sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

EUROPA, BRINCANDO COM O FOGO NA UCRÂNIA

# Publicado em português do Brasil

Sergio Rodríguez Gelfenstein* | Carta Maior

Quando me preparava para escrever meu artigo semanal, que decidi dedicar à análise da situação na Ucrânia, recebi um e-mail de meu querido amigo Juan Pablo Cárdenas, jornalista chileno de longa carreira profissional, cujas opiniões são sempre altamente consideradas por mim, a fim de melhorar o trabalho.

Juan Pablo me lembrou um artigo que escrevi e que foi publicado em 2 de setembro de 2014, chamado “Europa, brincando com fogo na Ucrânia”, que foi publicado pelo portal da Rádio Universidade do Chile, e posteriormente editado em um livro intitulado “Mundo de locos donde he nacido - Un sistema internacional en permanente transformación”. Na mensagem, Juan Pablo resgatou o caráter “profético e preciso” da referida análise. Perguntei-lhe se achava que eu deveria publicá-lo novamente, e sua resposta foi contundente: “eu ficaria muito feliz com isso”.

Com o maior respeito ao leitor, sete anos e meio depois, entrego novamente estas linhas. Incrivelmente – e como Juan Pablo percebeu –, a análise é totalmente válida. Bastaria mudar alguns nomes e fatos que eram recentes na época. Mas ele o deixou inalterado, para que o leitor possa avaliar os acontecimentos atuais e perceber que eles respondem a uma política calculada e continuada dos Estados Unidos, que teve governos democrata e republicano no período.

Não sei se alguém notou, mas, na minha opinião, o conflito na Ucrânia é o mais perigoso que ocorreu no planeta desde o fim da Guerra Fria. É verdade que, naquele período, ocorreram várias invasões de países africanos, golpes de Estado na América Latina, uma profunda crise econômica e financeira, a sangrenta desintegração da Iugoslávia, genocídio em meio a um cerco permanente de Israel contra o povo palestino, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ameaçando constantemente com ataques ao Irã, as guerras de intervenção pós-imperial no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria… Mas, em nenhum deles, o confronto direto entre duas ou mais potências nucleares foi ou está tão próximo. Isso tem uma explicação no contexto local, regional e global. Vamos do particular ao geral.

Não é segredo para ninguém que houve um golpe de Estado na Ucrânia, que teve sua origem, precisamente, na necessidade da OTAN de criar uma situação de conflito como a que existe hoje. O governo do presidente deposto, Víktor Yanukóvytch, foi um obstáculo para isso. Nesse sentido, o atual governo ucraniano nada mais é do que uma criação dos Estados Unidos e da Europa.

CHILE: A POESIA DA VITÓRIA E OS DESAFIOS DO PODER

Um filósofo e ativista nas lutas sociais descreve o cenário pós-eleitoral. Boric e seu lugar no tabuleiro político. O surpreendente ministério. Os poderes e o papel da Constituinte. A ultradireita, que ainda respira. Qual futuro é possível esperar 

# Publicado em português do Brasil

José Andrés Murillo |  entrevistado por Maurício Ayer| em Outras Palavras

O anúncio do gabinete ministerial de Gabriel Boric, presidente eleito do Chile, causou o impacto de um símbolo de mudança. Na foto oficial, o novo ministério, que tomará posse no próximo dia 11 de março, surge como uma equipe jovem, com inédita maioria de mulheres, todos vestidos “à paisana” – nada de terno e gravata, num colorido vívido – e até com algumas crianças ali no meio. Certamente, fica a impressão de que se respira um novo ar no país.

Mas como interpretar estes símbolos à luz do contexto político chileno e de suas reais possibilidades? Foi com o intuito de entender melhor as nuances e as expectativas que se formam em torno do ainda nascente governo Boric que entrevistamos o filósofo chileno José Andrés Murillo.

Doutor em filosofia política na Universidade de Paris, Murillo tornou-se figura pública no Chile ao protagonizar, juntamente com o jornalista Juan Carlos Cruz e o médico James Hamilton, a denúncia e o processo por abusos sexuais perpetrados contra crianças e adolescentes pelo cardeal Fernando Karadima, então um poderoso quadro da Igreja Católica chilena. Mesmo antes de sua conclusão vitoriosa, o processo mobilizou Murillo a engajar-se mais amplamente na luta contra o abuso de crianças e para isso criou a Fundação para a Confiança, que preside, tendo Cruz e Hamilton como dois de seus diretores. No ano passado, candidatou-se à Assembleia Constituinte do Chile e, embora não tenha sido eleito, sua campanha pautou os temas dos direitos humanos e, em especial, dos direitos das crianças.

José Andrés Murillo mostra-se bastante otimista com os gestos de Boric e as perspectivas de seu governo. Questionado sobre se há uma nova cultura política se formando em seu país, foi categórico: “Absolutamente. Há um novo olhar e uma nova forma de política chegando com Boric e sua equipe. É muito provável que a mudança afete todos os setores, inclusive a direita”. Ao mesmo tempo, o filósofo parece entender que o novo governo demonstra mais equilíbrio que radicalismo e procura sublinhar que a experiência de Boric como deputado o transformou, descolando-o do símbolo que muitos ainda esperam que ele encarne: “Sua maturidade política lhe trouxe tempos muito duros, sofreu agressões inclusive físicas e a acusação de ser ‘amarelo’, ou seja, não suficientemente radical”.

Finalmente, ao analisar os desafios que estão postos para o governo, Murillo lembra que o processo que ocorre no Chile é mais amplo: “As reformas mais importantes também passarão pela nova Constituição, portanto, nem tudo está em jogo com o novo governo e sua relação com o parlamento”.

Leia a íntegra da entrevista.

O PODER DO SILÊNCIO NA LUTA PELA LIBERDADE

Martinho Júnior, Luanda

“CÍRCULO 4F” - EM HONRA DO 4 DE FEVEREIRO DE 1961 EM ANGOLA E DE TODAS AS HEROÍNAS ANÓNIMAS DO POVO ANGOLANO

Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou
eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida…

In “Adeus à hora da largada” – https://agostinhoneto.org/poesias/adeus-a-hora-da-largada/https://www.podomatic.com/podcasts/vilamorena/episodes/2007-03-25T18_56_26-07_00.      

01- Por estes dias foram a enterrar duas quase ignotas heroínas angolanas cuja vida, desde sua juventude, estiveram iluminadas pelos primeiros passos de António Agostinho Neto em Luanda, na saga libertária que verticalmente o motivou, colocando-o na direcção da vanguarda do povo angolano que era o MPLA!

Elas foram muito para além da fasquia das mães que ensinavam os filhos a esperar, por uma simples razão: estavam com seus próprios entes queridos muito próximas do líder da vanguarda libertária e implicaram-se com suas famílias na chama da liberdade que iria ser reproduzida nas torrentes da libertação popular de Angola que naté estes dias!... 

 Empenharam-se no intrincado da luta por que a chama de liberdade que rompia em plena clandestinidade, impunha que os primeiros comités se forjassem desde o berço de modestas famílias patrióticas que residiam nos subúrbios ou mesmo nas imediações da capital, que ganhavam legítima consciência de liberdade, de forma substantiva por via da experiência e dos traumas, passo a passo, mergulhando seu empenho desde logo na ruptura contra o colonialismo nos próprios acontecimentos de então e procurando ir mais longe, contra o que era essência das razões causais da forja de tanta opressão!

Com António Agostinho Neto os que lhe eram próximos, além da ruptura contra o colonialismo, não estavam perdidos sem bússula, nem eram mais pasto duma qualquer emanação etno-nacionalista que os prendessem ao chão ou a voos curtos e rasteiros como o voo de pardais e isto por que a luta de libertação sob a liderança de Agostinho Neto foi sempre para alcançar a altura das águias, ganhando os horizontes mais rasgados e aspirando os mais vaporosos ventos do futuro!

Nessa altura, essas águias foram sujeitas pelos répteis de então, à dramática tentativa para parar esses ventos com as mãos e por isso, muitas vezes confinaram, prenderam, torturaram ou, em fase de desespero, tentaram subverter a sua consciência rebelde que desafiava as alturas, procurando moldar aos seus retrógrados interesses e às suas mais mesquinhas conveniências!

Para lá da ruptura contra o colonialismo, nos anos finais da década de 50 e inícios da década de 60 do século passado em Angola, havia que também e desde logo romper com o plasma cinzento do etno-nacionalismo, um plasma tão filtrado pela iniciativa de “africanização da guerra” do colonialismo na sua fase de desespero e do tão contraditoriamente secreto Exercício Alcora! (Alcora é uma sigla que sintetiza “Aliança Contra os Rebeldes Africanos”)

As desgarradas lutas de resistência que procuraram em vão impedir a penetração colonial no território nos séculos anteriores, haviam inexoravelmente ficado para trás e agora era a visão ampla da identidade nacional que com Agostinho Neto se iria paulatinamente assumir, rompendo também com os feudos locais quantas vezes utilizados como armadilhas… ainda que em silêncio houvera que ser!

Essas duas heroínas foram da estirpe dos abnegados rebeldes envoltos nesses silêncios e também por isso não foram apenas mães que esperaram, foram mães que fizeram opção de silêncio sabendo o imenso que estava em jogo e por que fazem parte da vanguarda que além do mais não se deixou enredar pelo plasma étnico dos que voaram como pardais e assim foram toda a vida…

São mães que se aperceberam também e desde logo do plasma cinzento gerado pelo desespero colonial e suas emanações que se foram fazendo sentir onda a onda até nossos dias…

São mães que acabaram por pagar em silêncio um preço elevado, quando irrompeu o fenómeno golpista do 27 de Maio de 1977, um preço elevado pois os seus mais próximos entes queridos não fazem parte de nenhuma lista de mortos, nem de desaparecidos, nem alguma vez reclamados, apesar de terem sido dramaticamente assassinados, por que há uma outra face da tentativa desse golpe que em função do silêncio, urge pouco a pouco haver a coragem para desvendar!...

Angola | COINCIDÊNCIAS TRÁGICAS

Kuma | Tribuna de Angola | opinião

Acompanhei de perto as últimas movimentações de ACJ e outros importantes signatários do Galo Negro, constatei similitude trágica nos contactos e nos comportamentos. ACJ e os seus mais directos colaboradores multiplicaram contactos com especuladores subversivos com ramificações em África, no Dubai, em Israel, no Qatar, em Roma e em Chipre, com objetivos de assalto ao Poder e de saque dos recursos do país.

Espantoso é a leviandade das cedências e a calendarização das mesmas, no consulado de José Eduardo dos Santos enriqueceram marimbondos, João Lourenço estancou a hemorragia do saque, e com ACJ, a troco do Poder, entrega o saque a estrangeiros que buscam a possibilidade de multiplicar o investimento em Angola. 

A estratégia israelita e de Roma, aponta para um ambiente hostil permanente para manter a janela de oportunidades, mas se não surgir até às eleições, pelas quais não há interesse real, deve estar preparada uma ação irreversível logo após os resultados eleitorais, prevendo já uma derrota da UNITA no seguimento de todos os indicadores dos especialistas.

Angola | O POETA NA SUCATA*

Artur Queiroz*, Luanda

Álvaro Novais é um poeta de voo popular. A miudagem luandense dos anos 50, hoje meninas e meninos de quinta idade, lembra-se do programa infantil realizado pelo “Caixa de Fósforos”, na antena do Rádio Clube de Angola, aos domingos à hora do funje e moamba de galinha. O Caixinha era o próprio Álvaro Novais na pele de um negro gentio. Começou como guarda-livros numa pescaria de Porto Alexandre, passou pela Tipografia Minerva, em Luanda, perdeu o emprego por ser comunista, nunca mais lhes deu confiança e andou de vadio até ao fim da vida.

Conheci o Caixinha numa noite em que andávamos à deriva entre a escuridão e as horas translúcidas. Tudo vadios tresmalhados do redil colonial e ébrios de horas mortas pelo silêncio. Entrámos no Marialvas, onde todas as madrugadas, a Helena de Troia se despia com imprecisões ao nível do gesto, provocadas por dezenas de grãos nas suas asas de anjo com sexo.

O Caixinha era uma espécie de animador de grupos boémios que matavam o tempo em vez de destruírem a maquineta que o inventou. Quando o uísque fabricado no Lobito subia à cabeça, ele declamava os seus poemas, sempre na pele de um negro gentio. Falava como um monangambé, mas foi o homem mais livre que conheci. 

Álvaro Novais nunca escreveu um poema. Compunha os seus poemas de memória e nas noites de festa dizia-os, ao voo livre da palavra. Muitas vezes improvisava novos versos nas composições. Com ele, nada era definitivo. No fim da noite, Caixinha estava com os olhos inundados, a língua pesada e passos perigosamente cambaleantes. 

"NEM UMA PALAVRA" ACERCA DO MÉDICO ANGOLANO MORTO PELA POLÍCIA

Familiares do médico Sílvio Dala, morto pela polícia em sete,bro de 2020, estão revoltados com o silêncio das autoridades. O médico foi morto em Luanda, alegadamente por não usar máscara dentro da sua viatura.

O médico Sílvio Dala foi uma das primeiras vítimas mortais do excesso de força usado pela polícia angolana durante o primeiro estado de emergência para conter a pandemia de Covid-19.

Dala exercia a função de diretor clínico do Hospital Materno Infantil da província angolana do Kwanza Norte. Muitos dos seus dependentes ficaram sem auxílio. Um parente de Dala, o também médico Desejo Venâncio Dala, disse à DW África que a família continua à espera que seja feita justiça.

"Nós estamos preocupados com o silêncio das autoridades. Queremos que a justiça se faça sentir e queremos ver o fecho desse assunto do médico Sílvio Dala", afirma.

O professor Víctor Pereira, que conhecia Sílvio Sala desde a infância, mostra-se indignado com o silêncio das autoridades angolanas e insta as autoridades angolanas a fazerem justiça, apurando as responsabilidades pela morte do amigo.

"Nós pedimos às autoridades locais e às autoridades de Luanda, onde o facto aconteceu, tendo em conta o princípio da territorialidade no sentido de trazerem à tona a verdade material", diz o professor.

Juntando-se às vozes críticas, o jornalista Graça Campos, escreveu na sua página do Facebook: "O Presidente da República não disse uma palavra de reprovação à Polícia pela morte do médico Sílvio Dala, em setembro de 2020, por não cobrir a cara com máscara num carro em que era usuário único. João Lourenço não endereçou uma palavra de consolo à família do jovem médico".

Portugal | SÓ HÁ UMA VIA, A TERCEIRA FORÇA

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

A Esquerda só terá uma derrota eleitoral se não se mobilizar para o voto. E, claramente, nas eleições mais bipolarizadas dos últimos anos, o que verdadeiramente importa no próximo domingo para o eleitorado que vota à Esquerda é que a terceira força política pertença ao seu espectro político.

O PS de António Costa terá feito a pior campanha de que há memória. Apesar de favorito para ganhar as eleições, assim o dizem a esmagadora maioria das sondagens (e foram muitas e diversas e diárias e, por vezes, perturbadoras), fez uma campanha inicialmente anónima, depois apontada à maioria absoluta, depois titubeante ao dar o dito por não dito, depois quase autopunitiva ao deixar de reclamar uma maioria absoluta para afirmar que podia fazer acordos com (quase) todos, acabando o percurso errático na humildade de reconhecer que só na partilha à Esquerda poderá ser maioritário. Costa sempre soube, mas já nas eleições autárquicas cometera o mesmo erro. O povo português gosta menos do uso excessivo da soberba do que de maiorias absolutas imaginárias.

Vitorioso nas eleições legislativas de 2019 com 36%, António Costa sonhou com uma maioria absoluta numa janela temporal de dois anos. Por isso, preferiu rejeitar acordos de governação. A pandemia quase lhe travava a possibilidade de espoletar uma crise política no prazo imaginado. Quando a criou, rejeitando negociar com seriedade à sua Esquerda, não sonhava que pudesse colocar tanto em risco como acabou por colocar. Agora, terá de se entender forçosamente à Esquerda pelos direitos, pela saúde, pela escola pública, pela habitação, pelo emprego, pelas pensões. E também para não deixar que o retrocesso civilizacional que a extrema-direita ou que este liberalismo egoístico representa ganhe terreno, influa ou seja poder.

Após uma campanha socialista onde apenas se retira sumo e convicção das palavras de Pedro Nuno Santos, é evidente que se o Chega ou a Iniciativa Liberal forem a terceira força política, dificilmente haverá uma maioria de deputados que permita um Governo de Esquerda. Agora, António Costa terá um olhar diferente sobre o espectro político. No escalonamento relativo dos partidos nas inúmeras sondagens, o Bloco de Esquerda parece ser o mais bem posicionado para conseguir essa maioria à Esquerda, tendo de estancar a transferência de votos para ser a terceira força política. Para tal, terá de contar com a inteligência táctica dos eleitores. As contas não são lineares mas fazem-se às claras: a extrema-direita ganha um deputado por cada deputado que o Bloco de Esquerda perca. Em 2022, quando comemoramos mais anos em Liberdade do que em Ditadura, a resposta cabe a todos e a todas e a cada um de nós. O que fazer com o ar que ainda respiramos? Só há uma via, reforçar a terceira força.

*Músico e jurista

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

Portugal | AS MELGAS


Henrique Monteiro | HenriCartoon

ANTÓNIO COSTA AFINAL QUER UMA CONVERGÊNCIA, SEJA COM QUEM FOR

PORTUGAL -- LEGISLATIVAS 22

Foi um sonho lindo que acabou. Com o tema da maioria absoluta finalmente posto de lado, o PS prepara-se para «falar com todos», da esquerda à direita, no dia a seguir às eleições.

AbrilAbril | editorial

Cai por terra a base de sustentação de toda a campanha do Partido Socialista, nestas eleições legislativas e no período de discussão do Orçamento do Estado para 2022. Sem que nenhuma sondagem demonstre uma aproximação do PS aos 116 deputados necessários para este controlar o parlamento, António Costa viu-se forçado, na última semana da campanha, a alterarar definitivamente o discurso.

A estratégia da maioria absoluta, que traria, finalmente, alguma estabilidade política ao País (leia-se, a liberdade para o PS não ter de prestar contas a ninguém), esmoreceu ao longo do fim-de-semana, dando lugar a um novo discurso. Afinal é preciso «dar força a quem ao longo de toda a vida se dedicou a construir pontes, a unir, a encontrar maçanetas nas portas que estão fechadas, a encontrar soluções onde os outros só vêem impossíveis», afirmou Costa, no domingo, desdizendo o António Costa das semanas anteriores.

Esta nova encarnação do PS, disponível a chegar a acordo com praticamente todos, descobriu que, afinal, os portugueses «não têm grande amor pela ideia da maioria absoluta», revertendo para a sua posição de grande partido catch-all (apanha-todos) da política portuguesa, piscando um olho ao PSD da subsidio-dependência e à IL da das privatizações, e o outro à sua esquerda, que continua a exigir a reversão das medidas laborais impostas pela troika.

Resumindo: António Costa só saberá mesmo como vai governar nos próximos quatro anos na noite eleitoral de dia 30 de Janeiro, quando tiver de escolher o parceiro que lhe for mais conveniente à viabilização dos seus orçamentos. Até lá, é um partido sem linhas programáticas: tudo é discutível, o oposto ou o seu contrário.

De uma maioria absoluta, uma política orgulhosamente só, em que só o PS determinaria e influenciaria a governação, o PS parece agora estar disponível a discutir posições completamente antagónicas, à esquerda e à direita, sobre salários (com uma direita que chega a rejeitar a ideia de haver um salário mínimo) ou serviços púbicos (com uma direita que pondera rever a constituição).

Jerónimo diz que Costa e Rio são variantes da mesma "politica de direita"

PORTUGAL -- LEGISLATIVAS 22

O secretário-geral comunista defendeu ontem que o PS de António Costa e o PSD de Rui Rio são variantes da mesma "política de direita", insurgindo-se contra as decisões "mãos moles" que originaram "os Rendeiros e os Salgados".

Durante um comício no Seixal, no distrito de Setúbal, Jerónimo de Sousa considerou que durante a campanha para as eleições legislativas houve "uma grande encenação" para impulsionar a ideia de "bipolarização da vida política portuguesa".

"Uma grande encenação com o objetivo de repor o sistema de alternância sem alternativa. Uma grande operação para vender a ideia de que a única opção nestas eleições seria escolher entre Costa e Rio, entre PS e PSD, para assegurar que a política de direita siga o seu rumo sem sobressalto, numa ou noutra variante desta política", acrescentou, no Pavilhão Desportivo Municipal Leonel Fernandes.

Continuando com as críticas a socialistas e sociais-democratas, o membro da comissão política do Comité Central do PCP debruçou-se sobre o que considerou ser a impunidade dos banqueiros face à inércia dos sucessivos executivos.

Jerónimo de Sousa argumentou que PS e PSD nada fizeram e "nada farão, um e outro, para conter ou impedir a fuga ao fisco pelo grande capital, e a sua transferência para as 'offshores'".

O dirigente comunista sustentou-se "no passado" e na entrega de "30 mil milhões de euros aos banqueiros, que permitiu todos os desmandos, toda a corrupção".

Na sequência disto, continuou Jerónimo de Sousa, de PS e PSD só houve uma "política de cobertura" e que "levam aos casos dos Rendeiros e dos Salgados".

"Eles, eles, camaradas e amigos, que a discutirem connosco, muitas vezes, para arrancar uns 10 euros de aumento extraordinário das pensões, aquilo endurecia tendo em conta a resistência do PS e também do PSD. Os mesmos... São tão mãos moles, tão mãos-largas, para esse capital financeiro que continua a viver à vara larga sem qualquer pressão, repressão e até prisão", completou.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Global Imagens

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Costa alerta contra extrema-direita e recusa "fraturas na sociedade"

Rio canta vitória ao lado de Rangel, Menezes e Aguiar-Branco

Surto de dengue em Timor-Leste com mais casos e mortes do que em 2021

O surto de dengue que está a afetar Timor-Leste já causou só este mês praticamente tantas mortes como no conjunto dos dois últimos anos e com mais casos do que os registados em todo o ano de 2021.

Dados do Ministério da Saúde atualizados hoje indicam que desde 01 de janeiro se registaram 18 mortes devido à febre dengue em todo o país, com um total de 1.035 casos, enquanto em todo o ano passado houve 11 mortes e 901 casos.

Em 2020 registaram-se 1.451 casos com 10 mortes, sendo que a taxa de mortalidade, que mede a percentagem de mortes por casos de doença é de 1,7, comparativamente com os 1,2 de 2021 e os 0,7 de 2020.

A maior fatia dos casos, quase 700, registam-se em Díli com cerca de metades desses na zona de Dom Aleixo.

Moçambique | Questionada qualidade de obras públicas destruídas pela tempestade

Aumentam as críticas sobre a qualidade das obras públicas em Moçambique, depois da passagem da tempestade Ana que danificou infraestruturas no norte e no centro do país. A RENAMO pede a demissão do ministro da tutela.

A passagem da tempestade Ana pelas província do norte e centro de Moçambique provou a danificação de muitas infraestruturas públicas e privadas, com o destaque para a destruição das pontes sobre o Rio Rovubwe e Licungo nas províncias de Tete e Zambézia, respetivamente. Muitos críticos questionam a qualidade das obras públicas.

A ponte sobre o Rio Rovubwe, por exemplo, passou por obras de reabilitação de 2019 à 2020, depois de ter sofrido pelas cheias do ciclone Idai em 2019. A reabilitação custou aos cofres do Estado de cerca de 3,2 milhões de euros. Passado quase um ano, a ponte não resistiu à fúria das águas.

Em março de 2020, Jeremias Mazoio, representante da Administração Nacional de Estradas (ANE), disse em entrevista à DW África que as obras de reabilitação da ponte, estavam projetadas para garantir a resiliência da infraestrutura aos fenómenos naturais. "O que significa que, caso voltemos a ter correntes de água da mesma magnitude, elas não vão danificar a infraestrutura", assegurou na altura.

Moçambique | Longas penas de prisão para jovens que queriam ser terroristas

O Tribunal Judicial de Cabo Delgado condenou 22 indivíduos a longas penas de prisão por considerar comprovada a sua participação, ou intenção de participar, em atos de terrorismo.

A quarta secção do Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado deu como provado o envolvimento de 22 tripulantes de uma embarcação naufragada em 4 de junho de 2020 em Pemba, no crime de terrorismo.

Um grupo de 46 pessoas seguia a bordo de um barco que partiu de Memba, na província de Nampula, para o distrito de Mocímboa da Praia, província vizinha de Cabo Delgado, e naufragou ao largo da baia de Pemba. No acidente morreram 12 pessoas, das quais oito crianças.

Na altura, os jovens apreendidos afirmaram pretender pescar na região. A sentença lida pelo juiz da causa Zacarias Napatima, rebate esta alegação, chamando a atenção para o facto de se tratar de uma zona de guerra notória, na qual só entram militares "ou então, do outro lado, os terroristas".

AS TREVAS DE BORIS JOHNSON E AS RELAÇÕES COM MACRON E ÁFRICA

O momento do coração das trevas de Boris Johnson é com suas relações com Macron e África

# Publicado em português do Brasil

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation

O que liga a própria crise migratória da Grã-Bretanha das costas da França e os esquadrões britânicos no Mali?  Requerentes de asilo indesejados.

Empreiteiros militares privados russos apoiando uma junta militar que a França originalmente apoiou agora levou até a França a retirar suas próprias tropas. Então, o que diabos os soldados britânicos estão fazendo lá arriscando suas vidas?

A implantação de soldados britânicos no país do Mali, na África Ocidental, atingiu um novo nível de farsa, levando à pergunta por que Boris Johnson os enviou para lá em primeiro lugar?

Pelo menos em teoria, 300 soldados britânicos de dois regimentos foram enviados para lá em fevereiro do ano passado para impulsionar uma operação da ONU contra o terrorismo internacional. Mas, na realidade, eles estão lá para dar apoio tácito aos franceses que têm interesses comerciais vitais em sua ex-colônia e precisam de ajuda tanto para impedir que os terroristas islâmicos prejudiquem essas operações quanto para proteger os cidadãos franceses que trabalham para eles.

Mas se isso não bastasse, nos últimos dias, foi revelado pela imprensa francesa que Macron está realmente retirando tropas francesas da operação da ONU, que inicialmente tinha 5.000 soldados franceses liderando.

Sua razão? A presença de empreiteiros militares privados russos no Mali, que se acredita estarem lá para apoiar a junta militar que assumiu o poder em um golpe em 2020, seguida por uma segunda no ano passado para derrubar um governo civil. De fato, Macron vem reduzindo discretamente suas próprias tropas do Mali desde junho do ano passado, mas espera-se que essa iniciativa seja acelerada quando as notícias de cerca de 400 empreiteiros militares privados de Wagner forem contratados pela junta do Mali.

Exército saharaui ataca bases das forças de ocupação marroquinas em Mahbes

Unidades do Exército Popular de Libertação Saharaui (SPLA) realizaram novos ataques contra bases e posições das forças de ocupação marroquinas em pontos dispersos do sector de Mahbes, segundo o comunicado militar n.º 439 do Ministério da Defesa saharaui.

Reportado pela Agência de Imprensa Saharaui (SPS), o comunicado sublinha que "as unidades do SPLA atacaram as forças de ocupação marroquinas na zona de Akouira Ould Abal, no sector de Mahbes, com intensos bombardeamentos que semearam o medo nas fileiras dos soldados de ocupação.

Destacamentos avançados do SPLA concentraram seus ataques na segunda-feira, visando as posições das forças marroquinas no setor de Mahbes, mais precisamente nas áreas de Laâked, Sebkha Tanouchad e Akrara Fersik, segundo o comunicado.

"Os ataques do exército saharaui continuam contra as forças de ocupação marroquinas, que sofrem perdas humanas e materiais significativas ao longo do muro da vergonha", afirmou o ministério saharaui.

por unsaharalibre

Leia em por unsaharalibre:

A juventude saharaui já não vê outra saída senão o regresso à luta de libertação nacional

Frente Polisario alerta para "escalada de guerra" contra Marrocos com possível intervenção de países vizinhos

Após negar e silenciar a guerra, o regime marroquino começa a informar as famílias da morte de soldados

Albares diz pela segunda vez que o conflito no Sahara Ocidental dura demais

Alfonso Lafarga | Rebelión

O Ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol diz duas vezes em oito dias que o conflito no Sahara Ocidental durou demasiado tempo e tem de acabar. Albares concorda em unir forças com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken,  para encontrar uma solução que “milhares de pessoas estão esperando”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação,  José Manuel Albares , disse-o pela segunda vez em oito dias: o conflito no Sahara Ocidental, antiga colónia espanhola ocupada militarmente por Marrocos desde finais de 1975,  "está por muito tempo" .

A primeira foi em 11 de janeiro na coletiva de imprensa que deu em Madri com o ministro paquistanês das Relações Exteriores,  Shah Mehmud Qureshi , na qual reiterou o apoio da Espanha ao novo enviado especial das Nações Unidas para o Saara Ocidental,  Staffan de Mistura.

Estas palavras, "dura muito", foram pronunciadas perante um grupo de jornalistas a 18 de Janeiro em Washington, depois de se encontrarem com o secretário de Estado norte-americano,  Antony Blinken , com quem concordou em  "unir forças"  para resolver um conflito que "tem acabar” e para o qual é preciso encontrar uma solução, “que milhares de pessoas estão esperando”.

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