segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

RECONVERSÃO GEOESTRATÉGICA DO IMPÉRIO DA HEGEMONIA UNIPOLAR

Martinho Júnior, Luanda

... Os mecanismos de poder dominante e exclusivista, que se fazem “representar” na tal “democracia” (passo o cinismo e a hipocrisia por junto e atacado), que constitui o núcleo duro da capacidade de decisão do império da hegemonia unipolar, aproveitaram-se bem da tão bem programada e injectada transição da exacerbada vocação protecionista vinculada ao “the american first”, para a vocação neoliberal que é genética preferencial de sua essência desde os tempos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher!...

Esse aproveitamento é visível no período da osmose entre a administração de Donald Trump e a de Joe Biden, “Obama III”, no que diz respeito não só à “reconfiguração” do Pentágono (e seus Comandos que cobrem o globo), à “reconfiguração” do sistema de inteligência (agora integrado nos expedientes da “diplomacia”), mas também a “reconfiguração” do carácter da NATO e a “reconfiguração” das características dos estados avassalados, particularmente os que compõem a União Europeia, uma leitura “jurisprudente” realçada, a título de exemplo, pelos resultados da fantochada das últimas eleições presidenciais em Portugal, saudosistas de colonial-fascismo e da carga hipócrita inscrita nas culturas hispano-ibéricas “por séculos e séculos, ámen”!...

Jogando mais que nunca com as aparências, as ilusões, as miragens e os discursos persuasivos a condizer, deu-se mais um passo na direcção dum ou de vários conflitos de grandes proporções, sem diminuir a carga de outros conflitos “larvares” onde a promoção do caos, do terrorismo e da desagregação não deixa de ser elaborada e continuamente praticada (a via do choque e da terapia neoliberal contra o Sul Global), como se fosse um legado por inércia cuja eclosão se tornou mais visível no início da década de 90 do século XX, já lá vão 30 anos!

A vontade dominante do complexo financeiro-militar-industrial, é a “representatividade” determinante!

O próprio ambiente global depressivo, óptimo para a guerra psicológica da IIIª Guerra Mundial infestada de novas tecnologias contra o Sul Global, em resultado da acumulação de crises a que se veio associar a pandemia, é propício a transições deste tipo, com o protagonista que sai “a preparar o terreno” para o protagonista que se lhe segue, caprichos à parte, mesmo que eles sejam propositadamente tonitruantes!…

EUA | O poder omnipotente para assassinar

*Publicado em português do Brasil

Jacob G. Hornberger*

Global Research, 15 de fevereiro de 2021

Fundação The Future of Freedom 12 de fevereiro de 2021

Nem é preciso dizer que a Constituição criou um governo com poucos e limitados poderes. Esse foi o propósito de enumerar os poderes do governo federal. Se a Constituição estava trazendo à existência um governo de poderes ilimitados ou onipotentes, então não haveria sentido em enumerar alguns poderes limitados. Nesse caso, a Constituição teria criado um governo com poderes gerais ilimitados para fazer o que fosse do interesse da nação.

Se a Constituição tivesse proposto um governo de poderes onipotentes, não haveria como o povo americano o aceitar, caso em que a América teria continuado a operar sob os Artigos da Confederação. Nossos ancestrais americanos não queriam um governo de poderes onipotentes. Eles queriam um governo de poucos, limitados e enumerados poderes.

Entre os poderes mais onipotentes que um governo pode exercer está o poder de oficiais do governo de assassinar pessoas. Nossos ancestrais americanos definitivamente não queriam esse tipo de governo. É por isso que o poder de assassinar não está entre os poderes enumerados do governo na Constituição.

Apesar da doutrina dos poderes enumerados, nossos ancestrais americanos ainda estavam desconfiados. Eles sabiam que o governo federal inevitavelmente atrairia pessoas que teriam sede de poder para assassinar pessoas. Portanto, para ter certeza de que as autoridades federais entenderam, o povo americano promulgou a Quinta Emenda depois que a Constituição foi ratificada. Proibia expressamente o governo federal de tirar a vida de qualquer pessoa sem o devido processo legal.

O devido processo legal é um termo que remonta à Magna Carta. No mínimo, é necessário um aviso formal das acusações e um julgamento antes que o governo possa tirar a vida de uma pessoa. Correndo o risco de explorar o óbvio, o assassinato envolve tirar a vida de uma pessoa sem aviso prévio ou julgamento.

Por cerca de 150 anos, o governo federal não teve poder para assassinar pessoas. Nos últimos 75 anos, no entanto, o governo federal tem exercido e efetivamente exercido o poder onipotente de assassinar, inclusive contra cidadãos americanos.

Como adquiriu esse poder onipotente? Certamente não por emenda constitucional. Ele o adquiriu por padrão - ao converter o governo federal após a Segunda Guerra Mundial de uma república de governo limitado para um estado de segurança nacional.

Um estado de segurança nacional é uma forma totalitária de estrutura governamental. A Coreia do Norte é um estado de segurança nacional. Cuba também. E China, Egito, Rússia e Paquistão. E os Estados Unidos, junto com outros.

Um estado de segurança nacional é baseado em um vasto e todo-poderoso sistema de inteligência militar, que, na prática, exerce poderes onipotentes. Assim, quando a CIA, um dos principais componentes do estado de segurança nacional da América, foi criada em 1947, imediatamente assumiu o poder de assassinar. Na verdade, já em 1952 a CIA publicou um manual de assassinato que demonstra que a CIA já se especializava na arte de assassinar (bem como de encobrir) nos primeiros anos do estado de segurança nacional.

Em 1954, a CIA instigou um golpe na Guatemala por motivos de “segurança nacional”. O objetivo do golpe era destituir o presidente democraticamente eleito do país, Jacobo Arbenz , e substituí-lo por um general militar. Como parte do golpe, a CIA preparou uma lista de pessoas a serem assassinadas. Até hoje, a CIA não divulgará os nomes das pessoas em sua lista de extermínio (com base na "segurança nacional", é claro), mas é quase certo que o presidente Arbenz estava no topo da lista para estabelecer uma política externa de paz e amizade com o mundo comunista. Para sua sorte, ele conseguiu fugir do país antes que pudessem assassiná-lo.

Em 1970, a CIA tentava impedir que Salvador Allende se tornasse presidente do Chile. Como Arbenz, a política externa de Allende baseava-se no estabelecimento de uma relação pacífica e amigável com o mundo comunista. O plano da CIA incluía incitar um golpe liderado pelos militares chilenos. No entanto, o comandante geral das forças armadas do Chile, general Rene Schneider , ficou no caminho. Sua posição era a de que ele havia jurado apoiar e defender a constituição e, portanto, não permitiria que um golpe ocorresse. A CIA conspirou para que ele fosse sequestrado violentamente para removê-lo como um obstáculo ao golpe. Durante a tentativa de sequestro, Schneider foi morto a tiros.

A família de Schneider mais tarde entrou com uma ação por danos causados ​​pela morte injusta de Schneider. O judiciário federal recusou-se a permitir que funcionários dos EUA ou da CIA fossem responsabilizados pela morte de Schneider. Afirmando a rejeição sumária do caso pelo Tribunal Distrital dos Estados Unidos, o Tribunal de Apelações de DC considerou que as autoridades americanas que estavam envolvidas no crime não podiam ser responsabilizadas, uma vez que estavam simplesmente agindo dentro do curso e escopo de seu emprego. Além disso, o governo dos Estados Unidos não poderia ser responsabilizado porque, afirmou o tribunal, é soberanamente imune.

O ponto central da decisão do Tribunal foi o que chamou de "doutrina da questão política". Afirma que, segundo a Constituição, o poder judiciário do governo está impedido de questionar qualquer decisão “política” ou de “política externa” tomada pelo poder executivo.

Na verdade, porém, a Constituição não diz tal coisa. Na verdade, é responsabilidade do Poder Judiciário fazer cumprir a Constituição contra os outros Poderes, incluindo o Poder de Segurança Nacional. Isso inclui a Quinta Emenda, que proíbe expressamente o governo federal de tirar a vida das pessoas sem o devido processo legal.

Então, por que o judiciário federal inventou essa maneira de evitar enfrentar a CIA? Porque sabia que uma vez convertido o governo federal a um estado de segurança nacional, o governo federal mudara fundamentalmente de natureza ao ter um braço que poderia exercer poderes onipotentes, como o assassinato, com impunidade. O Judiciário federal sabia que não havia como o Poder Judiciário do governo, na prática, impedir o Poder de Segurança Nacional de assassinar pessoas. Para manter o verniz de poder judicial, o Judiciário surgiu com sua ridícula “doutrina da questão política” para explicar por que não estava cumprindo a Constituição

Depois que Pinochet assumiu o cargo após o golpe no Chile, o judiciário chileno fez a mesma coisa que o judiciário dos Estados Unidos. Ele submeteu-se ao poder do governo de inteligência militar de Pinochet, recusando-se a impor a constituição da nação contra ele. Como o judiciário dos EUA, o judiciário chileno reconheceu a realidade do poder onipotente que acompanha um estado de segurança nacional. Muitos anos depois, o judiciário chileno pediu desculpas ao povo chileno por revogar sua responsabilidade judicial.

*Jacob G. Hornberger é fundador e presidente da Fundação The Future of Freedom. Ele nasceu e foi criado em Laredo, Texas, e recebeu seu bacharelado em economia pelo Virginia Military Institute e seu diploma de direito pela University of Texas. Ele foi advogado de defesa durante 12 anos no Texas. Ele também foi professor adjunto na Universidade de Dallas, onde ensinou direito e economia. Em 1987, o Sr. Hornberger deixou a advocacia para se tornar diretor de programas da Foundation for Economic Education. Ele promoveu liberdade e livre mercado em estações de rádio de todo o país, bem como nos programas de Neil Cavuto e Greta van Susteren da Fox News e apareceu como um comentarista regular no programa Freedom Watch do juiz Andrew Napolitano. Veja essas entrevistas em LewRockwell.com e emContexto completo . Envie um - email .

*A fonte original deste artigo é The Future of Freedom Foundation

Copyright © Jacob G. HornbergerThe Future of Freedom Foundation , 2021

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A grande disputa pelo antissistema -- Boaventura

Divórcio entre Capitalismo e Democracia produziu a enorme instabilidade política que marca o Ocidente. Muitos atacam o establishment. Mas quem vencerá: os que já não suportam as lógicas do capital, ou os que nunca admitiram a democracia?

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras

O crescimento global da extrema-direita voltou a dar uma nova importância ao conceito de antissistema em política. Para entender o que se está a passar é necessário recuar algumas décadas. Num texto deste tipo não é possível dar conta de toda a riqueza política deste período. As generalizações serão certamente arriscadas e não faltarão omissões. Mesmo assim, o exercício impõe-se pela urgência de dar algum sentido ao que, por vezes, parece não ter sentido nenhum.

O binarismo sistema-antissistema está presente nas mais diferentes disciplinas, das ciências naturais às ciências humanas e sociais, da biologia à física, da epistemologia à psicologia. O corpo, o mundo, a cidade ou o clima podem ser concebidos como sistemas. Há mesmo uma disciplina dedicada ao estudo dos sistemas – a teoria dos sistemas. O sistema é, em geral, definido como uma entidade composta de diferentes partes que interagem de modo a comporem um todo unificado ou coerente. O sistema é assim algo limitado, e o que está fora dele tanto o pode rodear e influenciar (o seu meio-ambiente) como lhe pode ser hostil e pretender destruir (antissistema). Nas ciências sociais, ainda que algumas correntes rejeitem a ideia de sistema, são muitas as formulações do binarismo sistema/antissistema. Distingo duas formulações particularmente influentes. A teoria do sistema-mundo proposta por Immanuel Wallerstein defende que, historicamente, existiram dois tipos de sistema-mundo: o império-mundo e a economia-mundo. O primeiro é caracterizado por um centro político com amplas estruturas burocráticas e múltiplas culturas hierarquizadas; o segundo é caracterizado por uma só divisão do trabalho, múltiplos centros políticos e múltiplas culturas igualmente hierarquizadas. Desde o século XVI, existe o sistema-mundo moderno assente na economia-mundo do capitalismo, um sistema dinâmico, conflitual, com diferentes ritmos temporais que dividiu os diferentes países/regiões em três categorias – o centro, a periferia e a semiperiferia – definidas em função do modo como se apropriam (ou são expropriadas) das mais valias da produção capitalista e colonialista global. O sistema permite transferências de valor dos países periféricos para os países centrais, enquanto os países semi-periféricos atuam como correias de transmissão do valor criado da periferia para o centro (como foi o caso de Portugal durante séculos).

A outra concepção de sistema (e de antissistema) tem sido desenvolvida sobretudo na ciência política e nas relações internacionais. O sistema é aqui concebido como um conjunto coerente de princípios, normas, instituições, conceitos, crenças e valores que definem os limites do que é convencional e legitimam as atuações dos agentes dentro desses limites. A unidade do sistema tanto pode ser local como regional, nacional ou internacional. Podemos dizer que, depois da Segunda Guerra Mundial, foram dois os sistemas nacionais dominantes: o sistema político de partido único ao serviço do socialismo (o mundo sino-soviético) e um sistema democrático liberal ao serviço do capitalismo (o mundo liberal). As relações internacionais entre os dois sistemas configuraram um terceiro sistema, a Guerra Fria, um sistema regulado de conflito e contenção. A Guerra Fria condicionou o modo como foram avaliados os dois sistemas nacionais/regionais: para o mundo liberal, o mundo sino-soviético era uma ditadura ao serviço de uma casta burocrática; para o mundo sino-soviético, o mundo liberal era uma democracia burguesa ao serviço da acumulação e da exploração capitalista. Com a queda do Muro de Berlim (1989), este sistema feito de três sistemas entrou em crise. A nível nacional passou a reconhecer-se um só sistema legítimo, o sistema liberal. A crise do sistema internacional da Guerra Fria atingiu o paroxismo com a presidência de Donald Trump. Vistas da longa duração do sistema-mundo moderno, estas transformações políticas, apesar do seu dramatismo, são variações epocais dentro do mesmo sistema, as quais, quando muito, podem estar a sinalizar uma crise mais profunda do próprio sistema-mundo.

São antissistêmicos os movimentos que se opõem radicalmente ao sistema dominante. Ao longo do século XX, foram antissistêmicos os movimentos que se opunham ao capitalismo e ao colonialismo (anti-sistema-mundo) e os que se opunham à democracia liberal (anti-mundo liberal). Alguns movimentos foram contra o capitalismo/colonialismo mas não contra a democracia liberal, caso dos partidos socialistas e a maioria dos sindicatos das primeiras décadas do século XX (socialismo democrático). Outros foram contra o capitalismo/colonialismo e a democracia liberal, caso dos movimentos revolucionários – comunistas, anarquistas – e muitos dos movimentos de libertação anticolonial, com adoção ou não da luta armada. Por fim, outros foram contra a democracia liberal, mas não contra o capitalismo/colonialismo. Foram os movimentos reacionários, nazistas, fascistas, populistas de direita que, ou não aceitavam sequer os três princípios da Revolução Francesa (liberdade, igualdade, fraternidade), ou viam na evolução da democracia liberal (alargamento do sufrágio, multiplicação dos direitos sociais e econômicos) e no crescimento do movimento comunista depois da Revolução Russa uma perigosa deriva que acabaria por pôr em causa o capitalismo. Estes movimentos propuseram um capitalismo tutelado pelo Estado autoritário (fascismo e nazismo).

Foi sempre importante distinguir entre esquerda e direita, entre movimentos revolucionários e contra-revolucionários. Os primeiros, quando lutaram contra o capitalismo/colonialismo, fizeram-no em nome de um sistema social mais justo, mais diverso e mais igual e, quando lutaram contra a democracia liberal, foi em nome de uma democracia mais radical, mesmo que o resultado acabasse por ser a ditadura, como aconteceu com Stálin. Pelo contrário, os movimentos contra-revolucionários lutaram sempre contra as forças anticapitalistas e anticolonialistas, muitas vezes com o preconceito de estas serem protagonizadas por classes inferiores ou perigosas e, pelas mesmas razões, dispuseram-se a optar pela ditadura sempre que a democracia liberal significasse alguma ameaça para o capitalismo.

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