Thierry Meyssan*
A chegada de novas armas e de
novos combatentes à Líbia anuncia uma nova guerra contra a população. Na
realidade, a situação jamais acalmou desde o ataque da OTAN conforme a
estratégia Rumsfelf/Cebrowski de guerra sem fim. Ao franquearem uma etapa
suplementar, os protagonistas nada resolvem, mas ampliam o conflito.
Todos estão de acordo em
reconhecer que a situação dramática actual da Líbia e do Sahel é a consequência
da intervenção ilegal da OTAN em 2011. No entanto, raros são aqueles que
estudaram este período e tentaram compreender como se chegou a isso. À falta de
reflexão, dirigi-mo-nos, pois, para uma nova catástrofe.
Importa conservar no espírito
vários factos que se obstinam em esquecer:
-- A Jamahiriya árabe líbia, criada por um golpe de Estado notavelmente pouco sangrento, não foi uma tomada de Poder por um ditador neurótico, mas uma obra de libertação nacional face ao imperialismo britânico. Foi também a expressão de uma vontade de modernização que se traduziu pela abolição da escravatura e uma tentativa de reconciliação entre as populações árabes e negras de África.
-- A sociedade líbia está organizada em tribos. Portanto, é impossível lá instalar a democracia. Muamar Kaddafi havia organizado a Jamahariya árabe líbia no modelo das comunidades de vida imaginadas pelos socialistas utópicos franceses do século XIX. O que significava criar uma vida democrática local, mas deixar de lado esse ideal a nível nacional. Além disso, a Jamahiriya morreu por não ter política de alianças e, portanto, não poder defender-se.
-- A Coligação (Coalizão-br) que atacou a Líbia foi liderada pelos Estados Unidos, que mascararam o seu verdadeiro objectivo aos seus aliados durante todo o conflito e os colocaram perante o facto consumado (leading from behind, ou seja, "dirigindo por trás"-ndT). Depois de terem clamado durante meses que, acima de tudo, estava fora de questão envolver a OTAN, foi esta a estrutura que comandou as operações. Washington jamais tentou proteger os civis, nem instalar um governo às suas ordens, mas, pelo contrário, instalar rivais e impedir a paz por todos os modos (doutrina Rumsfeld / Cebrowski).
-- Não houve, jamais, qualquer revolução popular contra a Jamahiriya, mas, sim intervenção da Alcaida no terreno, o despertar da divisão entre a Cirenaica e a Tripolitânia e a intervenção coordenada pela OTAN (os Aliados no ar, a tribo Misrata e as Forças especiais catarianas no solo).
Desde logo, a rivalidade entre o
governo de Trípoli e o de Bengazi remete-nos para a divisão do país de antes de
1951 em dois estados distintos, a Tripolitânia e a Cirenaica, depois ao
despertar dessa divisão durante a agressão da OTAN. Contrariamente à reacção
que espontaneamente se tem, não se trata hoje em dia de apoiar um lado contra o
outro para restabelecer a paz, mas, pelo contrário, de unir os dois campos
contra os inimigos do país.