quarta-feira, 13 de novembro de 2019

REINTERPRETAR O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA – VII


Martinho Júnior, Luanda  

SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE NOVEMBRO DE 2019

Uma das maiores deficiências de que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.

Essa falta de vontade e de perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias injectadas do exterior!

Isso permite que outros não abram o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses, manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!


Esta série pretende reabrir dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente fazer!

Abrir os links permite complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.

Brasil | Boaventura vê Lula Livre


Sua libertação revela que os EUA não podem tudo: há brechas para a luta política no Brasil. Sua fala, mais à esquerda, sugere que já não cultiva a ilusão de governar em favor de todos. Poderia, em vez de candidato, ser um grande articulador?

Boaventura de Sousa Santos | Outras Palavras

Nos últimos anos, a arrogância da onda conservadora e reacionária assumiu proporções assustadoras. Assistimos à consolidação de uma aliança tóxica entre a voracidade da concentração da riqueza promovida pelo neoliberalismo (e o consequente empobrecimento das grandes maiorias), a agressividade crescente dos discursos e práticas neofascistas, racistas e misóginas, o conservadorismo fundamentalista religioso (cristão, judaico, islâmico, hindu), a manipulação grosseira das instituições democráticas e sistemas judiciais e o negacionismo da iminente catástrofe ambiental. Tudo isto tem contribuído para uma certa paralisação da imaginação política e da potência rebelde dos oprimidos. Como se caminhássemos para um abismo levados por um desígnio demasiado superior às nossas forças para poder ser travado. Nos últimos tempos, contudo, em diferentes partes do mundo, surgiram sinais de que nem tudo está perdido. Do Líbano ao Iraque, do Chile à Argentina, as populações golpeadas pelo poder injusto e corrupto mobilizaram-se nas ruas ou nas urnas para proclamarem bem alto: Basta! O futuro destas mobilizações é incerto mas, pelo menos, graças a elas, parece certo que continuamos a ter direito ao futuro.

Em 7 de Novembro, o Supremo Tribunal Federal do Brasil contribuiu para fortalecer a ideia de que, também neste país, nem tudo está perdido. Decidiu, por escassa maioria, repor uma verdade constitucional que, tal como muitas outras, parecia convertida numa relíquia do passado democrático onde os fins não justificavam os meios: o acusado é presumido inocente até se esgotarem todas as instâncias de recurso. Como Lula da Silva, tal como cerca de 5 mil presos nas prisões brasileiras, fora preso em violação desta norma, a sua soltura ocorreu nos dias seguintes. Lamentavelmente, o mesmo não aconteceu com os demais presos ilegalmente, mas a figura de Lula da Silva era demasiado grande para que a maioria do povo brasileiro e, afinal, os democratas do todo o mundo não festejassem incondicionalmente a decisão do STF. Notou-se no mundo um respirar de alívio: a deriva autoritária do Brasil tinha limites, a ilegalidade institucionalizada podia ser travada. Tal como sucede com os outros acontecimentos no mundo animados por um impulso democrático, esta decisão judicial, apesar de mostrar que nem tudo está perdido, nada nos diz sobre o que efetivamente se ganhou ou pode ganhar com base nela. Para avaliar as suas potencialidades e cuidar de ampliá-las e concretizá-las, há que refletir sobre as lições do processo político-judicial que culmina na decisão do STF e nos desafios com que a democracia brasileira se defrontará nos próximos tempos. Começo pelas lições.

1. A justiça e democracia defendem-se nas ruas e nas instituições. Uma das campanhas mais notáveis dos últimos anos foi certamente a campanha “Lula Livre!”. Contribuíram para isso vários fatores. A figura carismática de Lula da Silva e a tenacidade da defesa da sua inocência comoveram o mundo. A organização em rede de milhares de grupos de ativistas, alguns deles mobilizados inicialmente por brasileiros e brasileiras espalhados pelo mundo, revelou uma enorme capacidade de mobilização. Num tempo em que é tão difícil juntar vontades em volta de causas precisas e consensuais, a campanha Lula Livre! oferecia a oportunidade de defender uma pessoa concreta, vítima de uma maquinação politico-judicial concreta, uma pessoa que o mundo conhecera como o mais notável de todos os presidentes do Brasil, que tirara da pobreza cerca de 50 milhões de brasileiros e que mostrara não ser necessário ser doutor para ser sábio.

2. O imperialismo não pode usar o sistema judicial dos países da sua zona de influência com a mesma eficiência e brutalidade com que utilizou os militares nos tempos passados. Os objetivos do imperialismo norte-americano foram sendo cada vez mais claros: travar a influência da China, neutralizar os BRICS (aliança do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para criar uma zona econômica relativamente autônoma do domínio do dólar) como potencial ameaça à sua hegemonia na região e no mundo. Desde o fim da Guerra Fria, ensaiavam novos modos de intervenção que sucedessem à velha guerra contra o comunismo. E as novas guerras foram emergindo: a guerra contra as drogas, a guerra contra o terrorismo e, finalmente, a guerra contra a corrupção. Todas elas foram desenhadas para, de maneira aparentemente não política, promover governos leais aos desígnios imperiais dos EUA: acesso aos recursos naturais e tratamento favorável às empresas multinacionais norte-americanas. E, consequentemente, neutralizar governos considerados hostis a esses desígnios.

Todas estas guerras, e muito particularmente a última (contra a corrupção), envolveram um enorme investimento na formação de magistrados e na criação de instituições locais que liderassem a “luta contra a corrupção”. Uma vez eleitos os parceiros locais, ser-lhe-iam dadas todas as condições, nomeadamente, a mais preciosa de todas: o acesso, por via da CIA e do Departamento de Justiça, a dados que só as empresas globais (norte-americanas) de big data detêm. Sérgio Moro e Deltan Dallagnol foram selecionados para serem os “campeões da luta contra a corrupção”. Há vários anos, o Departamento de Justiça tinha elegido a Petrobras, a Embraer e a Odebrecht como alvos privilegiados da luta contra a corrupção. Leia-se, como empresas concorrentes das empresas norte-americanas e, como tal, devendo ser destruídas ou absorvidas. Era importante não aplicar a regra do “too big too fail” que permitia punir os dirigentes por corrupção sem destruir as empresas (como foi o caso da Goldman Sachs e da Volkswagen). A República de Curitiba agiu em conformidade, de acordo com o roteiro que lhe foi dado e como agente de um governo estrangeiro. Foi demasiado grosseiro para ser processado por todo o sistema judicial sem contradições.

3. O papel dos meios de comunicação democráticos é hoje mais crucial que nunca. Se não fosse o vazamento da promiscuidade entre juiz e procuradores e da lógica que animava a sua conspiração por parte do Intercept, dirigido por esse notável jornalista que há muito devia ter o Premio Nobel da Paz, Glenn Greenwald, não saberíamos hoje quão vulnerável é a democracia representativa e o sistema jurídico-judicial que a sustenta. Ao longo deste processo também ficamos a saber que a mídia hegemônica, tal como os magistrados dirigentes da Lava Jato, não rejeitam meio algum para defender os interesses de que são servidores fieis. A demonização de Lula da Silva e do PT é uma das páginas mais vergonhosas do jornalismo hegemônico brasileiro.

Passemos aos desafios.

1. Tenho defendido a urgência de o sistema judicial brasileiro repor a sua credibilidade. A decisão do STF foi um passo importante, mas não basta. Sérgio Moro e Deltan Dallagnol cometeram ilegalidades disciplinares (e talvez mesmo criminais) que devem ser punidas. Todo o sistema de controle disciplinar dos magistrados tem de ser revisto, sobretudo a promiscuidade entre juízes e procuradores. São necessárias reformas no processo penal, e o modo arbitrário como é usada a delação premiada tem de ser eliminado, uma vez que representa a emergência do direito penal do inimigo próprio dos regimes totalitários. É urgente uma reforma profunda da formação dos magistrados nas faculdades de direito e nas escolas da magistratura.

2. O neoliberalismo e o autoritarismo estão longe de ser derrotados. Pelo contrário, a entrega dos recursos estratégicos do Brasil (incluindo a base de Alcântara) está ainda em curso e as medidas austeritárias ainda não foram aplicadas em toda a sua extensão. A libertação de Lula da Silva é ela também um processo, uma vez que só será definitiva depois de se declarar a suspeição do juiz Sérgio Moro (que é hoje óbvia) e de serem arquivadas ou processadas outras acusações que integram a lawfare (o uso do direito para liquidar adversários políticos) contra Lula da Silva. O próximo período vai ser um período de radicalização política, muito longe da conciliação de classes com que sempre sonhou Lula.

3. Os movimentos sociais sabem hoje que foram desarmados durante algum tempo pelo próprio governo do PT, na medida em que julgaram que ter um “amigo no Palácio do Planalto” era suficiente para garantir a realização das suas demandas. Obviamente que ajudava, mas não era suficiente. O movimento indígena sabe isso melhor que nenhum outro porque a sua experiência de opressão e resistência é maior que a de qualquer outro movimento social. Lula da Silva em liberdade é uma ajuda preciosa, mas ele não é, nem quer ser, nem poderia ser, o salvador da pátria, capaz de a resgatar por si só contra ventos e marés. Lula, aliás, reconhece hoje que, enquanto presidente, fez demasiadas cedências aos donos do poder, os quais afinal nem sequer lhe foram gratos. Bem pelo contrário. Os próximos tempos vão mostrar aos movimentos sociais que as lutas mais duras estão por vir.

4. Lula não é dono do seu futuro, mas certamente procurará administrá-lo da melhor maneira para a democracia brasileira. A um político que insistentemente afirma “ter o tesão de vinte anos, a energia de trinta e a experiência de setenta”, o futuro está plenamente aberto. Obviamente que não depende só dele. Se a lawfare contra ele for neutralizada, Lula da Silva poderia ser o candidato da esquerda nas eleições presidenciais de 2022. Duvido, no entanto, que o queira ser. Aliás, a experiência de grandes presidentes que, por várias vias, quiseram permanecer ou voltar ao poder não é brilhante. Tenha-se em mente Hugo Chávez, Mário Soares, Daniel Ortega, Abdelaziz Bouteflika ou, mais recentemente, Evo Morales (que no momento em que escrevo é vítima de um golpe de Estado, devido a uma mistura tóxica de erros próprios e da intervenção norte-americana através da OEA, Organização dos Estados Americanos).

Acresce que as condições em que Lula da Silva governou já não existem nem voltarão a existir nos tempos mais próximos. Lula da Silva continua a dirigir-se aos brasileiros, mas sabe hoje que muitos só o amaram enquanto mamaram nas vantagens de seu governo. Por outro lado, Lula da Silva tem afirmado que é hoje mais de esquerda do que anteriormente. Isto significa que as suas imensas qualidades de articulação e de conciliação devem agora ser canalizadas, não para a sociedade brasileira no seu conjunto, como se fosse um povo homogêneo, mas antes para as classes populares pobres e classes médias empobrecidas e para as esquerdas que pretendem defender os interesses destas classes, tantas vezes vítimas de misturas tóxicas de capitalismo (desemprego de longa duração, trabalho sem direitos, uberização), colonialismo (racismo, usurpação e concentração neocoloniais de terra) e patriarcado (sexismo e homofobia). Será o articulador ideal no sentido de lhes conferir confiança e esperança, de lhes dar visão simultaneamente utópica e pragmática de um futuro melhor, de as ajudar a superar diferenças que, sendo na aparência ideológicas e profundas, são muitas vezes mesquinhas e oportunistas. E, sobretudo, de as ensinar a comunicar com as classes populares, a entender as suas angústias e expectativas que tão perdulariamente foram deixadas à doutrinação interesseira de pregadores reacionários e neofascistas de ocasião ou de convicção.

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Leia mais sobre o golpe de estado na Bolívia em Página Global:

Portugal | Política identitária é política de direita


A teoria da política identitária que o Livre subscreve fecha cada opressão numa cofragem identitária, e, portanto, abstracta, sem vasos comunicantes, representações por procuração ou solidariedades.

António Santos | AbrilAbril | opinião

Escrever é arranjar problemas. Antecipando os nomes que algumas pessoas me vão chamar (sectário, racista, homem hétero cis branco, etc. mas sejam imaginativos) quero começar com uma nota prévia: estou solidário com Joacine Katar Moreira, vítima de uma infame campanha de ódio racista; repudio os grunhos dos imbecis que a acusam de fingir a gaguez; não ponho em causa a total legitimidade do seu mandato como deputada e fico genuinamente feliz por ver mais mulheres negras no parlamento. O meu problema não é com a Joacine, nem com a sua gaguez nem, muito menos, com a cor da sua pele ou a sua nacionalidade. O meu problema é com o Livre e é estritamente político.

A vida política de Rui Tavares resumia-se, até há um mês, a uma aborrecida sucessão de falhanços oportunistas: do anarquismo life style a deputado europeu do BE quando estava na moda ser do BE; do híper-europeísmo muito a piscar o olho ao PS ao comentário político de académico anti-séptico. Mas, como aqueles empresários que antes de chegar ao sucesso tiveram de levar seis empresas à falência, Rui Tavares foi capaz de olhar para o estrangeiro e perceber que, em 2019, o investimento demagogicamente mais rentável não é o anarquismo, nem a União Europeia, nem a esquerda nem a direita, nem qualquer ideologia. Nos anos vinte deste século, deduziu Tavares, as oportunidades gravitarão em torno de dois novos pólos políticos: o «populismo» e o «identitarismo».

A aposta do barão trepador rendeu finalmente dividendos políticos. A deputada do Livre monopolizou com estrépito mediático todo o debate político em torno de «causas fracturantes» como a sua aflitiva gaguez, a saia do seu assessor, Rafael Esteves Martins, ou uma bandeira guineense a ondear num comício. Pode-se dizer que a culpa é dos esqueletos que tínhamos no armário, mas a reencarnação identitária do Livre não foge aos encargos da agenda identitária: transforma a saia no pretexto para uma entrevista no programa do Goucha; transforma a gaguez real numa performance mediática que dispensa ajudas e desperta ódios e paixões e transforma a sua representação num fim em si mesmo, pelo que dispensa ideologias e propostas políticas. A política de Joacine é a identidade de Joacine.

Em entrevista ao Expresso, a Joacine Katar Moreira era ainda mais clara: «Represento as mulheres negras, os homens negros, as mulheres em situações de empobrecimento, os homens em situações de empobrecimento, os investigadores com uma vida instável». Ou seja, Joacine está convencida de que tem um mandato para representar não só as pessoas que votaram nela, mas, por condão da sua identidade, todos aqueles que são como ela: negros, gagos, investigadores, etc. Independentemente do que proponha e vote no parlamento ser indiferente ou mesmo contrário aos interesses destas pessoas.

Portugal | Salário mínimo? "Não houve nenhum acordo, o que houve foi um desacordo"


O Governo propôs, esta quarta-feira, um aumento do salário mínimo para 635 euros no próximo ano - mais 35 euros do que o valor atual. À saída da reunião de concertação social, as opiniões dividem-se entre patrões e sindicatos.

O líder da CGTP, Arménio Carlos, disse que estão reunidas as condições para que os trabalhadores peçam aumentos superiores ao valor que foi proposto para o salário mínimo nacional para o próximo ano. Sobre a proposta do Governo, de aumentar a remuneração base para 635 euros, Arménio Carlos disse que "não houve um acordo, o que houve foi um desacordo", porque a proposta foi assumida "unilateralmente" pelo Executivo. 

Por outro lado, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, considera que se trata de um "objetivo ambicioso", o de aumentar o salário mínimo para 750 euros até 2023. "O aumento do salário mínimo não tem contrapartidas", acrescentou. 

"Não pode haver dois pesos e duas medidas (...) O Governo não pode colocar apenas as empresas no combate à desigualdade", disse o presidente da CIP, defendendo que o valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS) deveria ser maior no próximo ano. 

Por isso, revela a necessidade de serem aplicadas medidas de competitividade. "Tem que se assumir de uma vez por todas que os aumentos salariais têm de ser sustentados", disse António Saraiva. "Querer aumentar salários sem um chão, com areias movediças, podemos estar a afundar-nos", referiu. 

Ainda do lado dos sindicatos, a UGT, que reivindicava um aumento superior, já esperava que o Executivo de António Costa apresentasse o valor dos 635 euros. 

"Se houvesse acordo para ser assinado, estava assinado. (...) O que o Governo apresentou era já esperado e por isso a UGT já tinha definido que os 635 euros eram a linha vermelha", disse o líder desta central sindical, Carlos Silva. "Não há um acordo formal, mas há uma decisão do Governo que tem o apoio da UGT", disse Carlos Silva. "Isto não significa que há contrapartidas", apontou o líder da UGT. 

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), discorda da metodologia do Governo e do valor: "Da nossa parte, discordamos da metodologia. Afirmamos que queriamos um acordo assente em indicadores económicos (...) o Governo assumiu o valor e não houve acordo". 

"As empresas não estão preparadas [para este aumento do salário mínimo para 635 euros]. O Governo veio anunciar uma decisão sua e por isso não houve uma negociação, houve uma constatação", referiu Eduardo Oliveira, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal.

De recordar que o objetivo do Governo de António Costa, conforme já tinha sido divulgado, passa por aumentar gradualmente o valor do salário mínimo nacional até ao patamar dos 750 euros até 2023. Porém, a evolução será decidida anualmente. 

"É o início de um caminho", diz ministra

A ministra do Trabalho e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, disse à saída do encontro com os parceiros sociais que o valor resulta de um "equilíbrio", depois de terem sido ouvidas as opiniões dos parceiros.  Mendes Godinho deixou claro que se trata de um "início do caminho". 

O objetivo do Governo, sublinhe-se, passa por aumentar o salário mínimo para 750 euros até 2023. "Pressupondo que depois vamos fazendo avaliações anuais para encontrarmos um valor para cada ano em função da evolução da economia", explicou Ana Mendes Godinho. 

Notícias ao Minuto

Leia em Notícias ao Minuto

O primeiro-ministro anunciou hoje que o Conselho de Ministros, na quinta-feira, vai aprovar o valor de 635 euros para o salário mínimo em 2020, considerando que representa um aumento adequado à situação económica e social do país.

Novo presidente da região do enclave timorense destaca prioridades de mandato


Díli, 13 nov 2019 (Lusa) - O novo presidente da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), em Timor-Leste, que hoje tomou posse, marcou como prioridades do seu mandato melhorar o rendimento das populações locais, atrair investimento nacional e externo e promover o turismo.

José Luis Guterres, que tomou posse numa cerimónia no Palácio do Governo quer ainda "resolver as questões básicas da vida da população, como a água, o saneamento, a habitação, a saúde e a rede escolar".

"É importante para a nação e para o povo de Oecusse continuar com o desenvolvimento já iniciado e mais importante ainda é fazer crescer o rendimento das famílias rurais em todo o território de Oecusse", disse.

Entre outras prioridades, destacou que pretende dar "ênfase à produção agropecuária e às pescas, ao desenvolvimento da indústria e à criação de condições para o turismo para que o povo possa obter benefícios imediatos".

Guterres comprometeu ainda a trabalhar "com o Governo Central no sentido de atrair investidores nacionais e internacionais para Oecusse de modo a criar emprego e rendimento para a população".

FRELIMO rejeita acusações de reativar "esquadrões da morte"


Depois da acusação da RENAMO, a resposta da FRELIMO: o partido no poder em Moçambique rejeita ter reativado "esquadrões da morte". Acusa ainda a RENAMO de querer perturbar a ordem e a tranquilidade no país.

"Esta não é a primeira vez que a RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana] fala de esquadrões da morte, mostra claramente que esta questão é uma linha da própria RENAMO", declarou o porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Caifadine Manasse. 

A reação surgiu horas depois de acusações feitas pelo porta-voz da RENAMO, José Manteigas, de que o partido no poder reativou alegados esquadrões para perseguir membros do principal partido da oposição, na sequência da contestação aos resultados das eleições gerais de 15 de outubro.

Manasse disse que as acusações à FRELIMO são uma tentativa de manipulação para instalar um clima de perturbação da ordem e tranquilidade pública.

"Nós vamos continuar a dirigir os destinos do povo e não vamos apoiar nem vamos admitir qualquer perturbação que retarde o desenvolvimento do país", defendeu o porta-voz da FRELIMO.

Angola | PATRIOTISMO NÃO TEM PREÇO!


Martinho Júnior, Luanda 

CONDECORAR RAFAEL MARQUES DE MORAIS, DA OPEN SOCIETY E DA NATIONAL ENDOWMENT FOR DEMORACY, ESQUECENDO POR COMPLETO AQUELES QUE ESTIVERAM QUASE A PAGAR COM A VIDA O FACTO DE TEREM COMBATIDO O TRÁFICO ILÍCITO DE DIAMANTES EM 1983 E POR ISSO COMBATER A CORRUPÇÃO, NÃO É PATRIOTISMO!

É ASSIM QUE SE ESTÁ A ESQUECER DAQUELES QUE PAGARAM TÃO CARO, COM CONDENAÇÕES, VEXAMES E ARBITRARIEDADES DE TODA A ORDEM QUE SE PROLONGARAM POR MAIS DE 30 ANOS!...

PODE SER ASSIM QUE SE ESTEJA A LAVAR A HISTÓRIA!...

... NÃO É SEGURAMENTE TAMBÉM ASSIM QUE SE SEGUE O RUMO DE LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA, CONFORME À MEMÓRIA E ENSINAMENTOS DE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO E SEU PENSAMENTO ESTRATÉGICO!

PATRIOTISMO NADA TEM A VER COM NEOLIBERALISMO E NENHUM VALOR, DOS QUE SE PAGAM AOS CORRENTES MERCENÁRIOS DA ESCRITA, PODE-SE COMPARAR AO VALOR DUM PATRIOTISMO GERADO DESDE HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS, NA CULTURA DA FIDELIDADE DE PRINCÍPIOS E CONVICÇÕES, SEGUINDO O RUMO DO MPLA! 

RECORDO PARA QUE FIQUE CLARO E SEM EQUÍVOCOS, O QUE PUBLIQUEI A 11 DE NOVEMBRO DE 2019 E O TEXTO DE 5 DE NOVEMBRO DE 2010, SOBRE RAFAEL MARQUES DE MORAIS, “SINAIS CONTROVERSOS – VIII”! 

01- LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO...

A luta contra a corrupção foi perdida em Março de 1976 e só retoma em 2017, com a ascensão do camarada JLO à Presidência de Angola!

... e lembrar que, para que a corrupção fermentasse durante mais de 30 anos, foi preciso colocar os justos na cadeia, conforme comigo ocorreu em Março de 1986, processo 76/86, acusado duma mentira: golpe de estado sem efusão de sangue!...

Fui condenado a 16 anos de prisão maior por que defendi Angola dos traficantes de diamantes que foram julgados no processo 105/83!...,

... De então para cá, além da condenação, fui votado ao ostracismo e à marginalização como muitos outros camaradas fieis aos ideais de António Agostinho Neto e do seu estratégico rumo, mas conforme têm provado meus próprios escritos desde finais do século XX, ainda que de forma tão dispersa, não me venceram, nem neutralizaram a minha consciência de lógica com sentido de vida, que desde jovem tenho feito individual cultura, em nome da dignidade!

Confesso que vivi e em nome do amor que se deve à humanidade, a história me absolverá!

Angola | Crime sem castigo


Luciano Rocha | Jornal de Angola | opinião

Os recentes crimes praticados em viaturas que prestavam serviço de táxi, referidos, em mais do que uma ocasião neste e noutros espaços do Jornal de Angola, não podem cair no esquecimento sob o risco de constituírem incentivo.

O problema levanta, desde logo, uma série de questões, o tempo, por exemplo, que a Polícia leva a localizar uma viatura roubada, como refere o editorial de ontem deste diário, mas, igualmente, o à-vontade com que qualquer indivíduo, sem estar devidamente habilitado, se transforma, de um segundo para o outro, em taxista. Luanda tem, cada vez mais, viaturas de todos os tamanhos, feitios e cores, a fazer serviço de táxi sem nada que as distingam das de uso privado. O que não impede que quem as conduz, entre outras ilegalidades, as estacione em qualquer sítio, com frequência perante a indiferença de agentes da Polícia, quando, não mesmo, com o auxílio deles.

João Lourenço assegura que não há perseguição religiosa em Angola


O Presidente angolano foi recebido pelo Papa Francisco esta terça-feira, no Vaticano. João Lourenço diz que "ninguém persegue minorias em Angola" e o Estado "deve promover a harmonia entre as religiões".

Dezenas de mesquitas e centenas de igrejas consideradas ilegais foram fechadas em Angola, no âmbito da "Operação Resgate". Mas, questionado se a operação ameaça a presença das minorias religiosas no país, o Presidente João Lourenço garante que "ninguém persegue minorias em Angola".

"O Estado é laico e deve promover a harmonia entre as religiões", afirmou João Lourenço esta terça-feira (12.11) no Vaticano.

Islão

Entre as minorias religiosas num país maioritariamente cristão, a religião muçulmana continua a não ser reconhecida oficialmente pelo Estado e, por isso, é proibida a abertura de novas mesquitas. Mas há tolerância no país, assegura João Lourenço.

"A tolerância em Angola com todas as religiões é grande, inclusive com a muçulmana. A religião muçulmana nunca foi perseguida, nem molestada por ninguém", afirmou o chefe de Estado.

"Não há casos de detenção, não há casos de expulsão. Portanto, não sei ao que se referem. Isso é alguma insinuação, que, pelo facto de não ser concreta, também não posso dar uma resposta ainda mais concreta como gostaria de fazer", acrescentou.

Guiné Equatorial defende PALOP como destino seguro para investimento


O ministro das Finanças da Guiné Equatorial defendeu hoje, em Joanesburgo, que os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) oferecem uma "região de oportunidades seguras" para o investimento privado internacional.

"Os países lusófonos partilham uma imensa diversidade cultural histórica e, além disso, queremos capitalizar os pontos fortes que temos em comum para acelerar o desenvolvimento da nossa comunidade regional", afirmou César Augusto.

Nesse sentido, o ministro das Finanças, Economia e Planeamento da Guiné Equatorial sublinhou a investidores internacionais que "o quadro legal está a ser reformulado, o capital humano existe, e as infraestruturas estão em desenvolvimento".

O governante, que falava em inglês na abertura de um painel do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), de apresentação do Compacto Lusófono para o financiamento sustentável e inclusivo do setor privado, disse que "existe empenho" dos governos dos PALOP "para acelerar o progresso".

Cabo Verde | Praia: Polícia regista 15 assaltos à mão armada no fim-de-semana


Pelo menos 15 furtos e roubos com assaltos à mão armada e violência contra pessoas foram denunciados junto da Polícia Nacional entre sexta e segunda-feira,11, na Praia. Os assaltantes têm apoderado sobretudo de telemóveis – alguns com preços de até 199 mil euros - e um fio de ouro avaliado em 300 contos.

Estes dados constam de um comunicado da DN da PN remetido a este jornal – ficam no entanto de fora inúmeros outros assaltos com roubos e furtos à mão armada e ferimentos graves com arma branca (faca e machim) que não chegaram às autoridades policiais, mas que circulam nas redes sociais.

Conforme o comunicado, das 15 ocorrências registadas pela PN entre 8 e 11 deste mês, maioria das quais aconteceu na Achada de Santo António . A Esquadro local contabilizou 7 assaltos denunciados – aconteceram nas proximidades da praceta do BCA, do Restaurante Comenta e em Quebra Canela, bem como na Terra Branca (três casos) e em Tira Chapéu. De entre outros produtos roubados, o destaque vai para vários telemóveis – um no valor de 70 contos, outro em 199 mil euros - e um fio de ouro com uma concha avaliado em 300 contos. Isto sem contar com vários valores em dinheiro.

Guiné-Bissau prepara-se para eleições em clima de incerteza


Boletins de voto para presidenciais de 24 de novembro já chegaram à CNE, numa altura em que o Presidente José Mário Vaz ainda não se pronunciou sobre o pedido de demissão de Faustino Imbali do cargo de primeiro-ministro.

A caminho das presidenciais de 24 de novembro, as autoridades guineenses receberam neste fim de semana os boletins de voto e os restantes materiais eleitorais necessários para a realização do pleito na data marcada.

"Com a recepção desses materiais, quero assegurar a todos que a lógica eleitoral está garantida para que o ato eleitoral possa decorrer", garantiu José Pedro Sambú, presidente da Comissão Nacional Eleitoral.

"Convido todos os atores políticos implicados no processo para juntos, de forma concertada, franca e em observância dos princípios e valores da integridade eleitoral, fazermos do dia 24 de novembro o dia da festa da democracia", acrescentou.

Os materiais eleitorais, produzidos em Portugal, foram entregues à CNE pelo embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, naquela que é a tradicional participação de Portugal em garantir apoio logístico às eleições guineenses. António Alves de Carvalho pediu obediência à ordem constitucional para cumprir o calendário eleitoral: "As eleições presidenciais devem efetivamente decorrer em 24 de novembro próximo, encerrando o ciclo eleitoral deste ano".

O diplomata português exortou ainda os atores políticos guineenses no sentido de garantirem a transparência, clareza e inquestionável validação do ato eleitoral.

Portugal | A cega que só vê o que quer


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Tenho vergonha de uma sociedade que prende preventivamente uma mulher que joga no meio do lixo o filho acabado de nascer. Tenho vergonha de uma justiça que parou num dia qualquer há mais de quatro mil anos, sentenciando "olho por olho, dente por dente" e jogando essa mulher no meio do lixo.

Quem pode não saber que uma mulher assim, jovem e sem-abrigo, é alguém que acumula tanto sofrimento que torna impossível que não seja cada um de nós tão ou mais culpado que ela pelo que a ela e ao seu filho aconteceu? Quem pode ser tão cruel para se apressar a castigar quem precisa de ajuda psicológica e tratamento médico?

Não nos podemos iludir, esta decisão não é fruto de um algoritmo, não nasce do acaso. Brota de uma agenda populista, de uma Comunicação Social tabloide que semeia culpas para colher sentenças, de comentadores e políticos justiceiros a quem uma parte do Ministério Público e alguns juízes gostam de fazer a vontade. Uma imigrante africana, desinserida da sociedade, que cometeu o crime de abandonar um recém-nascido em condições que podiam ter sido fatais só é um caso a necessitar de uma "sentença" exemplar para uma justiça que alinha as suas preocupações com os populistas, que não têm nunca disponibilidade para procurar resolver, antes se apressam a condenar sem querer saber como foi possível. Sim, é evidente que neste caso a prisão preventiva funciona como castigo. Não se destina a evitar a continuidade da prática criminosa, nem pode presumir a capacidade da arguida prejudicar a investigação estando em liberdade. Fugir, sim, admito que lhe tenha passado pela cabeça, muitas vezes, fugir do destino que lhe coube em má sorte.

Esta justiça que procura estar sintonizada com a horda de justiceiros, que não hesita quando é para prender, é uma justiça que não procura ser justa e que quer ter as mãos mais livres para ser discricionária e agir de acordo com interesses próprios. Esta não é a justiça que queremos cega para não olhar a quem, é uma justiça que espreita pelo canto da venda. O supremo magistrado da nação convoca a "compreensão humana para o ambiente que rodeou o gesto daquela mulher" e deixou "uma palavra especial a pensar no drama daquela mãe que, numa situação de desespero, foi levada a fazer aquilo que fez". O que Marcelo nos lembrou só não vê quem não quer. Que lhes pese na consciência a decisão que tomaram.

*Jornalista

Portugal Curto | SMN ou Salário Ridículo Nacional?


Dos temas informativos de Portugal e internacional o Curto do Expresso de hoje trás “pano para mangas”, como se dizia à antiga (atualmente já não?). Queremos com isto dizer que são temas “p’ra burro” (termo que também já não se usa?), imensos, justificáveis, claro. Disso dará conta ao ler o “fazedor” do Curto, Pedro Lima, do poleiro associado aos interesses da Impresa do tio Balsemão, cordato e gente fina que é outra coisa. Bom dia, se conseguir.

De Portugal, o Salário Mínimo Nacional é abordado quantitativamente sobre o valor proposto pelo governo Costa & Companhia. Hoje é isso mesmo que nos interessa por aqui no PG – acrescente-se um esgar irónico e de repugnância sobre a proposta deste dito e citado “governo pró povo”, dito socialista e de esquerda há mais de quatro décadas… Trinta e cinco euros (€35) de aumento sobre um salário mínimo nacional miserável com o objetivo de continuar a ser miserável e de cavar cada vez mais as diferenças e injustiças salariais entre cerca de um milhão de escravos (os portugueses que recebem o SMN) até à exaustão da exploração e os que, fazendo bem as contas, recebem isso ao menos por semana, para não citar aqui aos que essa quantia e superiores são, para esses, aforro diário.

Um governo (dito socialista e de esquerda), que faz uma proposta deste teor na chamada  "cimeira" Concertação Social por certo que é um governo que se está borrifando para o milhão de trabalhadores forçados (escravos) que se afogam na miséria de uma sociedade gerida por “dótores & engenheiros” – governantes, outros e deputados apoiantes – que demonstram manifesta sintonia com o grande patronato e/ou negreiros da modernidade, para além de banqueiros comprovadamente vigarista e até ladrões que guardam os seus dividendos nos chamados paraísos fiscais…

A declaração de António Costa, primeiro-ministro, de aumentar o SMN até aos 750 euros (é ainda de 600 euros) nos próximos quatro anos (tempo da legislatura) representa quantia insuficiente já na atualidade, quanto mais daqui por quatro anos. Daí só se poder inferir que Costa, o governo, patrões e associados, estão a troçar dos explorados e reprimidos por um SMN de miséria.

Da notícia sobre a reunião da cómica Concertação Social de hoje há a registar o grande abraço que o patrão dos patrões, CIP, António Saraiva, trocou com o “maioral” da UGT, um tal Carlos Silva, o que não é estranho se considerarmos que até nos caninos existem os  que abanam a cauda de satisfeitos quando lhes oferecem uma migalha de um grande bolo… que comem todo, empanturrando-se.

A CGTP já manifestou a sua discordância sobre intenções e valores...

A informação sobre o aqui mencionado acerca do SMN pode ler e ouvir (ou ver) nos noticiários que já correm olhos e ouvidos. Por nós fica o assunto encerrado com estas “cimeiras de nojo” do tipo Concertação Social repletas de mais do mesmo.

Basta, passe ao Curto de outros assuntos, no Expresso. Leia muito sobre como “virar o bico ao prego” (já não se usa este termo?) e quebrar o enguiço que origina tanta exploração, tanta injustiça, tanto débito de democracia, tanta pesporrência dos que sugam a tantos portugueses o sangue, suor e lágrimas… Até que surja a revolta em busca de justiça e da aplicação de valores morais e de recursos financeiros imprescindíveis à humanidade. Urge cortar as cadeias com que nos prendem e os "chicotes" com que nos reprimem.

Curta o Curto, trabalhado por um editor-adjunto de economia, do Expresso.

Bom dia, se conseguir.

MM | PG

Bolívia | Mais um golpe para saquear a América do Sul


Assim como Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford), do filme lendário sobre dois ladrões do Velho Oeste que decidem ir para a Bolívia no auge da mineração de ouro, o imperialismo norte-americano mais uma vez deu as caras naquele país. O golpe contra o governo do presidente Evo Morales tem todas as características da política de implantação de governos autoritários para que as riquezas nacionais sejam saqueadas, arrancando do povo direitos e conquistas.

Vermelho | editorial

Essa deposição violenta de um governo legitimado pela Constituição e pelas urnas se enquadra no figurino da ofensiva da Casa Branca para reinstalar a sua ordem intervencionista na América do Sul, interrompida com o ciclo de governos patrióticos, eleitos com programas populares e democráticos. O golpe boliviano é mais um capítulo dessa série de terror, com cenas bem conhecidas na região e que deixou cicatrizes profundas naquele povo. Tal como indaga o historiador Eugênio Resende de Carvalho (doutor em História Social e das Ideias e diretor da Faculdade de História da UFG), seria a Bolívia uma nação amaldiçoada pelas próprias riquezas naturais?

Agora, as mesmas forças políticas, com os mesmos ideais, mesclam expedientes das rupturas “modernas”, como a que houve no Brasil, com o uso da violência e das Forças Armadas – típico das quarteladas que infestam a história daquele país. Desde que os Estados Unidos impuseram sua hegemonia na região no pós-Segunda Guerra Mundial, o modelo de golpe inspirado no Plano Truman espalhou violência desfreada, sendo a Bolívia um dos países que mais sentiram essa onda de terror.

Como naqueles tempos, a crise estrutural do capitalismo volta a se manifestar com intensidade, a causa da escalada golpista. Esse nexo revela a incompatibilidade do sistema, sobretudo em situações de graves dificuldades como agora, com a democracia. A convivência de privilégios com direitos do povo entra em contradição e aí ocorrem os golpes, a ruptura com o sufrágio universal, com a soberania do voto popular.

Tem relevância, nessa ação golpista, os dados que mostram a Bolívia sob o governo Evo Morales como um dos países de maior crescimento econômico na região e onde o povo, principalmente as pessoas de origem indígena, melhoraram as condições de vida significativamente. A violência dos golpistas contra o governo, que obrigou Evo Morales a se exilar no México, decorre desse sentimento popular, uma tentativa de intimidar o povo.

No Brasil, como era de se esperar, a reação do presidente Jair Bolsonaro foi de apoio ao golpe. Aliás, o que não faltou foi incentivo do governo brasileiro à violência na Bolívia. A começar pela recusa em reconhecer o resultado das urnas. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chegou a receber um dos líderes golpistas bolivianos, Luis Camacho, e Bolsonaro fez reiteradas provocações a Evo Morales. Consumado o golpe, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse que "a democracia saiu fortalecida".

A combinação desse cenário, marcado por revoltas populares – na Bolívia há uma forte resposta do povo ao golpe –, com ameaças autoritárias do bolsonarismo, indica a urgência de uma articulação das forças democráticas e progressistas no Brasil para que o povo possa se organizar e impedir o avanço da marcha de destruição nacional e de ataques à institucionalidade democrática. A começar por uma ativa solidariedade aos bolivianos e uma veemente condenação do golpe. A defesa da democracia nesse país vizinho tem grande relevância para a luta democrática brasileira.

Golpe de estado na Bolívia teve apoio externo e das Forças Armadas


A Bolívia, depois do golpe de Estado com o apoio dos EUA e Brasil, que obrigou à renúncia de Evo Morales, corre o risco de caminhar para uma ditadura com a conivência das Forças Armadas e da extrema direita.


Evo Morales, presidente da Bolívia antes do golpe de estado, foi obrigado a renunciar por pressão das chefias militares, na medida em que foi o general Williams Kaliman a “solicitar” que Morales, sob o pretexto de haver violência, renunciasse para se resolver o “impasse na crise política” provocado após a sua vitória nestas eleições presidenciais com mais de 40% dos votos.

Extrema direita manipulou vários sectores sociais com informações distorcidas

A ajuda ao golpe militar na Bolívia que derrubou o presidente Evo Morales, na opinião de Luís Arce, antigo ministro, segundo declarações prestadas à BBC News, teve apoio de empresários.

De facto, ainda esta madrugada tive oportunidade de ouvir depoimentos de analistas, tais como Aumauri Chamorro, localizado em Bruxelas, e Daniel Cara, cientista político no Brasil, e a opinião generalizada é a de que os elementos de extrema direita instalados na Bolívia souberam explorar sectores da  classe média, principalmente da Província de Sta. Cruz, e de alguns movimentos universitários menos avisados.

Por informações distorcidas alguns sectores universitários aderiram ao golpe de estado, totalmente manipulados pela ultra direita do país. Esta é a verdade que não se conta, quer a renúncia de Morales não ser devidamente explicada, quer a saída de parte da população à rua, nomeadamente os tais movimentos universitários que “queriam” a saída de Morales, terem sido manobrados por Fernando Camacho, como se sabe, líder evangélico de extrema direita e altamente envolvido no golpe militar.

Esta forma de actuar que antecedem golpes de Estado no sentido mais tradicional, verificada em outros contextos, era previsível. Efectivamente, como também está a ser amplamente divulgado em meios de comunicação social, no caso da Bolívia, houve apoio do exterior, em particular dos sectores conservadores dos EUA e do Brasil, havendo mesmo relatos de contactos directos entre Jair Bolsonaro e Fernando Camacho.

Sabe-se que o líder da oposição boliviana, Fernando Camacho, conotado com a extrema direita, considerado agora o Bolsonaro da Bolívia pelas suas posições religiosas, é o homem que tem  o apoio dos golpistas, com o auxílio formal da ala conservadora das Forças Armadas bolivianas.

Na verdade, os golpistas terem apoio da extrema direita não causa espanto a ninguém porque Fernando Camacho, empresário, é filho de um dos homens que trabalhou com o ex-ditador Hugo Banzer Suárez, general boliviano que foi presidente por duas vezes em contexto de ditadura militar.


Evo Morales parte para o México após renúncia forçada e ameaças de morte

A situação na Bolívia após o golpe de estado provocou o caos. Muitas casas de dirigentes ligados a Morales foram incendiadas e diz-se que a casa da irmã também foi saqueada. Familiares de governadores,  deputados e dirigentes do MAS (Movimento para o Socialismo) foram ameaçados e vários ministros e o presidente da Câmara dos Deputados foram obrigados a renunciar pelas Forças Armadas.

Neste cenário, o presidente eleito da Bolívia com mais de 40% dos votos, em virtude de estar a sofrer sérias  ameaças e de correr risco de vida, após a sua residência ter sido saqueada por apoiantes golpistas, de haver casas incendiadas e de diversos sequestros de militantes do MAS, aceitou asilo político no México.

Ao abandonar a Bolívia, o presidente boliviano deposto demonstrou a sua revolta, tendo afirmado que  iria “abandonar o país por razões políticas..” e que “voltaria com mais força e energia”. Na minha opinião o presidente Evo Morales demonstrou um grande sentido de Estado em defesa do seu povo, tudo para tentar evitar uma guerra civil sangrenta.

O México foi um dos primeiros países a denunciar o golpe de Estado ocorrido na Bolívia. O seu presidente defendeu que deve haver novas eleições o mais rapidamente possível, tendo criticado fortemente o golpe, afirmando que “os golpes militares nunca trouxeram nada de positivo” porque “suspendem a vida democrática, as liberdades e os direitos das pessoas..”.


Situação social e política na Bolívia é grave e pode originar guerra civil

O que se está a passar na Bolívia é muito preocupante. Sabendo-se que Morales é o homem forte da Bolívia, há notícias de que os líderes do MAS estão a ser perseguidos e torturados por milícias com o claro intuito de se criar pânico junto dos apoiantes de Morales para estes não participarem em próximas eleições, que serão inevitáveis.

Por outro lado, é preciso ter em atenção, há neste momento um movimento crescente de contestação social contra o golpe militar, uma forte reacção popular dos movimentos sociais e de indígenas que descem da cidade mais alta em direcção a La Paz, receando-se o pior, com possíveis confrontos que poderão originar uma guerra civil na Bolívia.

*M. AZANCOT DE MENEZES - PhD em Educação / Universidade de Lisboa

Publicado em Jornal Tornado - 12 de Novembro de 2019 | Imagens em Google


Leia mais em Jornal Tornado sobre a situação na Bolívia

“O advogado direitista boliviano é testa de uma oposição que não esconde o que fará quando governar. Camacho citou publicamente Pablo Escobar como sinónimo do que deveria ser feito na Bolívia – sugeriu que escrevesse traidores no estilo dos narco-traficantes”.

Este artigo, publicado na edição de junho de 2006 da revista Princípios, explica bem as causas do golpe atual na Bolívia. Evo Morales acabara de tomar posse como presidente, o primeiro de origem indígena. A riqueza de detalhes do autor permite uma visão histórica da quantidade de golpes naquele país, todos com as características do atual.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro tornou público que o Brasil reconhece Jeanine Añez como “nova presidente” da Bolívia. Enquanto isso, a violação dos direitos humanos com espancamentos e detenções acontece um pouco por toda a parte.

Novo balanço aponta para pelo menos sete mortos em confrontos na Bolívia


Sete pessoas morreram na violência pós-eleitoral na Bolívia que levou à renúncia do presidente Evo Morales, informou o procurador-geral na terça-feira, num novo balanço das autoridades.

Duas pessoas morreram em La Paz (oeste), duas em Santa Cruz (leste) e três em confrontos em Cochabamba (centro), disse Juan Lanchipa, que anunciou investigações a cada um desses casos. Destas, quatro foram baleadas.

O anterior balanço apontava para três mortes em resultado da onda de violência que surgiu após a reeleição de Morales a 20 de outubro.

A Bolívia atravessa uma grave crise desde a proclamação de Evo Morales como Presidente para um quarto mandato consecutivo, marcadas por suspeitas de fraude eleitoral, denunciada pela oposição e movimentos da sociedade civil.

Os confrontos entre apoiantes e opositores do Presidente da Bolívia causaram ainda pelo menos 384 feridos.

Bolívia | Morales considera um "golpe de Estado" a proclamação da senadora Añez


Evo Morales, que renunciou ao cargo de Presidente da Bolívia, considerou que a proclamação da senadora Jeanine Añez como Presidente interina do país é um "golpe de Estado", acusando-a de violar a Constituição Política do Estado (CPE).

"O golpe mais astuto e hediondo da história aconteceu. Uma senadora de direita proclama-se presidente do senado e depois presidente interina da Bolívia sem quórum legislativo, rodeada por um grupo de cúmplices e liderada pelas Forças Armadas e polícia, que reprimem o povo", escreveu Evo Morales na rede social Twitter, depois de chegar ao México, que lhe concedeu asilo político.

Morales disse ainda que esta ato viola a Constituição Política do Estado, bem como as normas internas da Assembleia Legislativa.

"Denuncio perante a comunidade internacional que o ato de autoproclamação de uma senadora como presidente viola o CPE da Bolívia e as normas internas da Assembleia Legislativa. Consuma-se o golpe sobre o sangue de irmãos mortos pela polícia e pelas forças militares usadas para o golpe", acrescentou.

O Facebook aderiu à guerra virtual contra o povo palestino


MPR [*]

No dia 9 de Outubro o Facebook eliminou a página do Centro Palestino de Informação (PIC) sem sequer contactar seus administradores. A página contava com quase cinco milhões de seguidores no Facebook e, para os provocadores ao serviço de Israel nas redes sociais, era outro inimigo a abater.

Assim, o Facebook tornou a demonstrar seu servilismo para com Tel Aviv e o seu apoio ao racismo e ao apartheid.

Segundo um documento obtido por The Electronic Intifada, o governo israelense financiou uma campanha mundial de propaganda para manipular os estrangeiros e lutar contra o movimento palestino BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções)   [1] .

Israel formou um exército de milhares de provocadores financiados parcialmente pelo Ministério de Assuntos Estratégicos. Para ocultar a sua participação, o Ministério admitiu que trabalha com grupos que lhe servem de camuflagem e não querem expor seus vínculos com Tel Aviv.

Uma das plataformas on line deste tipo é Act II , que tem 15 mil membros activos. Trata-se de uma aplicação móvel que recruta provocadores para uma guerra virtual às mensagens pró palestinas no Facebook [2] .

Contudo, Israel nunca teria alcançado seus objectivos se o Facebook não se houvesse somado oficialmente ao governo de Tel Avi na sua guerra virtual contra os palestinos.

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