quarta-feira, 20 de abril de 2022

O OCIDENTE EMBARCA EM NOVA CORRIDA ARMAMENTISTA

Gastos militares dos EUA, que já representam 39% dos globais, estão prestes a ser turbinados. Alemanha quebra tabu pós-guerra e investe pesado em guerra. França e Inglaterra aceleram. Grandes corporações da indústria bélica esfregam as mãos

Gilbert Achcar, traduzido por Cauê Seignemartin Amenina, na Jacobin Brasil | em Outras Palavras

Hoje vemos um paradoxo impressionante. A mídia ocidental ecoou todos os tipos de especialistas militares e fontes de inteligência enfatizando até que ponto o poderio militar russo foi superestimado antes da invasão; quanto se mostrou mais fraco do que o esperado em todos os níveis, incluindo suas capacidades logísticas e implantação de armamento sofisticado; e quanto dano o ataque criminoso de Vladimir Putin à Ucrânia trouxe sobre a própria Rússia, sua economia e seu potencial militar. E, no entanto, vários governos da OTAN aproveitaram a oportunidade desta guerra, que obviamente está enfraquecendo a Rússia, para se envolver em uma frenesi de aumento dos gastos militares.

Complexos industriais militares em todos os lugares estão esfregando as mãos de alegria. O alto escalão dos exércitos da OTAN está novamente recorrendo ao velho truque de superestimar as ameaças, como costumava fazer em relação à União Soviética durante a Guerra Fria, para defender o rearmamento. Tal termo é totalmente inadequado, dado que os exércitos da OTAN nunca foram desarmados para início de conversa; em vez disso, eles estavam constantemente super-armados durante a Guerra Fria e, desde então, mantiveram níveis excessivos de armas. Além disso, quaisquer entregas de armas defensivas feitas ao povo ucraniano são apenas uma pequena parte dos gastos militares em andamento – nem mesmo 1% de todos os gastos da OTAN que o presidente da Ucrânia tem pedido.

Não contente com os gigantescos gastos militares atuais dos Estados Unidos, que totalizaram US$ 782 bilhões no ano passado – acima dos US$ 778 bilhões gastos em 2020, o que representou, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, 39% dos gastos militares globais, mais de três vezes o da China (US$ 252 bilhões) e mais de doze vezes o da Rússia (US$ 61,7 bilhões) — Joe Biden agora está solicitando US$ 813 bilhões para o próximo ano fiscal (US$ 773 bilhões para o Pentágono e mais US$ 40 bilhões para programas relacionados à defesa no FBI, Departamento de Energia e outras agências). De acordo com o subsecretário de Defesa, Michael J. McCord: “Este orçamento foi finalizado antes da invasão da Ucrânia por Putin. Portanto, não há nada neste orçamento que tenha sido alterado especificamente porque era tarde demais para alterá-lo, se quiséssemos, para refletir as especificidades da invasão.”

COMÉDIA AMARELAZULADA PARA DISTRAÍDOS E ANALFABRUTOS

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou nesta quarta-feira (20), em Kiev, que a União Europeia (UE) fará "todo o possível" para que a Ucrânia "ganhe a guerra" contra a Rússia.

"Vocês não estão sozinhos. Estamos junto com vocês e faremos todo o possível para apoiar seus esforços e fazer a Ucrânia ganhar a guerra", declarou Michel, em uma entrevista coletiva com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

Agências

Portugal | PCP NÃO VAI ESTAR PRESENTE NO DISCURSO DE ZELENSKY

Com esta tomada de posição, o PCP é o único partido a não assistir ao discurso do presidente ucraniano, que terá lugar esta quinta-feira, pelas 17h. Na ótica do partido, participar na sessão é alinhar "com a participação de alguém que personifica poder xenófobo e belicista".

Depois do impasse, a confirmação: o PCP não vai estar presente durante a sessão solene que vai acontecer esta quinta-feira à tarde na Assembleia da República, na qual Volodymyr Zelensky se vai dirigir aos deputados. Segundo a responsável, esta é uma "sessão concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra".

A decisão foi comunicada na tarde desta quarta-feira pela líder parlamentar comunista, Paula Santos, que justificou a posição do partido com o não alinhar "com a participação de alguém que personifica poder xenófobo e belicista". Na perspetiva da líder parlamentar do PCP, "a Assembleia da República é um órgão de soberania e não pode ser instrumentalizada nem um palco para contribuir para a escalada da guerra". De acordo com Paula Santos, "este é um convite feito à margem dos critérios institucionais", que contribui para a escalada de tensão e de confrontação no país.

Além disso, explica, na perspetiva do partido, "a Ucrânia tenta branquear partidos neonazis ao mesmo tempo que proíbe partidos antifascistas". Este poder, defende a líder parlamentar do PCP, "desde há oito anos que ataca e massacra a própria população ucraniana e persegue e elimina quem se lhe opõe" e que, atira o partido, "ao mesmo tempo enaltece os colaboracionistas das SS nazis na Segunda Guerra Mundial e branqueia as suas atrocidades cometidas contra as populações da Ucrânia e da Polónia".

Na conferência de imprensa, a responsável comunista explicou também que o caminho para a paz deve ser "o contrário do que está a ser feito", insistindo numa "solução negociada e pacífica" para o conflito. Isto significa que, na ótica do partido, as sanções que têm sido impostas pelos países não são o rumo certo. As consequências para os povos da Europa, diz, já se começam a fazer sentir mesmo "no nosso país".

Rui Miguel Godinho | Diário de Notícias

COMANDANTE KATIANA DEIXOU UM MAR DE TRISTEZA

 

Artur Queiroz*, Luanda

A árvore que vejo da janela pode ser a minha última visão. A janela pode ser a antecâmara das cinzas, do pó e do nada. Este pensamento pode bem ser o último esforço para reconhecer o mundo como a minha casa. É uma manhã fresca de Abril! Lembrei-me então daquele poema de Gomes Leal, que me reconciliou com a minha aldeia do Bindo. Um sítio onde o ladrar dos cães e o cântico metálico dos galos é um hino à vida, só pode ser o paraíso.

Gomes Leal é um dos poetas mais importantes de Língua Portuguesa. Uma voz singular que combinou o ultra romantismo com o parnasianismo e o modernismo. Foi um tremendo jornalista. Fez parte do jornal “Revolução de Setembro” e é um dos fundadores de “O Século”.  Quando Ladislau Batalha abandonou os projectos jornalísticos de Alfredo Troni, ele que era a voz mais maldizente do celebrado “Mukuarimi”, regressou a Lisboa no vapor La Plata. 

Ladislau Batalha encontrou na capital portuguesa um homem andrajoso, coberto de feridas na cabeça e no rosto. As roupas desfeitas mostravam chagas por todo o corpo. Era corrido a pontapé das tabernas e a miudagem apedrejava-o. À noite dormia nos vãos das portas ou nos bancos dos jardins. Era o poeta, jornalista, cronista e crítico literário Gomes Leal, um dos poetas da minha vida e amigo de Batalha. Ele tirou-o da rua e conseguiu interná-lo num asilo para indigentes. Um povo que vota em Mário Soares, Cavaco da Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa só pode deixar morrer à fome os seus poetas.

Abrir parêntesis. Na minha casa da Avenida do Hospital (Avenida do I Congresso do MPLA) juntavam-se alta noite e madrugada fora grandes amigas e amigos.  Das FAPLA apareciam Rui de Matos e a então sua namorada Lígia Ribas (o casal mais apaixonado do mundo!), o comandante Katiana, comandante Ndozi e sua namorada Netita, o Armando Guinapo e sua sobrinha que se entretinha a fazer-lhe tranças nas longas barbas. Da lavra luandense aparecia o António Ole e a Olga, filha do meu querido amigo Lopito de Morais, o Zé Andrade (ZAN) com a Armanda Catanhô e o Rolando Estanqueiro com a sua assistente Mabília. Mais a turma dos cubanos: Os trovadores Vicente Feliú e Sílvio Rodriguez. Os jornalistas Miguelito Roa e Eloy Concepcion Perez. 

Naquele tempo de penúria generalizada nem sempre se arranjava material didáctico para as noitadas e eu montei um alambique na varanda, onde destilava kandingolo. Ainda com o líquido quente, agitava um saquinho de chá e aquilo ficava um respeitável conhaque. Quando os fraccionistas me expulsaram da direcção do Diário de Luanda fiquei com todo o tempo do mundo e nas horas vagas, Rui de Matos ia buscar-me para rumarmos ao Mussulo, onde ele tinha herdado um barracão para guardar apetrechos da pesca. Mesmo em frente à porta havia um coqueiro corcovado e ele fez uma escultura no tronco. Ficávamos por ali contemplando a baía e Rui de Matos dizia embevecido:

- O mar exerce sobre mim um grande fascínio!

E eu declamava um poema de Gomes Leal: Das bandas do poente lamentoso/Quando o vermelho sol vai ter contigo,/- Nada é mais grande, nobre e doloroso,/Do que tu, - vasto e húmido jazigo!
Nada é mais triste, trágico e profundo!/Ninguém te vence ou te venceu no mundo!.../Mas também, quem te pôde consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -/E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;/- A Música é mais triste ainda que o Mar!

Há que devolver à procedência as armas da Ucrânia que Savimbi trouxe para Angola

… ÀS CUSTAS DOS DIAMANTES DE ANGOLA, QUE POR SEREM DE SANGUE, JAMAIS FORAM PARA ANGOLA!...

… O URAGAN (FURACÃO), É MESMO UMA ARMA DE ARREMESSO!... 

Martinho Júnior, Luanda

A 1 de Março de 2022, escrevi uma intervenção sob o título “Zombies neocoloniais em Luanda”, a propósito do alinhamento do deputado da UNITA que dá pelo nome de Alcides Sakala a favor do apoio de Angola à causa da Ucrânia de Zelenski e da cínica “solidariedade” dos embaixadores da União Europeia para com o Embaixador da Ucrânia em Angola, inscrita nas manobras de propaganda neonazis “lavando” o carácter do estado ucraniano desde a Euro Maidan!

Esse artigo foi publicado pelo Página Global e pelo Tribuna de Angola, deixando em aberto um vasto campo investigativo que se prende à natureza e ao carácter da própria UNITA, enquanto “rede stay behind” inerente à NATO e agenciada pelos governos portugueses que respondem ao golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, respeitando as heranças coloniais da Operação Madeira!

A declaração de Alcides Sakala cumpre com esse agenciamento, mas este assunto é oportuno voltar-se a ventilar, não só por causa do agenciamento em si, mas pelo significado histórico, ideológico e de conspiração que ele comporta!

Zombies neocoloniais em Luanda – https://paginaglobal.blogspot.com/2022/03/zombies-neocoloniais-em-luanda.html; https://tribunadeangola.org/?p=6321

01- A UNITA enquanto “rede stay behind” da NATO nutrida pelo colonial-fascismo português desde a iniciativa de “africanização da guerra” uma vez que a PIDE/DGS não foi extinta em África, é useira e vezeira em “declarações” e “argumentos” afins, quase sempre interpretados como provocatórios, mas respostas mais contundentes deveriam estar a ser dadas, sempre que eles apareçam, em função do seu enquadramento histórico e antropológico!

De facto está-se a perder uma oportunidade singular, numa altura em que Angola tem sido piamente pragmática em tantas cedências embarcando em muitos procedimentos de guerra psicológica inspirada pelo domínio da hegemonia unipolar!...

CRIAÇÃO DA RAÇA HUMANA -- O Descobridor do Paraíso de Feti e Choya

Seke La Bindo

O primeiro homem nasceu no paraíso da Babaera acalentado pela mãe do Cunene e Cuanza. Para uns, caiu do céu aos trambolhões. Para outros, foi criado por Suku, a partir de um rochedo que ele pacientemente amoleceu. Com essa massa granítica fez Feti, o Adão dos angolanos que habitam o Planalto Central, até à região de Caconda. A primeira mulher, Choya, nasceu no leito do grande rio do Sul, gerada pelo Rei das Águas. 

No mosaico cultural do Cassai, desenhado e criado ao longo de milénios, o primeiro Homem é Congo, filho de Suku, que também lhe deu vida a partir de um rochedo. O rio nasce em Angola e corre centenas de quilómetros em direcção ao grande Zaire ou Congo, onde desagua. Mesmo ao lado, médios e pequenos cursos de água avançam pacificamente para a vertente do Zambeze e lá vão para Oriente. Por esses caminhos foram os filhos dos nossos ancestrais, povoando todo o Mundo.

O paraíso que recebeu o primeiro Homem fica situado a 75 quilómetros da cidade do Huambo, na estrada que liga ao Lubango. Nos anos 50, um professor primário, Júlio Diamantino Moura, descobriu o Éden angolano. Dava aulas na capital do planalto central, nessa época ainda uma estação ferroviária. Nas férias escolares, arranjava uma equipa de ajudantes e explorava os rios da região, à procura de pepitas de ouro. Nessa actividade esquadrinhou o curso do rio Cunene desde a sua nascente até à Huíla. Um dia encontrou o paraíso.

Num texto colorido e empolgante, ele contou, no boletim do Instituto de Angola, como descobriu a casa de Feti, o primeiro Homem. Andava à procura de ouro, junto ao Cunene, a 75 quilómetros da cidade do Huambo. Na hora de descanso no acampamento, ao início da noite, um elemento da equipa, nascido na região, contou quase em segredo que ali estava o “princípio de tudo” (Feti). E a lenda tornou-se real. Por trás de uma densa barreira vegetal, era o Éden. O princípio da Humanidade. A nossa casa.

No dia seguinte, Júlio Diamantino Moura decidiu explorar o território por trás da densa barreira vegetal. Os ajudantes não queriam acompanhá-lo. Tinham uma razão de peso. No paraíso existe um rochedo, conhecido na região como a Pedra da Água. Quem olhava para a rocha ou lhe tocava, era imediatamente fulminado pela morte.

O professor primário não se comoveu com a lenda e marchou para o paraíso. Os ajudantes, timidamente, acompanharam-no. E encontraram algo extraordinário. Júlio Diamantino Moura descreve no seu texto um grande espaço com a dimensão de um campo de futebol, coberto de cinza. E ossadas de pessoas e animais, mais ou menos encobertas. 

Numa das extremidades, o paraíso de Feti tinha uma pirâmide de pedra, desmantelada até quase metade da altura. As pedras que faltavam na construção estavam despalhadas na zona. Muito perto, corre lentamente o Cunene. 

Júlio Diamantino Moura durante três anos explorou a casa de Feti. Descobriu que por baixo da pirâmide existiam galerias que entretanto foram assoreadas, o que não permitia a circulação de pessoas. Durante dias e dias, o professor primário e seus ajudantes desobstruíram as galerias e fizeram achados interessantes. Algumas flechas com ponta de ferro, alfaias agrícolas muito antigas, mas também enxadas da época. Apenas estavam cobertas de ferrugem. 

Todos esses materiais foram desenterrados e levados para o Huambo. As investigações de Júlio Diamantino Moura estavam autorizadas pelas autoridades locais e ele reportava todas as suas descobertas. Porque havia a suspeita de que existia ali um tesouro fabuloso!

Angola | PILATOS E O SILÊNCIO DOS INOCENTES -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Carlos São Vicente, economista e empresário angolano, filho da Ilda Rodrigues e do jornalista Acácio Barradas, meus amigos, foi julgado no Tribunal da Comarca de Luanda, 3ª Secção da Sala dos Crimes comuns. Os meritíssimos magistrados que o julgaram não são ocupantes estrangeiros como Pôncio Pilatos, que julgou e condenou Jesus Cristo. Mas neste sábado de Aleluia é bom lembrar que ele é tão inocente como o mais inocente dos angolanos. A sentença condenatória foi alvo de recurso e, portanto, ainda não transitou em julgado. 

A defesa de Carlos São Vicente demonstrou durante a audiência que há uma evidente ausência de fundamentação das decisões, a violação do princípio da presunção de inocência, a violação do direito a escolher o advogado, houve intimidação por parte de agentes do Ministério Público, foi vítima de prisão preventiva ilegal e, entre outras ilegalidades, esta que é gravíssima: Uso de prova proibida contra ele. 

Eis o que diz a Defesa: “É sabido que a acusação e a pronúncia se socorreram de um denominado ‘Relatório de Auditoria do Seguro Petrolífero’, que não tem data, não identifica o autor e não tem assinatura. É, para todos os efeitos, um documento anónimo, cuja utilização é proibida por lei. Mas foi reiteradamente usado, como se as afirmações ali escritas fossem factos inquestionáveis e só por essa razão é que o arguido responde em juízo. Malgrado o desesperado esforço do Ministério Público em ‘branquear’ e valorar tal escrito, este continua a ser um documento anónimo, cuja utilização, sem qualquer dúvida, é proibida por lei.”

Carlos São Vicente tem um direito que reiteradamente lhe negam: A Opinião Pública Angolana ter acesso à verdade dos factos e não apenas o que a Acusação quer que se saiba. Todas e todos devem saber que no processo ele foi vítima de ocultação de prova permitida. Diz a Defesa: 

“O Ministério Público tudo fez para ocultar a investigação levada a cabo em 2020, na sequência de uma carta rogatória das autoridades suíças, e na qual concluiu e comunicou que, no exercício das suas actividades, o arguido não cometeu qualquer crime. Este veredicto de inocente foi comunicado às autoridades suíças em 14 Agosto de 2020. O Ministério Público considerou irrelevante essa investigação e essas conclusões, escondendo-as da opinião pública e dos presentes autos. Ironia, não é? Usa-se prova proibida e oculta-se prova imprescindível. Perguntamo-nos: Esconder uma investigação não constitui falta de idoneidade e de imparcialidade?” Responda quem de direito.

CONTOS POPULARES ANGOLANOS -- Romance de Jinongonongo*

I CAPÍTULO

Casukola e a Gota Azul

A manhã é um enigma sem resposta porque umas vezes se perde no cacimbo e outras, quando se abre em esplendor de girassol à luz que brota das montanhas, não é visível.

Os cães da aldeia ladram ao pêndulo que marca as horas matinais e os mabecos rasgam as vestes do horizonte até às primeiras chuvas. Os pássaros descem no voo da claridade e poisam nas lavras da abundância, com as asas viradas para o sol.

Irrompe na aldeia o canto do amanhecer que vai soando dolente até ao romper do meio-dia. Uma estrela perdida do Cruzeiro do Sul é a mãe da estrada diurna. Mas nem pelo rasto da música conseguimos chegar ao labirinto. É um enigma tão fundo que nem a noite com seus feitiços consegue adivinhar.

Só a Gota Azul entra nesse mundo de sombras e claridades, medos e risos, mistérios e deslumbramentos. Ela nasceu de uma lágrima de luz, pequena réstia de luar e desceu a face de Casukola, até ao rio de todas as gotas azuis, que corre nas margens da aldeia. Mas a Gota Azul é um enigma ainda maior do que a manhã.

Casukola tem uma janela aberta sobre o Pingano e dela contempla o amanhecer. No tempo do Cacimbo escorrem gotas de água do tecto de zinco, que fazem pequenos buracos na terra vermelha. Ela ouve o canto suave das águas distantes da Kapopa, numa manhã ainda mais distante.

A picada é atravessada pelo voo soluçante das viuvinhas com longos rabos de penas e levanta-se uma nuvem de poeira quando passam as carrinhas carregadas de mabuba. Há no ar uma mistura fina de pó e neblina. Em pé, enfrentando a solidão, o Velho Tuma faz uma profecia:

- Um mocho sábio vai morrer na clausura!

O pastor Sumbula parte com as cabras para o pasto das planícies do Dambi, à vista das águas límpidas do rio insubmisso. Fica por lá até ao regresso das cerejas nos cafezeiros.

O Velho Tuma responde ao enigma:

- O Negage nos dias tristes de Junho. E o Morro das Pedras na última viagem para a cidade do Uíje. É a memória mais triste de Sumbula.

Ukamba ua ndengue utunda um xanga. A amizade faz-se desde a longínqua floresta dos Dembos onde juntos cortámos lenha. Antes de construirmos cidades, construímos amizades e irmandades, na caça ao sofo manso e à kaseixa que se perdeu na lavra, pela rama tenra da batata-doce.

O pastor Sumbula dorme nos braços da amizade e não viu a Gota Azul chegar à grande lagoa que cresce por si, nas águas azuis, pátria do senge. Ela percorreu o mundo e ainda não é caudal nem correnteza violenta, nem água parada, nem mansas ondulações da Baía de Luanda. É um rio azul que corre para o firmamento e desagua na fantástica lagoa que espelha o amanhecer, todos os dias, até ao último suspiro da eternidade.

Casukola viu a sua imagem nas águas e murmurou:

- Meu amor, ainda há amanhecer para os que abrem caminhos?

Eis o enigma.

DEZ CRISES HUMANITÁRIAS QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDAS

Há centenas de milhões de pessoas a viverem em situação de crise humanitária. Destacamos dez das mais urgentes (e muitas vezes esquecidas) crises humanitárias.

Ana Patrícia Silva | Setenta e Quatro

A invasão da Ucrânia pela Rússia criou uma das maiores crises humanitárias europeias desde a II Guerra Mundial: cerca de quatro milhões de refugiados num mês. O furacão de crises humanitárias não se fica por aqui e há guerras e crises a que não estamos a prestar atenção.

Combinada com os conflitos em curso e a crise climática, a pandemia de covid-19 fez aumentar as necessidades humanitárias ao longo de 2021. Relatórios como o Global Humanitarian Overview 2022, publicado a 14 de janeiro de 2022, alertam que vidas e meios de subsistência individuais, estabilidade nacional e décadas de desenvolvimento estão em risco. E os números não deixam dúvidas: 274 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, o número mais alto em décadas.

Com origem em causas de variadas ordens - motivos políticos, conflitos armados, desastres ambientais (causados pelas alterações climáticas, por exemplo) ou razões sanitárias - são muitas as batalhas e demasiadas vítimas. A invasão russa foi o gatilho que faltava para a crise alimentar se agravar em regiões como o Médio Oriente e o continente africano. O Setenta e Quatro destaca dez das mais urgentes crises humanitárias.  

Afeganistão

A combinação de conflito, seca, pandemia, tumultos políticos e choques económicos recorrentes teve um impacto devastador na população afegã. As rupturas nos serviços básicos, nos sistemas financeiros e na função pública estão a exacerbar uma situação humanitária “quase incontornável”.

Estima-se que 22,8 milhões de pessoas (55% da população) estejam em crise ou em níveis de emergência de insegurança alimentar, um aumento de quase 35% em relação ao ano passado. Prevê-se agora que mais de metade de todas as crianças com menos de cinco anos estejam gravemente subnutridas em 2022, um aumento de 21% que ultrapassa os limiares de emergência. Nas zonas rurais, as necessidades são em grande parte motivadas por aquela que é a pior seca nos últimos 27 anos e os efeitos de mais de quatro décadas de conflito. 

As ameaças aos civis e as necessidades agudas de proteção permanecem elevadas. Existem sérias preocupações quanto ao retrocesso dos direitos das mulheres e restrições à sua participação na vida e na sociedade, que pioraram após os talibãs assumiram o poder no Afeganistão, depois da retirada das tropas norte-americanas em maio de 2021.

ASSIM VAI A GUERRA DA UCRÂNIA, SEGUNDO JORNALISMO DO OCIDENTE

Mariupol com novo ultimato e acordo para retirar seis mil civis

Sandra Alves | Jornal de Notícias

O dia 56 da guerra na Ucrânia começa com o novo ultimato da Rússia para a rendição dos combatentes que resistem em Mariupol e o acordo de um corredor humanitário para retirar seis mil mulheres, crianças e idosos. Da noite, ficou a garantia do oligarca russo Oleg Tinkov, de que "90% dos russos são contra a guerra". Volodymyr Zelensky considera o exército de Moscovo como "o mais bárbaro e desumano do mundo."

Charles Michel está em Kiev, "no coração da Europa livre e democrática"

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, instância que representa os Estados membros da União Europeia, chegou esta quarta-feira a Kiev, numa altura em que a Rússia lança uma nova ofensiva no leste do país.

Charles Michel anunciou a deslocação à capital ucraniana através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter.

"Em Kiev, hoje, no coração da Europa livre e democrática" escreveu Charles Michel na mensagem que acompanha uma fotografia captada numa estação ferroviária da capital ucraniana

Noruega enviou uma centena de mísseis antiaéreos para as forças de Kiev

O governo da Noruega anunciou o envio de mais de uma centena de mísseis antiaéreos para a Ucrânia, como parte da ajuda militar a Kiev que enfrenta a invasão das forças de Moscovo.

Anteriormente, as autoridades norueguesas autorizaram várias doações de armas às forças ucranianas, entre as quais "quatro mil baterias antiaéreas".

"O conflito na Ucrânia pode vir a ser prolongado e o país depende do apoio internacional contra a agressão russa. Por isso, o governo [de Oslo] decidiu doar mísseis antiaéreos à Ucrânia", refere o ministro da Defesa Bjorn Arild Gram em comunicado.

Kiev acorda com Moscovo corredor humanitário em Mariupol

"Conseguimos chegar a um acordo preliminar [com os russos] sobre um corredor humanitário para mulheres, crianças e idosos", escreveu, esta quarta-feira, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Verechtchuk, na plataforma de mensagens Telegram.

Segundo o autarca da cidade, Vadym Boichenko, serão enviados 90 autocarros para a cidade para resgatar cerca de seis mil mulheres, crianças e idosos.

Estima-se que ainda estejam cem mil civis em Mariupol, cidade cercada pelas tropas russas e sob intensos bombardeamentos desde o início da invasão, a 24 de fevereiro.

ONU irá debater poder de veto do Conselho de Segurança

"O Liechtenstein apresentou agora (...) uma resolução que exige uma reunião da Assembleia Geral da ONU sempre que um veto for lançado no Conselho de Segurança. A resolução é um passo significativo para capacitar a Assembleia-Geral e fortalecer o multilateralismo", indicou a delegação do Liechtenstein na rede social Twitter, acrescentando que o projeto conta já com 57 copatrocinadores.

"Os copatrocinadores apresentarão formalmente o projeto de resolução aos Estados Membros na próxima semana - o próximo passo no processo. Incentivamos todos os Estados a copatrocinar e apoiar e esperamos uma adoção antecipada", acrescentou a delegação.

O projeto conseguiu uma forte adesão até ao momento, incluindo dos Estados Unidos. Os outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança são a Rússia, China, França e Reino Unido.

Graças ao seu direito de veto, a Rússia tem paralisado qualquer ação que não seja do seu interesse no Conselho de Segurança.

Força Aérea ucraniana reforçada com caças e peças de reposição

A Ucrânia recebeu aviões de combate e peças de reposição que permitem reforçar a Força Aérea, adiantou esta terça-feira o porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano, sem especificar a quantidade ou quais os países que forneceram as aeronaves.

"Atualmente eles têm mais caças à sua disposição do que há duas semanas", assegurou o porta-voz do Pentágono, John Kirby, em conferência de imprensa.

Rússia faz novo ultimato à defesa de Mariupol para se render

A Rússia fez outro ultimato às forças ucranianas estacionadas na fábrica Azovstal, em Mariupol, para largarem as armas, esta quarta-feira, depois de nenhum dos elementos se ter rendido nas duas horas estabelecidas por Moscovo na terça-feira.

"Apesar da total irresponsabilidade dos oficiais do regime de Kiev, para salvar os seus militares, as forças armadas russas, guiadas por princípios puramente humanos, voltam a oferecer combatentes dos batalhões nacionalistas e mercenários para cessarem os combates e pousarem as armas às 14 horas locais [12 horas em Portugal continental]", disse o responsável pelo Centro Nacional de Controlo da Defesa, o coronel-general Mikhail Mizintsev.

Moscovo vai garantir a segurança e a proteção daqueles que se renderem hoje, garantiu.

Na terça-feira, "às 22 horas locais [20 horas em Portugal continental], ninguém tinha chegado ao corredor [humanitário] indicado", assinalou o coronel-general russo.

Jornal de Notícias | Imagem: Epa/mariupol

NEGOCIAÇÕES OU UMA OPERAÇÃO MILITAR ATÉ A VITÓRIA FINAL?

# Traduzido em português do Brasil

Leonid Savin | Katehon

O componente diplomático da crise na Ucrânia tem os dois lados – a questão é qual é o melhor para a Rússia.

Após o início da operação especial na Ucrânia sobre desmilitarização e desnazificação, ocorreram várias rodadas de negociações entre a Rússia e a Ucrânia. Inicialmente, eles foram posicionados como um mecanismo para a pronta resolução da situação de crise e foram considerados (pelo menos do lado russo) como uma verdadeira ferramenta de solução capaz de chegar a um acordo aceitável para ambos os lados em um curto espaço de tempo.

As negociações foram realizadas tanto em formato ao vivo quanto virtual, além disso, as reuniões foram realizadas no território da Bielorrússia e da Turquia. Mas quanto mais reuniões aconteciam, mais claro ficava que a Ucrânia estava simplesmente ganhando tempo e não concordaria com as exigências iniciais da Rússia. Embora a princípio Kiev tenha feito promessas bastante vagas de que o país não se juntaria à OTAN e manteria seu status neutro, mais tarde o lado ucraniano começou a mostrar arrogância. E o fez cada vez mais desafiadoramente.

No final, o lado ucraniano realmente lançou uma ofensiva diplomática ativa, abandonando os acordos alcançados anteriormente. É significativo que isso tenha acontecido após o assassinato em Kiev de um dos membros da delegação ucraniana Denis Kireyev. Isso deu origem à suposição de que quaisquer discussões construtivas entre os políticos ucranianos seriam severamente reprimidas pelo partido da guerra, que, por sua vez, está fixado em um curso pró-ocidental duro e em um confronto com a Rússia.

Finalmente, no dia anterior, o próprio Vladimir Zelensky disse que a Ucrânia lutaria até a vitória e se permitiu fazer uma série de frases politicamente incorretas. Embora ao mesmo tempo, em entrevista a publicações ocidentais, ele afirme que a única saída para a situação são as negociações com a Rússia. [eu]

A BOMBA FINANCEIRA QUE AMEAÇA SER ATÓMICA

A guerra na Ucrânia e as sanções económicas podem dividir o planeta em dois mundos económicos distintos e lançar a Terra numa guerra nuclear.

Nem tudo é o que parece, e nem tudo tem o resultado que diz ter. A petição assinada, entre muitos, pelos economistas Thomas Piketty e Joshep Stiegliz, apelando para que seja criado um registo mundial dos bens, a propósito da opacidade existente nas fortunas dos oligarcas russos, vai muito além do que é dito.

«O caso dos oligarcas russos fala por si» na ocultação de fortunas dentro de estruturas opacas, dizem os economistas, numa carta publicada hoje no diário britânico The Guardian e dirigida aos líderes do G20.

Os oligarcas russos detêm «pelo menos mil milhões de dólares de riqueza no estrangeiro», segundo estimativas incluídas na carta, assinada pelos franceses Thomas Piketty e Gabriel Zucman, bem como pelo prémio Nobel norte-americano Joseph Stiglitz, todos membros do grupo de reflexão Comissão Independente para a Reforma Fiscal das Empresas Internacionais.

Estas fortunas estão frequentemente escondidas «em empresas offshore cujos verdadeiros proprietários são difíceis de determinar», afirmam, acrescentando que «é precisamente este muro de opacidade que os esforços dos países que os pretendem castigar estão agora a enfrentar».

Um registo mundial de bens permitiria não só saber para onde fugiu o dinheiro dos oligarcas, mas também impedir a evasão fiscal de grande parte dos capitalistas e especuladores financeiros que desviam dinheiro dos seus respectivos países.

As sanções servem para alguma coisa?

Muitos comentadores garantem que as sanções à Rússia estão a ter um forte efeito na economia desse país e que o seu objectivo é forçar o governo de Moscovo a parar a sua acção militar na Ucrânia. Mas serão esses os principais efeitos que vão ter?

«Para ser viável, o embargo total ao comércio com a Rússia teria de resultar numa enorme contracção da economia russa, sem que os custos para a economia da União Europeia (UE) fossem significativos. Ora, não é esse o caso. Para reduzir um euro de PIB da Rússia a UE tem de estar disposta a sacrificar vários euros de actividade económica "doméstica", porque a economia da UE (de cerca de 14,4 mil milhões de euros em 2021) tem mais a perder porque é muito mais rica e de muito maior dimensão do que a economia da Rússia (de cerca de 1,5 mil milhões de euros, à cotação do rublo no final de 2021). Por exemplo, se, em resultado das sanções económicas, em 2022, o PIB real da UE e da Rússia caísse 3% e 20%, respectivamente, a queda do PIB da UE (em euros de 2021) seria cerca 44% superior à queda do PIB da Rússia (em rublos e à taxa de câmbio de 2021). Ou seja, mesmo com um impacto das sanções proporcionalmente muito superior para a Rússia, as perdas globais na actividade económica para a UE seriam significativamente superiores às que seriam registadas pela Rússia. Além disso, as reacções populares ao aumento da inflação e do desemprego serão provavelmente mais difíceis de gerir politicamente nas democracias ocidentais», escreve o economista Ricardo Cabral, no jornal Público.

Para além disso, é quase impossível que a queda do PIB da Rússia seja tão drástica como ambicionado pelo Ocidente, porque «a China e a maior parte dos países do mundo não irão aplicar sanções económicas à Rússia. A Rússia registou um excedente externo de 190 mil milhões de dólares em 2021, muito superior, por conseguinte, ao valor das exportações de petróleo e gás natural da Rússia para a UE, que foram de cerca de 99 mil milhões de euros em 2020. Mesmo que a UE deixasse de importar petróleo e gás natural da Rússia, a Rússia continuaria com excedente externo, o que lhe permitiria estabilizar a cotação do rublo e continuar a financiar as importações que a sua economia necessita, adquirindo-as a fornecedores de outros países», acrescenta esse economista.

Finalmente, as sanções podem ter efeitos não previstos na economia mundial tal como a conhecemos, que podem rebentar nas mãos daqueles que as decretaram. Comecemos por analisar o que está em causa neste conflito, para além daquilo que é óbvio.

O conflito na Ucrânia marca um fim de era: a da dominação ocidental

# Publicado em português do Brasil

– A velha ordem liderada pelos EUA tem de ir e irá, precisamente porque já não é mais viável para o resto da humanidade

Strategic Culture Foundation

O conflito militar em curso na Ucrânia é um divisor de águas, um evento de imenso significado histórico. Ele marca uma ruptura com o passado e o início de uma nova realidade geopolítica, uma realidade que será acompanhada de progresso nas relações internacionais rumo a maior desenvolvimento económico, justiça e paz.

O conflito militar na Ucrânia não é acerca de uma disputa estreita entre a Ucrânia e a Rússia. Ele é, sim, o sinal anunciador de uma maior confrontação entre, por um lado, os EUA que lideram a ordem ocidental e, por outro, nações como a Rússia, China e outras que se recusam a aceitar um papel subordinado. Nossa entrevista com Bruce Gagnon, esta semana, elucida o grande quadro geopolítico e o que está em causa.

Um sinal seguro das suas grandes dimensões é o modo como os EUA, a NATO e aliados europeus rapidamente instalaram uma guerra híbrida total à Rússia, numa tentativa de destruir a sua economia. As afirmações ocidentais acerca da “defesa da democracia, soberania e direito internacional” são vis e fraudulentas. Ao canalizarem armas para um regime repressivo e corrupto cujo sector militar está infestado com regimentos nazis?

Não, os EUA e os seus aliados ocidentais estão a utilizar o conflito – um conflito que a Rússia tenazmente tentou evitar fazendo apelos razoáveis a tratados de segurança com a NATO – como uma oportunidade para esmagar a Rússia. E não se trata simplesmente de esmagar a Rússia. Trata-se de esmagar qualquer desafio à ordem ocidental. Isto envolve inevitavelmente confrontação com a China e outros países que procuram desafiar o “Consenso de Washington”.

A censura draconiana dos media internacionais da Rússia e o bloqueio sobre a economia russa indica que uma campanha de hostilidade total das potências ocidentais estava pronta para arrancar. A intervenção da Rússia na Ucrânia em 24 de Fevereiro – baseada em princípios plausíveis de auto-defesa – proporcionou a plataforma de lançamento para a hostilidade ocidental. Mas esta hostilidade não é apenas em relação à Rússia. Ela destina-se a confrontar o surgimento de uma ordem mundial multipolar que ultrapasse o controle da dominância estado-unidense. Esta dominância – ou hegemonia – está baseada na controle estado-unidense do sistema financeiro global bem como sobre o poder militar bruto americano, com a assistência dos seus adjuntos da NATO.

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