sábado, 27 de junho de 2020

Portugal | Devíamos estar no mesmo barco


Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Nos últimos dias, as notícias relativas à evolução da pandemia na região de Lisboa trouxeram-me à memória a extraordinária comédia de Ettore Scola "Feios, porcos e maus".

Por vezes é preciso fazer-se um retrato exagerado de uma realidade dura e persistentemente colocada na margem, para que as consciências dos acomodados despertem e o coletivo abandone a indiferença.

É confrangedor olhar para o mapa das freguesias da Área Metropolitana de Lisboa - um cordão infecioso em torno da capital que só exclui Oeiras e Cascais - onde está inscrita toda uma trajetória de segregação espacial de classe. De que é que estou a falar? De processos de décadas, recentemente muito acelerados pelo frenesim turístico e imobiliário, de expulsão das populações trabalhadoras e de imigrantes para as periferias de Lisboa. Essas populações estão sujeitas a penosas mobilidades diárias casa-trabalho-casa que acrescentam horas de incómodo aos horários de trabalho já de si longos, à vida em urbes degradadas onde não há condições para garantir os direitos fundamentais. Em muitos casos têm domicílios sem condições de higiene e habitabilidade.

Apanhadas no turbilhão da covid, parte significativa dessas populações teve de continuar a trabalhar. O seu trabalho não pode ser feito a partir de casa e sem ele todos os cidadãos teriam ficado privados de bens e serviços essenciais e impedidos de se confinarem. Encontraram, no seu vaivém diário, transportes servidos a meio gás, muitas vezes apinhados como dantes. Passaram os dias em espaços de trabalho sem a necessária higienização e adequadas medidas de proteção, espaços esses tão congestionados como as festas de aniversário de que o coronavírus gosta para proliferar.

Agora, na Grande Lisboa, há mais contaminados que em todas as outras regiões. No início da pandemia viveu-se essa situação nas periferias industriais da região do Porto. E são tão patéticas as afirmações que no início da pandemia insinuavam que a sua extensão no Norte era inerente a pressupostos défices culturais da população, como aquelas que hoje atribuem as culpas do alastramento na região de Lisboa aos descuidos dos cidadãos que aqui habitam.

Sem diminuir a condenação de todos os descuidos e desrespeitos, há que dizer: o problema central é nunca termos estado todos no mesmo barco. E o mais perverso é que nas entrelinhas do discurso público se vão encontrando alusões, por enquanto envergonhadas, a "bairros perigosos" e "classes perigosas" que devem ser confinados com todo o rigor.

O coronavírus é um vírus muito discriminatório: começa por preferir idosos e pessoas com saúde frágil, gosta de trabalhadores das periferias urbanas, delicia-se com imigrantes desprotegidos, com trabalhadores precários e temporários e, vai-se lá saber porquê, até distingue ramos de atividade - a indústria de processamento de carnes, a construção civil e, claro, os profissionais de saúde e de prestação de cuidados a idosos.

Uma resposta decente e porventura eficaz à covid e às suas consequências será tudo fazer para nos metermos todos no mesmo barco. Isso aconselha a que se abandonem respostas discriminatórias baseadas na identificação de alvos de confinamento cada vez mais finos, que se proteja a sério trabalhadores e populações mais carenciadas e se trabalhe, com visão estratégica, uma sociedade mais igual e coesa.

*Investigador e professor universitário

Estudo revela que 62% dos portugueses manifestam alguma forma de racismo


Os inquiridos foram questionados se consideravam existirem grupos étnicos ou raciais, por natureza, mais inteligentes, mais trabalhadores e, também, culturas mais civilizadas do que outras. Há apenas 11% da população que rejeita todas as crenças racistas.

Um estudo revelou que 62% dos portugueses manifestam alguma forma de racismo e que apenas 11% da população discorda de todas as crenças racistas apresentadas no último inquérito do European Social Survey (ESS), noticiado este sábado pelo jornal Público.

O inquérito do ESS remonta a 2018 e 2019 e mede o racismo através de perguntas, tendo sido realizada uma amostra aleatória com 1055 portugueses, a partir dos 15 anos.

Os inquiridos foram questionados se consideravam existirem grupos étnicos ou raciais, por natureza, mais inteligentes, mais trabalhadores e, também, culturas mais civilizadas do que outras.

Portugal com seis mortes e 323 novos casos de Covid-19 nas últimas 24 horas


Há mais doentes de Covid-19 do sexo feminino (23.124) do que do masculino (18.065). Apesar da diferença de casos detetados em Portugal, o número de óbitos por género é praticamente idêntico: morreram até ao momento 781 mulheres e 780 homens.

Estão confirmadas 1561 mortes devido à Covid-19 em Portugal, mais seis nas últimas 24 horas.

O número de pessoas infetadas pela doença é agora 41.189, mais 323 do que no último boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde, um dia depois do número mais alto desde dia 8 de maio.

Até ao momento 26.864 pessoas conseguiram recuperar, mais 231 desde o último balanço.

Há 31.255 pessoas em vigilância pelas autoridades de saúde e 1627 aguardam resultado laboratorial para saber se estão, ou não, infetadas.


Existem neste momento doentes 442 internados (menos 15), dos quais 70 estão nos cuidados intensivos.

Portugal | Fascistas e racistas manifestam-se hoje em Lisboa


Que “Portugal não é racista” é o mote do partido de má-ventura denominado Chega, radical de extrema-direita, fascista e repleto de bolores salazaristas, disfarçados contudo de vestes democráticas – enquanto e se não ganhar força representativa em eleições, resultado da sua postura e de declarações populistas para manipular e vigarizar eleitores portugueses.

Sobre o acontecimento lisboeta versa o Expresso e demais comunicação social. A PSP declarada temer desacatos. É muito provável que ocorram. Antifascistas e antiracistas podem muito bem manifestarem-se indignados com a mentira do mote, porque está mais que provado que o racismo existe em Portugal como em demasiados países do mundo. E, inevitavelmente, os fascistas são também racistas. A demonstração poderá ocorrer se alguma vez o Chega e seus correligionários chegarem aos poderes. Então sim, serão semelhantes ou ainda piores que o regime que experimentámos por quase 50 anos e que derrubámos em 25 de Abril de 1974.

Não devemos esquecer que Hitler foi vencedor em eleições na Alemanha… Depois deu no que deu. Evitar que o Chega não chegue a representatividade que afete as liberdades e a democracia depende dos eleitores. Vamos ver, não esquecendo que o populismo tem manhas que cativam os menos avisados sobre os realmente extremistas racistas, fascistas, nazis sem tirar nem pôr.

A parcial notícia do Expresso a seguir.

Chega: Polícia teme desacatos na ‘manif’ de André Ventura

Agentes da PSP receiam que haja colegas mais brandos com apoiantes do Chega se houver confrontos com antifascistas. Ventura diz que está a fazer tudo para “evitar riscos desnecessários”. Manifestação é este sábado em Lisboa.

A manifestação do Chega sob o lema “Portugal não é racista” está a ser encarada com apreensão pela PSP de Lisboa: há receios de haver desacatos entre elementos da extrema-direita nacionalista e de grupos antifascistas que possam aparecer ao longo do percurso entre o Marquês de Pombal e a Praça do Comércio.

“Estarão no terreno equipas à civil para monitorizar movimentações suspeitas. Também as equipas da Unidade Especial de Polícia estarão de prevenção”, admite uma fonte da PSP que assegura que as forças e serviços de segurança estão prevenidas para o pior cenário. Fontes da PSP receiam que, a haver confrontos com os elementos antirracistas, alguns dos agentes possam tomar partido dos manifestantes ligados ao Chega, devido às simpatias partidárias. Esta ideia, porém, é negada por Peixoto Rodrigues, sindicalista da PSP que também foi candidato às europeias pela coligação Basta (onde se incluía o Chega): “Não admito que haja parcialidade numa hipotética intervenção policial. Um polícia decide a favor da lei.”

Hugo Franco | Liliana Coelho | Expresso

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UE | “Solidariedade" e "inimigo externo”


A forma como a UE dos monopólios vem lidando com a pandemia e com o que virá a seguir é inteiramente elucidativa do que dali há a esperar: defesa dos interesses das potências centrais à custa de uma ainda maior vulnerabilização de países periféricos (sejam eles maiores ou menores). É isso a “solidariedade” UE. E também um ainda maior alinhamento com o imperialismo EUA e a NATO.

João Ferreira* | opinião

A estafada retórica da «solidariedade europeia», a cada novo sobressalto, volta irremediavelmente a tropeçar, uma e outra vez, na realidade do cada-um-por-si, marca de água da integração capitalista europeia.

Depois da péssima impressão deixada com a resposta inicial ao surto da COVID-19, quando a Itália se viu a braços com a falta de material e equipamento médico, que alguns «parceiros» retinham nas respectivas fronteiras, de súbito reerguidas; depois de aterrarem em solo italiano aviões oriundos da China, trazendo algum do equipamento que os «parceiros europeus» retinham arbitrariamente, mas também de Cuba, com pessoal médico, e da Rússia, com equipas de apoio a ações de desinfecção; depois de tudo isto, a Comissão Europeia veio assegurar, com solenidade, que a «descoordenação» inicial (assim lhe chamaram) era coisa do passado, sendo que o presente e o futuro seriam pautados pela acção coordenada dos 27 em todos os domínios de resposta ao surto e às suas consequências.

Rússia alerta Polónia para “custos de segurança” ao tornar-se “linha da frente”


Donald Trump referiu-se à possibilidade de mudar para a Polónia parte do contingente militar na Alemanha. A diplomacia russa disse que a Polónia deve estar ciente dos custos da obtenção do novo estatuto.

A Rússia parte do princípio de que a Polónia está ciente dos custos de obter o estatuto de «Estado da linha da frente», incluindo aqueles que afectam a sua própria segurança, disse à agência TASS o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Alexander Grushko, ao comentar os planos dos EUA para transferir parte das suas forças da Alemanha para a Polónia.

«Aparentemente, devemos entender que, se Varsóvia deseja colocar-se intencionalmente na posição de Estado da linha da frente ao receber forças estrangeiras de forma permanente, está aparentemente ciente de todos os custos associados, incluindo os que dizem respeito à sua própria segurança», disse Grushko.

As observações do diplomata russo surgem na sequência das declarações proferidas por Donald Trump esta quarta-feira, em Washington, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo polaco, Andrzej Duda. O presidente norte-americano admitiu que uma parte do contingente militar actualmente estacionado na Alemanha será «provavelmente» enviado para a Polónia.

Os defensores dos direitos humanos


OEstados Unidos sempre se autoproclamaram “defensores dos direitos humanos”, acusando outros países de forma arbitrária, porém, os recentes protestos no país têm exposto as próprias figuras políticas e problemas de direitos humanos. Com todo o mundo a assistir, iniciou-se assim uma investigação aos EUA. 

David Chan | Plataforma | opinião

54 países africanos entregaram uma proposta de resolução ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, exigindo o seguinte: que se crie uma comissão internacional independente para investigar os problemas de violência policial nos EUA; seja investigada a discriminação racial sistemática contra descendentes de africanos nos EUA e em outros países; seja também investigada a atitude das várias instituições governamentais e policiais nos EUA e em outros países em relação aos movimentos de protesto, especialmente ações violentas contra jornalistas e transeuntes. 

O assassinato do afroamericano George Floyd enfureceu os 60 países e regiões do continente africano. É raro 54 países entrarem em consenso, e o próprio Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas agiu após ter recebido esta resolução, organizando um debate urgente sobre direitos humanos nos EUA durante a 43º sessão deste órgão em Genebra, Suíça, no passado 17 de junho.

Esta é a primeira vez que o conselho organiza uma reunião de emergência desde a criação, em 2006, e a primeira para discutir questões de direitos humanos nos EUA. Este país, que abandonou a organização internacional de direitos humanos a 19 de junho de 2018, após uma investigação falhada sobre o massacre de manifestantes palestinianos contra a mudança da embaixada norte-americana para Jerusalém por forças secretas israelitas, irá com certeza opor-se à atual proposta de inquérito e investigação dos direitos humanos no país. No entanto, este debate já destrói por completo qualquer reputação que o país ainda possuía como defensor de direitos humanos.

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EUA anunciam restrições a responsáveis chineses


Os EUA anunciaram hoje “restrições de vistos” para limitar a entrada no país de autoridades chinesas consideradas responsáveis pelas novas leis de segurança em Hong Kong.

O Presidente Donald Trump “prometeu punir os funcionários do Partido Comunista Chinês responsáveis pelo desmantelamento das liberdades de Hong Kong. Hoje, estamos a tomar medidas nesse sentido”, explicou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, num comunicado divulgado hoje.

Sem especificar o número de visados ou a sua identidade, o chefe da diplomacia dos EUA referiu-se a “restrições de vistos a funcionários, atuais ou antigos, do Partido Comunista Chinês considerados responsáveis ou cúmplices por colocarem em causa a autonomia de Hong Kong”.

As medidas visam igualmente os responsáveis por “questionar direitos humanos e liberdades fundamentais” na antiga colónia britânica, que funciona em regime de semiautonomia perante Pequim, no modelo de “um país, dois sistemas”.

O secretário de Estado norte-americano admitiu que as medidas sancionatórias atinjam ainda familiares próximos dos funcionários responsabilizados.

A China anunciou no passado mês um controverso projeto de lei para recuperar o controlo da segurança em Hong Kong, que foi de imediato criticado pela comunidade internacional e por grupos de direitos humanos que acusam Pequim de tentar silenciar o movimento pró-democracia naquele território.

Xi espera mais estabilidade e maturidade nos laços China-UE na era pós-pandémica


#Texto corrigido de português do Brasil (br) para português original (pt) 


O presidente chinês, Xi Jinping, reuniu-se na segunda-feira por videoconferência com Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

Desde o surto da COVID-19, a China e a União Europeia (UE) apoiaram-se e ajudaram-se mutuamente, afirmou Xi, notando que o país asiático está disposto a unir seus esforços com a Europa para impulsionar um relacionamento mais estável e maduro na era pós-pandémica e elevar seus laços a uma nova altura.

"A China quer paz em vez de hegemonia", disse Xi, acrescentando que a China não é apenas um país com uma longa história, mas também um país em desenvolvimento e cheio de vitalidade.

"No ponto de partida de todas as nossas políticas e trabalho é permitir que o povo chinês tenha uma vida feliz. Seguiremos firmemente o caminho do desenvolvimento pacífico", disse Xi, observando que a China apresenta "oportunidades, não ameaças".

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