segunda-feira, 1 de junho de 2020

Francisco Queiroz: “O 27 de Maio foi uma sucessão de erros políticos históricos lamentáveis”


ANGOLA

Referente às declarações na entrevista que apresentamos, do JA, salientamos o  breve preâmbulo por Martinho Júnior, angolano, analista e interventor da luta por Angola, com vasta participação no Página Global, nosso camarada e amigo de há anos que se perdem na contagem.

Refere Martinho Júnior:

"SE EM ANGOLA ALGUNS INSISTEM NO MODELO SUL-AFRICANO A FIM DE RESOLVER AS QUESTÕES QUE SE PRENDEM ÀS VÍTIMAS DOS CONFLITOS, HÁ QUE SUBLINHAR O FACTO DE QUE GOVERNO ALGUM DA ANGOLA INDEPENDENTE PODE SER COLOCADO AO NÍVEL DO GOVERNO DO "APARTHEID" E PORTANTO NÃO PODE HAVER CÓPIA, MAS UMA OUTRA SOLUÇÃO, TAMBÉM ELA NUM QUADRO DUMA ANGOLA INDEPENDENTE E SOBERANA, NASCIDA DA LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA PORQUE ANGOLA ERA VÍTIMA DA OPRESSÃO, ENQUANTO O "APARTHEID" ERA A OPRESSÃO E FAZIA PARTE DA OPRESSÃO MAIOR, A DO ÂMBITO DA IIIª GUERRA MUNDIAL NASCIDA NO MESMO DIA EM QUE ACABOU A IIª, HÁ 75 ANOS!... (MJ) "


ENTREVISTA

“O 27 de Maio foi uma sucessão de erros políticos históricos lamentáveis”

Santos Vilola | Jornal de Angola | 28 de Maio, 2020

Há 43 anos acontecia em Angola uma purga precipitada por acontecimentos políticos e ideológicos do regime do MPLA, que proclamou a Independência do país a 11 de Novembro de 1975. Morreu muita gente vítima da perseguição política do regime e, também, da acção de insurgentes contra o poder político estabelecido. O ministro Francisco Queiroz esclarece, ao Jornal de Angola, que os crimes cometidos nos acontecimentos que ficaram conhecidos como “fraccionismo” foram amnistiados ao longo dos anos de governação.

Em 2018, na pessoa do ministro Francisco Queiroz, o Governo reconhecia publicamente ter havido excessos em relação a alguns acontecimentos do passado. Que excessos são esses?

Desde 2018 até agora, o estudo do fenómeno do 27 de Maio aprofundou-se bastante graças ao trabalho envolvente e abrangente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos, criada pelo Despacho 73/19, de 16 de Maio, do Presidente João Lourenço. Essa comissão tem estado a reunir e a debater vários assuntos voltados à reconciliação e avalia todos os episódios que envolveram violência política e que geraram vítimas. Portanto, o estudo destes fenómenos levaram a perceber melhor o 27 de de Maio.

Como é que o Governo vê, hoje, os acontecimentos do 27 de Maio?

Na verdade, tratou de uma sucessão de erros políticos históricos muito lamentáveis, com impacto muito forte na sociedade. E o que se pretende é que não voltem a acontecer esses erros. Mas esses erros enquadram-se num contexto histórico muito complexo. Tratou-se de erros que ocorreram num período caracterizado pela Guerra Fria (em que estavam em confronto duas grandes potências - os Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e todos os Estados viviam ou na constelação de uma ou na de outra potência. Era um contexto complicado do ponto de vista da hegemonia que cada um queria ter sobre o mundo. Também era um período em que o Estado só tinha cerca de um ano e meio de existência. Não tinha ainda a consolidação das instituições e, mesmo, a capacidade endógena dos próprios angolanos para gerirem o país, como temos hoje. Um ano e meio de independência é nada.

Foi só isso?

Não, também ainda estava muito presente a questão da luta de libertação nacional. Os problemas enormes de vária índole e muito complexos que se viveram durante a luta de libertação, ainda estavam bastante presentes na mente daqueles que lutaram pela libertação do país. Por outro lado, também se vivia muito os efeitos da colonização. Do ponto de vista psicológico ainda não estávamos libertados. Tínhamos a independência, mas ainda não estávamos livres do domínio colonial. Os efeitos da colonização ainda eram muito presentes. E vivia-se um período de grande entusiasmo revolucionário. A juventude, sobretudo, vivia com entusiasmo esse momento empolgante. Havia um romantismo - aquilo que o escritor Pepetela chamou de “geração da utopia”, do socialismo e do comunismo. Tudo isso estava muito presente na sociedade, mas, sobretudo na juventude.

Pobreza em Angola incide sobretudo em agregados com mais de sete membros


O Relatório de Pobreza para Angola 2020 concluiu que a pobreza aumenta cinco vezes mais em agregados com sete ou mais membros. Incidência da pobreza em Angola é de 41%.

A pobreza aumenta cinco vezes mais em agregados com sete ou mais membros em Angola se comparado com famílias com uma ou duas pessoas, segundo o Relatório de Pobreza para Angola 2020 consultado esta segunda-feira pela Lusa.

O Relatório de Pobreza para Angola 2020: Inquérito sobre Despesas e Receitas (IDR – 2018/2019), particularmente sobre a Pobreza Monetária, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, aponta a composição do agregado como determinantes da pobreza.

Doentes angolanos em Portugal têm tratamento "desumano"


A Associação de Apoio aos Doentes Angolanos em Portugal diz que é desumana a forma como os pacientes têm sido tratados. O pagamento dos subsídios está atrasado há quase um ano. Vigília frente à Embaixada é uma hipótese.

Domingos Fragoso está há três anos em Portugal na condição de doente com deficiência renal crónica terminal, a realizar consultas de pré-transplante, já inscrito na lista de espera. Conta que dificuldades nunca faltaram. Mas o mais lamentável é o atraso no pagamento dos subsídios por parte do Governo de Angola, sublinha.

"Estamos há mais de 10 meses sem subsídios. [É uma situação] terrivelmente lamentável e torna-nos a vida difícil", conta o paciente à DW.

Domingos Fragoso está hospedado na Pensão Alvalade, em Lisboa. Tem contornado as dificuldades com a ajuda de familiares em Angola, mas há quem não tenha esse apoio. A solução está nas mãos do poder central, em Luanda, acrescenta.

"Luanda é que manda os pagamentos para aqui. Inclusive, já há constrangimentos nalguns hospitais e unidades privadas por falta de pagamentos", diz.

Moçambique | Dois cabecilhas de grupos terroristas são abatidos em Cabo Delgado


As Forças de Defesa e Segurança de Moçambique abateram 78 insurgentes no distrito de Macomia, incluindo dois cabecilhas. O governo provincial de Cabo Delgado garante que aquela vila está sob o controlo das autoridades.

As autoridades moçambicanas afirmam que o distrito de Macomia, na província nortenha de Cabo Delgado, tende a voltar à normalidade depois da invasão de grupos terroristas.

O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Jaime Neto, disse este domingo (31.05) que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) abateram 78 terroristas e feriram outros 60. Os insurgentes atacavam a vila de Macomia desde a quinta-feira passada (28.05).

Jaime Neto disse ainda que entre os terroristas abatidos constam dois cabecilhas de nacionalidade tanzaniana. Um deles é o insurgente Njorogue, envolvido nos primeiros ataques armados em Moçambique em 2017. "Nesta contraofensiva, foram abatidos dois principais chefes. Consta que o Njorogue foi aquele que iniciou com os ataques a Mocímboa da Praia no dia 05 de Outubro de 2017", afirmou.

As forças governamentais apreenderam diversos materiais com os atacantes, incluindo viaturas, motocicletas, bicicletas e outros bens roubados da população. Depois da expulsão dos terroristas de Macomia, as FDS continuam a procurar pelos insurgentes para identificar as suas bases.

"A nossa força neste momento vai trabalhar dia e noite para perseguir principalmente aqueles cabecilhas. Vamos também fazer a limpeza dos lugares onde eventualmente encontram-se escondidos", diz.

O ministro Jaime Neto referiu que o sucesso destas operações depende, em grande medida, do envolvimento da população, através de denúncias. "Aproveitar esta oportunidade para apelar à população para continuar a colaborar da mesma maneira que tem estado a colaborar, porque no final do dia a perda é para todos nós. Os terroristas estão a destruir administrações distritais e bancos", sublinhou.

Hong Kong | Agora é a hora de introduzir legislação de segurança nacional

Chow Pak-chin* | China Daily | opinião

Mais uma vez, Hong Kong está sob os holofotes internacionais depois que o principal órgão legislativo da China, o Congresso Nacional do Povo, aprovou uma decisão autorizando seu Comité Permanente a promulgar uma lei de segurança nacional para Hong Kong.

A maioria das pessoas de Hong Kong, que valorizam a estabilidade e a prosperidade da cidade a longo prazo, aplaudiram a decisão de Pequim, argumentando que será bom para a segurança geral da cidade e da pátria.

A nova lei - que deverá ser promulgada em alguns meses - tem como objetivo impedir, interromper e punir atos em Hong Kong que ameacem a segurança nacional. O objetivo é impedir a atividade secessionista e subversiva, bem como a interferência estrangeira e o terrorismo.

Agora é um momento importante para introduzir esta legislação.  Hong Kong tem enfrentado protestos antigovernamentais cada vez mais violentos.  Alguns manifestantes vêm adotando táticas terroristas desde junho passado.  Embora a nova lei não abranja exatamente o mesmo que as leis de segurança nacional prescritas no artigo 23 da Lei Básica, é uma barreira adequada, pois pode ser introduzida sem a necessidade de a retardar no Conselho Legislativo.

Hong Kong precisa urgentemente dessa medida legal para salvaguardar a segurança nacional, pois a ameaça de violência continua a aumentar.  Desde que os protestos da “Ocupação Central” ocorreram em Hong Kong em 2014, a cidade continuou a cair em espiral descendente e sem lei.

Mais e mais pessoas de Hong Kong estão acordando para a realidade de que a única maneira de acabar com a violência é através de medidas legais e legislativas. Sem estabilidade social e política, qualquer discussão sobre prosperidade a longo prazo para a cidade é apenas conversa fiada.

A maioria dos países e regiões precisa, e realmente tem, leis de segurança nacional, então Hong Kong certamente não será uma exceção. Por exemplo, os Estados Unidos têm quase 20 leis dessa natureza, incluindo a Lei de Segurança Interna de 2002, que foi introduzida após os ataques de 11 de setembro de 2001. A Lei de Segurança Nacional Americana de 1947 foi um catalisador da grande reestruturação das agências militares e de inteligência do governo dos EUA após a Segunda Guerra Mundial.  É uma das mais antigas leis de segurança nacional do mundo.  

O Reino Unido, a França e a Austrália, como a maioria dos países ocidentais, também têm suas próprias versões.

Governo chinês denuncia “doença crónica” do racismo nos Estados Unidos


O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês acusa os Estados Unidos de ter “padrões duplos”, por considerar como “heróis” os manifestantes “violentos” em Hong Kong.

O Governo chinês denunciou esta segunda-feira a “doença crónica” do racismo nos Estados Unidos, após a morte de George Floyd, um afro-americano sufocado por um polícia branco, que desencadeou protestos em todo o país.

agitação em várias cidades norte-americanas é um sinal da “gravidade do problema do racismo e da violência policial nos Estados Unidos”, afirmou Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em conferência de imprensa.

Zhao comparou a violência nos Estados Unidos com a que abalou a região semi-autónoma de Hong Kong, no ano passado, em reacção à crescente influência de Pequim na antiga colónia britânica.

Porto(gal) | É ideologia, sim!


Rui Sá | Jornal de Notícias | opinião

Tem toda a razão Rui Moreira quando se insurge contra os planos da TAP de desprezar completamente o aeroporto do Porto.

E a sua razão está relacionada com o facto de, ponderando-se a injeção de milhões de euros de capitais públicos na empresa, se ter de exigir, como contrapartida, a garantia da defesa do interesse nacional. Se a empresa é privada, o seu objetivo é o lucro, pelo que tem toda a liberdade para escolher as rotas que lhe pareçam mais lucrativas. Mas se a empresa é pública, então o objetivo é servir o interesse nacional, podendo este ser menos lucrativo (ou, no limite, dar prejuízo), mas trazendo benefícios económicos, sociais, políticos (que têm de ser colocados na equação contabilística) para o país.

Aliás, se houve coisa que esta pandemia nos mostrou é a importância do controlo público dos serviços públicos. O êxito do nosso combate à covid-19 deveu-se ao Serviço Nacional de Saúde, dado que o sistema privado desapareceu no início do combate. Esta semana lemos que os operadores privados de transporte rodoviário de passageiros da área do Porto deixaram de prestar grande parte dos serviços (porque não davam lucro!), deixando apeados os utentes, ao contrário do que aconteceu com a STCP e o Metro do Porto, que no essencial os mantiveram.

A questão do controlo destes serviços, ao contrário do que afirmou Rui Moreira, é pura ideologia. Entendo que aqueles que defendem o primado do privado queiram fazer esquecer os factos. Vejo, até, grandes defensores do "menos Estado, melhor Estado" a exigirem apoios do Estado, a fundo perdido, à atividade privada... Mas nós, cidadãos que beneficiamos dos mesmos, não podemos esquecer esta lição: na altura do aperto, foi o setor público que deu resposta às nossas necessidades.

*Engenheiro

Covid-19 | Morreram mais 14 em 24 horas. Lisboa cresce em novos casos


Não há novos casos de covid-19 na região Norte em 24 horas

Portugal registou mais 14 mortos por covid-19 nas últimas 24 horas. O total de vítimas mortais é de 1424. O número de infetados subiu mais 200 num dia.

De acordo com o boletim da Direção-Geral da Saúde desta segunda-feira, Portugal regista 1424 vítimas mortais pelo novo coronavírus (mais 14 pessoas nas últimas 24 horas). No primeiro dia da terceira fase de desconfinamento foram registados mais 200 infetados, um total de 32700 desde o início da pandemia.

Há ainda mais 143 casos recuperados. No total, mais de 19500 pessoas recuperaram do vírus da covid-19. Quase 28 mil pessoas estão a ser vigiadas pelas autoridades de saúde em casa e 1720 aguardam os resultados dos testes à infeção respiratória.

No que toca aos números da covid-19 em Portugal Continental, a região Norte continua à frente com 16760 infetados (não aumentou em 24 horas) e 791 mortes (mais sete num dia). 

Lisboa, atual capital do novos casos de covid-19

A região de Lisboa e Vale do Tejo aparece a seguir nos números com 11335 doentes (mais 193 em 24 horas) e 363 vítimas mortais (mais seis mortes face ao dia anterior). Só no município de Lisboa há 2409 casos confirmados de covid-19. Esta segunda-feira, determinadas medidas da terceira fase de desconfinamento -- como a reabertura de centros comerciais -- foram adiadas para 4 de junho, na Área Metropolitana de Lisboa, devido ao crescente número de pessoas infetadas na região com o novo coronavírus.

A região Centro tem atualmente 3747 infetados e 239 mortos, o Alentejo permanece com uma vítima mortal e 259 doentes e o Algarve regista 372 infetados e 15 vítimas mortais. Já no arquipélago da Madeira, não há registo de mortes por covid-19, mas existem 90 infetados. Nos Açores, há 15 mortes e 137 doentes.

Os mais de 80 anos quase nas mil mortes

Nas faixas etárias, os maiores de 80 anos continuam a registar o maior número de baixas com 958 mortes. Há três mortes a registar abaixo dos 40 anos e 16 vítimas mortais entre os 40 e os 49 anos.

O número de doentes em cuidados intensivos permanece igual ao do dia anterior: são 64. E há 471 pessoas internadas com covid-19.

PG com Rita Neves Costa | Jornal de Notícias | Imagem: Pedro Correia//Global Imagens

O fascismo avança nos EUA, o racismo é só uma das consequências


Expresso Curto pela batuta de Martim Silva. Tipo rapsódia, abarca muitas "músicas". Começa pela pauta das vítimas do racismo, um dos recheios do fascismo norte-americano cada vez mais evidente. Atacam os negros, a liberdade de expressão, os mais pobres… e matam sem se fartarem. E a porrada selvagem que não falta. Mas que não, para alguns, aquilo é que é democracia… Ora, ora, vamos ali fazer as necessidades ao dobrar da esquina e já voltamos… Com o merecido presente para Trump e semelhantes “democratas”, da polícia e de tantos outros locais fascistas-racistas dos EUA.

Verdade que já enoja tanta matéria do mal vinda do nojento império do mal – que infelizmente é o que personifica os EUA desta modernidade em que a vida só com contentores de dólares e com pele dita branca vale mais. A restante é para usar e deitar fora ou eliminar sem dó nem piedade.

Tristeza é o que nos invade ao ver, ler e pensar na atualidade vinda de lá. Nos tantos maus acontecimentos e péssimas declarações e decisões das políticas de um presidente eleito e execrável. E outros políticos iguais. Afinal de um país a ferro e fogo com o seu próprio povo. Povo que sofre as consequências do corporativismo, elevado ao desumano capitalismo, que mais se comporta como sindicato do crime…

Dizer mais o quê? Já tudo foi dito. E cada vez pior. Avançar é o que importa, pela positiva.

Na UE vários países dão abertura ao desconfinamento. Portugal vai atrás. Julgamos por aqui que talvez esteja a ser demais. O que se passa é que é falsa ideia e declarações de que os portugueses são responsáveis e cumpridores. Essa ideia é um exagero. Exagero que nos pode vir a sair caro. Avisamos, à cautela. De nada servirá. Sim, até nos podemos enganar e vir a ser tudo um mar de rosas, ou quase. Não cremos nisso mas o seu contrário. Pessimismo, dirá Costa. Pois é. Nós somos os que que andamos nas ruas, e por aí… A plebe. Vimos. E o que vimos é esclarecedor quanto ao mito. Pessimismo, dirá Costa. Oxalá. Não resistimos a perguntar quantos mais vão morrer devido a tão larga abertura desconfinada. Ah, pois, a economia... É o que vale a vida dos portugueses. Pois é. Registe-se. De preferência numa pedra de gelo.

Sem palco e sem cortina para fechar preferimos fazer o convite para seguir para o Expresso Curto. Um rol de desgraças no outro lado do Atlântico e por cá. Parece que pior por lá…

Bom dia, se conseguirem e nos emprestarem alguma da vossa felicidade. Obrigado.

MM | PG

Crónica sobre o costume: o outro


Ferreira Fernandes | Diário de Notícias | opinião

Leitor, olá! Escolheu bem por me ler, sou um doutorado no assunto momentoso que aqui nos junta. Perdoe-me a imodéstia, não sou um sábio, é certo, falham-me livros, mas sou experimentadíssimo sobre o que abre os telejornais na América. O outro.

O assunto momentoso: na Georgia, estado do sul dos Estados Unidos, um homem corre no lusco-fusco, num daqueles bairros dos subúrbios que Hollywood nos ensinou a conhecer, sem muros nos quintais e com portas de vidrinhos e uma lingueta de trinco que salta com um simples piparote - toda a segurança que basta e acautela a classe média baixa americana. Branca. De americanos brancos, repito, porque nesta história é essencial essa brancura que contrasta com a pele negra do homem que corre. Um vídeo filma-o e também a um carro de habitantes do bairro que o persegue.

Outro ângulo da mesma situação: um homem está no chão, detido pela polícia de Minneapolis, no estado do Minnesota, no norte dos Estados Unidos. Três agentes fardados estão sobre o homem, encostando-o à roda traseira do carro policial, um deles com um joelho sobre o pescoço do detido. Há ainda outro polícia, de pé, que afasta a gente que se acerca e, sobretudo, aos seus vídeos. Mas estes filmam o homem, durante longos minutos, com a face negra empurrada contra o asfalto. O sujeitado que se queixa: "Não consigo respirar..."

EUA | Casa Branca. Polícia lança gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes


A Polícia norte-americana disparou gás lacrimogéneo em frente à Casa Branca, no domingo, para dispersar manifestantes que protestavam contra a morte do afro-americano George Floyd, na segunda-feira passada, durante uma detenção violenta.

Cerca de mil manifestantes concentraram-se em frente à residência do Presidente dos Estados Unidos, gritando palavras de ordem e ateando fogos, numa altura em que Washington regista confrontos violentos noutras partes da cidade.

O incidente deu-se uma hora antes do recolher obrigatório decretado pelas autoridades, a partir das 23h00 de domingo (04h00 de hoje em Lisboa).

Sinais de trânsito arrancados, barreiras de plástico e até uma bandeira dos Estado Unidos foram usados como combustível para atear fogos no parque em frente à Casa Branca, enquanto a Norte da cidade se registaram pilhagens de várias lojas e um cinema.

Mais de quatro mil detidos nos EUA após morte de George Floyd


Pelo menos 4.100 pessoas foram detidas nos protestos nos Estados Unidos que se seguiram à morte do afro-americano George Floyd na segunda-feira, de acordo com uma contagem realizada pela agência de notícias Associated Press.

As detenções foram feitas durante as pilhagens e no decorrer de bloqueios nas estradas, bem como pelo incumprimento do recolher obrigatório imposto em várias cidades norte-americanas.

Os números da prisão incluem os das manifestações em Nova Nova Iorque e Filadélfia na costa leste, Chicago e Dallas no centro-oeste e sudoeste, bem como em Los Angeles na costa oeste.

A filha do autarca de Nova Iorque, Bill de Blasio, está entre os detidos de sábado à noite na parte baixa de Manhattan, quando participava numa manifestação.

China | Hong Kong nega ceder "às ameaças" dos EUA sobre fim de vantagens comerciais


Hong Kong, 30 mai 2020 (Lusa) -- O Governo de Hong Kong assegurou hoje que não vai ceder "às ameaças" do Presidente norte-americano, Donald Trump, relativamente ao fim de vantagens comerciais dadas à antiga colónia britânica face à China, estando a trabalhar num "plano de contingência".

Em causa está o facto de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado que vai abolir as vantagens comerciais concedidas a Hong Kong após sua transferência do domínio britânico para chinês em 1997.

Em declarações hoje prestadas à imprensa regional, o ministro da Segurança Local de Hong Kong, John Lee, afirmou que "os Estados Unidos não vão ganhar com as suas ameaças".

A decisão de Donald Trump traduz-se na revogação do estatuto especial de Hong Kong e surge como reação à nova legislação de segurança nacional aprovada por Pequim.

Porém, para John Lee, Hong Kong "está a fazer o que está correto" ao apoiar esta lei recentemente aprovada por Pequim para Hong Kong.

China | Receita do jogo em Macau com perdas de 93,2% em maio


Macau, China, 01 jun 2020 (Lusa) -- As receitas do jogo em Macau caíram 93,2% em maio, em relação a igual período de 2019, quando já se registavam fortes restrições nas fronteiras da capital mundial dos casinos para conter a pandemia da covid-19.

Se em maio de 2019 as operadoras que exploram o jogo no antigo território administrado por Portugal tinham arrecadado 25,95 mil milhões de patacas (2,63 mil milhões de euros), agora a receita bruta mensal ficou-se pelos 1,76 mil milhões de patacas (cerca de 198 milhões de euros).

Os dados hoje divulgados pela Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) indicam também uma descida de 73,7% nos cinco primeiros meses do ano, num período em que casinos estiveram fechados durante pelo menos 15 dias em fevereiro.

O montante global gerado de janeiro a maio de 2020 foi de 33 mil milhões de patacas (3,72 mil milhões de euros), menos 92,68 mil milhões de patacas (10,44 mil milhões de euros) do registado nos cinco primeiros meses de 2019.

Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,46 mil milhões de patacas (cerca de 32,43 mil milhões de euros).

PIB de Macau cai 48,7% no primeiro trimestre do ano


Macau, 31 mai 2020 (Lusa) -- O Produto Interno Bruto (PIB) de Macau caiu 48,7% no primeiro trimestre do ano, em termos reais, comparativamente a igual período de 2019, indicam os últimos dados oficiais.

De acordo com um comunicado da Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), divulgado no sábado, a economia de Macau "em que predominam as exportações de serviços, sofreu um grave impacto da queda drástica da procura global", devido à covid-19.

Em termos de procura externa, as exportações de serviços registaram uma queda homóloga de 60%, com "destaque para as quedas de 61,5% nas exportações de serviços do jogo e de 63,9% nas exportações de outros serviços turísticos.

As exportações de bens diminuíram 23,5% e "agravou-se a amplitude descendente da procura interna, com uma queda anual de 17,5%, arrastada principalmente pelas diminuições do investimento em ativos fixos e da despesa de consumo privado", salientou.

Estudante chinesa relata como viveu a evolução da epidemia em Portugal


Zhan Luoheng*

Tal como todos aqueles que se encontram fora do país e se preocupam com os seus familiares, enquanto estudante chinesa em Portugal, posso dizer que enfrentei “duas epidemias”. Inicialmente seguia de perto a evolução da situação na China e, mais tarde, passei a participar no combate como membro da sociedade portuguesa. Experienciei duas formas de conter a propagação do vírus, mas a mesma preocupação do governo pelos seus cidadãos e a mesma exteriorização de afeto e solidariedade entre as pessoas.

Os portugueses têm um forte caráter individual, mas tal não impede que demonstrem uma notável consciência coletiva perante uma situação de crise. Eu, enquanto participante “especial” desta batalha, considero que Portugal deveria ser considerado um caso à parte na Europa, pois os esforços e sacrifícios do seu povo são merecedores do nosso aplauso.
No dia 2 de março, Portugal confirmou o primeiro caso do novo coronavírus. No início, o vírus não foi motivo de grande preocupação entre os portugueses. Pelo contrário, para os chineses residentes em Portugal, era motivo de alarme. Eu própria fui alvo de condescendência entre os meus amigos portugueses, que diziam que estava a ser “exagerada” e “demasiado preocupada”.

Sempre que perguntavamos se já tinham comprado máscaras, desinfetantes e outros produtos de higienização, parecia que combinavam entre eles a mesma resposta: “Não te preocupes, relaxa”. Aos olhos deles, esta seria mais uma vez em que Portugal seria aquele país pelo qual uma crise passaria ao lado.

No entanto, foram precisos apenas 11 dias para que um fenómeno externo passasse a envolver toda a população. Em comparação com os restantes países da Europa, o desempenho português é particularmente notável. No dia 13 de março, recebi uma mensagem do meu senhorio português avisando que o país iria em breve implementar uma política de confinamento domiciliar. Nesse dia, fosse nos correios, no talho, no supermercado, ou em qualquer outro espaço público, as pessoas mantinham já conscienciosamente um metro de distanciamento social nas filas de espera para entrar e sair das superfícies. Esta conduta deixou os chineses em Portugal e a sociedade como um todo mais descansados.

Diferentemente da China, Portugal avançou com a sua própria estratégia, talhada para as características e condições locais. Por exemplo, aos doentes com sintomas leves foi-lhes recomendado que permanecessem em casa. Durante o período em que o confinamento esteve em vigor em todo o país, o governo português não impôs limitações severas às liberdades individuais e manteve a confidencialidade da localização dos casos confirmados.

A opacidade da informação de cada paciente e a relativa tolerância das deslocações, embora tenham preservado a privacidade e as liberdades individuais, fez com que muitas outras pessoas tenham ficado preocupadas. No entanto, vale a pena sublinhar que cada medida tomada pelo governo português foi ponderada com base nas circunstâncias económicas, médicas e sociais do país, tendo sido repetidamente equacionadas variáveis individuais e coletivas, regionais e étnicas.

O país não perdeu tempo a criar medidas para assegurar o “futuro da pátria”: rapidamente foi implementado o “Estudo em Casa”, garantindo os meios necessários para os estudantes do ensino primário e básico assistirem às aulas em casa, todos os dias úteis, das 9h às 17h. Para os grupos mais desfavorecidos, foram criadas leis de isenção temporária do pagamento de rendas. Os mais jovens uniram-se espontaneamente para apoiar os mais velhos, oferecendo-se para levar as compras a sua casa e garantir vários apoios necessários no seu dia-a-dia. Para agradecer aos profissionais de saúde, a população chegou a acorrer às varandas das suas casas, pelas 20h, para bater palmas. Pode dizer-se que foi um período com alguns “traços ocidentais”: uso de máscara sem cobrir o nariz; saídas à rua sem máscara; desinfeção do tapete depois de voltar a casa; idas do presidente da República em calções ao supermercado; patrulhas de carros da polícia com slogans apregoados via megafone durante o confinamento; dificuldades em resistir aos encantos dos dias de sol e a criação de regulamentos de distanciamento nas praias proibindo “aglomerados de mais de 10 pessoas”, já depois do pico da epidemia ter passado. Todas estas situações despertam uma certa ternura no coração e fazem com que goste ainda mais deste país.

Durante este período em que enfrentamos a epidemia, eu, tal como os outros chineses em Portugal, encaramos a situação mais alerta. Fomos rotulados de “forasteiros” e fomos parte de um dos grupos mais afetados pelo preconceito. Há alguns dias, um jornal português publicou um artigo da minha autoria, no qual critiquei a questão da descriminação. Muitos dos comentários das pessoas foram negativos. É também devido a estas vozes que aprendi a valorizar ainda mais as boas ações. Ainda me lembro quando o surto começou a espalhar-se pelo mundo - e com ele a descriminação contra os chineses - em que tinha receio de entrar nas carruagens do metro, repletas de rostos estrangeiros, e uma rapariga portuguesa da minha idade sorriu na minha direção e acenou para eu entrar. Recordo-me também de cada gesto e demonstração de afeto dos meus amigos estrangeiros durante este período.

Bem sei que esta luta em Portugal não foi fácil e agradeço todos estes momentos calorosos. Portugal é um país multiétnico e, como tal, não é tarefa simples a coordenação das diferenças de todas as suas gentes. Seja a nível governamental ou da sociedade civil, Portugal moveu os esforços necessários para controlar a epidemia nos últimos três meses.
Neste momento, a sociedade portuguesa regressa gradualmente ao trabalho. Embora as pessoas de máscara nas ruas nos lembrem que ainda é preciso estar alerta, tudo parece ter regressado à normalidade.

*Portuguese People Online | Fonte: Diário do Povo | Imagem: Ronnie

*Tradução por Mauro Marques

*A autora é estudante da Universidade de Línguas Estrangeiras de Shanghai e encontra-se a realizar um programa de mobilidade na Universidade Nova de Lisboa

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