quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O conselho de segurança da mentira

A responsabilidade do alegado ataque químico em Duma, em 7 de Abril de 2018, foi atribuída ao governo de Damasco pelos países e interesses que patrocinam a agressão internacional sem fim contra a Síria.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Membros da NATO e da União Europeia no Conselho de Segurança das Nações Unidas impediram uma audição que permitiria esclarecer o comportamento suspeito da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ, OPCW) no caso do suposto ataque químico em Duma (Síria), em 7 de Abril de 2018, que tudo leva a crer tenha sido encenado. O comportamento dos Estados Unidos e aliados reforça vigorosamente esta possibilidade de fraude.

A Federação Russa, que ocupa em Outubro a presidência do Conselho de Segurança, propôs a audição do diplomata brasileiro José Bustani, primeiro director-geral da OPAQ. Bustani é um dos sete peritos signatários de uma investigação publicada em 23 de Outubro de 2019, segundo a qual o relatório final daquela organização sobre o suposto ataque químico em Duma «foi falsificado para favorecer uma conclusão predeterminada» – a responsabilidade do governo sírio.

A conclusão do documento, tornado público pela Courage Foundation, é confirmada também por dados com autenticidade comprovada divulgados pelo website WikiLeaks, extraídos de trocas de emails entre inspectores que fizeram a investigação no terreno.

Estes testemunham, com provas, a falsificação das informações recolhidas pela equipa de inspecção e, por consequência, do próprio relatório da OPAQ, designadamente através da distorção de factos, supressão de dados e documentos e deduções abusivas, todas elas conjugadas no sentido de responsabilizar o governo da Síria.

Apoio dos escoceses à independência atinge nível recorde de 58%

A sondagem, realizada entre 2 e 9 de outubro junto de 1.045 escoceses, mostra ainda que o partido da primeira-ministra Nicola Sturgeon (SNP), beneficia de um apoio "muito forte" do público

apoio dos escoceses à independência atingiu um nível sem precedentes, com 58% da população favorável à saída da região do Reino Unido, indica uma sondagem publicada quarta-feira pelo Instituto Ipsos Mori.

A sondagem, realizada entre 2 e 9 de outubro junto de 1.045 escoceses, mostra ainda que o partido da primeira-ministra Nicola Sturgeon (SNP), beneficia de um apoio "muito forte" do público, com 72% de satisfeitos com a gestão da epidemia provocada pelo novo coronavírus.

"Se o SNP obtém a maioria nas eleições locais em maio do próximo ano, a nossa sondagem sugere que haverá uma pressão pública importante para que o governo central britânico transfira para o parlamento escocês os poderes necessários para organizar um segundo referendo sobre a independência", da região, comentou Emily Gray, diretora geral do Ipsos Mori Escócia.

Em 2014 foi realizado um referendo, e 55% dos escoceses tinham preferido manter-se no seio do Reino Unido.

Desde então, o governo central impediu os escoceses de fazer novo escrutínio, argumentando que o voto deveria acontecer "uma vez por geração".

Nicola Sturgeon prometeu fixar a data das eleições locais e de um segundo referendo, sustentando que o Brexit mudou as circunstâncias da população, já que aquela província tinha votado massivamente contra a saída do Reino Unido da União Europeia.

Expresso | Lusa | Imagem: Reuters

Portugal | Dramatizar com uma aplicação?

Isabel Moreira | Expresso | opinião

Qualquer pessoa livre prefere ser arrastada pela rua a ceder a sua privacidade a um polícia. Afrontar este apego à liberdade foi um erro político crasso

Talvez.

Talvez tenha sido essa a intenção de António Costa quando apresentou no local certo, a Assembleia da República, a proposta de lei que agora monopoliza as notícias, essa que determina a obrigatoriedade do uso de máscara ou viseira para o acesso ou permanência nos espaços e vias públicas e a obrigatoriedade da utilização da aplicação STAYAWAY COVID em contexto laboral ou equiparado, escolar e académico. A polémica, claro, diz respeito à aplicação, que pressupõe cidadãos de primeira e de segunda, os que têm dispositivos para a aplicação e os que não os têm, mas, mais grave, que introduz uma rutura no pensamento acerca do Estado de direito que usa nortear o Governo.

É tão difícil perceber o que leva este Governo em concreto a aprovar a iniciativa que desenhou um mundo em que somos obrigados a ter um comportamento dependente de um outro que é opcional (ter ou não o dispositivo), somos fiscalizados por um qualquer polícia sem mandato e devidamente coimados, que talvez a razão da iniciativa esteja mesmo na dramatização.

António Costa quer provocar um debate, quer mexer com as consciências num momento em que a pandemia assusta em número de infetados.

Talvez.

Acontece que o poder de iniciativa legislativa não serve para dramatizar ou para alertar ou para provocar debates. Quando se apresenta uma proposta de lei é bom que se queira a sua aprovação.

Não acredito que António Costa queira este (nosso) policiamento.

Andou mal, por isso, em apresentar a proposta que sabe que não passará.

Qualquer pessoa livre prefere ser arrastada pela rua a ceder a sua privacidade a um polícia.

Afrontar este apego à liberdade foi um erro político crasso.

Pode ter sido uma mera dramatização.

Mas não se dramatiza com a liberdade.

Portugal regista mais 2 101 casos e 11 mortes por covid em 24 horas

O boletim epidemiológico da DGS de hoje refere ainda que estão hospitalizadas 993 ​​​​​​pessoas (mais 36 do que ontem), 139 destas nos cuidados intensivos (mais quatro).

Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais 11 pessoas vítimas da pandemia de covid-19 e foram confirmados mais 2 101 casos de infeção. Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta quinta-feira (15 de outubro), no total, desde que a pandemia começou, registaram-se 93 294 infetados, 55 081 recuperados (mais 588) e 2 128 vítimas mortais no país.

Neste momento, há 36 085 doentes portugueses ativos a ser acompanhados pelas autoridades de saúde, mais 1 502 do​​​​​​ que ontem.

A maioria dos infetados das últimas 24 horas localiza-se na região do norte (mais 1 146 - 54,5% do total) e em Lisboa e Vale do Tejo (733 - 34,9%). Seguem-se o centro (mais 163), o Alentejo (40), o Algarve (13), a Madeira (cinco) e os Açores (um).

Portugal ultrapassou, pela primeira vez, a barreira dos dois mil casos diários de infeção pelo novo coronavírus nesta quarta-feira, depois de estar há sete dias consecutivos a notificar mais de mil infeções por dia. O agravamento da situação epidemiológica veio acompanhado por um alerta da ministra da Saúde, Marta Temido, que, em conferência de imprensa, admitiu a possibilidade do país atingir "três mil casos [diários] dentro de alguns dias, se não tivermos a cautela necessária".

Mais 36 pessoas hospitalizadas

Estão internados 993 doentes, ou seja, mais 36 do que no dia anterior. Já nos cuidados intensivos há agora 139 pessoas - mais quatro que na véspera.

O boletim da DGS de hoje indica ainda que as autoridades de saúde estão a vigiar 51 601 contactos de pessoas infetadas (mais 1 057 do que ontem).

8 dos 11 mortos tinham mais de 80 anos

Os 11 óbitos registados nas últimas 24 horas distribuem-se por Lisboa e Vale do Tejo (sete), pelo norte (dois) e pelo centro (dois).

As vítimas mortais são cinco homens e seis mulheres. Entre estas, havia oito pessoas com mais de 80 anos, uma entre os 70 e os 79, uma entre os 50 e os 59 e outro entre os 40 e os 49.

A taxa de letalidade global do país é hoje de 2,28%, subindo aos 12,4% no caso das pessoas com mais de 70 anos - as principais vítimas mortais.

País em estado de calamidade. Governo quer app de rastreio e máscara na rua como obrigatórias

Por causa do aumento de casos, o Governo reforçou as medidas de combate à pandemia de covid-19. Depois de uma reunião do Conselho de Ministros, esta quarta-feira, ficou a saber-se que Portugal passa a estado de calamidade.

O executivo vai também apresentar no Parlamento uma proposta para que se torne obrigatório o uso de máscara nas ruas, anunciou o primeiro-ministro. Em caso de desobediência, o Governo sugere uma multa de até dez mil euros.

Além disso, a aplicação StayAwayCovid será de uso obrigatório nalgumas circunstâncias, nomeadamente entre as forças de segurança, forças armadas, em escolas e em ambiente laboral. E há novas restrições no que diz respeito a ajuntamentos: o número de participantes nos eventos de natureza familiar, como casamentos ou batizados, terão de ter uma lotação máxima de 50 participantes e estão proibidos festejos académicos (por exemplo, praxes de receção aos novos estudantes universitários). Os ajuntamentos na rua não poderão ter mais de cinco pessoas.

Já esta manhã, António Costa, questionado pelos jornalistas em Bruxelas, sobre a acusação destas medidas serem autoritárias, disse "temos de estancar isto agora". O primeiro-ministro voltou a apelar ao bom senso, lembrando que muitas pessoas até já usam máscara na rua.

38,8 milhões de casos em todo o mundo

O novo coronavírus já infetou mais de 38,8 milhões de pessoas no mundo inteiro até esta quinta-feira e provocou 1 097 709 mortes, segundo dados oficiais. Há agora 29,1 milhões de recuperados.

No total, os Estados Unidos da América são o país com a maior concentração de casos (8 150 383) e de mortes (221 850). Em relação ao número de infetados acumulados no mundo, seguem-se a Índia (7 309 164), o Brasil (5 141 498) e a Rússia (1 354 163). Portugal surge em 47.º lugar nesta tabela.

Quanto aos óbitos, depois dos Estados Unidos, o Brasil é a nação com mais mortes declaradas (151 779), seguidos da Índia (111 337) e do México (84 898).

Rita Rato Nunes | Diário de Notícias

Portugal | Direitos digitais. Associação admite providência cautelar...

para travar obrigatoriedade da StayAway Covid

O vice-presidente da D3 defende que cada cidadão tem o direito de colocar o que entende nos seus dispositivos e diz esperar "que a sensatez prevaleça e esta ideia grotesca fique pelo caminho".

A Associação D3 - Defesa dos Direitos Digitais admite avançar com uma providência cautelar para travar a obrigatoriedade de instalar a aplicação StayAway Covid e defende que "as Apps obrigatórias não pertencem a uma Europa democrática".

Em comunicado, a associação defende que "a obrigação de instalação de uma 'app', qualquer que seja, é uma intrusão inédita e antidemocrática, digna do autoritarismo chinês e não do modelo europeu de sociedade".

"Tal obrigatoriedade, a acontecer, estaria em explícita contradição com as recomendações da Autoridade Europeia de Proteção de Dados, com a recomendação da Comissão Europeia e ainda com as recomendações do Conselho da Europa no que toca a este tipo de 'apps'", acrescenta a associação, que se mostra disponível para avançar com uma providência cautelar.

O vice-presidente da D3, Ricardo Lafuente, citado no comunicado, defende que cada cidadão tem o direito de colocar o que entende nos seus dispositivos e diz esperar "que a sensatez prevaleça e esta ideia grotesca fique pelo caminho".

"Considerando que o código-fonte do 'software' utilizado não está publicado na totalidade, pois falta a componente fundamental relativa à parte que é controlada por Google e Apple e cujo funcionamento não conhecemos, é mais que legítimo questionarmo-nos sobre se queremos ou não instalar esta 'app'", afirma.

O responsável diz ainda que, com a tentativa, através do parlamento, de tornar obrigatória a instalação da 'app' StayAway Covid, "este direito de escolha é agora eliminado, em muitas circunstâncias, forçando o uso de uma aplicação sem provas dadas e de eficácia muito questionável".

STAY AWAY

Fernando Alves | TSF [c/áudio]

Obrigai-nos a usar a máscara em todo o lado. Estou entre os que não precisaram de um dedo em riste para o fazer. Mas se nos quereis obrigar a aceitar uma mascarada, stay away.

Se pretendeis dar abanões na sociedade adoptando medidas autoritárias, de duvidosa constitucionalidade e desprovidas do mais elementar bom senso, stay away.

Afrontai politicamente aqueles que, a todo o passo, procuram minar a eficácia e a credibilidade do SNS. Reforçai a capacidade de resposta dos profissionais de saúde. E, sim, criai condições para dissuadir e penalizar o abandalhamento cívico, os comportamentos negligentes, tantas vezes ostensivos. Mas, se vos ocorre abanar as garantias jurídicas em que se escora a nossa liberdade, os fundamentos constitucionalmente assegurados da nossa liberdade, stay away.

Se não defendeis a minha privacidade como peça essencial de um bem público, stay away.

Se, apesar de um discurso público assintomático, estais sendo atingidos por um vírus securitário e aceitais abrir caminho a que os meus movimentos não escapem ao vosso radar, stay away.

Se, como avisa a manchete da edição digital do DN, a calamitosa medida ontem anunciada permite que a polícia entre em minha casa sem mandado, stay away.

Em tempo: o Grande Abanador deveria e poderia ter sido, entretanto, mais pressuroso a desbloquear o prometido acesso fácil ao subsídio de desemprego, aliviando o sufoco acrescido dos que perderam, com a pandemia, o seu posto de trabalho.

Ouça aqui a crónica Sinais na íntegra – Fernando Alves | TSF

Os "Sinais" nas manhãs da TSF, com a sua marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos seus paradoxos, das suas mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à actualidade. -- De segunda a sexta, às 08h55 e 14h10

Tradução de stay away: fique longe

Portugal do abanão, da obrigação da aplicação, da abananação...

Portugal covidado

Pelo que vem de trás e pelo que sabemos sobre a dita segunda vaga (covid-19) não é nada disso, é muito pior. É um vagão de peste pandémica que leva os governos a serem baratas tontas por tudo e por nada. As declarações e os temos puxados à liça nas últimas 24 horas pelo primeiro do governo, António Costa, assim demonstram. “Abanão” foi termo usado por Costa. Mas quem vai abanar o quê? Já fomos derrubados, estamos a morder o pó da estrada terrena onde nos vêm estatelando no chão desde há anos e anos. Falta saber se Costa se referia a “abanão” à bruta ou com intenção de adormecer os portugueses. Por favor, senhor Costa do Burro e do Ferrari, chega de abanões. Basta, porra!

Em segundo ato, não queremos ser longos, anda por aí uma coisa que nos anda a atormentar. E muito. Querem obrigar os portugueses a aderir a uma aplicação nos telemóveis… Querem? A intenção é que seja OBRIGATÓRIO? Mas de quem são os telemóveis? São dos portugueses ou do governo? E quem não usa telemóvel? Vai ser obrigado a ter (comprar um telemóvel) para instalar a aplicação sobre covid-19 porque sim, porque o governo quer? Estranho. O Salazar obrigava-nos a andar de gravata mas não as oferecia, tínhamos de comprar… Mas Salazar era um ditador, um fascista, um nazi, um merdoso que nos manteve quase 50 anos sem podermos dar um passo em frente no progresso, no rumo à democracia… E afinal Costa e seu governo é o quê? Tem comparação? Sim e não. Sim na tal obrigatoriedade de usar o que “eles” querem no telemóvel que nos pertence. Não (diferente) no objeto de obrigatoriedade usar (dependendo dos empregos), uma gravata. Mas uma gravata era e é muito mais barato que um telemóvel. Antes havia portugueses com muita fome, na miséria, podiam não comprar a tal gravata e sempre havia empregos mais toscos, mais sujos, mais para os plebeus mesmo, mesmo, na miséria. Eram livres de não usar gravata… A maioria.

Com o telemóvel é que já não será bem assim. Se usamos o nosso telemóvel somos obrigados a instalar a tal app/aplicação ditada pelo governo ou mesmo até pelos deputados – porque a “coisa” vai até aos legisladores (que sobre a corrupção andam por lá a dar-lhe carinhos e deixa andar), que é como quem diz, aos deputados… Será lei? Ah, pois, a democracia já se feneceu, ‘muribundou-se’, ‘muribundaram-na’… Pois.

Senhores políticos e nossos donos, a par dos esclavagistas do empresariado, banqueiros e restantes corjas e súcias de malfeitores, deixem o povinho em paz e não encham a boca com a vossa pseudo-democracia, não conspurquem mais a palavra democracia com que enchem a boca sempre que querem pôr em prática vis enganos e falsas promessas. Certo é que continuam a manter e a ampliar os vossos ‘el dourados’ e a abrir mãos do que pertence a todos para somente uns quantos.

Conversa estragada com realidades em que nem preferindo usar a ironia evitamos ficar muito apreensivos e aborrecidos com o panorama vigente que tem vindo a inquinar os ideias e as esperanças de Abril – liberdade e democracia. Justiça social de facto, precisa-se.

Por via do constante atrás e de mais o que falta, mas sabemos, o que está a ocorrer não é um abanão mas sim uma gigantesca e duradoura abananação. Somatório de andarmos tão abananados e potencial povo covidado. Um imenso Portugal covidado onde estão há muito a matar a democracia, a liberdade. E isto num governo Costa, afinal um xuxalista. Aplicação obrigatória? Polícia entrar nas nossas casas sem mandado? Regresso aos tempos da PIDE?

Bom dia, se a crescente miséria e os abusos de poder deixarem.

Siga para o Curto, do tio Balsemão. Pois.

MM | PG

Moçambique | Por que devemos apoiar Cabo Delgado?

Idah Z. Pswarayi-Riddihough* | O País | opinião

Como diz o ditado, prevenir é melhor do que remediar. Essa sabedoria popular aplica-se tanto às crises de saúde pública, aos desafios de segurança e desenvolvimento assim como à prevenção de conflitos. Prevenir conflitos não apenas salva vidas, o que por si só bastaria, mas também protege os ganhos económicos e sociais alcançados durante o processo de desenvolvimento económico. Igualmente importante, ao afetar a educação e saúde públicas, a infraestrutura e as instituições fundamentais do estado de direito, os conflitos afetam a capacidade do país se desenvolver a longo-prazo, comprometendo seriamente as chances de progresso das gerações futuras.

No ano passado, Moçambique assinou um acordo de paz com a RENAMO para pôr termo a um longo conflito. Ao mesmo tempo que esta assinatura representa uma oportunidade real para uma paz duradoira e sustentável, uma nova frente emergente e potencialmente mais complexa de conflito violento vem se consolidando na província mais setentrional de Cabo Delgado.

A escalada da violência em Cabo Delgado já ceifou cerca de duas mil vidas e deslocou quase 300.000 pessoas desde que iniciou em 2017, correndo o risco de se alastrar pela costa e províncias vizinhas, segundo analistas. Uma discrepância económica e social entre as regiões norte e sul do país tem alimentado a perceção de um favorecimento às elites, agravado por um sentimento de exclusão socioeconómica, particularmente entre os jovens, que enfrentam um futuro com possibilidades limitadas de mobilidade social ou autoaperfeiçoamento.

Pouco se sabe ao certo sobre os perpetradores, seus patrocinadores ou suas intenções: no entanto, o que está claro é que quanto mais tempo o conflito durar, mais arraigado se tornará e maiores serão os custos em termos de destruição humana, social, e capital cultural; em termos de vidas perdidas; em termos de jovens ligados a grupos extremistas; e em termos de perda de crescimento económico e potencial de desenvolvimento.

Moçambique | Fome severa afeta milhares de famílias em Inhambane

A situação é grave na província de Inhambane, sul de Moçambique. As campanhas agrícolas são um fracasso e há milhares de famílias a passar fome. O governo assegura que já tem um plano para responder aos problemas.

Os agricultores dizem que, nas últimas campanhas agrícolas, pouco ou nada colheram. Helena Luís, uma camponesa no distrito de Massinga, contou à DW que está a passar por dias difíceis para comer

"Na machamba, a couve está estragada. Não se aproveita nada. Mesmo o repolho está muito roto, o amendoim e o milho morreram sem produzir, a mandioca pior – semeámos, mas não saiu nada. Fui arrancar mudembe [folhas de batata doce] para vir cozinhar com tomate", relata.

A seca tem provocado a falta de alimentos. A situação é agravada pela falta de trabalho por causa das restrições da Covid-19.

José Bambo, outro camponês em Morrumbene, diz que cada dia é um drama. "Milho, não há nada, por causa da seca. Só agora é que estamos a cultivar arroz. Há muita fome mesmo, não há nada - nem dinheiro, nem emprego, nem para sustentar as crianças na escola. É difícil. Nem sequer há um apoio aqui", lamenta.

Violência doméstica já provocou 41 mortes este ano em Moçambique

A violência doméstica já provocou pelo menos 41 mortes registadas pela polícia, este ano, em Moçambique, anunciou o Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação Sekelekani, uma organização da sociedade civil moçambicana.

número faz parte de um conjunto de informação divulgado a propósito do Dia Internacional da Rapariga, que se assinalou no domingo.

O departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência, do comando-geral da polícia moçambicana, uma das entidades que lida com o crime, processou desde o início do ano um total de 6.586 casos de violência doméstica, lê-se em nota do Sekelekani consultada hoje pela Lusa.

A maioria casos (3.904) é classificada como violência física simples, 1.259 como violência psicológica, 796 como violência patrimonial e 478 como violência grave, dos quais resultaram 41 mortes.

Depois de se dirigir à polícia, geralmente, a vítima (por norma, mulher) "é fortemente pressionada pela família, no sentido de esquecer a queixa", de acordo com o chefe do departamento, Marisa Timóteo.

A família acredita que "a violência doméstica pode ser travada internamente". 

"Contudo, o resultado é o contrário, pois o agressor sente que tem proteção dentro da própria família", acrescentou.

Timor-Leste é segundo pior no mundo com índice "alarmante" de fome

Timor-Leste regista níveis “alarmantes” de fome, uma situação que se agravou nos últimos anos, e é o segundo pior classificado entre 107 países, a seguir ao Chade, segundo a última edição do Índice Global da Fome (IGF).

O relatório, que atribui a Timor-Leste um IGF de 37,6 (num máximo de 100, a pior classificação), considera a situação no país “alarmante”, sendo a segunda pior no índice deste ano entre os países analisados.

Notando que a situação se agravou em Timor-Leste, os autores do relatório explicam que isso se deve a “uma série de fatores que tem contribuído para a insegurança alimentar crónica em Timor-Leste”.

Entre os fatores destaca a produtividade agrícola baixa, um consumo alimentar inadequado, “tanto em quantidade como qualidade”, e a dependência de muitos timorenses em estratégias “únicas de baixo valor de subsistência”.

A infraestrutura básica de saneamento, água limpa, estradas, irrigação, escolas e saúde é pobre, como também é baixo o nível de capital financeiro e humano do país”.

“Os riscos climáticos têm também tido impactos negativos (IPC 2019)”, refere.

De particular preocupação é a desnutrição infantil, “com mais de metade das crianças a sofrer de nanismo e quase 15% das crianças a sofrer debilitação”, nota o estudo.

Governo timorense prevê que economia recue este ano 6%

O Governo timorense prevê que a economia recue este ano 6%, voltando ao crescimento em 2021 com taxas "aquém do potencial", segundo a proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2021, a que a Lusa teve acesso.

cenário macroeconómico, considera o Governo, está condicionado pelos efeitos combinados "de um orçamento atrasado [para 2020], incerteza política e as medidas de prevenção e combate à pandemia de covid-19", incluindo os sucessivos estados de emergência.

Uma situação que deixa antever "um crescimento negativo do PIB de cerca de -6,0%, esperando-se que em 2021 se volte ao crescimento positivo e que essa evolução se prolongue em 2022", pode ler-se no documento.

"Contudo, as taxas de crescimento irão continuar aquém do potencial de Timor-Leste, o que irá atrasar o regresso aos níveis anteriores à crise económica", sustenta o Governo, antevendo um aumento do PIB de apenas 2,8% no próximo ano e de 2% em 2022.

A proposta de lei do OGE, que a vice-ministra das Finanças, Sara Brites, e o ministro dos Assuntos Parlamentares e Comunicação Social, Francisco Jerónimo, entregam hoje ao Parlamento Nacional para tramitação, surge duas semanas depois da aprovação do OGE de 2020, que está ainda por promulgar pelo Presidente da República.

Grande Baía pode ser a tábua de salvação da população de Hong Kong

#Publicado em português do Brasil

Alex Lo | South China MorningPost | opinião

Os patrióticos de Hong Kong dizem que as pessoas deveriam amar a China. Nossos jovens rebeldes e seus simpatizantes dizem de jeito nenhum. Mas existe uma terceira via, que é incentivá-los a ver o sertão, especialmente a Grande Baía, como uma terra de oportunidades de carreira, sustento e aposentadoria.

A realidade é que Hong Kong não tem futuro como entidade separada. Com isso, não quero dizer apenas politicamente. A integração da cidade com o resto da nação é desejável e inevitável, para os indivíduos e para a cidade como um todo. Por que não tentar fazer com que todos saiam ganhando trabalhando juntos, em vez de ver o outro lado como inimigo?

Socialmente, economicamente e em termos de desenvolvimento urbano e habitação, Hong Kong não pode enfrentar desafios profundos por conta própria.

Isso tem muito a ver com o fracasso do governo local desde a transferência de 1997. Nem a oposição produziu qualquer figura de liderança com qualidade e credibilidade. Parece claro que nem o governo, nem a oposição ou o movimento de protesto serão capazes de resolver esses problemas para o povo de Hong Kong tão cedo.

A área da Grande Baía deve ser vista como uma tábua de salvação para o povo de Hong Kong. Por exemplo, Shenzhen e Zhuhai, os mais próximos de Hong Kong e com o maior número de links de infraestrutura entre eles, devem ser considerados nossos parceiros, não concorrentes.

Incentivos fiscais, facilitação de viagens transfronteiriças e trabalho com as autoridades da área da baía para desenvolver conjuntamente instalações para educação, hospitais e lares de idosos e idosos - isso vai encorajar mais moradores a considerar viver e trabalhar no continente.

Existem os números para apoiar essas iniciativas. Meio milhão de habitantes de Hong Kong já vivem nas cidades do continente na área da baía.

Uma pesquisa recente do Departamento de Censo e Estatística estimou que cerca de 266.000 habitantes de Hong Kong estavam interessados ​​em se mudar para a área da baía. As razões citadas incluem uma vida mais espaçosa (49,5 por cento), menor custo de vida (44,2 por cento) e casas a preços acessíveis (26 por cento).

Com um PIB de quase US $ 1,7 trilhão cobrindo uma área de 56.000 quilômetros quadrados, a área da baía oferece muitas oportunidades e espaço de vida do que a minúscula Hong Kong.

E quando você criar interesse, mais pessoas o seguirão. Em muitas das principais cidades da área da baía, os padrões de vida são comparáveis, senão melhores do que os de Hong Kong. Viver com os continentais dissipará muitas informações erradas e mal-entendidos entre as pessoas de ambos os lados.

*Alex Lo é colunista do Post desde 2012, cobrindo as principais questões que afetam Hong Kong e o resto da China. Jornalista há 25 anos, trabalhou para várias publicações em Hong Kong e Toronto como repórter e editor de notícias. Ele também lecionou jornalismo na Universidade de Hong Kong.

A agenda global de Bill Gates

– Como podemos resistir à sua guerra contra a vida

Vandana Shiva [*]

Ao olhar para o futuro, num mundo de Gates e dos Barões da Tecnologia, vejo uma humanidade que está ainda mais polarizada, com grande número de pessoas "descartáveis", que não têm lugar no novo Império. Aqueles que estão incluídos no novo Império serão pouco mais do que escravos digitais.

Em março de 2015, Bill Gates mostrou uma imagem de uma espécie viral de gripe, durante uma TED Talk [Conversas sobre Tecnologia, Entretenimento e Planeamento, realizadas por uma fundação dos EUA], e disse à audiência que era assim que seria a maior catástrofe do nosso tempo. A verdadeira ameaça à vida, disse ele, " não são os mísseis, mas os micróbios ". Quando, cinco anos depois, a pandemia do coronavírus varreu a Terra como um tsunami, ele reviveu a linguagem de guerra, descrevendo a pandemia como "uma guerra mundial".

"A pandemia do coronavírus coloca toda a humanidade contra o vírus", disse ele.

Na verdade, a pandemia não é uma guerra. A pandemia é uma consequência da guerra. Uma guerra contra a vida. A mente mecânica ligada à máquina de extração de dinheiro criou a ilusão dos humanos como separados da natureza, e a natureza como matéria-prima morta e inerte a ser explorada. Mas, na verdade, fazemos parte do bioma. E somos parte do viroma. O bioma e o viroma somos nós. Quando travamos uma guerra contra a biodiversidade das nossas florestas e das nossas fazendas e nos nossos nervos, travamos uma guerra contra nós mesmos.

A emergência sanitária do coronavírus é inseparável da emergência sanitária da extinção, da emergência sanitária da perda de biodiversidade e da emergência sanitária da crise climática. Todas essas emergências estão enraizadas numa visão mecanicista, militarista e antropocêntrica do mundo, que considera os humanos separados de – e superiores a – outros seres. Seres que podemos possuir, manipular e controlar. Todas essas emergências estão enraizadas num modelo económico baseado na ilusão de um crescimento e uma ganância ilimitados, que violam as fronteiras planetárias e destroem a integridade dos ecossistemas e das espécies individuais.

Carabaque: a OTAN apoia a Turquia enquanto procura eliminar Erdoğan

Thierry Meyssan*

Na guerra do Carabaque, o direito actual contradiz-se segundo aquilo que se interpreta em função da propriedade do território ou da auto-determinação do povo. Aproveitando-se deste equivoco, o povo turco (quer dizer, tanto a Turquia como o Azerbaijão) acabam de atacar este território, auto-proclamado independente (Artsakh) mesmo que ligado de facto à Arménia. A Rússia fez já saber que, em função dos tratados, defenderá a Arménia se esta for atacada, mas que a sua segurança nacional não é posta em causa pelo que se passa no Carabaque. Desde já, a única questão é estabelecer se a Turquia agiu a ordens dos Ocidentais, ou se tomou uma iniciativa que os seus aliados são susceptíveis de vir a virar contra ela.

A catedral de Artaskh (ou Artsaque) foi o alvo de dois mísseis. A destruição dos lugares de culto constitui um crime de guerra, segundo o Direito Internacional Humanitário. O genocídio arménio (1894-95 e 1915-23) pelos Otomanos e pelos Turcos visava acabar com a população não-muçulmana. O Azerbaijão assegura não estar implicado no ataque a esta igreja.

A guerra continua no Alto-Carabaque (ou Nagorno-Karabakh, ndT) desde 27 de Setembro de 2020. A superioridade das forças azeris é evidente, tanto em número como pela qualidade do seu armamento. A primeira linha de defesa das forças artsaquesas foi pulverizada, mas as outras duas continuam a aguentar-se. Os estragos são muito importantes, inclusive do lado azeri. É difícil estabelecer um balanço de perdas humanas, mas as mortes já são muito numerosas.

O Presidente Ilham Aliyev (Azerbaijão- ndT) anuncia a sua intenção de prosseguir a ofensiva até à vitória, ou seja, a «recuperação» do seu território. Ele é apoiado pelo seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdoğan. O Paquistão também se juntou ao seu campo, mesmo que negando por completo ter para lá enviado soldados. Todos os países turcófonos do Conselho turco deram o seu apoio, sem falhas, ao «Povo dos Dois Estados» (Azerbaijão e Turquia).

Do lado arménio, o apoio igualmente inabalável da diáspora espalhada pelo Ocidente criou um consenso condenando o ataque azeri (mesmo que Baku pretenda não ter atacado o Carabaque). Ao problema do Artsaque (ou Artsakh-ndT), soma-se o da Arménia. Está claro, e é reivindicado, que os soldados deste país se batem no Artsaque, mas não parece que os combates se tenham estendido ao seu território.

De um ponto de vista diplomático, o Grupo de Minsk da OSCE, presidido pelos Estados Unidos, pela França e pela Rússia, multiplica os apelos de cessar-fogo, sem qualquer efeito. Desde a sua criação, ele nada tinha feito e continua abertamente a tapar os olhos. Na verdade, ele activa-se na sombra e acaba de organizar uma mediação em Genebra, sem a Arménia.

Uma palavra sobre a posição francesa: embora co-presidindo o Grupo de Minsk, Paris não cessa de se confrontar com Ancara em todo o tipo de assuntos: desde a delimitação de zonas exclusivas no Mediterrâneo, à situação na Líbia, passando pelo laicismo. No entanto, o Presidente Emmanuel Macron evita, tanto quanto possível, abordar a ocupação turca em Chipre, no Iraque e na Síria, portanto problemas muito mais importantes. A França exigiu explicações à Turquia sobre a transferência de jiadistas do Exército Sírio Livre (para o Azerbaijão- ndT), que ela anteriormente ajudou a criar, apoiou e enquadrou contra a Síria.

As médias potências evitam tomar posição, na medida em que quase todas hesitam em chocar-se com um poderoso Estado petrolífero só pelos belos olhos dos arménios. Contudo, dado o passado genocida do povo turco, que ele persiste em negar, será moralmente impossível não se pronunciar por muito mais tempo. Antes de o Catar (que abriga uma base militar turca) se ter pronunciado, o Secretário-Geral da Liga Árabe condenou a Turquia. Ele foi imediatamente seguido pela Síria. O Presidente Bashar al-Assad aproveitou a oportunidade para recapitular os crimes de Ancara face ao seu povo.

Em conclusão, à medida que a provável derrota do Artsaque e o provável massacre dos seus habitantes se aproxima, os Estados Unidos e a Rússia pretendem continuar a mostrar-se neutrais, os Ocidentais e os Árabes apoiam a Arménia, enquanto apenas os Estados turcófonos apoiam abertamente o Azerbaijão e a Turquia.

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