terça-feira, 17 de novembro de 2020

O réquiem americano

Chris Hedges [*]

Bem, acabou. Não a eleição. A democracia capitalista. Por mais tendenciosa que fosse para os interesses dos ricos e mais hostil para os pobres e minorias, a democracia capitalista pelo menos oferecia a possibilidade de migalhas de reformas graduais. Agora é um cadáver. A iconografia e a retórica permanecem as mesmas. Mas é um elaborado e vazio reality show, financiado pelos oligarcas que controlam a sociedade – 1,51 mil milhões de dólares para a campanha de Biden, 1,57 mil milhões para a campanha de Trump – para nos fazerem pensar que há escolhas. Não há. O duelo entre o discurso palavroso e vazio de Trump e o de Biden com dificuldades de expressão foi concebido para mascarar a verdade. Os oligarcas ganham sempre. As pessoas perdem sempre. Não importa quem se senta na Casa Branca. Os EUA são um estado falido.

"O sonho americano ficou sem combustível", escreveu o romancista J.G. Ballard. "O carro parou. Já não abastece o mundo com suas imagens, seus sonhos, suas fantasias. Não mais. Acabou. Agora o que fornece ao mundo são os seus pesadelos".

Muitos dos seus participantes mataram a sociedade aberta da América. [NT] Foram os oligarcas que compraram o processo eleitoral, os tribunais e os media, os lobistas que redigem a legislação que nos empobrece e permite que se acumulem quantias obscenas de riqueza e poder irrestrito. Os militaristas e a indústria de guerra que drenaram o tesouro nacional para montar guerras inúteis e sem fim que esbanjaram cerca de 7 milhões de milhões de dólares e nos transformaram em párias internacionais.

Também os executivos que arrecadam em bónus e pacotes de compensação dezenas de milhões de dólares, que enviaram empregos para o exterior e deixaram nossas cidades em ruínas e nossos trabalhadores na miséria e desespero, sem um rendimento de subsistência e sem esperança no futuro. A indústria de combustíveis fósseis que fez guerra à ciência e optou por lucros em vez da iminente extinção da espécie humana. A imprensa que transformou as notícias em entretenimento acéfalo e de claques partidárias. Os intelectuais que se retiraram para as universidades para pregar o absolutismo moral da política de identidade e do multiculturalismo, enquanto viravam as costas à guerra económica que estava a ser travada contra a classe trabalhadora e ao ataque implacável às liberdades civis. E, claro, a classe liberal irresponsável e hipócrita que não faz nada além de falar, falar, falar. [NT: recordamos que "liberal" nos EUA, corresponde mutatis mutandis às várias tendências social-democratas na Europa]

Sahara Ocidental ocupado | Crimes de Marrocos e silêncio da ONU

Detenção e tortura de jovens Saharauis por grupos de Comando Marroquinos

Isabel Lourenço | Jornal Tornado

Durante as noite de dia 14 e 15 de Novembro, grupos de Comando Marroquinos invadiram casas de famílias saharauis, maltrataram e torturam famílias inteiras e detiveram jovens de forma arbitrária na tentativa de amordaçar os protestos nas ruas dos territórios ocupados contra a ocupação marroquina e em apoio à Frente Polisario.

Segundo nos informou Hmad Hamad, vice-presidente da ONG CODAPSO, confirma-se a detenção arbitrária dos jovens Ahmed Elgargar e Mohamed  Abidha na noite de dia 14, sábado, o que levou mais jovens para as ruas exigindo a sua libertação.

Tanto Ahmed Elgargar como Mohamed Abidha foram vitimas de tortura e o seu paradeiro não era conhecido após a sua detenção arbitrária.

Também o grupo de Comunicação Equipe Média lançou um alerta no Twitter onde se pode ler:

Comandos especiais invadem as casas dos saharauis. Dezenas de jovens foram detidos, maltratados e torturados pelas forças de ocupação marroquinas em campanhas de detenção em grande escala.

Marrocos está a violar o Direito Internacional Humanitário

@MINURSO__  preferiu calar a boca”

O contingente da MINURSO, Missão de Paz das Nações Unidas, continua no terreno, mas continua a deixar Marrocos perpetrar todas as violações de direitos humanos contra os saharauis sem intervir ou pelo menos emitir algum som sobre o assunto.

Al Gargarat, outro meio de comunicação saharaui no terreno, também tem difundido imagens e vídeos sobre as manifestação de jovens saharauis e a perseguição policial, assim como  Bentili, RASD TV e outros.

As imagens e vídeos circulam na Internet e os apelos para proteger a população civil saharaui nos territórios ocupados à comunidade internacional, às Nações Unidas, União Africana e União Europeia multiplicam-se sem até agora terem tido eco.

Os vários decisores políticos como é o caso de António Guterres, Secretário Geral das Nações e Josep Borrell, Alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros continuam preocupados com o “restabelecimento do tráfego” na Zona Tampão de Guergarat mas não estão preocupados com as vidas humanos em perigo.

De facto segundo as notícias publicadas por Marrocos o tráfego “foi reestabelecido” narrativa que não condiz com a preocupação e apelos do Secretário Geral e do Alto Representante das Nações Unidas.

Ver vídeos no original - Jornal Tornado

Portugal tem 40 mil desempregados 'invisíveis' -- estudo

Taxa de desemprego aumenta para 8,5%

Segundo um estudo da Euler Hermes, os desempregados 'invisíveis' em Portugal impactam o consumo em cerca de 15 milhões de euros mensais.

Portugal fechou o terceiro trimestre do ano com uma taxa de desemprego de 7,8%, um valor impactado negativamente pelos efeitos da pandemia na economia e que deverá estar aquém da realidade. Segundo um estudo da Euler Hermes, o país tem 40 mil desempregados 'invisíveis' (pessoas sem trabalho que não estão inscritas em centros de emprego nem recebem subsídio de desemprego) , o que eleva a taxa de desemprego em mais 0,7 pontos percentuais, para 8,5%. Esta franja da população implica uma contração no consumo interno da ordem dos 15 milhões de euros mensais, revela o documento.

Esta é uma situação que se verifica em muitos outros países. Em Espanha, por exemplo, o estudo admite que a taxa real de desemprego ronde os 21,9%, superior em quase 6 pontos percentuais à oficial, caso se contabilize os 1,5 milhões de desempregados 'invisíveis'. O país vizinho estará assim entre os que registam maior perda de consumo interno - perto de 927 milhões de euros por mês.

HOJE: Mais 81 mortos devido à covid-19. Total de 3553 mortes por covid-19

Mais 4452 infetados e 81 mortos por covid-19 em Portugal. Recorde de doentes em UCI

Portugal registou, esta terça-feira, mais 81 mortos devido à covid-19, numa terça-feira em que o número de internados desceu para 3028, menos 12 do que ontem. Ainda assim, os doentes em cuidados intensivos atingiram novo recorde: 431.

Com estes números, são agora 3553 os mortos causados pela pandemia no país. Há mais 4452 novos infetados, num acumulado de 230.124, e 7290 recuperados, para um total de quase 150 mil pessoas que derrotaram a doença.

E ao 17.º dia, Lisboa (e Vale do Tejo) desceu dos mil casos diários de covid-19. Com 812 infeções nas últimas 24 horas, a região em torno da capital portuguesa interrompeu um ciclo de 16 dias seguidos, os primeiros do mês de novembro, sempre com mais de um milhar de casos diários da doença.

Ainda não será a luz ao fundo do túnel de que falava o primeiro-ministro, António Costa, na segunda-feira à tarde, uma vez que, a nível global, os números desta terça-feira, 4452 casos, excedem os da passada terça-feira (3817), numa semana que terminou três dias acima dos seis mil casos, dois deles os piores de sempre.

A Norte o horizonte está ainda carregado, sem vislumbre dessa luz de que falava o primeiro-ministro. Depois da acalmia de de domingo, refletida nos 2063 casos reportados na segunda-feira, os números sobem para perto dos três mil (2941) esta terça-feira, ainda assim um pouco abaixo dos recordes na região, acima dos quatro mil casos diárias entre 13 e 15 de novembro.

Pelo meio, a Zona Centro, registou 353 casos, o número mais baixo dos últimos oito dias, para um acumulado de 21.406 infeções desde o início da pandemia.

O grande salto do dia registou-se no Alentejo, que anotou 243 casos positivos, um máximo para a região, que nunca tinha registado mais de duas centenas de infeções num só dia. Pode ser algum efeito dos registos do fim de semana, que sobem ou descem consoante as metodologias locais, mas eleva as notificações globais para 4547 na região outrora conhecida como o "celeiro de Portugal".

No Algarve, há uma ligeira subida em relação ao fim de semana, para 65 casos, mas aquém dos 86 ou 95 registados na semana passada, que ajudaram a levar o total de infeções na região mais autral do país para 4238 casos, dede o início da pandemia.

Nas ilhas, são mais 11 os casos nos Açores (625 no total) e 27 na Madeira, que tem, agora, um acumulado de 721 infeções reportadas no total.

Recorde de doentes em Unidades de Cuidados Intensivos: 431

Apesar de o número de internados ter descido para 3028 (menos 12 do que no boletim anterior), os pacientes em Unidades de Cuidados Intensivos aumentaram para 431 (mais cinco do que ontem).

Duas mortes entre os 50 e 59 anos

Dos 81 óbitos, 43 foram registados no Norte, 21 na região de Lisboa e Vale do Tejo, 11 no Centro, quatro no Alentejo e dois no Algarve.

Como vem sendo habitual, também esta terça-feira a maior parte das mortes por covid-19 é de doentes com mais de 80 anos (20 homens e 35 mulheres), sendo que há ainda 21 vítimas mortais entre os 70 e 79 (14 homens e sete mulheres), três na faixa etária dos 60 e duas na dos 50 (dois homens).

Jornal de Notícias

Salário mínimo, produtividade e gorjetas disfarçadas de prémios

Estamos numa época difícil e de facto toda a ajuda é pouca para superar este périplo, contudo não podemos confundir direitos com gorjetas disfarçadas de prémios.

António Ribeiro | AbrilAbril | opinião

Austrália e Nova Zelândia criaram em meados do século XIX o salário mínimo, medida através da qual se estabeleceu que existe um valor mínimo pelo qual os trabalhadores devem vender a sua força de trabalho.

Desde então, este modelo foi adoptado um pouco por todo o mundo. Na Europa, por exemplo, a Alemanha apenas o implementou em 2015, após um extenso e complexo debate, quer na sociedade civil quer entre os vários partidos políticos nacionais e internacionais.

Cinco anos volvidos, existe um largo consenso sobre a medida entre economistas, uma vez que a introdução do salário mínimo aumentou a produtividade do país, motivando os trabalhadores a procurar novos empregos com melhores condições.

Segundo Christian Dustmann, da University College London, o salário mínimo não só não provocou uma diminuição do emprego como também, conduziu ao aumento da eficácia global da produção graças à redistribuição dos trabalhadores de empresas menos produtivas para outras mais produtivas.

Desde a sua criação o valor hora já foi revisto duas vezes, uma em 2017 e outra em 2019, sempre visando o aumento do valor considerado inicialmente.

É verdade... quem diria que valorizar os trabalhadores e oferecer-lhes mais garantias os deixaria mais seguros quanto ao seu futuro e lhes permitiria serem melhores trabalhadores, melhorando assim os indicadores económicos do país.

Em Portugal o salário mínimo existe há mais de 45 anos e é historicamente um dos mais baixos da UE, apesar de nos últimos anos ter sofrido uma incrementação nominal de cerca de 19% (que se traduziu numa valorização real de 14%). Há que salientar que durante o período de 2012 a meados de 2014 esteve congelado nos valores de 485 euros, o que se traduziu em perdas de poder de compra na ordem dos 1,5% em 2013, 2,7% em 2014 e 0,3% em 2015.

Apenas para os mais distraídos: sim, a estagnação do salário mínimo em Portugal coincide com o governos do PSD/CDS e o incremento dos últimos anos coincide com a solução governativa que o PCP propôs após as eleições de 2015 e posteriormente ajudou a montar.

No capitalismo, o emprego é um mercado e o salário é influenciado pelas leis da oferta e da procura, como tal, se a bitola inferior do Salário Mínimo Nacional (SMN) é baixa, é normal que o valor médio também não seja exuberante. Mais de 50% dos trabalhadores nacionais recebe um salário que vai desde o SMN até 900 euros mensais.

É verdade, em Portugal ganhamos mal... Nada de novo, até aqui. Todos nós sabemos disso, desde assalariados e pensionistas até aos CEO's das melhores empresas nacionais.

IMAGEM DO DIA | Nem "bazuca", nem fisga da UE... Nada!


"Isto está mau, muito mau", havemos de dizer. Ou já dizemos. Agora com conhecimento de que os regimes fascistas de dois países da Europa de Leste, Hungria e Polónia, boicotam os apoios da União Europeia. Portanto, da UE não há "bazuca", nem ao menos uma fisga pequenina para aconchegar os portugueses e outros da UE. Também Mário Centeno, o "fenómeno", agora governador do Banco de Portugal (sonho cumprido), se pronunciou contra os apoios "massivos" a empresas e famílias. É do estilo cada um por si (que eu já tenho o meu tacho). É assim que Costa se está a "entalar", rodeado de "fenómenos", companheiros e amigos (do cuspo) que lhe estão a meter a cabeça a mil e a encostá-lo à parede, pendurado nos ganchos do insucesso, como barata tonta - coisa que ele não é... mas tem de ser. Com amigos assim... Portugal (e a UE) é mesmo um país constituído por gente muito pequenina, ínfima, que trama os outros parceiros (amigos e companheiros?) para os reduzir à sua escala de pequenez. Pequenos mas de bolsos cheios e recheados de sacanice pura. Única pureza que lhes encontramos. Já não bastava, a Costa e a muitos de nós, os fascistas incompreensivelmente membros da UE, Hungria e Polónia. E assim todos teremos direito a... nada! Exceto a muita sacanagem nos poderes.

PG

O pior dia da semana


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Cândido da Silva | Expresso

Bom dia,

Charles Bukowski era peremptório. Não manifestava qualquer dúvida de que o domingo era “o pior, o mais desgraçado entre todos os dias da semana”. Clarice Lispector também não alimentava grande respeito por essa sucessão de 24 horas que antecede a igualmente pouco popular segunda-feira. Pelo contrário. Detestava o domingo “por ser oco”.

Em tempos de pandemia e de restrições à liberdade de circulação, talvez os dias estejam todos mais parecidos com os domingos. Com a diferença de que ficar-se encerrado em casa por obrigação naquele que é o primeiro dia da semana é menos agradável do que fazê-lo por opção, ainda que o objectivo seja o de recuperar das folias de sábado e das consequentes nevralgias.

Vazio, desditoso ou ambas as coisas, o domingo acaba de revelar uma virtude para as autoridades que impuseram o recolher obrigatório durante os fins-de-semana. Dados recolhidos pela consultora PSE indicam que o cumprimento das normas foi mais rigoroso neste dia. Perto de dois terços dos portugueses não saíram à rua e, pelas 13h00, quase oito em cada dez estava enfiado em casa. No sábado, “apenas” 55% se mantiveram entre paredes durante todo o dia. Não surpreende, é o habitual dia de descompressão.

O grau de obediência foi elevado. Parece ser proporcional ao sentido das responsabilidades e à consciência dos riscos, que respondem perante a capacidade de persuasão das mensagens claras ou, quando estas falham, à ameaça da multa e da repressão. PSP e GNR procederam a 14 detenções e passaram duas centenas de coimas. Tudo tranquilo.

Infelizmente, os ziguezagues que se acumularam após o primeiro confinamento precipitaram uma distensão que não foi acompanhada do planeamento e das medidas preventivas necessárias para enfrentar o embate da segunda vaga de covid-19. Os apelos ao consumo, ao gozo de férias em Portugal e à frequência de restaurantes desvaneceram-se com a subida descontrolada das infecções e dos óbitos. O Governo fez uma pirueta e as actividades que era necessário serem reanimadas, pilares da economia e do emprego, sofreram mais um golpe duro.

Miguel Pina Martins diz que o fim-de-semana foi “catastrófico para o retalho e restauração”, que representa mais de 375 mil empregos. O presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração faz a estimativa de que as perdas de facturação nas empresas do sector atingem 76% nos concelhos que se encontram sob as limitações do estado de emergência.

Há outros exemplos de vítimas de desnorte e descoordenação. Dois mil reclusos foram libertados e a ideia era a de evitar surtos no interior dos estabelecimentos prisionais. Ficaram entregues a si próprios e alguns até pediram para regressar à cadeia. Associações que acompanham esta realidade qualificam o processo como "um absurdo".

Se a gestão da pandemia falha, as derradeiras esperanças estão onde? Os testes clínicos da vacina que está a ser desenvolvida pela Moderna apontam para uma eficácia de 95%, incluindo nos casos mais graves. A Pfizer já tinha anunciado que a imunização que está a pesquisar oferece garantias de 90%. São boas notícias. Mas ainda decorrerão meses entre a conclusão de todos os testes de segurança, a validação, a produção, a distribuição e a inoculação de um número suficiente de pessoas para que a imunidade colectiva seja alcançada.

"Uma vacina vai complementar as outras ferramentas que temos, não vai substituí-las", avisou Tedros Adhanom Ghebreyesus durante uma reunião do conselho executivo da Organização Mundial da Saúde. “Por si só, não será suficiente" para derrotar a pandemia de covid-19", acrescentou. Aquilo que o director-geral da OMS está a pedir é uma visão que vá para além do curto prazo, um recado que devia ser escutado em São Bento e em Belém, onde o Presidente da República começa esta terça-feira a receber os representantes dos partidos políticos.

A mão pesada actual destina-se evitar o colapso do Serviço Nacional de Saúde e a “salvar o Natal”, mas nada garante que o dia-a-dia não regresse a uma rotina pardacenta em Janeiro. Tão “desgraçada” e “oca” quanto o pior dia da semana.

Angola | Família de jovem morto em protesto exige resultados da autópsia

Família de Inocêncio Matos, morto na manifestação de 11 de novembro, diz que autoridades não querem divulgar reais circunstâncias da morte. Autópsia realizou-se esta segunda-feira (16.11) sem a presença dos familiares.

O funeral de Inocêncio Matos está a depender somente da autópsia. O exame terá sido feito, mas o resultado não foi entregue aos familiares. Ao contrário do que acontece em processos do género, a família de Inocêncio diz que foi expulsa da sala onde terão decorrido as análises, esta segunda-feira (16.11). No final, o resultado foi apresentado de forma verbal, o que não agradou aos parentes.

"Horas depois da autópsia, pediram que entrássemos, alegando que a autópsia estava feita. Estando feita, naturalmente, esperava-se um resultado por escrito. Disseram que não havia hipóteses de podermos levar o resultado", conta Alfredo Matos, pai de Inocêncio.

Em declarações à DW África, o pai do jovem diz ter a certeza de que Inocêncio foi assassinado e que não morreu por acidente, como querem fazer crer as autoridades sanitárias do país. "Ficámos absolutamente baralhados e, até agora, praticamente não temos noção real em que circunstâncias o Inocêncio morreu. Entretanto, existem evidências que aconteceram no local. Existem vídeos e peças que podem criar algumas elucidações", sublinha.

O Governo angolano mantém-se em silêncio quanto à morte do manifestante durante a repressão da manifestação pela Polícia Nacional. Nem uma mensagem de condolências foi enviada à família. O velório está a decorrer no São Pedro da Barra, um bairro com vários problemas sociais, onde Inocêncio Matos viveu desde a sua infância.

Emissora transmite cerimónias fúnebres de Sindika Dokolo em Londres

Homenagens ao empresário congolês, marido de Isabel dos Santos, ocorrem simultaneamente em Londres, Luanda e Kinshasa. Sindika Dokolo morreu quando praticava mergulho no Dubai no dia 29 de outubro.

As exéquias fúnebres de Sindika Dokolo ocorrem na manhã e tarde desta terça-feira (17.11) na catedral de Westminster, em Londres. Além da capital britânica, cerimónias em homenagem ao empresário acontecem simultaneamente em Luanda e Kinshasa.

A página de Isabel dos Santos no Facebook informa que, "como nem todos podem estar presentes por causa da pandemia” a Zap TV irá transmitir o evento fúnebre para Angola, Moçambique, Portugal e Europa.

Segundo a informação divulgada pela empresária angolana, a transmissão ocorre porque Dokolo foi um dos fundadores e membro dos órgãos sociais da Zap Viva, "sendo este um tributo que os trabalhadores e colaboradores pretendem prestar em honra desta figura tão querida”. A família também disponibilizou um link no YouTube para que se acompanhe a missa.

A página da viúva de Dokolo também se refere a ele como um "empresário, filantropo, defensor de direitos civis e colecionador de arte. A Fundação Sindika Dokolo de arte contemporânea e africana distinguiu-se pelo seu trabalho de identificação e recuperação de obras de arte levadas de museus africanos”.

Tony Tcheka: "O guineense acreditou estar prestes a uma mudança profunda"


Escritor guineense Tony Tcheka lança livro em Lisboa e não poupa críticas ao Governo da Guiné-Bissau. Para o analista, algumas instituições do Estado são figuras decorativas que o Presidente "usa e abusa como quer".

O escritor guineense Tony Tcheka lançou o livro "Quando os Cravos Vermelhos Cruzam o Geba" em Lisboa. Em conversa com a DW África na capital portuguesa, o jornalista criticou o que classificou como "comportamento ditatorial” do Presidente Umaro Sissoco Embaló. O jornalista e analista político lamenta desmandos e excessos do Presidente da Guiné-Bissau, que, segundo ele, fazem desacreditar o país, qualificado por muitos académicos e intelectuais como "Estado falhado".

A sua mais nova obra é constituída de contos romanceados que debatem o Estado-Nação. Nesta entrevista, o analista opina sobre o contexto político guineense e salienta que, na sua perspetiva, o atual Presidente da República da Guiné-Bissau não cumpre as regras de um Estado democrático, viola a Constituição e não respeita o primeiro-ministro Nuno Nabiam.

Operação "ganhar favores" de Embaló com restos mortais de Nino Vieira

Nino Vieira (foto), presidente da Guiné-Bissau, foi barbaramente assassinado há 11 anos por militares seus adversários políticos. O atual presidente golpista, Umaro Sissoco Embaló, decidiu transladar o seu corpo para o panteão nacional em manifesta operação de charme que lhe proporcione dividendos políticos. Fê-lo em completo desconhecimento dos familiares do ex-presidente assassinado, que contestam a decisão tomada à revelia e sem a autorização.

Via Deutsche Welle / Lusa podemos ler em título e resumo:

"Queremos que nos respeitem", diz filha que não pôde homenagear Nino Vieira

Familiares do antigo Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, estariam indignados pela forma como foi feito o processo de trasladação dos restos mortais do pai para o sepultamento na Amura. Filha quer que viúva deponha. 

Entretanto, Embaló, feito presidente da Guiné-Bissau num golpe de mestria peculiar, ignorando o mais elementar direito dos familiares de Nino Vieira de serem informados e participarem na “homenagem” transladou o féretro “para ganhar favores”, segundo afirmam opositores.

Pode ler em DW:

Restos mortais de Nino Vieira trasladados para Amura

Na cerimónia, Umaro Sissoco Embaló respondeu a queixas da família do ex-chefe de Estado assassinado há 11 anos, que diz não ter sido consultada acerca da transferência: "Nino Vieira é património da Guiné-Bissau".

Da operação “ganhar favores” de Sissoco Embaló, como afirmam guineenses, convidamos a leitura em Deutsche Welle nos respetivos links e outros que aqui não estão sinalizados.

Nino Vieira no Panteão Nacional: "Tem de haver justiça"

Movimento "Nino não morreu" saúda trasladação do antigo Presidente da Guiné-Bissau para Amura, mas continua a exigir o esclarecimento do seu assassinato. Analista fala em "campanha demagógica para ganhar favores".

Na Guiné-Bissau, os restos mortais do antigo Presidente João Bernardo Vieira (Nino Vieira) vão ser transladados esta segunda-feira (16.11) do cemitério para o "panteão nacional", a fortaleza d'Amura, onde estão sepultados outros antigos Presidentes e heróis da luta armada de libertaçãol. A cerimónia vai ser presidida pelo chefe de Estado Umaro Sissoco Embaló.

Na passada quinta-feira, o Presidente guineese, decidiu, através de um decreto presidencial, atribuir a título póstumo o título de "Herói da Luta Armada de Libertação Nacional" a João Bernardo Vieira, combatente da liberdade da pátria assassinado há 11 anos.

A decisão de transladar os restos mortais de "Nino Vieira", do Cemitério Municipal de Bissau para o mausoléu de Amura, fortaleza onde funciona o Estado Maior das Forças Armadas, foi tomada pelo Conselho de Ministros, no dia 5 de novembro, depois de uma proposta de Sissoco Embaló.

"Acredito que é o reconhecimento de quem ultrapassa a vida privada ou privativa de círculo fechado de família, amigos e alguns conhecidos", considera Udé Fati, diretora da ONG Voz di Paz. "Os restos mortais de quem já foi Presidente da República é mais uma pertença da nação do que familiar", sublinha.

Investigações devem continuar, diz "Nino ka Muri"

Nino Vieira, um célebre combatente da Liberdade da Pátria, que leu a proclamação da independência da Guiné-Bissau, foi o primeiro Presidente eleito democraticamente no país e o que mais tempo esteve no poder. Assumiu o cargo entre 1980 e 1999 – ano em que foi para o exílio. Regressou a Bissau em 2005 e, nesse ano, venceu as presidenciais.

Foi morto na sua casa, em Bissau, aos 69 anos, em pleno exercício das funções do Presidente da República. O assassínio ocorreu horas depois do então chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Tagme na Waié, ter sido assassinado, alegadamente num ataque à bomba.

A investigação do crime foi arquivada em dezembro de 2017, sem que fossem apurados os autores do assassínio.

Justino Sá, coordenador do Movimento "Nino ka Muri" (Nino não morreu), aplaude a transladação dos restos mortais do então chefe de Estado, mas exige que seja feita justiça:

"Pode-se fazer a transladação e depois continuar com a questão da investigação e consequente apuramento dos presumíveis responsáveis. Nós continuamos a insistir que tem que haver justiça em relação ao brutal assassinato do então Presidente João Bernardo Vieira", defende. "A imagem do assassinato do Presidente é nebulosa e paira em torno de todos os guineeses".

Já o analista político Rui Landim desvaloriza a transladação dos restos mortais do antigo Presidente, classificando o gesto decidido em Conselho de Ministros como "uma campanha demagógica para ganhar favores dos apoiantes de Nino Vieira".

"Se fosse para reconhecer e repor a história no lugar, devia ser através da Assembleia Nacional Popular (ANP) a adotar um diploma que faz de Nino Vieira um herói nacional e decidir criar um mausoléu para Nino Vieira", afirma.

Esta segunda-feira, Dia das Forças Armadas, será aproveitada para a transladação dos restos mortais de Nino Vieira. Por essa ocasião, o Governo guineense decidiu conceder "tolerância" de ponto" aos funcionários públicos, que assim vão ter folga neste dia.

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

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