terça-feira, 10 de novembro de 2020

Moçambique | Ataques em Cabo Delgado: Há jornalistas comunitários escondidos

É o que diz o Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (Forcom), que está preocupado com a situação de um grupo de jornalistas comunitários em Cabo Delgado, escondidos há 10 dias nas matas devido à violência armada.

"Informação na posse do Forcom dá conta que a maior parte dos jornalistas que se encontram nas matas estão incomunicáveis e a sobreviverem em condições humanamente deploráveis e de insegurança", lê-se num comunicado da entidade, divulgado esta segunda-feira (09.11).

Segundo o Forcom, no dia 31 de outubro, os insurgentes ocuparam a Igreja Paroquial do Sagrado Coração de Jesus (distrito de Muidumbe), onde está localizada a Rádio Comunitária São Francisco de Assis, e, pelo menos, nove jornalistas foram obrigados a fugir para as matas com as suas respetivas famílias. As instalações da rádio foram destruídas, estando ainda os insurgentes naquele distrito, segundo o Forcom.

O grupo de jornalistas procurou refúgio nas matas e agora tenta sair da região atacada em direção a distritos considerados seguros, havendo também entre eles, pelo menos, um caso de um repórter que perdeu um parente na sequência dos ataques.

Moçambique | Ataques em Cabo Delgado continuam -- diz bispo de Pemba

"Situação continua e está a aprofundar-se"

Bispo de Pemba confirma em entrevista que insurgentes atacaram aldeias em Muidumbe, na semana passada. Dom Luiz Fernando afirma: houve decapitações, mas não é possível quantificar o número de vítimas.

Nos últimos dias, têm surgido várias notícias preocupantes sobre a situação em Cabo Delgado, em Moçambique. Primeiro, o Governo confirmou a tentativa de assalto a estabelecimentos prisionais por parte dos insurgentes e, esta segunda-feira (09.11), o Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (FORCOM) denunciou que vários jornalistas estão refugiados nas matas depois de mais um ataque no distrito de Muidumbe.

Questionado pela DW sobre os últimos acontecimentos, o bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, dá conta que a situação está a "aprofundar-se", com a realização por parte dos insurgentes de múltiplos ataques.

A semana passada, afirma Dom Luiz Fernando Lisboa, mais onze aldeias foram atacadas no distrito de Muidumbe. Os insurgentes, conta, "espalharam muita morte, queimaram prédios públicos e casas". "Numa das aldeias mataram vários jovens que estavam num rito de iniciação. Foram cerca de 15 jovens com idades entre os 12 e 15 anos. Já ouvimos de várias fontes", confirma Dom Fernando Lisboa, alertando para o facto de, dada a complexidade da situação, não existirem números precisos.

Na mesma ocasião, o bispo voltou a reafirmar que "Pemba está sobrelotada".

Organizadores de manifestação recebem ameaças em Angola

Organizadores de marcha agendada para esta quarta-feira em Ndalatando denunciam tentativas de chantagem e ameaças de morte. Autoridades não autorizaram protesto devido às medidas impostas pelo estado de calamidade.

Os organizadores da manifestação convocada para esta quarta-feira (11,11), Dia da Independência de Angola, na cidade de Ndalatando, província do Kwanza Norte, queixam-se de tentativas de chantagem e ameaças de morte.

Tudo começou no dia em que remeteram a carta de intenção de realização de uma marcha pacífica pela cidadania, contra o elevado custo de vida e pelas autarquias locais em 2021.

O Governo Provincial do Kwanza Norte já respondeu à carta dos ativistas e membros da sociedade civil dizendo que não autorizaram a manifestação. Justificam a decisão com a proibição de "ajuntamentos, de qualquer natureza, superiores a cinco pessoas na via pública", no âmbito das medidas em vigor durante o estado de calamidade por força da pandemia da Covid-19.

Luís Dala, um dos organizadores da marcha de protesto, denunciou à DW África, na segunda-feira (09.11), que já recebeu várias chamadas anónimas com ameaças.

Cabinda: FLEC denuncia morte de refugiados por tropas angolanas

Chega a sete o número de refugiados cabindenses mortos durante um ataque das Forças Armadas de Angola, no domingo (08.11). É o que diz a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda-Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC).

O ataque ocorreu numa aldeia congolesa fronteiriça. Segundo um comunicado divulgado esta segunda-feira (09.11) pela FLEC-FAC, a incursão dos militares angolanos na aldeia de Yema di Yanga, na fronteira de Mbaka-Khosi aconteceu perto das 22h e resultou na morte de duas mulheres, uma das quais grávida de oito meses e cinco homens, que estavam desarmadas.

"As autoridades angolanas consideram todos os refugiados cabindenses como soldados da FAC. A FLEC-FAC denuncia um crime de guerra, um ato de terror bárbaro do regime angolano, e condena veementemente a perseguição e violência opressora cometida contra refugiados" na República Democrática do Congo, acrescenta-se no documento, assinado pelo secretário-geral, Jacinto António Télica.  

Os independentistas voltam a apelar à comunidade internacional, em particular ao secretário-geral das Nações Unidas António Guterres para encontrar uma solução para o problema e agir contra "os atos terroristas" do Governo angolano.

Domingos Simões Pereira prepara o seu regresso à Guiné-Bissau

Líder do PAIGC está a contactar várias entidades para garantir as condições da sua volta ao país. À DW, em Lisboa, DSP fala do polémico acordo petrolífero guineense com o Senegal e a nomeação de um vice-PM pelo PR.

Domingos Simões Pereira está a preparar as condições consideradas necessárias para o seu regresso à Guiné-Bissau, que implicitamente têm a ver com a sua segurança. O presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pede à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que "assuma alguma responsabilidade em relação ao quadro securitário" no país, "não por temer seja o que for".  

Na entrevista exclusiva concedida à DW África, em Lisboa, Simões Pereira critica várias incongruências do seu adversário político, Umaro Sissoco Embaló, incluindo a ofensiva diplomática levada a cabo pelo Presidente da República.

Simões Pereira questiona também o acordo petrolífero assinado entre a Guiné-Bissau e o Senegal, respetivamente pelo punho dos Presidentes Umaro Sissoco Embaló e Macky Sall, sem o devido conhecimento do Governo de Nuno Nabiam e da Assembleia Nacional Popular (ANP).

Greve na Guiné-Bissau: Função pública exige melhorias

União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), maior central sindical da Guiné-Bissau, iniciou esta segunda-feira (09.11) mais uma greve de cinco dias na função pública. Paralisação não afeta as escolas.

É mais uma vaga de greve da UNTG, para exigir o cumprimento do memorando de atendimento e adenda assinados com o Governo guineense, na sequência das paralisações que afetaram a administração pública da Guiné-Bissau entre janeiro e março deste ano.

Oito meses depois da assinatura da adenda, a maior central sindical do país decidiu avançar para a greve, no período em que, denuncia a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, há entrada ilegal dos funcionários, oriundos das sedes dos partidos políticos.

Em diferentes serviços do maior hospital do país, Simão Mendes, e no Palácio do Governo, onde se concentram a maior parte dos Ministérios e departamentos governamentais, a DW África constatou que os serviços estavam a funcionar normalmente, apesar de algumas ausências registadas, por motivos da greve. Mas os doentes e acompanhantes apelam à intervenção do Governo:

"Peço ao Governo que olhe para a situação do país e preste atenção aos hospitais e escolas. Se não houver médicos, muitos pacientes vão morrer por falta de atendimento", lamenta uma doente, cuja opinião foi partilhada por outro doente: "Atenderam-nos, consultaram-nos, mas não fizemos ainda análise e estamos à sua espera (dos médicos). Que nos ajudem as pessoas, está mal".

EUA | Perguntas

Confirmada a derrota de Trump, justificar-se-ão os festejos pela saída de cena (ao que parece, muito renitente) desta grotesca figura. Mas é manifestamente exagerado o foguetório sobre uma “vitória da democracia”. O que figura nos EUA tem muito pouco de sistema democrático. E isso não tem apenas a ver – como aconteceu com Trump – com alguém ser eleito tendo menos votos que o adversário directo. Tem a ver com as centenas de milhares de eleitores “inconvenientes” que são apagados dos cadernos eleitorais, com a engenharia da distorção dos círculos eleitorais, com um sistema em que é preciso ser multimilionário para ser candidato. Quem prospera em tal quadro não é a democracia, é a extrema-direita.

Anabela Fino*

Em que país democrático se pergunta ao titular do mais alto cargo público se aceita o resultado das eleições?

Em que democracia as eleições são precedidas de uma corrida aos bens essenciais por parte dos eleitores e os sectores do comércio e dos serviços entaipam portas e janelas como quem se prepara para a guerra?

Em que estado de direito as decisões dos tribunais são postas em causa pelo presidente em exercício?

Em que democracia representativa o sistema eleitoral se rege por regras tais que o presidente pode ser eleito sem ter a maioria dos votos populares a nível nacional?

Em que regime democrático é que o mais alto magistrado da Nação afirma que só não ganhará se houver fraude eleitoral e apela à violência – num país onde toda a gente tem armas – caso não seja reeleito?

Covi-19 | Hoje há mais 62 mortes e 3817 novas infeções em 24 horas

Portugal ultrapassa os três mil mortos de covid-19

Portugal ultrapassou os três mil mortos por covid-19. Esta terça-feira, há mais 62 óbitos e 3817 novas infeções pelo novo coronavírus. Há 2742 doentes internados.

A pandemia de covid-19 causou mais 62 mortos em Portugal nas últimas 24 horas, elevando o total para 3021 desde 16 de março, quando se registou a primeira vítima mortal. É o segundo pior registo, depois de na segunda-feira terem ocorrido 63 mortes.

Há 31 óbitos na região Norte (total de 1370), 17 em Lisboa e Vale do Tejo (1162), 11 no Centro (372) e três no Alentejo (69). São dois homens na faixa etária dos 40-49 anos, uma mulher entre 50-59 anos, cinco homens e duas mulheres entre 60-69 anos, oito homens e cinco mulheres de 70-79 anos e 19 homens e 20 mulheres com 80 ou mais anos.

Há agora 187237 infeções confirmadas no país, mais 3817 em relação ao boletim epidemiológico de segunda-feira. Trata-se de uma diminuição do número diário de casos face aos últimos dias. Por outro lado, a percentagem de casos no Norte sobe: 69,7% dos novos contágios foram registados na região, ou seja, 2663 infeções (total de 91212). Lisboa e Vale do Tejo tem mais 736 infetados (70751), o Centro mais 290 (17016), o Alentejo mais 41 (3641) e o Algarve mais 57 (3558). No arquipélago dos Açores há mais 21 infeções (492) e na Madeira registam-se nove casos (567).

O boletim epidemiológico desta terça-feira indica 90063 contactos sob vigilância das autoridades de saúde (menos 25) e 77338 casos ativos (menos 1040).

Doentes recuperados são já 106.878, ou seja, mais 4795 em relação ao boletim anterior.

Estão internadas 2742 pessoas com covid-19 (mais 91) e há 382 em cuidados intensivos (menos nove).

Sandra Alves |  Jornal de Notícias

Os Açores não são um offshore constitucional, Dr. Rio

Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

Depois de anos a denunciar a ilegitimidade da maioria parlamentar que em 2015 somou PS, Bloco, PCP e Verdes, o PSD entusiasma-se agora com a liderança do Governo dos Açores, apesar de ter ficado atrás do PS nas eleições regionais. Será acompanhado no Executivo por CDS e PPM e apoiado no Parlamento Regional pelo Chega e pelo Iniciativa Liberal (IL).

Ao contrário dos deputados do PSD e do CDS, eu não mudo as minhas interpretações como mais me convém: julgo que é perfeitamente legítimo um Governo que resulte de uma maioria, mesmo que esta não inclua o partido mais votado e desde que isso não signifique uma fraude aos programas eleitorais sufragados. Em 2015, a maioria dos votos foi para partidos que, nas suas diferenças, afirmavam rejeitar o prosseguimento do plano austeritário. Desse encontro de vontades saíram acordos escritos, publicados e escrutináveis, que enquadraram os orçamentos ao longo desse período.

Agora, pelo contrário, PSD, CDS e IL fazem o que disseram que nunca fariam: uma aliança com o Chega. O mesmo Chega que, para Cotrim de Figueiredo, líder da IL, tinha uma "matriz incompatível" com a do seu partido e que, segundo o líder do CDS, se afastava dos valores do centro-direita. Rui Rio até já tinha admitido que pudesse haver "conversas", mas só se o Chega evoluísse para uma posição "mais moderada".

PS afirma que está provado que há um acordo nacional entre PSD e Chega

O PS considera que ficou hoje provado que há "um compromisso nacional" entre PSD e Chega com a apresentação de uma proposta de revisão constitucional na Assembleia da República para reforma dos sistemas político e de justiça.

Nos últimos dias, em sucessivas intervenções públicas, os dirigentes socialistas têm afirmado que o acordo com o Chega para a viabilização de um novo Governo Regional dos Açores liderado pelo PSD tem consequências políticas nacional e não apenas naquela região autónoma.

Agora, em comunicado, a Comissão Permanente do PS salienta que foi tornada pública "num jornal nacional" - o Público - a carta entregue pelo presidente do Chega, André Ventura, ao representante da República nos Açores, Pedro Catarino.

Essa mesma carta, segundo a direção dos socialistas, "revela o que já se sabia: A existência de um compromisso nacional do PPD/PSD de que será apresentada no parlamento uma proposta de revisão da Constituição, tendo em vista uma profunda reforma no sistema de justiça e uma reforma do sistema político".

Portugal | 52 figuras alertam para "amálgama" com "forças da direita autoritária"

De Adolfo Mesquita Nunes a Pedro Mexia, mais de cinco dezenas de personalidades assinaram um manifesto que declara que" o espaço do centro-direita e da direita portuguesa não é o do extremismo, seja esse extremismo convicto ou oportunista".

Foi divulgada, esta terça-feira, uma carta aberta intitulada 'A clareza que defendemos', na qual 52 personalidades do centro-direita assinam um manifesto que alerta para "uma inquietante deriva e uma insustentável amálgama na política europeia e americana", que faz o seu caminho entre "forças da direita autoritária e partidos conservadores, liberais, moderados e reformistas". 

"Estas tendências exigem uma tomada de posição. A deriva deve ser enfrentada. E a amálgama tem de terminar quanto antes, sem cumplicidades nem tibiezas", começa por ser declarado no documento, publicado no jornal Público e assinado por figuras como Adolfo Mesquita Nunes, Ana Rita Bessa, Carlos Guimarães Pinto, Henrique Raposo ou Pedro Mexia.

De acordo com  os mais de 50 subscritores, neste momento, é preciso ter presente que "uma coisa é os movimentos nacional-populistas, xenófobos e autocráticos assumirem aquilo que são" e "outra, mais grave, é o espaço não-socialista deixar-se confundir com políticos e políticas que menosprezam as regras democráticas, estigmatizam etnias ou credos, acicatam divisionismos, normalizam a linguagem insultuosa, agitam fantasmas históricos, degradam as instituições". 

Portugal dos pequenitos

Carmo Afonso | Expresso | opinião

Se a decisão do Tribunal Constitucional for a extinção do Chega justiça será feita, sobretudo a todos os que lutaram contra o fascismo e contra a ditadura, aos que estiveram presentes na Assembleia Constituinte e que por unanimidade fizeram constar uma intenção clara. O nº 4 do artº 46º da Constituição da República Portuguesa poderia chamar-se “Não passará”

Portugal, março de 2007, RTP, programa “Os grandes Portugueses”; António de Oliveira Salazar é escolhido pelos portugueses, os que decidiram participar na votação, como “o melhor português de sempre” com 41% dos votos. A sua defesa foi feita por Jaime Nogueira Pinto (nazi-fascista)1. Acabei de rever o documentário que fez em sua homenagem. É ali que está a visão de alguns para Portugal, o culto da nação e o do grande líder discreto. A apresentação do homem honesto e íntegro: a negação de casos de corrupção no Estado Novo.

Termina o documentário junto à campa de Salazar no cemitério do Vimieiro com mais uma homenagem à sua singeleza: “sepultado numa campa rasa” e, por último, um vídeo do seu suave contentamento perante uma multidão que o enaltecia.

Ficou exposta a ferida.

Sim, existem portugueses que simpatizam com a figura de Salazar e ainda existem outros que o veneram.

Jaime Nogueira Pinto não terá abdicado do seu sonho para Portugal e terá passado a dar o seu apoio de forma oculta, ou pelo menos discreta, ao Chega e ao que o antecedeu. Aqui pode pensar-se: como pode o partido de André Ventura ser defendido por quem amava Salazar? Apesar do muito que os une, têm aspetos distintos: Salazar não apoiaria o tipo de criminalidade que o Chega acolheu, o populismo vaidoso de André Ventura e as suas flagrantes incoerências e incorreções.

Porque apoia então Jaime Nogueira Pinto este partido? O que o fará engolir um sapo como André Ventura, um homem que gosta de aparecer e que defende uma coisa e o seu contrário?

Talvez a mesma razão que o faz apoiar Trump; a oportunidade de normalizar e legitimar e unir ideologias extremistas de direita. O Chega não será, para parte de defensores do nacionalismo de extrema-direita, um objetivo mas sim um meio. Talvez seja essa a explicação para André Ventura ter apagado a fotografia do seu almoço com Jaime Nogueira Pinto, supostamente a pedido deste. Lutar pelo sonho de Salazar não é bem a mesma coisa que entrar nas redes sociais ao lado de André Ventura e ser exposto a tudo o que isso implica. É que as redes sociais foram um belo trampolim para a extrema-direita portuguesa mas pode acontecer que a coisa descambe e que dê demasiado nas vistas e, se o líder do Chega perdeu a vergonha, Jaime Nogueira Pinto não.

Enquanto estes planos se vão concretizando – o Chega é um partido com assento parlamentar e acabou de chegar a um entendimento com o principal partido português de direita – é importante fazer uma nova reflexão sobre as limitações constitucionais à liberdade de associação, ideologias fascistas e o papel do Tribunal Constitucional junto dos partidos políticos. É que o problema tem efetivamente expressão - e não se pode continuar a dizer que “em Portugal não temos isso”. Agora temos.

A Constituição deixou fora do direito de liberdade de associação “as organizações racistas ou que perfilhem ideologia fascista”. Diga-se que foi uma decisão unânime do legislador constituinte. Esta limitação não se reporta à liberdade de expressão, sendo os cidadãos livres de exprimirem e divulgarem livremente o respetivo pensamento e a sua adesão individual à ideologia fascista, mas impede a existência de partidos políticos dessa índole.

Aqui coloca-se a questão: o Chega é ou não um partido que perfilha a ideologia fascista?

Temos alguns indícios, como a proposta anunciada por André Ventura de confinar ciganos durante a pandemia, a insistência nos castigos físicos como penas para a prática de certos delitos (a castração química de pedófilos é bom exemplo); o discurso de conteúdo bélico do próprio André Ventura, que afirmou contar “com o apoio" dos seus "guerrilheiros e generais” no congresso do partido em Évora. Mais, na única moção por si apresentada apontou para o combate à imigração ilegal, o aprofundar os laços institucionais e políticos com os ditos parceiros do ID – o Identidade e Democracia, grupo partidário da extrema-direita no Parlamento Europeu e identificou como problemas nacionais, "a progressiva islamização das nossas grandes cidades, o marxismo cultural, a ideologia de género" e "a destruição da nossa base de valores civilizacionais".

De registar ainda a apresentação de uma proposta de nome "Moção Estratégica Global para Portugal", que defendia a remoção dos ovários das mulheres que recorram ao Serviço Nacional de Saúde para o aborto. Foi chumbada, mas foi a votação e obteve umas dezenas de votos favoráveis. Existe também a ligação do Chega a dirigentes e ex-dirigentes de grupos de extrema-direita violentos e racistas e a convocação para uma manifestação que negava a existência de racismo na sequência do homicídio de Bruno Candé; existe a xenofobia e a adesão a um líder que se apresenta como forte e capaz de restaurar a ordem (quem for capaz que diga mais três nomes de figuras de destaque ligadas ao Chega), a defesa da repressão, a desculpabilização da violência policial e a obsessão com a corrupção. Enfim. Nada de novo. Encontra-se disto em França, no Brasil e pelo mundo fora. Acabámos de assistir a algo parecido nos Estados Unidos. Fascismo.

Não se pode continuar nestas águas turvas que legitimam o primeiro-ministro a destratar (e muito bem) o deputado André Ventura na Assembleia da República ou como fez o líder do PCP (“Está-se a rir? Eu não lhe acho graça nenhuma.”) mas que admitem como normal a sua presença.

Existe uma outra estratégia, que tem sido seguida sobretudo pelo Bloco de Esquerda, mais trabalhosa, que passa por desconstruir e desmascarar cada trafulhice e cada incongruência atribuídas a André Ventura. É um processo meticuloso e que exige atenção. Deverá tê-la. Pode não resolver.

Há aqui uma certeza: o partido Chega é de extrema-direita e perfilha a ideologia fascista no que essa ideologia tem de mais característico.

E existem também várias dúvidas: a primeira é se o Tribunal Constitucional terá esse entendimento nos termos em que a ideologia fascista está definida na Lei nº64/78, de 6 de outubro, ou seja uma ideologia que defende os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas que a História regista, nomeadamente o belicismo, a violência como forma de luta política, o colonialismo, o racismo, o corporativismo ou a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes.

A única vez que o Tribunal Constitucional foi chamado a apreciar um requerimento que peticionava a extinção de uma organização por perfilhar a ideologia fascista foi a propósito do MAN (constituído em 1985), uma organização que pretendia instaurar o Estado Nacionalista, que utilizava a saudação de braço ao alto, cruzes céltica e suástica e que defendia o “racialismo”, apelando à violência e com fortes ligações ao movimento Skinhead. Foi o Procurador-Geral da República que teve a iniciativa e o TC não chegou a concluir se o MAN “perfilhava a ideologia fascista”, uma vez que a organização se dissolveu antes da prolação do acórdão 17/94 de 18 de janeiro.

A segunda dúvida é se será esta a forma de derrotar o Chega e refiro-me ao recurso ao TC quando se trata de um problema que já tem uma expressão política tão relevante.

Não será o fascismo a ser derrotado. O fascismo não se resolve com um processo judicial. Antes resolvesse. As pessoas têm a liberdade de ser fascistas e de exprimirem opiniões que apoiem essa ideologia. A questão é se o TC admite ou não um partido como o Chega. E interessa a todos que se pronuncie sobre isso.

Porquê?

Porque se a decisão do TC for a extinção do Chega, justiça será feita, sobretudo a todos os que lutaram contra o fascismo e contra a ditadura, aos que estiveram presentes na Assembleia Constituinte e que por unanimidade fizeram constar uma intenção clara. O nº 4 do artº 46º da Constituição da República Portuguesa poderia chamar-se “Não passará”.

E se o TC decidir em sentido contrário e confirmar a regularidade do Chega face à legislação portuguesa? Aí poderá acontecer um fenómeno importante: o da responsabilização política dos portugueses. Não votam? Pois, é isto que acontece. Não se manifestam, ficam no passeio? Camaradas, isso nunca correu bem. Acham que os extremos são parecidos? Não são. Foi graças ao PCP e ao Bloco, algumas vezes em sintonia com a direita, que se construiu a democracia. O PCP e a UDP estiveram presentes na Assembleia Constituinte. Não acreditam na luta antifascista? Foi ela que nos deu a liberdade e está tudo em causa outra vez. Aceitam tamanhas desigualdades sociais e um capitalismo sem regulação? É deles que nasce o fascismo.

Já agora: o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo, o Provedor de Justiça e o Procurador-Geral da República têm legitimidade para requerer a extinção de partidos políticos. Só que a terceira dúvida é se alguém o virá a fazer.

Se metermos uma rã numa panela de água a ferver a rã seguirá o seu instinto de sobrevivência e em segundos saltará da panela escapando em princípio com vida. Se metermos uma rã numa panela, com água fria ou morna, ao lume, a rã habituar-se-á à subida da temperatura e não detetará aquela que já é perigosa e que a matará. É uma maneira de morrer.

Não seremos muito diferentes das rãs nisto.

Estamos há demasiado tempo a conviver de forma polida com este monstro e vamo-nos habituando a ele. Por alguma razão Rui Rio achou que não seria grave, no sentido em que não perderia eleitorado, um entendimento com o Chega. Ou seja; a temperatura já queima mas Rui Rio tem fé na inércia e na apatia dos portugueses.

A escalada da extrema-direita populista e do fascismo não desacelerou com a pandemia. É mais uma chama a aquecer a panela em que cozemos. Aceitamos restrições em nome do coletivo e em especial dos grupos de risco, mas é importante que esta aceitação não seja mansa, mas uma escolha consciente. Que não a confundam com obediência cega e que não a encaremos assim.

Quando apanho um táxi não tenho o costume de perguntar ao motorista se tem carta de condução, licença para o exercício da atividade ou se ingeriu substâncias que alterem a sua capacidade de nos levar em segurança ao destino que indico. Este princípio de confiança não deve ser estendido à vida política em nenhum dos seus aspetos.

É obrigatório perguntar se um dos partidos com assento na Assembleia da República é fascista, é obrigatório verificar se nos sentimos representados por quem está no poder, é obrigatório questionar um mega sistema que afinal se condensa numa pequena oficina de milionários.

E é absolutamente obrigatório apontar para que fiquem na memória os nomes de quem trouxe à cena política este partido e o de quem lhe dá força: Jaime Nogueira Pinto - o intelectual que legitima - e Rui Rio - o dirigente partidário que abriu as portas da governação ao Chega mas que, ao mesmo tempo, se congratula com a derrota de Trump - são bons exemplos.

E não apontem o nome do cabeça de cartaz.

Peçam essa cabeça, vão para a rua gritar.

Nota: escrever várias vezes sobre o mesmo tema seca a poesia. A extrema-direita e o fascismo também. Ficam então as metáforas. Fazem-se sozinhas.

Nota PG: 1 - Esclarecimento no texto de Carmo Afonso sobre Jaime Nogueira Pinto (nazi-fascista), em bold e sublinhado, por PG.

HABEMUS VACCINUM!

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Habemus Vaccinum!

Cristina Peres | Expresso

90%, retenha esta percentagem. “Um grande dia para a ciência e para a humanidade” foi como a Pfizer e a BioNTech o descreveram ao divulgarem os encorajantes ensaios preliminares da primeira vacina eficaz contra a covid-19 que promete 90% de proteção contra a doença. No momento em que o número mundial de casos de covid-19 ultrapassa os 50 milhões e que mais de 1,25 milhões de pessoas morreram da covid-19 o anúncio desta vacina, que foi testada em 43,500 pessoas em seis países diferentes sem questões de segurança, é tudo o que a humanidade quer ouvir. As bolsas dispararam em alta ficando aquém de um recorde por muito pouco.

Não há registo histórico de outra vacina que tenha passado de projeto a confirmada como altamente eficaz em tão curto período. Apesar de todo o caminho que ainda falta percorrer, os cientistas estão confiantes que o início de solução para a crise global sanitária que vivemos já estará ativo na próxima primavera. A Pfizer e a BioNTech pretendem candidatar-se a uma aprovação de emergência da vacina para que possa ser usada já no final deste mês de novembro.

“É fantástico”, diz o virologista Pedro Simas em entrevista ao Expresso. Se a eficácia se confirmar, a DGS garante que a vacina da Pfizer “será das melhores” a usar em Portugal. “Manobra de marketing” da Pfizer (até que resultados sejam publicados) chama-lhe o diretor do Centro de Estudos de Medicina baseados na Evidência da Universidade de Lisboa.

Os estudos mostram que são necessárias duas doses de vacina tomadas com três semanas de intervalo. Os testes nos EUA, Alemanha, Brasil, Argentina, África do Sul e Turquia concluem que se alcança 90% de proteção sete dias após a segunda toma. No entanto, estes dados baseiam-se em apenas 94 voluntários, o que significa quer dizer que a eficácia exata da vacina pode alterar-se quando se tiver acesso à análise do total dos resultados.

O início das campanhas de vacinação depende da aprovação da vacina. As duas farmacêuticas dizem poder fornecer 50 milhões de doses no final deste ano e cerca de 1,3 mil milhões no final de 2021.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou ontem que a União está em vias de assinar um contrato com a Pfizer e BioNTech para 300 milhões de doses da vacina experimental.

A decisão de quem vai receber a vacina em primeiro lugar caberá aos países já que nem toda a gente a receberá de imediato. Pessoal médico e de saúde estará certamente no topo da lista em virtude da exposição à doença que têm, bem como a população mais idosa, que corre mais riscos. É uma discussão que ainda nem terá começado em toda a parte.

Além de todos os procedimentos legais que ainda faltam para que a vacina seja produzida para aplicar à população, surge a nova ameaça do perigo da transmissão da doença entre humanos e animais. Seis países - Dinamarca, Itália, Espanha, Holanda, Suécia e Estados Unidos - encontraram coronavírus em criações de vison, conforme confirmou a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até agora há registo de 200 infeções por este meio e temem-se futuras mutações do vírus. Pelo menos uma nova variante de coronavírus já infetou 12 pessoas.

Apesar de a notícia chegar demasiado tarde para ajudar a reeleição de Donald Trump, o seu vice, Mike Pence, tentou fazer constar que o programa americano Operation Warp Speed tinha ajudado ao desenvolvimento da vacina. A Pfizer negou de imediato.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Presidente eleito dos Estados Unidos começou os preparativos para desfazer as políticas da administração Trump. Ações executivas permitir-lhe-ão regressar à OMS e ao Acordo do Clima de Paris no primeiro dia na Casa Branca, conforme prometeu na campanha. Joe Biden deu ontem início à formação de uma grupo de trabalho dedicado ao combate ao coronavírus nos Estados Unidos, país que tem 1/5 dos casos globais.

Donald Trump despediu o secretário da Defesa, Mark Esper, substituindo-o desde já por Christopher Miller, e mandou o porta-voz da sua campanha anunciar que planeia uma série de comícios para contestar os resultados eleitorais, aos quais se seguirão os processos judiciais. Soube-se ao final da tarde de ontem que o conselheiro legal do ainda Presidente dos EUA encarregue destes mesmos processos está infetado com coronavírus. A equipa de transição de Biden poderá vir a processar as agências federais para forçá-las a reconhecer a sua legitimidade depois de Mitch McConnell, líder do Partido Republicano no Senado, ter celebrado as vitórias republicanas em apoio à recusa de Trump de aceitar a derrota.

Na Estónia com Trump. O ministro dos Interior da Estónia demitiu-se depois de declarar o Deep State responsável pela vitória de Biden nas presidenciais americanas durante um programa de rádio. Mart Helme, do partido de extrema-direita EKRE, não mediu as palavras.

Dos memes nas redes sociais já Trump não se livra.

Acordo no Nagorno-Karabakh. O PM da Arménia, Nikol Pashinyan, assinou um “penoso” acordo com os líderes do Azerbaijão e da Rússia para pôr fim ao conflito por causa da região de Nagorno-Karabakh após mais de um mês de matança. O Azerbaijão assumiu ter abatido um helicóptero russo na Arménia por engano.

A contagem dos votos poderá levar dias a concluir, porém as eleições deste domingo no Myanmar registaram uma afluência superior ao previsto. O partido Liga Nacional para a Democracia, liderado por Aung San Suu Kyi, espera manter a maioria de dois terços.

Abiy Ahmed, o primeiro-ministro da Etiópia, substituiu o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o chefe da Informação e o chefe do exército durante uma ofensiva militar contra a Frente de Libertação Popular do Tigrayan, o partido que lidera aquela província do norte da Etiópia. A ONU avisou que o conflito poderá obrigar a deslocar nove milhões de pessoas.

Conselho Constitucional da Costa do Marfim validou oficialmente a vitória do Presidente Alessane Ouattara nas eleições de outubro. Segue-se um terceiro mandato consecutivo.

“Financiador” do genocídio de 1994 no Ruanda enfrenta o Tribunal de Haia. Félicien Kabuga, em tempos o homem mais rico do país, é acusado de ter ajudado a criar uma milícia hutu e de incitar à morte através da rádio.

As mortes por coronavírus em Portugal ultrapassaram ontem pela primeira vez as seis dezenas. Veja a evolução em gráficos e mapas. E aqui como evolui a doença no resto do mundo.

O vírus aterrou nas manchetes nacionais: “Medicina legal faz autópsias virtuais a corpos infetados cujas mortes são suspeitas”, DN; “Covid-19: país ema recolher obrigatório após duas semanas em que morreram, em média, 43 pessoas por dia”, Público; “Legionela mata cinco pessoas na Póvoa, Vila do Conde e Matosinhos”, JN; “Forças Armadas em estado de prontidão: segundo despacho do ministério da Defesa ‘os ramos da FA contribuirão com recursos humanos e materiais que se revelem necessários para apoiar as entidades competentes’ no combate à pandemia”, Destak; “Erro informático ‘retira’ milhares de euros a restaurantes”, i. António Costa anunciou apoios específicos para os restaurantes que registarem perdas nos próximos fins de semana.

Confira aqui 16 perguntas e repostas sobre o estado de emergência.

FRASES

“O SNS não falhou em nada”, António Costa, primeiro-ministro em entrevista à TVI garantindo estar atualmente a “metade da capacidade das camas alocadas à covid”

“Não há nenhum acordo nacional com o Chega”, Rui Rio, líder do PSD

“Ele tem de declarar que perdeu. Mas ele detesta perder, disso tenho a certeza… mas se perde, perde. Ele tem imenso dinheiro, lugares para onde ir morar e gozar a vida”, Ivana Trump, primeira mulher de Donald e mãe dos três filhos mais velhos do ainda Presidente dos EUA, em declarações à People Magazine

“Quem quer que seja eleito e na altura certa”, é quem e quando Jair Bolsonaro, o Presidente do Brasil, também conhecido por “Trump tropical”, irá congratular quando terminar a contagem eleitoral nos EUA

O QUE ANDO A LER E A OUVIR

Regresso à espionagem com uma encomenda esquecida à Book Depository, que me surpreendeu ao chegar a tempo do fim de semana. Uma mulher nascida em 1907, numa abastada família judia de esquerda berlinense, espiou toda a vida para os russos sem nunca ter sido apanhada. Chamava-se Ursula Maria Kuczynski, a segunda de seis irmãos, e desde os 16 anos, momento em que foi vergastada pela polícia numa manifestação comunista em Berlim, que sonhou servir o paraíso russo. A vida “normal” foi-se interponto e Ursula foi habilmente integrando os elementos da “normalidade”, do casamento à maternidade, no serviço à causa. Teve importância, sim, já que mudou parcialmente o curso da história ao contribuir para que os russos tivessem a bomba atómica. É “Agent Sonya” do insuperável-na-matéria Ben Macintyre (Penguin Viking). Devo ter uma inveja primária reprimida destas vidas arriscadas que promovem uma produção anormal de adrenalina e Macintyre (que foi entrevistado pelo Paulo Anunciação para a Revista E do Expresso em outubro) tem todo o mérito em vender milhões de livros traduzidos em dezenas de línguas. Ben Macintyre, que classifica James Bond como “assassino”, é o maior competidor da Netflix e de todos esses produtores e divulgadores de streaming, que apenas dependem de carregar no enter nestes tempos em que temos de ficar em casa. I r r e s i s t í v e l.

Ando a ouvir podcasts, hábito que se instala assim que se começa a praticar e recomendo o o quinto episódio (ainda morno) do África Agora, o podcast da secção de Internacional do Expresso exclusivamente dedicado a África. Neste episódio “fomos” a Luanda falar com a ativista Laura Macedo, que nos explicou que a relação com o poder e a atitude da polícia não mudou “nada” desde o governo anterior. Ora oiça lá aqui.

Por hoje é tudo, fique connosco em www.expresso.pt, o lugar onde encontra tudo aquilo que procura, se for informação, notícias, análise, opinião, reportagem.

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O terceiro mandato de Obama

Para colunista do NYT, a eleição de Biden representa o terceiro mandato da presidência Obama, mas a ala mais progressista dentro do partido, conotada com o socialismo democrático,  que se manteve silenciosa naqueles anos e que agora foi decisiva para a vitória Biden/Harris, não terá a mesma postura desta vez. 

A mensagem de Bernie Sanders para a linha do seu Esquadrão progressista — Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley and Rashida Tlaib — foi a de que a primeira missão para elas seria a de derrotar Trump e a segunda seria a de pressionar Biden a tornar-se no "presidente mais progressista desde FDR (Franklin Delano Roosevelt).  

Alberto Castro, Londres

Ler AQUI: Third Term of the ObamaPresidency – NYT -- By Charles M. Blow

Os objectivos infames do "grande reinício"

Dimitri Orlov [*]

Suponha que é um dos génios maléficos que dirigem a economia mundial. Certamente gostaria de continuar a dirigi-la de maneira estável, segura e rentável, apesar dos problemas que podem surgir de tempos a tempos. Gostaria de resolver esses problemas de maneira rápida e eficaz, sem chamar a atenção para si mesmo e para os seus maus hábitos. Quais são então os problemas que acha serem os principais, exigindo uma solução rápida e preventiva e como deveriam ser resolvidos?

Em primeiro lugar, iria descobrir que existe um grande problema com o abastecimento mundial de energia. Isto foi previsto repetidamente desde meados da década de 1990, mas vários avanços tecnológicos e manobras geopolíticas atrasaram a crise final em duas décadas. Agora a crise final aproxima-se cada vez mais. As descobertas de novos recursos ficaram tão aquém da produção que não há esperança de um dia a alcançar. A última grande esperança para os Estados Unidos e o mundo, a fracturação hidráulica, está a caminho da falência, nunca tendo obtido muito lucro. A maioria das empresas do sector faliu ou está prestes a falir. As energias renováveis, na forma de electricidade eólica e solar, provaram ser muito caras e pouco atraentes para as redes eléctricas devido à sua intermitência e à incapacidade de armazenar grandes quantidades de electricidade. Manobras geopolíticas, como a tentativa de derrubar o governo da Venezuela e roubar seu petróleo ou sancionar a Rússia para que se comportasse como um posto de gasolina com uma economia destroçada, todas falharam. A taxa de retorno de energia EROEI uma medida difícil de calcular, mas em última análise decisiva da viabilidade de qualquer empreendimento de energia – continua a declinar.

No papel de génio do mal e não apenas como um simples amador ignorante na sua poltrona, deve estar totalmente ciente que a incapacidade de fazer algo para equilibrar a oferta e a procura de combustíveis fósseis causaria o colapso da economia mundial. Desde o advento da industrialização baseada no carvão, o crescimento económico sempre foi acompanhado por um aumento proporcional do uso de combustíveis fósseis. Mas agora esses aumentos parecem impossíveis. A economia global de hoje depende do crédito para apoiar a produção e do crescimento contínuo para se manter solvente. Nesse esquema, a única alternativa para o crescimento económico contínuo é o colapso económico. Portanto, tem de se começar a procurar formas de reequilibrar a equação da energia fechando partes da economia mundial e permitindo que outras continuem a crescer. Como ninguém está particularmente desejoso de se precipitar para o matadouro, a sua tarefa é encontrar uma maneira de induzi-los a irem para lá voluntariamente, supostamente para o seu próprio bem.

Dilema: transmitir ou cortar?

Jornalistas precisam controlar seus nervos. As pessoas não são tolas e a primeira norma do jornalismo é informar o público de forma justa e precisa.

Se a notícia contém mentiras, como as contadas por Trump, a norma é publicar e desmontá-las o mais rápido possível como fizeram, por exemplo, Fox News e CNN. As britânicas BBC e Sky News, entre outras internacionais, também tiveram igual abordagem. Quando se cruza o Rubicão...

Artigo completo no The Conversation, especializado em jornalismo alimentado em fontes universitárias e de institutos de pesquisa.

Alberto Castro, Londres

Ler AQUI: The Conversation -- Academic rigour, journalistic flair

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