Gastos militares dos EUA, que já
representam 39% dos globais, estão prestes a ser turbinados. Alemanha quebra
tabu pós-guerra e investe pesado
Gilbert Achcar, traduzido por Cauê
Seignemartin Amenina, na Jacobin Brasil
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Hoje vemos um paradoxo impressionante. A mídia ocidental ecoou todos os tipos de especialistas militares e fontes de inteligência enfatizando até que ponto o poderio militar russo foi superestimado antes da invasão; quanto se mostrou mais fraco do que o esperado em todos os níveis, incluindo suas capacidades logísticas e implantação de armamento sofisticado; e quanto dano o ataque criminoso de Vladimir Putin à Ucrânia trouxe sobre a própria Rússia, sua economia e seu potencial militar. E, no entanto, vários governos da OTAN aproveitaram a oportunidade desta guerra, que obviamente está enfraquecendo a Rússia, para se envolver em uma frenesi de aumento dos gastos militares.
Complexos industriais militares em todos os lugares estão esfregando as mãos de alegria. O alto escalão dos exércitos da OTAN está novamente recorrendo ao velho truque de superestimar as ameaças, como costumava fazer em relação à União Soviética durante a Guerra Fria, para defender o rearmamento. Tal termo é totalmente inadequado, dado que os exércitos da OTAN nunca foram desarmados para início de conversa; em vez disso, eles estavam constantemente super-armados durante a Guerra Fria e, desde então, mantiveram níveis excessivos de armas. Além disso, quaisquer entregas de armas defensivas feitas ao povo ucraniano são apenas uma pequena parte dos gastos militares em andamento – nem mesmo 1% de todos os gastos da OTAN que o presidente da Ucrânia tem pedido.
Não contente com os gigantescos gastos militares atuais dos Estados Unidos, que totalizaram US$ 782 bilhões no ano passado – acima dos US$ 778 bilhões gastos em 2020, o que representou, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, 39% dos gastos militares globais, mais de três vezes o da China (US$ 252 bilhões) e mais de doze vezes o da Rússia (US$ 61,7 bilhões) — Joe Biden agora está solicitando US$ 813 bilhões para o próximo ano fiscal (US$ 773 bilhões para o Pentágono e mais US$ 40 bilhões para programas relacionados à defesa no FBI, Departamento de Energia e outras agências). De acordo com o subsecretário de Defesa, Michael J. McCord: “Este orçamento foi finalizado antes da invasão da Ucrânia por Putin. Portanto, não há nada neste orçamento que tenha sido alterado especificamente porque era tarde demais para alterá-lo, se quiséssemos, para refletir as especificidades da invasão.”