sábado, 2 de julho de 2022

Portugal | UM GOVERNO EM “MODO DE VOO”

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

No terramoto político de ontem em Portugal, Pedro Nuno Santos marcou-se como seguro. Só uma visão muito ingénua da política pode admitir que o processo de decisão sobre a construção de um novo aeroporto (ou de dois, no caso em concreto), já amplamente debatida com autarquias, com a ANA e outras entidades, anunciada pelo próprio ministro em "prime time" televisivo, possa ter sido omitido a António Costa e a outros membros do Governo. É muito difícil acreditar no acto de contrição do ministro das Infraestruturas quando tudo soa a tacticismo e sobrevivência. O desconforto é evidente.

Quando os portugueses entregaram uma maioria absoluta a António Costa, não pensaram na instabilidade que iriam criar na luta interna pela sucessão no PS. É absolutamente incompreensível que uma precipitação ou excesso de voluntarismo de Pedro Nuno Santos comprometa as suas ambições em liderar o Partido Socialista mas é totalmente entendível que António Costa o queira manter por perto, diminuído. A guerra civil irá acalmar dentro do partido. A desnecessidade de consensualizar a decisão com o PSD de Luís Montenegro, que já, no início de Junho, registara a "confissão de incompetência" de António Costa por procurar esses mesmos consensos, foi devidamente assinalada por Pedro Nuno Santos antes da revogação do despacho. Há um PS que acha que não precisa do PSD para nada, mas há um primeiro-ministro que não hesitará em simular negociações, mesmo quando o futuro líder da oposição delas se distancia e a solução a propor já aparece em envelope lacrado. Marcelo Rebelo de Sousa percebeu a gravidade da situação e não falou até o facto consumado. Apanhado de surpresa pelo inusitado, conteve-se, esperando para perceber que só lhe restava unir os laços. No limite, poderá ser ele mesmo a consensualizar com António Costa aquilo que Montenegro não quer pela sua nova lógica de oposição. No momento em que Marcelo apela ao consenso e à rapidez da decisão, Montenegro, distanciando-se, arranca na liderança do PSD em maus lençóis. Qualquer solução que acabe com uma discussão de décadas e seja distinta da que foi agora apresentada como ideal parecerá um plano de fuga num desenho de inconsistência. O ministro das Infraestruturas conseguiu afundar um porta-aviões em plena pista de aterragem de aeroporto.

Um Governo em "flight mode". Este espectáculo de assincronismo, com António Costa a cuidar das ambições europeias e os potenciais candidatos à sucessão em roda livre, não pode permitir a vitória do esquecimento perante o caos e o desastre que se anuncia para o SNS. Para além da enorme gravidade e calibre da proposta, feita despacho revogado. A dimensão megalómana de construir dois aeroportos, aniquilando um já existente e sem debater com seriedade o plano ambiental e uma nova travessia sobre o Tejo, é completamente incompreensível e um desrespeito aterrador por um país assimétrico que já deixou de ter duas velocidades, para escolher andar parado.

O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

*Músico e jurista

Portugal | MARCELO NO BRASIL “DESCONVIDADO” POR BOLSONARO

Marcelo "aguarda serenamente" por decisão de Bolsonaro, mas lembra que o fundamental são os povos

Presidente da República chegou ao Rio de Janeiro com vontade de mergulhar e a desvalorizar a polémica do "desconvite" de Bolsonaro. O fundamental são os povos e as relações entre eles, destaca Marcelo, que está sereno e a aguardar para perceber se tem ou não um encontro no Itamaraty na segunda-feira.

inda com céu vermelho a amanhecer na cidade maravilhosa, o Presidente da República começou a visita ao Brasil como terminou em Lisboa: desvalorizando o "desconvite" de Bolsonaro e a dizer que o plano que tinha mantém-se. Em todo o caso, o fundamental são os povos, diz Marcelo Rebelo de Sousa, que não quer sair sem um mergulho em Copacabana.

"Eu tenho o programa que tenho, naturalmente farei, para já, o programa inicial", diz Marcelo sem querer pronunciar-se mais sobre as declarações de Bolsonaro à CNN Brasil de que, afinal, já não iria receber o Chefe de Estado português por causa de um encontro que Marcelo terá com o opositor e candidato à presidência brasileira Lula da Silva.

"Para já, tenho uma prioridade que é aqui celebrar os 100 anos da travessia do Atlântico, estar na Bienal [do Livro] em força com os escritores brasileiros e portugueses, ter os contactos que tencionava ter e que sempre tive e tive o ano passado, depois ver o que sucede serenamente. Não há pressa, um almoço pode acontecer agora, pode acontecer em setembro, em outubro ou novembro", destaca o Presidente da República.

Puxando dos galões, Marcelo sublinha a "experiência de muitos anos de vida e de vida política" para concluir que "o fundamental é olhar para os povos". "As questões conjunturais, se almoça hoje ou depois de amanhã... Há de haver um momento em que há um almoço por força das circunstâncias", comenta o Presidente que gostaria de tratar de temas com Bolsonaro como as relações União Europeia-Mercosul, também as temáticas do posicionamento na CPLP e nas Nações Unidas.

Porém, como o importante são os povos, Marcelo é taxativo: "Não pode haver melhor momento no relacionamento entre povos". "Nós temos aqui uma comunidade portuguesa muito forte, mas agora há uma coisa mais importante: uma comunidade brasileira fortíssima em Portugal", nota o Presidente realçando que a comunidade brasileira em Portugal "já está caminhando para 230 mil" e que pensa que "vai chegar rapidamente a 250 mil" em breve.

E com a praia de Copacabana em fundo, claro que Marcelo não seria Marcelo se não pensasse em atravessar a Avenida Atlântica para ir à praia: "Ainda tenciono mergulhar hoje aqui no Rio, vir ao Rio e não mergulhar é um crime".

TSF |  Filipe Santa-Bárbara, enviado especial ao Rio de Janeiro

Angola | O POLÍTICO IMBATÍVEL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

José Eduardo dos Santos andou na política activa desde os seus tempos de estudante liceal. A sua causa foi sempre a mesma: Angola e os Angolanos. A liberdade e as condições concretas que a suportam. A dignidade e a honra enquanto marcos que sinalizam a vida humana. Numa sociedade concentracionária onde todos eram vigiados em permanência, ele rejeitou a submissão e juntou-se aos que lutavam, de armas na mão, pela libertação da pátria. 

Não era fácil atravessar todo o Norte de Angola até à fronteira com os Congos. José Eduardo dos Santos conseguiu. Essa foi a sua primeira grande vitória política. Embora jovem, já era um quadro. Na Angola daquele tempo, quem tinha o curso geral dos liceus estava em condições de assumir cargos de responsabilidade na administração pública ou na iniciativa privada. 

A direcção do MPLA viu nele um futuro dirigente e apostou na sua formação académica. Estudou e tornou-se um técnico qualificado. Foi até onde poucos tinham ido. Subiu a corda a pulso até à alta direcção do movimento revolucionário que lutava de armas na mão, contra a dominação estrangeira. José Eduardo dos Santos foi escolhido pelos seus pares para coordenar a Frente Norte, que em Abril de 1974 era a única que mantinha forças de combate no terreno. 

Há alguns anos, publiquei uma foto onde o responsável máximo da Frente Norte estava com os comandantes Pedalé, Jika e Eurico Gonçalves nas bases avançadas de Cabinda. Foi sob a sua direcção esclarecida que os combatentes do MPLA puseram fim à aventura de Themudo Barata, então governador do distrito de Cabinda, com a FLEC. Nessa altura revelou-se a sua faceta de diplomata. Conseguiu um acordo com o Movimento das Forças Armadas (MFA) para a defesa conjunta do território e também para um governo partilhado. José Eduardo dos Santos foi o arquitecto desse acordo que transformou a província de Cabinda na retaguarda segura do movimento revolucionário, numa altura em que Nixon, Mobutu e Spínola decidiram afastar o MPLA do poder numa Angola independente.

José Eduardo dos Santos foi escolhido pelos seus pares para Presidente da República. As crónicas dizem que em 1979 ele era ainda muito jovem. É verdade. Mas era já um dos mais experientes políticos angolanos. E tinha no seu currículo grandes vitórias políticas. Uma das mais importantes foi, com certeza, ser um dos dirigentes mais próximos de Agostinho Neto, que nos momentos decisivos daquela época o teve sempre a seu lado.

Eleições em Angola 2022: Consultora Eurasia considera vitória estreita do MPLA

Consultora Eurasia considera que o MPLA vai vencer as eleições de agosto em Angola, mas pela margem mais pequena de sempre, levando João Lourenço a ter de apostar na melhoria das condições sociais dos angolanos.

"As eleições de 2022 vão provavelmente ser as mais disputadas desde que o país se tornou independente, devido aos danos reputacionais ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), bem como à periclitante campanha anticorrupção e ao progresso lento das reformas lançadas por João Lourenço", escrevem os analistas da consultora Eurasia.

Numa análise sobre as eleições de agosto em Angola, a diretora do departamento africano da Eurasia, Shridaran Pillay, e a investigadora Jeanne Ramier escrevem que, "se for eleito", concluem, "João Lourenço terá provavelmente de aumentar o foco na melhoria das condições sociais, especialmente se o resultado for dececionante na eleição, ao mesmo tempo que terá de manter os compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional, como remover os subsídios".

Na análise às eleições, as investigadores escrevem que "o apelo do partido no poder, largamente alicerçado no papel histórico da luta de libertação e da guerra civil, está a desvanecer-se, já que os eleitores mais jovens, que não viveram a guerra e são indiferentes a esta narrativa, estão mais preocupados com a educação, o desemprego, a falta de oportunidades económicas e os cuidados de saúde".

OS ASSASSINOS DE LUMUMBA E A MORTE DO JORNALISMO

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje o que restava do nosso Patrice Lumumba, um dente, foi enterrado na sua pátria. Os colonialistas belgas fizeram-nos esse favor. Devemos ajoelhar-nos a seus pés por permitirem que um líder africano repouse entre a sua gente. Como o meu negócio não é ossadas (isso é com o sinistro Francisco) vou recordar como ele foi morto.

Mobutu, apoiado pelos belgas e por Washington, comandou um golpe de estado que depôs o então primeiro-ministro Patrice Lumumba. Esteve apenas 12 semanas no cargo. Ficou sob custódia de Capacetes Azuis da ONU. Ao tentar fugir dos seus captores, foi preso e torturado em Stanleyville. Depois foi levado para Lubumbashi e em Janeiro de 1961 foi fuzilado às ordens directas dos governos da Bélgica, EUA e, soube-se mais tarde, do Reino Unido. 

No ano de 2000, uma comissão parlamentar belga concluiu que o governo da Bélgica teve culpa e a responsabilidade moral na morte de Patrice Lumumba. Em 2007, após a desclassificação de documentos secretos da CIA, o governo dos EUA reconheceu que o país se envolveu na destituição de Patrice Lumumba e na sua morte. Em 2013, foram revelados documentos que provam o envolvimento do governo do Reino Unido na deposição e assassinato de Patrice Lumumba. 

Hoje, foi enterrada uma caixinha azul com um dente de Patrice Lumumba. Um polícia belga, após o fuzilamento, arrancou-lhe o dente e guardou-o como recordação. O corpo, segundo afirmou o mesmo polícia belga, foi dissolvido em ácido e dele nada restou. EUA, Reino Unido e Bélgica são as maiores democracias do mundo. Sigam-lhes o exemplo.

O jornal “Expresso”, especialista em notícias falsas, publicou um texto do seu correspondente em Luanda, Gustavo Costa, que diz o seguinte: “As autoridades angolanas estão já a preparar o funeral de José Eduardo dos Santos. No entanto, as filhas do ex-presidente de Angola não querem que se realize em Luanda”.

EXISTE UM PREÇO EM SANGUE PARA A POLÍTICA EXTERNA BRITÂNICA?

Peter Oborne* | Desclassificado Reino Unido | em Consortium News

Existem razões poderosas para considerar tanto os atentados de 7/7 quanto a atrocidade da Manchester Arena de 2017 como versões diferentes de contragolpes, escreve Peter Oborne. 

#Traduzido em português do Brasil

Antes da invasão do Iraque em 2003, várias pessoas – incluindo a então chefe do MI5 Eliza Manningham-Buller – alertaram que isso tornaria as ruas da Grã-Bretanha mais perigosas.

Esses avisos foram ignorados pelo primeiro-ministro Tony Blair. Mesmo quando a profecia do MI5 se provou tragicamente correta com os atentados de 7/7 em Londres em 2005, Blair (que não a transmitiu ao povo britânico) continuou a negar a ligação com a política externa britânica. 

No entanto, os próprios bombardeiros de 7/7 tornaram a conexão explícita em declarações gravadas em vídeo que foram divulgadas postumamente.

Blair se recusou a convocar um inquérito independente,  chamando  -o de “divertimento ridículo”.

Quando David Cameron se tornou primeiro-ministro em 2010, ele encarregou Lady Justice Hallett de realizar um inquérito legista. Ela se concentrou na resposta de emergência e no papel do contraterrorismo doméstico, ignorando a dimensão da política externa.

É justo dizer que depois de 7/7 o Estado britânico optou por não investigar a ligação entre o aventureirismo estrangeiro no Afeganistão e no Iraque e o terrorismo doméstico. 

Em 22 de maio de 2017, Salman Abedi entrou em um show pop na Manchester Arena e detonou uma bomba caseira, matando 23 pessoas (incluindo ele mesmo) e ferindo mais de 1.000 outras. Esta foi a pior atrocidade terrorista desde 7/7 e, como naquele ataque, a ligação com a política externa britânica é convincente. 

Abedi veio de uma família de exilados líbios. Significativamente, seu pai Ramadan era um apoiador do Grupo de Combate Islâmico da Líbia (LIFG), ligado à Al Qaeda, cujos militantes estavam entre os  apoiados  pela Otan quando se moveu contra Gaddafi na guerra da Líbia em 2011.

Em 2011, Salman Abedi provavelmente lutou ao lado de seu pai com milícias islâmicas. Depois disso, Salman passou muito tempo na Líbia, onde pode ter aprendido as técnicas que usou para um efeito tão mortal na Manchester Arena.

As três guerras da Ucrânia: a militar, a política e a económica (1)

Daniel Vaz de Carvalho

Segundo Aristóteles, conquistar uma cidade é fácil, conservá-la é que é difícil. Conceito que tem sido repetidamente comprovado pelos EUA. A vitória militar pode não passar de uma "vitória de Pirro", como lhe chamaram os romanos, se não for apoiada numa vitória económica e política. Para além do que a propaganda esconde, a situação foi dramaticamente definida pelo presidente da Federação Russa: "Para os EUA, a Ucrânia é uma questão de dividendos geopolíticos. Para a Rússia, é uma questão de vida ou morte". Quando gente com responsabilidades na NATO e na UE e primeiros-ministros (como António Costa) dizem que a guerra acaba quando a Rússia for vencida, a questão é: Como? É o que tentamos analisar.

1 - O confronto militar

Menos de um mês após o inicio das operações, as capacidades de combate ucranianas tinham sido significativamente reduzidas, sobretudo em equipamentos. Scott Ritter, ex-oficial dos marines e ex-inspetor de armamento, enumera o material que a Ucrânia dispunha no início do conflito, incluindo "540 canhões de artilharia auto-propulsados de 122 mm, 200 obuses rebocados de 122 mm, 200 sistemas de lançamento de foguetes múltiplos de 122 mm, 53 canhões auto-propulsados de 152 mm, 310 obuses rebocados de 152 mm e 96 auto-propulsados de 203 mm". A Rússia alegou ter destruído "521 instalações de múltiplos sistemas de foguetes de lançamento" e "1947 morteiros e artilharia de campo". "Perante a destruição deste equipamento e doutro entregue entretanto, "a Ucrânia solicita 1.000 peças de artilharia e 300 sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mais que o disponível pelo exército e marines dos EUA, e 500 tanques de batalha principais – mais do que Alemanha e Reino Unido têm em conjunto".

Segundo Scott Ritter, com base na análise da matemática militar preditiva básica, os níveis de baixas reais e projetadas, ditavam que o governo ucraniano, despojado de um exército viável, não teria escolha a não ser a rendição. Tendo a NATO decidido (?!) que a Rússia não podia ganhar, seguiu-se um acelerado envio de armas [NR] e combatentes sob a forma de mercenários. O que existe é uma guerra NATO x Rússia que segundo a Rússia: "aumenta o número de vítimas, mas não poderá influenciar o resultado da operação”.

O resultado obtido pela Rússia até agora é tanto mais significativo quanto durante oito anos e constantes ataques às Repúblicas do Donbass, os EUA/NATO armaram e treinaram um exército de centenas de milhares de efetivos e estruturaram um sistema de defesas fortificadas profundamente escalonadas. Um resultado que a Rússia alcançou numa ofensiva em que os atacantes, contra todos os procedimentos militares, eram em menor número que os defensores. Uns 160 mil contra 200 a 250 mil [1].

Atual ameaça nuclear dos EUA é maior que ameça nuclear soviética em 1962 (Cuba)

POR QUE A AMEAÇA NUCLEAR DOS EUA À RÚSSIA AGORA É MAIOR DO QUE A AMEAÇA NUCLEAR SOVIÉTICA AOS EUA  ERA NA CRISE DOS MÍSSEIS CUBANOS DE 1962

#Traduzido em português do Brasill 

Eric Zuesse | South Front | opinião

Durante a crise dos mísseis cubanos de 1962, a questão central era quão curto seria o tempo de reação disponível dos Estados Unidos a um ataque nuclear soviético e se seria  muito  curto para os Estados Unidos responderem antes que o líder dos Estados Unidos, JFK, pudesse pressionar o ataque nuclear. botão e retaliar contra tal primeiro ataque nuclear soviético (de um local tão próximo como Cuba). Esse intervalo de tempo teria sido de cerca de 30 minutos, e Kennedy disse a Khrushchev que seria inaceitavelmente curto e, portanto, se Khrushchev seguisse com seu plano de colocar seus mísseis em Cuba, os Estados Unidos lançariam preventivamente nossas ogivas nucleares contra a União Soviética. Khrushchev decidiu não fazer isso. A Terceira Guerra Mundial foi assim evitada. Mas agora estamos potencialmente reduzidos a cerca de 5 minutos, na direção inversa, e quase ninguém está falando sobre isso . 

A versão atual dessa ameaça (para o mundo inteiro) começou em 2010, quando o presidente dos EUA, Barack Obama (que acabara de ganhar o Prêmio Nobel da Paz por sua retórica) se reuniu em particular na Casa Branca com o então recém- eleito  presidente da Ucrânia . , Viktor Yanukovych, que acabara de ser eleito pelos ucranianos em uma plataforma de continuar no futuro a neutralidade geoestratégica do vizinho da Rússia, a Ucrânia, em relação  ao objetivo contínuo do governo dos EUA de conquistar a Rússia. Yanukovych recusou-se a ajudar os Estados Unidos nesse sentido, mas também não se opôs; A Ucrânia permaneceria neutra. Mais tarde, naquele mesmo ano, a secretária de Estado de Obama, Hillary Clinton, reuniu-se em particular com Yanukovych em Kiev, e o resultado foi o mesmo: a Ucrânia permaneceria neutra em relação à Rússia e aos Estados Unidos. Então, em 2011, dois agentes da  Google Corporation, criada pela CIA  , Eric Schmidt e Jared Cohen, que por acaso eram amigos pessoais e associados de Clinton (além de alguns dos associados próximos desses homens), encontraram-se em particular com Julian Assange para um visita 'amigável' supostamente para citá-lo em seu próximo livro,  The New Digital Age: Transforming Nations, Businesses, and Our Lives, como estimular e organizar um movimento de base online para melhorar a democracia. Só mais tarde Assange reconheceu que havia divulgado a eles dicas que foram posteriormente usadas pelo Departamento de Estado dos EUA e pela CIA para organizar o  golpe  que derrubou Yanukovych em fevereiro de 2014. Assange então encabeçou em outubro de 2014,  “O Google não é o que parece” . Foi quando Assange observou: “Jared Cohen poderia ser ironicamente chamado de 'diretor de mudança de regime' do Google”.

Este  golpe  (chamado de 'revolução Maidan' ou “Euromaidan”)  começou a ser organizado dentro da Embaixada dos EUA na Ucrânia até 1º de março de 2013 , mas  a Wikipedia diz  : “Euromaidan começou na noite de 21 de novembro de 2013, quando até 2.000 manifestantes se reuniram no Maidan Nezalezhnosti de Kiev e começaram a se organizar com a ajuda das redes sociais”. (Nada foi mencionado lá sobre a Embaixada dos Estados Unidos tê-los organizado.)

O governo dos EUA também havia engajado a organização de pesquisas Gallup, tanto  antes  quanto  depois  do golpe, para pesquisar ucranianos, e especialmente aqueles que viviam em sua república independente da Crimeia, sobre suas opiniões sobre EUA, Rússia, OTAN e UE; e, em geral, os ucranianos eram muito mais pró-Rússia do que pró-EUA, OTAN ou UE, mas esse foi  especialmente  o caso da Crimeia; assim, o governo da América sabia que a Crimeia seria especialmente resistente. No entanto, esta não era realmente uma informação nova. Durante 2003-2009 , apenas cerca de 20% dos ucranianos queriam a adesão à OTAN, enquanto cerca de 55% se opuseram. Em 2010, Gallup descobriu que enquanto 17% dos ucranianos consideravam a OTAN como “proteção do seu país”, 40% disseram que é “uma ameaça ao seu país”. Os ucranianos viam a OTAN predominantemente como um inimigo, não um amigo. Mas depois do golpe ucraniano de Obama em fevereiro de 2014,  “a adesão da Ucrânia à OTAN receberia 53,4% dos votos, um terço dos ucranianos (33,6%) se oporia a isso. ”  No entanto, depois,  o apoio ficou em média em torno de 45% – ainda mais que o dobro do que era antes do golpe .

VISÃO GERAL DOS SUPRIMENTOS MILITARES DOS EUA PARA A UCRÂNIA

#Traduzido em português di Brasil

Desde 2014, os Estados Unidos comprometeram mais de US$ 8,7 bilhões com a Ucrânia, incluindo aproximadamente US$ 6,1 bilhões desde o início da invasão não provocada da Rússia em 24 de fevereiro.

No total, a assistência de segurança dos Estados Unidos comprometida com a Ucrânia inclui:

Mais de 1.400 sistemas antiaéreos Stinger;

Mais de 6.500 sistemas anti-blindagem Javelin;

Mais de 20.000 outros sistemas anti-blindagem;

Mais de 700 Sistemas Aéreos Não Tripulados Táticos Switchblade;

126 Obuses de 155 mm e 260.000 munições de artilharia de 155 mm;

36.000 munições de artilharia de 105 mm;

126 Veículos Táticos para rebocar Obuses de 155mm;

19 Veículos Táticos para recuperação de equipamentos;

Oito Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade e munições;

20 helicópteros Mi-17;

Centenas de Veículos Rodoviários Multifuncionais Blindados de Alta Mobilidade;

200 veículos blindados de transporte de pessoal M113;

Mais de 10.000 lançadores de granadas e armas pequenas;

Mais de 59.000.000 cartuchos de munição para armas pequenas;

75.000 conjuntos de coletes e capacetes;

121 Sistemas Aéreos Não Tripulados Táticos Phoenix Ghost;

Sistemas de foguetes guiados por laser;

Sistemas Aéreos Não Tripulados Puma;

Embarcações de Defesa Costeira Não Tripuladas;

22 radares de contra-artilharia;

Quatro radares de contra-argamassa;

Quatro radares de vigilância aérea;

Dois sistemas de defesa costeira de arpão;

18 barcos de patrulha costeira e ribeirinha;

Munições antipessoal M18A1 Claymore;

Explosivos C-4 e equipamentos de demolição para remoção de obstáculos;

Sistemas táticos de comunicações seguras;

Milhares de dispositivos de visão noturna, sistemas de imagens térmicas, óptica e telêmetros a laser;

Serviços comerciais de imagens de satélite;

Equipamento de proteção para eliminação de munições explosivas;

Equipamentos de proteção química, biológica, radiológica, nuclear;

Suprimentos médicos para incluir kits de primeiros socorros;

Equipamento eletrônico de interferência;

Equipamentos de campo e peças de reposição;

Financiamento para treinamento, manutenção e sustentação.

Putin advertiu os analistas estratégicos russos contra o pensamento ilusório

Putin advertiu os analistas estratégicos russos contra se entregarem ao pensamento ilusório

Andrew Korybko* | One World

Os previsores estratégicos devem sempre aspirar a refletir a realidade com a maior precisão possível, entendendo que isso é impossível de fazer perfeitamente na prática, mas, no entanto, movendo-se continuamente nessa direção e melhorando regularmente seu trabalho para esse fim.

#Traduzido em português do Brasil

O presidente Putin falou com funcionários atuais e veteranos de seu Serviço de Inteligência Estrangeira (SVR) no centenário da fundação de sua inteligência ilegal pela União Soviética. Este ramo de seus serviços especiais refere-se àqueles espiões que não operam sob nenhuma cobertura diplomática e, portanto, não podem simplesmente ser expulsos ao serem capturados. É inquestionavelmente o mais perigoso, mas também um dos mais importantes serviços de inteligência que qualquer um pode fazer. O líder russo aproveitou esta ocasião para compartilhar alguns conselhos gerais com o SVR e oferecer alguns comentários sobre outros assuntos relacionados, incluindo a importância de os analistas estratégicos não se entregarem a desejos como seus colegas ocidentais.

Segundo o presidente Putin:

“O Serviço de Inteligência Estrangeira e outros serviços de segurança priorizam a previsão estratégica de processos internacionais. E essa análise deve ser realista, objetiva e baseada em informações verificadas e em uma ampla gama de fontes confiáveis. Não se deve entrar em pensamento ilusório. Aliás, o chamado Ocidente coletivo se viu encurralado, mergulhou nessa mesma armadilha e em suas próprias ações procede da ideia de que não há alternativa ao seu modelo de globalismo liberal... o Ocidente está tentando ignorar uma realidade inconveniente, a formação de uma ordem mundial multipolar… As atitudes dogmáticas do passado e a falta de vontade de enfrentar a realidade estão inevitavelmente aumentando o risco de ações prematuras e impulsivas por parte do Ocidente no futuro”.

O insight acima será agora analisado.

No nível profissional, os previsores estratégicos devem sempre aspirar a refletir a realidade com a maior precisão possível, entendendo que isso é impossível de fazer perfeitamente na prática, mas, no entanto, movendo-se continuamente nessa direção e melhorando regularmente seu trabalho para esse fim. A ilusão, que às vezes pode ser o resultado de acreditar que a própria propaganda, como o presidente Putin explicou durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF) no mês passado, estava no centro da decisão do Ocidente de sancionar a Rússia sem precedentes, pode resultar na formulação de medidas contraproducentes e mesmo políticas perigosas que contradizem os interesses nacionais objetivos.

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