segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Portugal | Os tubarões não são vegetarianos


Os cotrins figueiredos e os venturas são faces da mesma perigosíssima moeda. O fascismo está sempre no horizonte dos liberais, se a desenfreada exploração capitalista for posta em causa.

Manuel Augusto Araújo | AbrilAbril | opinião

As intervenções de dois dos novos partidos com representação na Assembleia da República (AR), Chega e Iniciativa Liberal, são bem elucidativas da sua raiz, que os faz percorrer, por caminhos diversos, o objectivo comum de pôr em prática políticas económicas e sociais para que a exploração desbragada do capital sobre o trabalho não conheça fronteiras. Há quem lhes cole o selo edulcorado de extrema-direita para não os identificar com o que na realidade são: fascistas. O que também é uma forma de não reconhecer que o fascismo, nas diferentes expressões, é o alfa e o ómega do capitalismo.

Brecht afirmou-o com clareza, «o fascismo é a verdadeira face do capitalismo». Como fascista é, nos nossos dias, um termo pejorativo, não têm a coragem de se apresentarem como fascistas e os regimes fascistas são objecto de branqueamento. Uma desonestidade que faz jus à desonestidade dos seus protagonistas e dos seus argumentários. Da Alemanha nazi de Hitler ao Chile de Pinochet, não esquecendo a Itália de Mussolini, a Espanha de Franco, o Portugal de Salazar, outros poderiam ser referidos, o fascismo, adaptando-se às circunstâncias internas e externas, tem o traço comum da promiscuidade das grandes empresas com o Estado, favorecendo-as, subsidiando-as, cartelizando o sector privado, apoiando-o com violentas políticas repressivas.

Brasil | Não sobrará muito deste pobre país


Se os progressistas visam a um projeto estratégico, faz-se cada vez mais urgente contar com educação cidadã

No regime de exceção em que vivemos, os demônios interpretam a bíblia em proveito próprio, como William Shakespeare bem previra, há cinco séculos.

De fato, até mesmo o “uti possidetis”, princípio invocado por Rio Branco para defender um nono do território nacional – pretensão de países vizinhos – acabou conspurcado pelo Tribunal Regional Federal da Quarta Região, ao sentenciar que a simples utilização confere a alguém a posse.

Trata-se, evidentemente, de “law fare” – quando a lei é utilizada com finalidade político-partidária; uma prostituição do direito; um vilipêndio da justiça.

Coerentemente – os bordéis não são posse de quem os frequenta mas por eles são mantidos, o “conselheiro” (agente da CIA, na verdade) da “embaixada” dos Estados Unidos da América visitou recentemente a referida repartição, onde foi recebido com sorrisos e fotografias.

Vale recordar que, segundo Edward Snowden – que montou o atual sistema de espionagem eletrônica dos EUA, as embaixadas americanas atualmente nada mais são do que agências de arapongajem (os consulados, inclusive).

Na capital do império decadente, o secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou que o governo dos EUA está pronto a intervir na América Latina para reprimir manifestações. Se havia alguma dúvida sobre a condição neocolonial que o império busca impor à região, as duas intervenções dissipam-nas.

Brasil | O processo golpista em curso


Cid Benjamin [*]

"Se as pessoas más fossem mortas, ficariam apenas as boas, não?". A pergunta foi feita a Mafalda, o genial personagem do cartunista argentino Quino, por Manolito, um amiguinho dela. Mafalda respondeu com uma lucidez cortante: "Não. Ficariam apenas os assassinos".

Pois a sugestão de Manolito parece estar sendo posta em prática pelos bolsonaristas: matar as pessoas supostamente más. Só que os alvos são os pobres, negros e jovens, moradores de favelas ou periferias das grandes cidades. Entre janeiro e agosto, só no Rio de Janeiro, cinco pessoas foram mortas a cada dia pela polícia. A fonte dessa informação impressionante é a Secretaria de Segurança Pública.

Em todo o país, as polícias militares estão sendo estimuladas a humilhar, espancar e matar pobres. Nas 27 unidades da federação, contam com cerca de 500 mil integrantes, armados e cada vez mais fascistizados, e têm armamentos altamente letais, como fuzis e equipamentos como os caveirões , que espalham medo e terror entre os pobres. São uma gigantesca reserva para a extrema direita.

O episódio ocorrido semana passada na favela de Paraisópolis , na capital paulista, quando foram assassinados nove moradores pela PM de São Paulo, é ilustrativo. A defesa que, no primeiro momento, autoridades estaduais e o governo Bolsonaro fizeram do comportamento dos policiais envolvidos é vergonhosa. Deixa claro o incentivo para o assassinato de pobres. Só quando essa posição se mostrou insustentável trataram de amenizar o discurso. Mas ninguém acredita que essa mudança terá alguma consequência prática.

Para assegurar o alinhamento e o apoio político das polícias, Bolsonaro as compra de duas maneiras: por meio de uma vasta distribuição de benesses materiais e pela proteção aos que usam a farda para cometer crimes. É algo parecido com o que faz com as Forças Armadas.

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