quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

ELEIÇÕES EM ANGOLA, INGERÊNCIAS EXPOSTAS!

Martinho Júnior, Luanda

CENÁRIOS E PROTAGONISTAS DE LONGA DURAÇÃO

Em época de eleições, o vulcão humano latente em Angola, está sujeito a entrar em sucessivas erupções. Para além das assimetrias agravadas pela actuação, de choque em choque, do longo braço da “border war” engendrado pelo “apartheid” em cultivada herança da colonização portuguesa que dá pelo nome de UNITA (com um papel bem definido no Exercício Alcora), juntam-se os desequilíbrios causados pela terapia neoliberal inaugurada em Bicesse a 31 de Maio de 1991, numa “democracia representativa” inquinada pelo seu carácter, conteúdo e formatação, desde o seu primeiro dia!...

Em Bicesse sacrificou-se o que dizia respeito à lógica com sentido de vida e à libertação do povo angolano e dos povos de África, em proveito da “aceitação democrática” dum ente que tinha e tem tudo a ver com agenciamento deliberado a partir do “hegemon” unipolar, a fim de garantir a qualquer preço ingerência e qualquer tipo de manipulação, seja em situação de guerra como em situação de paz!

O próprio ambiente em época eleitoral demonstra-o substantivamente: pariram o vulcão humano impelindo para as cidades, particularmente para a cidade capital, milhões de desamparados refugiados internos provenientes das mais devastadas áreas rurais de Angola e agora ele está disponível e em concentrado em cidades a rebentar pelas costuras, apto por via dessa artificiosa natureza a corresponder com erupções que a qualquer momento, escolhido ou não, podem eclodir!

Para tal tudo é relativamente fácil por parte dos instrumentalizados agentes: basta a chispa inteligente de subtis ingerências neocoloniais com essa vontade, capazes de arregimentar a enorme informalidade disponível que sobrevive desde as profundezas ardentes do vulcão e que, a qualquer momento, se pode tornar em incandescente lava que expulsa as energias por todo o telúrico espaço crítico, um fenómeno que pode ser observado aliás esporadicamente na África Austral, inaugurado desde logo na África do Sul (O vulcão sul-africano – Marikana como Sharpeville)!... (1)


01- Savimbi foi pela sua “providencial ideologia” e pela sua prática, um “inspirador” das “revoluções coloridas”, das “primaveras árabes” e das mais pérfidas “transversalidades sociais”: ele foi autor material dessa “inspiração” em Angola, parida pelas entranhas do colonialismo e do “apartheid”, que na fase mais adulta tão subtilmente foi aproveitada como “freedom fighter” pela primeira administração neoliberal dos Estados Unidos, a do republicano Ronald Reagan e por sua “congénere” britânica, o governo de Margareth Thatcher, que na África Austral explorou e explora a “diamantária” pista do elitismo segundo Cecil John Rhodes!

Se ele foi autor material, o autor intelectual desse ente apocalíptico foi mesmo Ronald Reagan, que assim deu o “pontapé de saída” dum agenciamento cultor de laços que se distendem até hoje, apesar do inevitável sadismo megalómano de Savimbi, contra o seu próprio povo, contra alguns dos seus próprios companheiros e finalmente contra si próprio!

Desse modo Savimbi tornou-se num versátil objecto “usa deita fora”, o que permitiu a reciclagem (inclusive reciclagem psicossocial) dos outros seus comparsas etno-nacionalistas, ao dispor das ingerências, manipulações e agenciamentos a que recorre o poder dominante do “hegemon” unipolar, por via directa, ou por via de canais apropriados de seu leque de vassalos dispostos à formatação “representativa”!

De entre outras coisas, essas são também as “coisas que Bicesse teceu e tece” em Angola, o que explica a “invasão” de bancos e capitais portugueses que jorraram entre 2002 e 2017 e tanto contribuíram para a institucionalização da corrupção sob mestria dos expedientes da terapia neoliberal!

Em época de eleições isso é providencial para o núcleo duro de intervenção a partir da aristocracia financeira mundial:

Há muitas coisas que estão de antemão preparadas, como por exemplo, as formatações que são inculcadas na “democracia representativa” angolana que é na África Austral e Central, no Golfo da Guiné e nos Grandes Lagos, um seu alvo jamais negligenciado!...

A “cama” está desse modo preparada de antemão a partir do choque neoliberal entre 1992 e 2002 e serviu de “laboratório” para “iniciativas” como a que foi drasticamente aplicada contra Kadafi, há pouco mais de 10 anos! (2).

Porém há outras coisas que, em época de eleições são preparadas em jeito do ente que em geometria variável se vai deitar na “cama” em função das mais activas conveniências “hospedeiras” do momento, vocacionadas a partir do artificioso leque de interesses económicos e sociopolíticos em jogo, cultivados desde a hegemonia anglo-saxónica por via da revolução industrial, que entre outras criações pariu a Conferência de Berlim!...

… Direitos de autor!

Em Angola sujeita aos impactos da terapia neoliberal, os recursos inteligentes de conveniência reflectem as nuances das sensíveis (e sensitivas) conexões tentaculares de ordem económica, financeira e sociopolítica, geração após geração, conexões essas que se tornam mais explícitas e expostas “naturalmente” em época eleitoral!

Esse engenhoso agenciamento “soft power” é providencial como sustentáculo inteligente do sazonal percurso eleitoral da UNITA, ela própria reciclada e não mais sujeita ao megalómano e genocida Savimbi (mesmo que seja uma inspiração para alguns saudosistas da barbárie): orienta a campanha como uma “cosa nostra”, com a plasticidade julgada adequada, com a intensidade sob medida e sob controlo (ainda que roce a arruaça), aliás fluida no âmbito do plasma da malparada “democracia representativa” que vem sendo formatada pelos impactos neoliberais desde Bicesse, uma “representatividade” suficiente para se evitar o gravoso escândalo de mais uma “revolução colorida” ou duma mais “primavera” de mau agoiro!

Democracia sequestrada, revolução colorida na rua! (3)


02- De entre os procedimentos dos que prepararam a “cama” da “democracia representativa” em tempo de capitalismo neoliberal em Angola, estão os procedimentos “civis” típicos da expressão mediática e prática manipuladora do “soft power” do “hegemon” unipolar e da formatação cinicamente “democrática” que seu domínio obriga!

Nenhum domínio é “democrático”, mas é assim que a pílula hipócrita é adoçada para melhor se adequar ás regras de persuasão típicas da guerra psicológica que integra a panóplia de meios ao dispor da IIIª Guerra Mundial não declarada do “hegemon” unipolar contra o Sul Global!

Sob a égide da administração republicana de George W. Bush e depois dos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, foi criado o USAFRICOM nesse diapasão, integrando capacidades “civis” e militares, ou seja, tentáculos velados e abertos dos mais diversos serviços de inteligência do poder dominante, além da força militar.

O USAFRICOM tem, dentro de sua organização e plasma, sensores da National Security Agency, da CIA e do Pentágono e, entre os sensores inteligentes abertos a USAID e a National Endowment for Democracy, NED que, não é por acaso, foi criada por Ronald Reagan tutor de Savimbi e autor intelectual das sucessivas agressões a Angola que deram na terapia neoliberal “que estamos com ela”!

Vamos citar este exemplo de como se formata a “democracia representativa” em Angola, no quadro da violência mediática contra o Sul Global, expondo as verbas do NED que sistematicamente têm sido aplicadas em Angola, como são aplicadas por todas as partes do mundo! (4)

Seguindo as pistas, o NED mantém em Angola influência mediática tentacular, influência num cada vez mais alargado circuito de ONGs com iniciativas que lhes são indexadas e práticas que são estimuladas desde os impactos de sua intervenção mediática conforme muito sumariamente se expõe recorrendo a links em anexo!

O NED é parte integrante das acções misto de ideologia e de práticas conspirativas “persuasivas” que “fazem a cama” da “democracia representativa” angolana, nos termos abertos à previsão duma “primavera” de rua, não a podendo evitar, pelo contrário, ainda que não haja directamente de sua parte implicação material.

Assim as imprevisíveis erupções do latente vulcão humano angolano, como a que aconteceu em princípios de Janeiro de 2022, a partir duma greve de taxistas, desta feita ocorreu sintomaticamente na mesma altura ainda que num nível superior no Cazaquistão!...

Não deixa contudo, sem pandémica máscara de “democracia”, ser uma exemplificada manobra de prática conspirativa em ano eleitoral, com a “cama” preparada desde 31 de Maio de 1991, em Bicesse!...


03- Quem vai a eleições conforme ao etno-nacionalismo artificiosamente injectado em Angola desde a zona cinzenta da “africanização da guerra” colonial e tornada organização afim junto ao Caminho de Ferro de Benguela e aos “madeireiros” do Moxico em 1966, por via dessa “democracia representativa” tornada “cama de contingência” para-o-que-der-e-vier, beneficia desde logo, no carácter de sua própria formação e formatação reciclada, do colchão e dos lençóis desde então e do leque mediático propiciado desde época mais recente pelo NED, embora necessite de orientação “consultiva” que responda às conveniências eleitorais do momento.

Savimbi introduziu a UNITA, por via da “guerra dos diamantes de sangue” nas Bolsas de Antuérpia e de Nova-York e essa trilha inspira aos reciclados (não só pela iniciativa Kimberley) a introdução de mais Bolsas, como o caso da Bolsa de Jerusalém, ou de outras Bolsas não declaradas conforme a trilha tão afoita ao elitismo protagonizado a sul desde os tempos de Cecil John Rhodes, que agora dispõe do “protectorado Botswana” e dos “sight holders” em Gaberone, instalados em local muito próximo da sede da organização regional SADC! (5).

No Relatório Fowler está espelhado “o engenho e a arte diamantária savimbiesca” do tempo da “guerra dos diamantes de sangue”, mas agora “o produto”, graças ao “vasto mercado” e suas aliciantes de conveniência, está mais refinado que nunca, em época de terapia neoliberal, pelo que pelos vistos nada melhor que a Bolsa de Jerusalém e de suas afinidades! (6).

Os nexos inteligentes propiciados pelo “hegemon” unipolar em época eleitoral e penetrando em Angola, exploram facilmente o arsenal da “cama” mediática já paulatinamente instalada desde 2002 em função de Bicesse, com as manobras discretas de inteligentes assessores “eleitorais” dos “produtos” reciclados com o rótulo UNITA e não admira que a vocação, para quem teve cultura fundamentalista com recurso a diamantes, venha agora de Jerusalém!

Segundo consta o recurso em voga é proveniente da Adi Timor Consulting Ltd, com sede em Jerusalém, que recorre à experiência de tecnologias avançadas israelitas, ao seu “software” na vanguarda das encriptações e a oficiais da MOSSAD, na reserva ou na reforma, uma capacidade já experimentada em várias partes do mundo, África incluída, particularmente nos períodos eleitorais!

A Adi Timor Consulting Ltd na África Austral já “fez trabalho” no Botswana, na Zâmbia e na “lusófana” Moçambique (apoiando o Presidente Nyusi) e a sua saga continua agora com Adalberto da Costa Júnior, há tanta memória de “apartheid” em comum!...

… Uma das especialidades da Adi Timor Consulting Ltd é a experiência em lidar com tendências religiosas capazes de sociopolítica, como é citada a igreja Evangélica em relação ao Gana…

Em Angola o “perfil” de fundamentalista católico do “freedom fighter” Savimbi, conforme à apoiante Conservative Caucus desde os tempos de Ronald Reagan, deve ser um aliciante em relação à relação da Adi Timor na “consultoria” em relação ao candidato a Presidente “na oposição”, o “português diplomático” Adalberto da Costa Júnior!

O grupo que foi encarregue de campanhas eleitorais como as de Ronald Reagan e Benjamin Netanyahu, liderado pelo especialista gay em eleições Arthur Finkelstein (já falecido), fez escola em benefício da Adi Timor e deu-lhe particular inspiração desde finais da década de 90 do século passado! (7).

As Bolsas de diamantes de Antuérpia (que ficou publicamente exposta com o Processo 105/83 em Angola), de Nova-Yorque (desde o tempo de Maurice Tempelsman e de Lawrence Devlin junto do Presidente Mobutu do Zaíre) e agora a de Jerusalém, podem estar a servir às-mil-maravilhas com este “reforço” israelita, que está intimamente sincronizado com os jogos dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, administração atrás de administração e em função dos interesses e conveniências da aristocracia financeira mundial “transatlântica”!...

Há que avaliar o papel de Lev leviev e sua trilha angolana nisto tudo!

A “cama” propiciada pela National Endowment for Democracy em Angola é uma “caixa-de-ressonância” que vai surgir com bom nível de sintonia à consultoria israelita, a que se juntarão outras, entre elas a CNN Portuguesa com inauguração pré-eleitoral! (8).

A consultoria israelita de tendência sionista adequa-se precisamente a “casos eleitorais” como este, não fosse Israel mentora de dois “aparteids” herdados dos conteúdos e da imagem sul-africana: o “apartheid” aplicado ao povo palestino e o “apartheid social” que substitui o institucional na própria sociedade israelense!

Essa tendência de “apartheid social” em Angola resulta da conjugação que acima referi: assimetrias e desigualdades geradas fundamentalmente durante a “guerra dos diamantes de sangue” por Savimbi e o capitalismo com terapia neoliberal gerado pela governação do Presidente José Eduardo dos Santos “em nome da paz”, o que prova que os consultores estão ao nível e com provas dadas já noutros lugares! (9).

Assim a actual UNITA, com um “Presidente português” (durante a sua estadia na Europa era esse o “recurso diplomático” do oficial de inteligência dos serviços da UNITA, no seu afã em Portugal, em França, na Itália e no Vaticano), “está em casa”, pois cultura e cultores de “apartheid” parece nunca lhe terem subtilmente faltado, por que também é assim a ausência de descolonização mental Europa fora!...

… É assim que a reciclada UNITA disputa as eleições e com um ambiente que se pode adensar em função das assimetrias e desequilíbrios causados pelas práticas sistemáticas de Savimbi e de quem o impulsionou desde 1966, associadas à terapia neoliberal da temperança que produziu o elevadíssimo grau de corrupção entre 2002 e 2017, mas que ainda persiste em menor escala, tal o peso da “herança” que levou 30 anos de incubação!

O vulcão humano vai com certeza dar mais sinais ao longo deste ano, para além da oportuna explosão de rua com base na mobilização dos taxistas, pelo que pode ocorrer até uma grande erupção pois a digestão subterrânea da “fraude eleitoral” que pelos vistos é também resultado da consultoria israelita, está em andamento como um “plano B” no quadro da bomba atómica de Savimbi alinhado com os Botha em 1982, contra Angola!

É isso que conta: uma vez mais contra Angola!

Martinho Júnior, 18 de Janeiro de 2022

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