industriais, tendo pesquisado durante "seis anos" sobre o assunto "em doze países" (p. 23). Assim foi descobrindo que, diversamente do que teria antes pensado, aquelas agudas questões são descuradas no discurso ambientalista bem como por parte de dirigentes políticos os mais variados, incluindo da sua aparentemente venerada União Europeia.

Não se pense que G. Pitron se tornou num engenheiro, mas seria injusto não enfatizar o esforço que empreendeu, em relato que pode ser muito útil a quem também tenha a curiosidade sobre muitas das especificidades técnicas e económicas em causa na obtenção, refinação e aplicação dos metais, e suas reciclagens.

O autor não enjeita a utilidade dos metais há muito usados – ferro, ouro, prata, cobre, chumbo, alumínio – mas, justamente, chama a atenção para as "fabulosas propriedades magnéticas e químicas" (p.15) dos metais raros, crescentemente usados desde a década de 70 do século passado. Procura que tenderá ainda a crescer, a verificar-se a intensificação das suas aplicações.

As torres eólicas, os painéis solares, as novas baterias eléctricas, os telemóveis, os computadores (cada vez mais usados em crescentes aplicações), etc, dependem da utilização de metais raros. A lista das afectações é enorme:"Robótica, inteligência artificial, hospital digital, segurança cibernética, biotecnologias médicas, objectos conectados, nanoelectrónica, viaturas sem condutor..." (p. 26). Ou seja, o "mundo novo" de que se tem falado afunda-nos numa"nova dependência, ainda mais forte" do que a de energias fósseis (p.26).

Há razões para lhes chamar raros: enquanto tem sido fácil encontrar minérios de ferro com teores metálicos da ordem de 60% (ou seja, 1,67kg de minério contém 1kg de ferro), o autor sublinha, por exemplo, serem precisas "oito toneladas e meia (cerca de 8500kg) de minério para produzir um quilograma de vanádio ... e mil e duzentas toneladas (cerca de 1 200 000 kg) por um infeliz quilograma dum metal ainda mais raro, o lutécio (terra rara)" (p.16).

O autor debruça-se sobre o balanço ecológico de vários sectores (painéis solares, veículos eléctricos, redes eléctricas "inteligentes"), sobre as tremendas dificuldades ainda existentes na reciclagem de metais raros, para concluir que as tecnologias verdes, em geral, não são mais vantajosas do que as tradicionais em termos ambientais e energéticos. Até o são menos em certos aspectos (pp. 57-85), embora nesse balanço inclua a emissão de dióxido de carbono, como se este não fosse o gás da vida.

Mas G. Pitron não se interessa apenas por esse tipo de questões. Pelo contrário, não esconde o seu grande incómodo quando observa o papel ímpar que cabe à República Popular da China (que recorrentemente trata por "Império do Meio") na questão dos metais raros, em particular quanto às terras raras. Cinco capítulos do livro são, em especial, dedicados a esta problemática, incluindo uma particular atenção à questão dos mísseis inteligentes, área em que "o Ocidente" se encontra vulnerável.

Observação que contrasta com a perspectiva que terá antes partilhado de que a adopção das energias renováveis e da digitalização permitiria reforçar a "soberania energética" dos Estados membros da União Europeia ao tornar esta"menos dependente dos hidrocarbonetos russos, qatares e sauditas" (p.20).

Pitron enfatiza o facto de a China estar a tirar crescente partido de dispor da maior parte das reservas e de vir subindo na cadeia de valor da utilização das terras raras. Para a mesma potência, os ímanes de terras raras são muito mais pequenos que os ímanes de ferrite, lembra (p. 144).

Alarma-o facto, confronta-o com os correlativos erros estratégicos que tanto a França como os EUA cometeram quando permitiram o encerramento de unidades industriais do sector, em alerta que lhe parecerá importante para apelar a um repensar da guerra pelos metais raros que se desenha no mundo.

O autor enfatiza as questões económica e industrial, a ecológica, mas também a de segurança militar e geopolítica com este afunilamento que as chamadas novas tecnologias verdes encerram com a dependência da China.

Os "... equipamentos mais sofisticados dos exércitos ocidentais (robôs, armas cibernéticas, aviões de combate, como o caça americano... F35)" também dependem , "em parte, da boa vontade da China". Daí a previsão de "uma guerra entre os EUA e a China no mar da China meridional" (p.25).

Aqui chegado, o autor, sem se afastar da confusão corrente entre ambiente e clima, distancia-se não obstante do ambientalismo no que respeita a esta produção material. Lembra que em França se passou já do lamentável "NIMBY" [6] ao incrível "BANANA" [7] , propondo, por isso, a abertura de minas e a produção em França e no Ocidente.

Nesta linha, embora em nota de rodapé (p. 23), o autor comenta que o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas não contém uma única vez as palavras "metais", "minérios" e "matérias-primas". Eloquente, sem dúvida.

A obra de G. Pitron, como já se terá entendido, não esgota todas as questões fulcrais dos problemas, e das suas diversas facetas, que se colocam – em particular, quanto à energia. Não esquecer que já se esgotaram muitas reservas dos combustíveis fósseis (a UE não se esquece disso, embora passe o tempo a falar do dióxido de carbono). Entretanto, o livro ilustra muitos dos problemas que o ambientalismo em voga desconhece ou minimiza. 

[1] Guillaume Pitron, La guerre des métaux rares: La face cachée de la transition energétique et numérique , Éditions Les Liens Qui Libèrent, 2018, 295 p., ISBN 9791020905741.
[2] Além das terras raras, como metais raros o autor cita os metais pesados (ou de densidade muito superior à densidade da água): vanádio, germânio, grupo da platina – ruténio, ródio, paládio, ósmio, irídio e platina –, tungsténio, antimónio, rénio e, como metal leve, o berílio (p.16). Inclui erradamente também o espato-flúor, que é um mineral de flúor, um não metal, importante para a separação de isótopos de urânio.
[3] Ver nota de rodapé anterior.
[4] Inerente, por exemplo, à utilização de reagentes ácidos indispensáveis em certos processos metalúrgicos, mas venenosos para os humanos e muitas outras formas de vida.
[5] Não se pense que estas actividades se têm mantido indiferentes à inovação tecnológica, pelo contrário. A natureza das ligações químicas, por exemplo, impõe limites inultrapassáveis no consumo energético. Isso se verifica quando destruímos certas ligações químicas a fim de isolarmos um dado metal presente na natureza sob a forma de um composto químico.
[6] NIMBY: Not In My BackYard.
[7] BANANA: Build Absolutely Nothing Anywhere Near Anything.

Ver também: 
  pt.wikipedia.org/wiki/Terra-rara 

[*] Engenheiro químico. 

Esta resenha encontra-se em http://resistir.info/ 

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