Apesar de diversos apelos da
comunidade internacional e tentativa de mediação da União Africana pelo fim dos
confrontos, militares etíopes iniciaram a sua ofensiva em Mekele, este sábado.
A emissora televisiva local de
Tigray anunciou os bombardeamentos ao meio-dia deste sábado (28.11) em Mekele,
capital regional de Tigray com uma população de meio milhão de pessoas.
Os militares da Etiópia
"começaram a atingir com armamento pesado e artilharia o centro de
Mekele", disse o Governo local à agência de notícias AFP. "O Estado
regional de Tigray apela a todos os que têm a consciência tranquila, incluindo
a comunidade internacional, a condenarem os ataques aéreos e massacres que estão
a ser cometidos", lê-se numa declaração.
Debretsion Gebremichael, líder da
Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF), confirmou à agência Reuters,
numa mensagem de texto, que Mekelle estava sob "bombardeamento
pesado". Os militares etíopes estão a utilizar artilharia no ataque,
acrescentou.
As explosões foram relatadas no
norte da cidade, na zona de Hamidai.
O
primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, havia anunciado na quinta-feira (26.11)
uma "terceira e última fase" na sua campanha contra os líderes da
TPLF.
Conflito atinge vizinha Eritreia
Na noite de sexta-feira (27.11),
pelo menos um míssil disparado a partir do norte de Tigray atingiu a vizinha
Eritreia, disseram à AFP quatro diplomatas regionais.
Não houve confirmação imediata de
quantos mísseis foram disparados, onde aterraram, nem de quaisquer baixas ou
danos causados.
A TPLF acusou a Etiópia de ter
obtido apoio militar da Eritreia nos combates, uma acusação que a Etiópia nega.
O grupo reivindicou a
responsabilidade por ataques semelhantes contra a Eritreia há duas semanas, mas
não houve nenhum comentário imediato dos seus líderes na sexta-feira.
Mediação africana
Abiy anunciou operações militares
em Tigray a 4 de novembro, após meses de fricção entre o seu Governo e a TPLF.
O primeiro-ministro recusou-se a
negociar com a TPLF e rejeitou os apelos ao diálogo como
"interferência" nos assuntos internos da Etiópia.
Na sexta-feira, encontrou-se com
três ex-líderes africanos - Joaquim Chissano de Moçambique, Ellen Johnson
Sirleaf da Libéria e Kgalema Motlanthe da África do Sul - despachados esta
semana pela União Africana (UA) como mediadores.
Numa declaração emitida após a
reunião em Adis Abeba,
Abiy disse apreciar "este gesto e... o empenho firme que este demonstra no
princípio das soluções africanas para os problemas africanos".
Mesmo assim, o Governo tem uma
"responsabilidade constitucionalmente mandatada para fazer cumprir o
Estado de direito na região e em todo o país", disse o seu gabinete numa
declaração.
"Não o fazer iria promover
uma cultura de impunidade com custos devastadores para a sobrevivência do
país", afirmou.
O secretário-geral da ONU saudou
as conversações com os enviados da UA e exortou todas as partes a
"resolverem pacificamente o conflito".
Antonio Guterres salientou também
a necessidade de "assegurar a proteção dos civis, os direitos humanos e o
acesso da assistência humanitária às áreas afectadas".
O Governo de Tigray, entretanto,
disse na sexta-feira que o exército federal estava a bombardear cidades e
aldeias e a infligir pesados danos.
"A nossa luta continuará de
todas as direções até que a autodeterminação do Povo de Tigray esteja garantida
e a força invasora seja expulsa", disseram as autoridades locais numa
declaração lida na televisão regional.
Preocupação internacional
A comunidade internacional tem
manifestado grande preocupação com o conflito e o seu impacto humanitário,
enquanto insiste nos apelos ao diálogo.
Na sexta-feira, o ministro alemão
dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, disse por meio de comunicado, após o seu
encontro com o vice-primeiro-ministro etíope, Demeke Mekonnen: "É claro
para nós que ambos os lados devem pôr fim à violência. Todas as partes devem
fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proteger os civis e para conceder
acesso à ajuda humanitária".
Também o Papa Francisco apelou ao
fim da violência. "O santo padre (...) apela às partes em conflito para
que cessem a violência e salvem vidas, especialmente as de civis, para que a
população possa regressar à paz", disse o diretor do gabinete de imprensa
do Vaticano, Matteo Bruni, num comunicado na sexta-feira.
Deutsche Welle | AP, AFP, Reuters