sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ataque de longa distância a campo de petróleo saudita põe fim à guerra contra o Iémene


Hoje (17.08) afinal a Arábia Saudita foi derrotada na guerra contra o Iémene. Não teve defesas contra as novas armas que os Houthis no Iémene adquiriram. Essas armas ameaçam as linhas de sobrevivência económica dos sauditas. Esse foi hoje o ataque decisivo:

Drones disparados pelos rebeldes Houthis do Iémene atacaram no sábado um campo gigante de petróleo e gás, em área profunda no vasto território desértico da Arábia Saudita, causando o que o reino descreveu como “incêndio limitado” no segundo ataque recente desse tipo contra a sua crucial indústria de energia. 

A nota emitida pelos sauditas apareceu por vídeo, horas depois da declaração de Yahia Sarie, porta-voz militar dos Houthis, na qual os Houthis informam que os rebeldes lançaram 10 drones armados com bombas contra o campo, na sua “maior operação de todos os tempos”. E ameaçam que novos ataques virão.

Referendo Timor-Leste | Díli, 30 de agosto de 1999


O dia começou cedo. Eram umas quatro da manhã quando saímos da casa da família timorense onde estávamos alojados - eu, que estava em Timor peloDiário Digital, jornal online que tinha então pouco mais de um mês de vida, e o Albano Matos, veterano repórter do Diário de Notícias, falecido em 2015, uma asa protetora para esta recém jornalista, então com 23 anos. É do Albano a primeira memória que tenho desta viagem. Estávamos no aeroporto e, pela primeira vez, caiu-me a ficha: "Vou para Timor, vou mesmo para Timor". Deve ter-se notado. "Estás com medo?", perguntou o Albano. Sorri-lhe, sem responder. Respondeu ele: "Não faz mal".

Susete Francisco | Diário de Notícias | opinião

Na noite que antecedeu o referendo tinham-se ouvido tiros pela cidade o o que estava para vir nas horas seguintes era uma verdadeira incógnita. Os sinais dos últimos dias não eram bons - no domingo anterior (a votação foi numa terça-feira) um membro de uma milícia pró integração tinha sido morto em Becora, um bairro fortemente independentista da capital, e sucediam-se os rumores de possíveis/prováveis/iminentes retaliações das milícias pró Indonésia.

Quando chegámos às primeiras mesas de voto, ainda as urnas estavam longe de abrir e já havia centenas e centenas de pessoas nas filas para votar. A apreensão dos últimos dias dera lugar a uma impressionante calma. É a imagem mais presente que tenho daquele dia: pessoas a sorrir. Como se as preocupações de ontem estivessem adormecidas e as de amanhã ainda não encontrassem espaço para existir. Elas estavam lá - muitos timorenses tinham descido das montanhas, onde se tinham refugiado, e voltariam para lá depois de votar, com receio das milícias - mas aquele não era o momento para isso. Os timorenses tinham esperado 24 anos por aquele dia, 24 anos sangrentos. Entre os mais velhos, não faltava quem dissesse que agora já podia morrer em paz. E isto era dito em português, esse poderosíssimo laço emocional que é falar a mesma língua.

Em Becora, onde dois dias antes a tensão era quase palpável, o bairro parecia outro, as pessoas pareciam outras, estava toda a gente - toda a gente - nas filas para votar. A meio da tarde, havia mesas onde já não havia ninguém. Já todos tinham votado. Os resultados - esmagadoramente pró independência - viriam a mostrar que votaram 98% dos eleitores inscritos.

Apesar de alguns incidentes esporádicos, aquela foi uma terça-feira relativamente pacífica em Díli. Se ao início do dia os membros da UNAMET, a força das Nações Unidas designada para assegurar o referendo, desconfiavam de tanta calmaria, no final, com as urnas encerradas, também a equipa internacional era, toda ela, sorrisos.

Vinte anos passados sobre aquele 30 de agosto há pormenores que já não retenho do turbilhão daqueles dias, mas há imagens que não se apagam. Nessa noite, a família que nos alojava foi buscar uma "relíquia" que guardava há muitos anos, se a memória não me trai, julgo que enterrada: uma bandeira portuguesa. O que foi impressionante não foi tanto a bandeira, foi a solenidade com que a trouxeram e mostraram, impecavelmente dobrada, sem uma ruga. Depois, voltou a ser escondida. O referendo estava feito, as preocupações do amanhã já tinham espaço para voltar, eram muitas, e como se veio desgraçadamente a demonstrar menos de uma semana depois, tinham toda a razão de ser.

Referendo Timor-Leste - 20 anos | Celebrações evocam símbolos da libertação


António Sampaio, da Agência Lusa

Díli, 30 ago 2019 -- Música que marcou momentos da luta de Timor-Leste pela independência, incluindo o tema 'Timor', cantado por Luis Represas, com focos de telemóveis a simbolizarem velas, marcou hoje as cerimónias oficiais dos 20 anos do referendo de 1999.

A cor musical e das danças tradicionais foi a tónica lúdica numa cerimónia onde se homenagearam os muitos que lutaram para Timor-Leste ser independente e onde se ouviu uma curta mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Na sua mensagem, o português, à data primeiro-ministro, mostrou-se orgulhoso do seu papel e recordou que "Timor inspirou o mundo" e mostrou a importância do multilateralismo.

As cerimónias decorreram no recinto de Tasi Tolu -- cujo nome lhe é dado pelas três lagoas salgadas da zona -- e que tem acolhido alguns dos momentos mais marcantes das últimas décadas.

Foi ali que muitos dos líderes que hoje ainda continuam ativos, ainda que em cargos diferentes, testemunharam, a 20 de maio de 2002, e perante líderes do mundo interior, a subida da bandeira que marcou a restauração da independência de Timor-Leste.

Timor-Leste | PR recorda luta pela independência e pede esforço conjunto pelo futuro


Díli, 30 ago 2019 -- O Presidente da República timorense recordou hoje os principais momentos da luta pela independência de Timor-Leste, afirmando que continua a ser necessário um esforço conjunto para construir e consolidar o Estado.

"Ainda há um longo caminho a percorrer na construção e desenvolvimento da nossa democracia e do nosso Estado para garantirmos que o nosso povo expresse e desenvolva a nossa cultura e vontade política, e que continue a afirmar a nossa identidade nacional", afirmou hoje Francisco Guterres Lu-Olo

"Estas aspirações serão materializadas se conseguirmos garantir a participação democrática dos cidadãos e alcançar resultados económicos e sociais que beneficiem e tragam progresso para todos", afirmou.

Lu-Olo, que falava nas cerimónias oficiais dos 20 anos do referendo, disse que é necessário mais esforço em áreas múltiplas, desde as forças de segurança à justiça, da descentralização e reforma administrativa.

E em que são necessários "entendimentos e consensos" para responder aos desafios atuais, desde o aumento das receitas não-petrolíferas ao fortalecimento da economia, o combate à má-nutrição e a igualdade de género.

Um longo discurso proferido para uma extensa plateia, incluindo os principais líderes do país, o presidente da Assembleia da República portuguesas, chefes do Governo e ministros de vários países, incluindo Portugal, Austrália, Vanuatu, Indonésia e Cabo Verde, entre outros.

Três fundamentalismos modelam o Médio Oriente


Não basta a um Estado ter uma bandeira flutuando em Nova Iorque em frente ao palácio de vidro das Nações Unidas. É preciso haver terra livre onde o povo que nela habite seja senhor de todas as capacidades.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Três fundamentalismos político-religiosos continuam a modelar um novo Médio Oriente, perante a complacência do mundo, a inércia da ONU e a cumplicidade activa da União Europeia. A partir do eixo Washington-Telavive-Riade, os fundamentalismos cristão anglo-saxónico, sionista e islâmico tratam de eliminar os obstáculos à sua afirmação plena na região, seja na Síria, no Iraque, na Palestina. Percebendo-se assim por que o Irão está debaixo de fogo.

Em plena campanha eleitoral, o primeiro-ministro de Israel dispara em todas as direcções: investidas aéreas contra a Síria e o Iraque, chegando a atingir objectivos a mil quilómetros de distância, incursões de drones no Líbano, bombardeamentos contra Gaza.

Entretanto, os Emirados Árabes Unidos compram equipamentos de espionagem a um homem de negócios israelita e colonos sionistas são vistos em Jerusalém, junto ao Muro das Lamentações, agitando com emoção bandeiras da Arábia Saudita. A convergência regional entre os fundamentalismos sionista e islâmico instaura uma nova relação de forças no Médio Oriente em que as principais vítimas são os palestinianos e os seus direitos nacionais.

Portugal | Viva a “geringonça”, abaixo a “geringonça”

PS ainda mais à direita. Pega ou não pega?
Esta reta final está a mostrar que o PS vê a “geringonça” como uma camisa de forças da qual se quer ver livre.

Pedro Filipe Soares* | Público | opinião

A solução política que se alcançou em 2015 conseguiu um inequívoco reconhecimento popular. Os resultados das políticas seguidas transformaram o insulto “geringonça” numa palavra acarinhada pelo país. Os medos ou receios não se tornaram realidade, ficando apenas para assombrar os partidos de direita. Quatro anos depois, as pessoas fazem um balanço positivo.

O que pareceria uma benção para o Partido Socialista, está a transformar-se numa maldição para as ambições de António Costa. É certo que os últimos quatro anos serviram para fazer esquecer a governação de Sócrates e permitiram um lifting na imagem que o país tem do PS. O problema para o primeiro-ministro é que as pessoas reconhecem neste processo os méritos dos acordos feitos com os partidos de Esquerda e sabem como seria diferente se o PS tivesse governado sozinho. E esse é o grande obstáculo aos desejos de maioria absoluta que estão na mente dos dirigentes socialistas.

Carlos César foi mais explícito quando pediu uma “maioria clara” para evitar “exigências excessivas” de eventuais parceiros. Esta formulação é um inequívoco ataque ao espírito que levou à assinatura dos acordos em 2015. Neste grito pela autossuficiência do PS está implícita a morte de quaisquer diálogos, concluindo que acordos são já parte do passado, agora o tempo é de outras modas.

Portugal | É «moderno» aceitar a pobreza?


A ideologia dominante vai encontrando formas de perpetuar a exploração através do discurso. E é sobretudo aos jovens que tenta vender como «modernas» as «velhas» condições de precariedade a que muitos estão sujeitos.

A precariedade laboral tem consequências directas sobre aqueles que a sofrem. Nos últimos anos, pudemos ver como os meios de comunicação dominante normalizaram e tentaram classificar como «modernas» ou «ecológicas» – e até «anti-sistema» e «anti-consumismo» – as condições em que os trabalhadores com vínculos precários vivem.

O que se pretende é justificar, com uma suposta «modernidade», os retrocessos a que temos assistido, o generalizar da precariedade e os baixos salários. De acordo com essa «lógica», não seria este modelo económico nem os grandes grupos que o dominam os responsáveis pelas precárias condições de trabalho dos jovens. Estas novas gerações não teriam as mesmas necessidades, seriam «flexíveis», «aventureiras», «ambientalistas» e não fariam questão de adquirir casa própria ou um carro. Não seria este mundo do trabalho o obstáculo à emancipação dos jovens e a que estes construíssem a sua própria vida, mas seriam eles a não estar para aí virados.

O AbrilAbril aborda brevemente algumas das «tendências» apresentadas em diversos órgãos de comunicação para normalizar a pobreza e a precariedade.

Portugal | Jerónimo responsabiliza Governo PS pela ausência de respostas estruturais


O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje que é necessário dar reposta a diversos problemas estruturais do país e reconheceu que é neste domínio que há grandes diferenças entre o PCP e o Governo do Partido Socialista.

"Desde o primeiro contacto que estabelecemos com o Partido Socialista defendemos que era preciso dar resposta aos problemas estruturais, do défice agroalimentar, défice demográfico, défice energético, da necessidade de investimento em serviços públicos essenciais, a pensar também nas regiões do interior", disse.

"Faltam respostas estruturais. E aqui começa a colisão e a diferença entre nós [PCP] e o Partido Socialista e os seus objetivos", acrescentou Jerónimo de Sousa, responsabilizando o Partido Socialista por não se ter ido mais longe na atual legislatura, tendo em vista a melhoria das condições de vida dos portugueses.

A política em tempos de cólera -- Boaventura


Em crise civilizatória aguda, velhas estratégias e táticas não servem. Surgiram dois horizontes. Num, é preciso proteger a democracia. Noutro, acolher novos projetos de política, afeto, produção e consumo, que emergem em especial entre os jovens


Apesar de haver máquinas de secar roupa, a maioria das pessoas do mundo (quase sempre mulheres) secam a roupa em varais de metal, de corda de cânhamo ou de madeira. Ramos de árvore também podem servir de varal. A técnica de estender a roupa varia de país para país, mas há certas regras de observância geral. Assim, a roupa tem de ser bem estendida para garantir a maior exposição ao sol e ao vento, o peso da roupa tem de ser calibrado com a resistência do varal, no caso de a roupa poder cair com alguma turbulência é conveniente segurá-la com um prendedor ou algo semelhante. Estender a roupa no varal é um trabalho minucioso que obriga a ter bem presente a roupa e o varal para a operação ter sucesso. Mas quem se habituou a estender a roupa no varal sabe que, ao mesmo tempo que se olha com atenção para o que está na frente dos olhos, é preciso ter presente a época do ano, a meteorologia, a incidência do sol, a força e a direção do vento, a poluição atmosférica e até a segurança do varal, se há a possibilidade de ladrões roubarem a roupa.

Todos os democratas do mundo, sobretudo os que têm o coração duplamente do lado esquerdo (físico e político), os que se sentem insultados com o enriquecimento exorbitante de uns e o empobrecimento injusto de outros, os que ficam revoltados com o crescimento desordenado do armamentismo e todas as outras faces da guerra, sejam elas os embargos, as sanções econômicas, o tráfico de drogas, de humanos e de órgãos, o assassinato de líderes sociais e políticos, o feminicídio, os que ficam assustados com o possível colapso ecológico, dado o ritmo do aquecimento global, do desmatamento das florestas, da contaminação das águas e da cegueira dos políticos a este respeito, os que ficam alarmados com o recrudescimento da extrema direita e das ideologias reacionárias, nacionalistas, hiperconservadoras, enfim todos os que não estão dispostos a desistir de lutar por uma sociedade mais justa, mais decente e mais digna, todos eles deviam aprender com as mulheres do mundo e a sua arte de estender a roupa nos varais.

Suspensão do Parlamento gera protestos no Reino Unido


Classificada de antidemocrática, medida adotada a pedido de Boris Johnson leva milhares de britânicos às ruas do país. Petição contra a manobra reúne mais de 1 milhão de assinaturas. Opositores veem tentativa de golpe.

A decisão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de forçarsuspensão das atividades do Parlamento britânico nesta quarta-feira (28/08), gerou revolta no meio político e protestos em diversas cidades do Reino Unido.

A medida, que deverá valer por cinco semanas a partir de 10 de setembro, é vista como uma tentativa de bloquear os esforços dos parlamentares contrários ao Brexit.

Milhares de pessoas saíram às ruas para condenar a atitude de Johnson, considerada por muitos uma ameaça à democracia no país. Manifestações ocorreram em Londres, Edimburgo, Cardiff, Manchester, Bristol, Cambridge e Durham. A maior delas foi realizada em frente à sede do Parlamento, na capital britânica.

Conte quer "recuperar tempo perdido" na Itália


Primeiro-ministro italiano é reconduzido ao cargo após acordo entre populistas e centro-esquerda. Em discurso, ele acena para União Europeia e promete governo de mudanças. Novo gabinete será anunciado nos próximos dias.

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, que renunciou ao cargo na semana passada, recebeu nesta quinta-feira (29/08) a incumbência de formar um novo governo, um dia após a confirmação de uma nova coligação entre o populista e eurocético Movimento Cinco Estrelas (M5S) e o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.

As duas legendas, que viveram uma rivalidade ferrenha durante anos, vão agora governar juntas após o fracasso da coligação entre o M5S e a ultradireitista Liga, de Matteo Salvini. Bem avaliado nas pesquisas, Salvini anunciou o fim da coligação na tentativa de convocar novas eleições. A jogada política, no entanto, fracassou.

EUA são advertidos pela China para evitarem 'incidentes inesperados' em região disputada


Um porta-voz do Exército Popular de Libertação (PLA) advertiu que as "provocações" dos EUA no mar do Sul da China poderiam resultar em "incidentes inesperados".

destróier norte-americano de mísseis guiados USS Wayne E. Meyer, de classe Arleigh Burke, passou a 22 quilómetros dos recifes Fiery Cross e Mischief, as duas maiores ilhas que a China construiu como postos avançados no arquipélago Spratly, território disputado por diversos países do sudeste asiático.

Uma porta-voz da 7ª Frota dos EUA informou que foi uma das chamadas operações de liberdade de navegação em resposta às "reivindicações excessivas" de Pequim no mar do Sul da China.

"Advertimos a parte norte-americana a parar imediatamente esse tipo de ações provocativas para evitar que haja incidentes inesperados", comentou o coronel Li Huamin.
Segundo o jornal South China Morning Post, o coronel acusou os EUA de ignorar as leis internacionais e afirmou que foram tomadas "todas as medidas necessárias para defender com determinação a soberania e a segurança nacional e preservar firmemente a paz e a estabilidade no mar do Sul da China".

China rejeita acordo com EUA para eliminar mísseis nucleares por ser "injusto"


Pequim, 29 ago 2019 (Lusa) - Pequim rejeitou hoje a proposta norte-americana de negociar um tratado trilateral para a eliminação de mísseis nucleares de médio e curto alcance, que incluiria ainda a Rússia, considerando que não é "justo ou razoável".

Washington decidiu este mês não renovar o Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance com a Rússia, que existia desde 1987, e convidou a China a integrar "uma nova era de controlo da corrida às armas", com a negociação de um acordo entre as três nações.

"A participação da China em negociações trilaterais não é justo nem razoável. Os EUA são o país com o maior arsenal nuclear, devem aceitar a sua responsabilidade no controlo do armamento e criar condições para que outros países participem do desarmamento, em vez de se retirarem dos tratados", afirmou o porta-voz do ministério chinês da Defesa, Ren Guoqiang.

Ren lembrou que "logo após os EUA se retirarem do tratado, começaram a testar mísseis, o que prova que as ações não correspondem às palavras.

Polícia de Hong Kong confirma detenção de líderes partidários por reunião ilegal


Hong Kong, China, 30 ago 2019 (Lusa) - A polícia de Hong Kong confirmou hoje a detenção de Joshua Wong e Agnes Chow, dois líderes pró-democracia do território, noticiou o jornal South China Morning Post.

De acordo com o jornal de Hong Kong, que cita fonte policial, os dois ativistas foram acusados de "reunião ilegal" e detidos para interrogatório na sede da polícia em Wan Chai.

As detenções já tinham sido avançadas esta manhã pelo partido Demosisto, co-fundado por Wong, que defende a autodeterminação do território.

O mesmo jornal noticia ainda que o ativista pró-independência Andy Chan foi detido na quinta-feira à noite, depois de ter sido impedido de embarcar num avião no aeroporto de Hong Kong, por suspeitas de motim e agressão a um agente da polícia.

Os três são vistos como figuras-chave dos movimentos antigovernamentais em Hong Kong nos últimos anos.

Timor-Leste | Uma ilha atravessada na garganta


Isto foi mesmo assim, juro. A avó Ermelinda avisou-me: "Se fores a Timor, bebe muito gin tónico. Tem quinino. Protege-te do paludismo." Ela sabia, tinha lá vivido com o meu avô, ainda antes da II Guerra. Foi o que fiz quando embarquei, algures em março de 1992, em Darwin, no norte da Austrália, num ferry sobrelotado de ativistas e jornalistas que pretendiam rumar a Díli, na "Missão Paz em Timor", a bordo de um ferry chamado "Lusitânia Expresso". O objetivo era colocar uma coroa de flores no cemitério de Santa Cruz, em homenagem às vítimas do massacre que em novembro do 1991 tinha colocado Timor nas primeiras páginas da imprensa mundial (de onde nunca mais saiu até ao referendo da independência, em 1999).

João Pedro Henriques | Diário de Notícias | opinião

A água tónica acabou mas o gin não e portanto, obediente, continuei a consumi-lo, a bem da saúde. Admito que já estaria ligeiramente desfocado quando, durante a noite - infernalmente quente e húmida - percebi que começava a surgir no radar do nosso ferry um pontinho luminoso verde. Era a ilha cujos destinos eu acompanhava há apenas alguns meses, ao serviço da Agência Lusa. Estava muito escuro quando, num telefone por satélite, ditei a notícia, excitadíssimo mas tentando disfarçar a névoa do gin: "Timor já nos radares do Lusitânia Expresso". Que orgulho foi dar essa "cacha" ao mundo!

Depois amanheceu e a silhueta da ilha foi-se revelando. Ficou claro: as montanhas onde se escondiam Xanana e os seus guerrilheiros eram a sério, altas, abruptas, só para profissionais. Ao mesmo tempo percebemos todos que as luzes que nos tinham acompanhado a noite toda num trajeto paralelo ao ferry eram mesmo de duas fragatas da Armada indonésia, uma a estibordo, outra a bombordo.

Rapidamente chegou de lá a ordem: parem e deem meia volta. Lágrimas, raiva, fúria - e a ordem cumprida sem demora. Foi tudo demasiado rápido. No regresso a casa chamaram-me estúpido: o quinino do gin tónico está na água, não no gin. Poderia não ter continuado a beber. Mas apetecia-me: ficou-me encravada na garganta uma pequena ilha algures no sudeste asiático.

E passam sete anos, passamos para setembro de 1999. A minha redação já era outra, a do Público. O referendo de autodeterminação tinha sido em agosto - passam hoje 20 anos - e era necessário render o jornalista que lá estivera o ano todo: Luciano Alvarez estava à beira da exaustão, se não mesmo para lá disso.

Fora o orgulho do jornalismo português todo quanto, em conjunto com o José Vegar, Jorge Araújo e Hernâni Carvalho, ficara sitiado na Unamet (a entidade da ONU organizadora da consulta), em Díli, enquanto as milícias timorenses pró-indonésias, apoiadas pelas forças militares e de segurança da potência invasora, destruíam a ilha toda, vingando-se da derrota nas urnas.

A certa altura, quando os últimos da Unamet vieram embora, por absoluta falta de condições de segurança, o Luciano recuou para Darwin - e lá fui ter com ele, posto à pressa pela minha redação num vôo fretado pelo Governo português para levar até Díli uma missão de ajuda humanitária (bombeiros, sobretudo, numa escolha imbecil, visto que o essencial já tinha ardido e nem rescaldo era preciso).

Foram aí umas duas semanas de espera em Darwin até conseguir um avião que me pusesse em Díli - e o pesadelo era o de aquela ilha me escapar de novo por entre os dedos. O nó na garganta começava a ter a dimensão metafórica do Ramelau, a montanha mais alta de Timor - e que durante umas centenas de anos fora também a montanha mais alta de Portugal (2986 metros).

O avião que me levou era um pequeno Tupolev de uma coisa chamada "Air Vega", avião pilotado por dois ucranianos, que, imaginei, o teriam surripiado às Forças Armadas soviéticas quando o império colapsou. Aterrei em Díli numa manhã igual às outras todas de Díli: quente, húmida, sufocante. Nessa altura a ilha já estava "ocupada" por uma força armada da ONU composta essencialmente australianos. Mas os indonésios ainda não tinham saído. E nem Xanana (ainda em Jacarta) nem o bispo Ximenes Belo (em Lisboa) tinham voltado.

Vivia-se uma felicidade caótica e cheia de incerteza... A administração pública deixara de funcionar. A economia resumia-se a mercados de rua onde os agricultores vendiam as suas produções. Os chineses, entalados entre o racismo dos indonésios e o racismo dos timorenses, tinham fugido, fechando as suas lojas. A Indonésia desligara a rede telefónica (fixa e de telemóvel), o abastecimento de água não funcionava nem o saneamento básico, os políticos timorenses pró independência - alguns dos quais rapidamente convertidos à causa depois de anos de colaboração com as autoridades de Jacarta - entretinham-se em disputas idiotas sobre coisa nenhuma. Não havia um restaurante aberto, os dois hotéis de Díli estavam ambos semi destruídos (mas utilizáveis por ocupação à força das centenas de jornalistas que invadiram a cidade). A única instituição que funcionava era a Igreja - e foram freiras católicas que, a troco de meia dúzia de dólares de mensalidade, alimentaram muitos jornalistas durante semanas. Os cães nas ruas, esfomeados, comiam-se uns aos outros; os miúdos já não encontravam nenhuma fruta madura nas árvores. O Estado desaparecera; a economia privada também. E, pelo meio, restavam na sombra alguns timorenses das milícias pró-indonésias: um jornalista do Finantial Times foi assassinado em Díli logo nos primeiros dias da presença militar australiana.

Para todos ficou evidente: faltava tudo: economia, uma classe política digna desse nome, quadros técnicos (economistas, juristas, engenheiros, o que fosse) minimamente aptos, destino a dar a um número inexplicavelmente crescente de veteranos da guerrilha timorense, polícia, professores, tudo. Só existia a Igreja - e esta, depois de anos a proteger quem se rebelava contra os invasores indonésios, revelava agora a sua natureza profundamente conservadora, boicotando, por exemplo, as campanhas das agências internacionais de promoção da saúde pública que incluíam, por exemplo, a distribuição de preservativos. As Nações Unidas tinham uma longa missão ainda a desempenhar preparando o território para se tornar no primeiro país independente do século XXI.

Semanas depois Xanana chegou a Díli e soltou, para uma multidão à beira da histeria, o gutural "Viiiiiiiiiiiiiva Timor-Lorosae!" que nunca mais esqueceremos. Dias depois, o chefe dos timorenses foi ao aeroporto despedir-se dos últimos generais indonésios que regressavam a casa. Um deles protestou: "Chegou três horas atrasado..." Xanana respondeu: "E vocês partem com quase trinta anos de atraso."

30 de Agosto | Presidente timorense recorda morte de "dezenas e dezenas de milhar"


Díli, 29 ago 2019 (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, lembrou hoje que a demora na afirmação da justiça no país custou "dezenas e dezenas de milhar de vidas", considerando que numa população daquela dimensão, "se pode falar de um genocídio".

Francisco Guterres Lu-Olo falou na abertura de um jantar no Palácio da Presidência, na capital timorense, Díli, que contou com representantes de Estado e governamentais de países como Portugal, Cabo Verde, Austrália, Vanuatu, República Centro-Africana e de organizações como as Nações Unidas.

No seu discurso, na véspera do dia em que se assinalam vinte anos do referendo que concedeu a independência a Timor-Leste, o chefe de Estado timorense afirmou que se mostra preocupado com a paz, "que se assenta na justiça e no desenvolvimento sustentável".

Nesse sentido, Francisco Guterres Lu-Olo assinalou "a falta de respeito" pelo meio ambiente e os seus efeitos.

"A falta de respeito para com a mãe-terra traduz-se em drásticas alterações climáticas com repercussões na biodiversidade, na agricultura, causando por vezes longas secas, por vezes cheias devastadoras, tudo isso com preço em vidas humanas", disse.

O Presidente timorense criticou ainda a "incapacidade" do uso do diálogo para a resolução de conflitos, que, no seu ponto de vista, "tem dado origem a guerras com reflexos na movimentação humana e com sofrimento indizível", acrescentando que "a democracia está ameaçada".

Estas condições levam o chefe de Estado timorense a assumir "tempos de incerteza" no futuro da humanidade, mas que ainda assim se mostra esperançoso de que, "alicerçados nos valores" que levaram à independência de Timor-Leste, estas ameaças possam ser afastadas.

JYO // PJA

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