domingo, 24 de julho de 2022

África do Sul: ANC está perdendo o controle do país - Golpe de Estado à vista?

The Guardian | editorial

Crime violento, corrupção generalizada, preços em alta e falta de energia estão cobrando seu preço

#Traduzido em português do Brasil

A ascensão de yril Ramaphosa à presidência da África do Sul, há quatro anos, foi recebida com verdadeiro otimismo. O governo desastroso de seu antecessor, Jacob Zuma, foi caracterizado pela corrupção e repetidos ataques às instituições do país, bem como pela crescente desigualdade, desemprego e crimes violentos. Os sul-africanos esperavam que Ramaphosa pudesse limpar o ANC governante e entregar para os cidadãos comuns.

Isso nunca seria uma tarefa fácil, e as esperanças diminuídas desapareceram rapidamente no último mês. Primeiro, um ex-chefe de espionagem próximo a Zuma declarou que Ramaphosa havia guardado milhões de dólares em almofadas de sofá em sua fazenda e não informou totalmente as autoridades quando foram roubados. (O Sr. Ramaphosa diz que as somas eram muito menores e vinham da venda de caça.) Pouco depois, o relatório final da comissão Zondo sobre a captura do Estado revelou como bilhões de dólares haviam sido desviados sob o comando de Zuma, mas também perguntou por que o Sr. fazer mais para enfrentar a questão quando, como vice-presidente, “certamente ele tinha a responsabilidade de fazê-lo”. Os críticos dizem que, como presidente, sua retórica sobre erradicar a corrupção não foi acompanhada de ação.

Depois vieram a morte de 22 jovens em uma boate no Cabo Oriental, e a onda de ataques com armas no último fim de semana , incluindo a morte de 15 pessoas em uma taverna perto de Joanesburgo. Tudo isso tem como pano de fundo o aumento dos preços dos alimentos, atingindo mais fortemente os pobres ; um mês de cortes de energia em todo o país de até 12 horas diárias; e a luta mais ampla para se recuperar dos estragos do Covid.

Para muitos, esses problemas não são coincidência, mas parecem parte de uma crise mais ampla de governança. As origens do ANC como um movimento de libertação e o entendimento de que muitos problemas estão enraizados no legado do apartheid garantiram a ele o tipo de apoio que outro partido teria perdido há muito tempo. Mas os que estão no topo agora parecem preocupados demais com suas lutas internas (ou, em alguns casos, com sua própria prosperidade) para reunir um Estado e uma sociedade desgastados. Sua incapacidade de manter as luzes acesas é reveladora; o fracasso em adotar as energias renováveis, em um país com sol o ano todo, reflete os laços profundos do partido com o setor de mineração.

Alguns acreditam que a eleição direta de presidentes daria aos eleitores o poder de apoiar um indivíduo, em vez de serem obrigados pela escolha do ANC, e poderia dar aos presidentes mais autoridade para resolver problemas. O contra-argumento é que isso significaria que eles são menos responsáveis ​​e poderia encorajar o pior tipo de populismo.

De qualquer forma, a mudança é inevitável, pois o apoio do ANC continua a diminuir – um processo que será acelerado se decidir abandonar Ramaphosa como líder no final deste ano. O partido já perdeu o controle de cidades importantes, e nas eleições locais do outono passado caíram abaixo de 50% pela primeira vez na história democrática da África do Sul. A perspectiva de um governo de coalizão se aproxima. Os otimistas acham que um influxo de ideias e energia, além do forte lembrete da mortalidade política para o ANC, pode mudar as coisas. O perigo é que a fratura do poder pode tornar ainda mais difícil enfrentar os desafios gigantescos da África do Sul.

Imagem: Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul. 'A mudança é inevitável à medida que o apoio do ANC continua a diminuir – um processo que irá acelerar se decidir abandonar Ramaphosa como líder no final deste ano.' Fotografia: Nic Bothma/EPA

Angola | PARTIDOS ATRAPALHAM AS ELEIÇÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A CNN Portugal enviou para Angola uma senhora que prestou um serviço de peixeirada ao Estado Angolano. Esse foi o pagamento mais visível. A peixeira portou-se bem, teve direito a uma viagem a Luanda. E lá está ela. O seu primeiro interlocutor foi Carlos Rosado Carvalho, um sujeito ainda mais asqueroso do que parece. A peixeira e o criado que serviu o banquete decidiram, ante as câmaras instaladas na Fortaleza de São Miguel, disseram que em Angola só existe pobreza extrema e uns quantos angolanos são milionários. 

No dia seguinte a ousada peixeira ouviu uma alucinada do Movimento Cívico Mudei. Despachou umas quantas aldrabices sobre o processo eleitoral encomendadas pela UNITA e chau! Hoje a estrela foi o bêbado da valeta. Estava sóbrio. Bateu forte e feio na ERCA. Já se percebeu que na próxima legislatura fica sem o tacho. Acusou o “partido dominante” de mandar na entidade reguladora. Incrível. O bêbado irremediável, apresentado como jornalista, disse à peixeira da CNN que o MPLA, partido quer venceu as eleições com maioria qualificada, é o “partido dominante”. Este também acha que as eleições foram fraudulentas. E ataca desalmadamente os Media públicos.

Esta na hora de esclarecer a grande confusão que para aí vai. Se em Angola toda a população vive na pobreza extrema como diz a peixeira da CNN Portugal, a TPA vale tanto para os telespectadores angolanos como a televisão do México ou do Burkina Faso. Ninguém vê. Ninguém tem televisores. Ninguém tem casa. Ninguém tem luz. Ninguém tem tempo para o luxo de ver televisão.

Felizmente, a situação social em Angola não é como dizem a peixeira, o Carlos Rosado de Carvalho ou o bêbado da valeta. Mas a TPA tem pouca audiência. Os canais de televisão angolanos têm baixíssimas audiências e apenas nas zonas urbanas. A sua influência é diminuta.

Ninguém ganha eleições com a TPA, a RNA, o Jornal de Angola ou a ANGOP. Para ser inteiramente verdadeiro, o MPLA até sai prejudicado. Porque fica com a fama mas o proveito é irrelevante. Depois das eleições posso explicar porquê. Mas posso dizer agora que a Rádio Despertar rouba mais votos à UNITA do que aqueles que ganha. É fácil perceber porquê. Só mobiliza os fiéis mais fanáticos! Os outros fogem.

A administração do circunspecto Times, há cem anos, mandou fazer um inquérito para apurar quais eram as matérias preferidas dos seus leitores. A direcção e os editores ficaram em estado de choque. O editorial era lido por menos de três por cento dos consumidores. E os artigos de opinião nem chegavam aos cinco por cento. Uma tragédia! O povão gosta é de notícias e reportagens! A TPA não sabe fazer isso. A RNA já soube. O Jornal de Angola ainda publica uns restos que sobraram dos tempos em que a aposta editorial era na notícia. E particularmente no noticiário das províncias. 

O bêbado da valeta diz que o resultado das eleições se joga nos Media públicos! Isso só seria possível se o Jornal de Angola tivesse, no mínimo, 500.000 exemplares de tiragem e a expansão de cada edição atingisse todos os recantos de Angola. Em Luanda a circulação tinha igualmente de atingir os mil leitores por cópia. Nem atinge os mínimos! A realidade, infelizmente, é muito diferente dos delírios terminais do exterminador da ERCA.

Em Angola não existe uma instituição parecida com a Comissão de Análise de Estudos de Meios portuguesa. Ninguém mede as audiências. Nada de nada. O mercado de publicidade no audiovisual vale pouco. Pelas minhas contas, tinha de valer, no mínimo, 800 milhões de dólares por ano. 

Esta fragilidade retira à TPA e à RNA margem de manobra. Enfraquece o Poder editorial. Impede a independência do poder político. A facturação das cabeças comerciais da rádio e da televisão públicas nem chega para pagar a conta da energia e da água. São gigantes em termos de recursos humanos mas têm pés de barro financeiros. Não se aguentam sem o apoio permanente do Estado e das empresas públicas em forma de publicidade.

A TV Zimbo foi nacionalizada exactamente por causa disso. Nunca conseguiu uma carteira de publicidade que garantisse o pagamento do combustível para as viaturas das equipas de reportagem. 

Hoje a peixeira da CNN Portugal premiada com uma viagem a Luanda também entrevistou Margareth Nanga. Mais paleio de alicate, mais argumentos emprestados pela UNITA. Mas esta artista teve mais piada que os outros todos. Disse que as eleições em Angola estão muito dependentes dos partidos! Ela tem razão. Deviam estar dependentes dos técnicos forenses que andam atrás das ossadas. Injustiça! Parcialidade. Interferências do Executivo. 

Ana Sofia Cardoso foi para Luanda sem repórter de imagem. A TPA fornece. A TPA garante todos os meios técnicos. Mas pasmem-se minhas amigas e meus amigos. Ela fez da esplanada da Fortaleza de São Miguel o seu estúdio. Que eu saiba ainda é uma instituição das Forças Armadas Angolanas (FAA). Portanto, todas as barbaridades que a peixeira e convidados debitam sobre Angola têm o apoio do Estado Angolano. É assim: Quanto mais me bates, mais gosto de ti. Depois queixem-se!

*Jornalista

João Lourenço apela ao voto para "honrar a memória" de Eduardo dos Santos

ANGOLA - ELEIÇÕES

O candidato do MPLA às eleições gerais de 24 de agosto apelou este sábado (23.07) os angolanos a votarem no partido para vencer o ato eleitoral, "a melhor forma de honrar a memória do Presidente José Eduardo dos Santos".

João Lourenço, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido que governa o país desde a independência, em 1975) começou este sábado (23.07) o seu discurso de lançamento da campanha eleitoral, em Camama, província de Luanda, enaltecendo os feitos do antigo presidente do partido, que morreu no dia 08 de julho, em Barcelona, Espanha

Segundo João Lourenço, o lançamento da campanha ocorre num momento em que os militantes do MPLA e de forma geral os angolanos "ainda sentem a dor do desaparecimento físico do camarada presidente José Eduardo dos Santos".

"Nosso presidente emérito, um grande filho de Angola, que dedicou toda a sua juventude e muitos anos de governação em momentos muito difíceis que o nosso país atravessou, mas soube dirigir o país com sabedoria e, sobretudo, acabar com a guerra que ameaçava destruir o nosso país", referiu.

O líder do MPLA, que concorre a um segundo mandato, salientou ainda que a José Eduardo dos Santos os angolanos devem "a paz e a reconciliação" que o país vive já há 20 anos "e que é um bem precioso" para o desenvolvimento do país.

"Aproveito esta oportunidade para salientar o civismo e o respeito demonstrado pelos angolanos de uma forma geral e por todos aqueles estrangeiros que se quiseram juntar à nossa dor, durante os cerca de sete dias que decorreram as homenagens ao presidente José Eduardos dos Santos", frisou. "Mas a vida continua, a maior alegria dele será ver o seu MPLA ganhar estas quintas eleições gerais em Angola. Esta é a melhor forma que temos de honrar a memória do presidente José Eduardo dos Santos", acrescentou.

UE assassina | A SEXTA-FEIRA NEGRA E O REGIME DE FRONTEIRAS EUROPEU

A União Europeia gasta milhares de milhões de euros todos os anos em muros, vedações, tecnologia de ponta e acordos internacionais para impedir que milhares de refugiados entrem nas suas fronteiras. Relega o sofrimento de centenas de milhares de pessoas ao silêncio em campos de refugiados na Turquia, na Líbia e em Marrocos, entre outros. 

Miguel Duarte* | Setenta e Quatro

A vedação de seis metros de altura, coroada com arame farpado e circundada por um fosso largo, projeta a sua escassa sombra por cima de centenas de corpos negros quase imóveis. À distância é impossível distinguir quem está exausto de quem está moribundo e de quem está morto. Apenas gemidos e espasmos denunciam alguma vida, embora não augurem nada de bom. Dezenas de oficiais da polícia marroquina bem equipados passeiam-se pelo meio das pessoas, uns verificando sinais vitais, outros violentando corpos prostrados (algumas das hiperligações deste texto levam a vídeos cujo conteúdo pode ferir a susceptibilidade do leitor).

Os vídeos publicados pela Associação Marroquina para os Direitos Humanos (AMDH) mostram o resultado catastrófico dos acontecimentos do passado dia 24 de junho em Melilha, um enclave espanhol no norte de África e uma das duas fronteiras terrestres entre a União Europeia (UE) e um país africano, Marrocos, juntamente com Ceuta. 

»» A UE já pagou 91 milhões de euros em apoios à criminosa guarda costeira líbia para impedir que refugiados cheguem às praias mediterrâneas europeias. ««

Nesse dia, quase duas mil pessoas tentaram atravessar a fronteira de uma só vez. Foram cercadas pela polícia marroquina, apedrejadas e espancadas. Algumas morreram esmagadas no meio da multidão em pânico. Aquelas que conseguiram trepar a rede encimada com arame farpado foram alvejadas com balas de borracha e algumas caíram para a sua morte. As que conseguiram saltar para o outro lado foram recebidas por uma carga policial das autoridades espanholas, em coordenação com as marroquinas. Do lado de Marrocos a vasta maioria foi deixada até dez horas ao sol sem qualquer tipo de assistência médica, sendo inteiramente possível que algumas das mortes se tenham consumado durante esse tempo. 

“[É] um atentado aos direitos dos requerentes de asilo e das suas famílias, que merecem saber como morreram os seus filhos.” Foram estas as palavras de Omar Naji, da AMDH, referindo-se a não ter sido permitido pelas autoridades que os membros da associação entrassem na morgue onde estavam os corpos das vítimas, nem no hospital onde estavam os sobreviventes. Quarenta pessoas foram assassinadas pelas autoridades de ambos os países nesse dia, apelidado pela AMDH de sexta-feira negra, de acordo com organizações não-governamentais.

Portugal | O VERSO E O REVERSO DA NAÇÃO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

O quadro político que governantes e poderes dominantes, nacionais e europeus, bem como comentadores encartados nos vêm impingindo, e os debates dos últimos dias sobre o "estado da nação" mostram-nos preocupantes consensos sobre o verso desse estado, mas ausência da abordagem do seu reverso, ou seja, a não assunção dos problemas e da construção de soluções. Acresce que o velho passa-culpas da invocação de crises para impor sacrifícios aos povos encontra o cenário perfeito para a sua utilização: a conjugação dos impactos da pandemia com os do clima belicista acelerado pela invasão e guerra na Ucrânia e os resultantes da brutal degradação climática.

Esta semana, vimos que o verso do estado da nossa nação continua a assentar na crença na eficácia e natureza democrática da UE, e é marcado pelo reconhecimento consensualizado de que "o país vive pior do que há um ano". Todos reconhecem que a inflação este ano comerá 1/14 avos dos salários e pensões. Na versão da Direita "o SNS está em colapso", na versão do Governo está perante "grandes desafios". Para o Governo, a resposta ao agravamento das condições de vida e da pobreza pode ser "garantida" por subsídios e apoios pontuais às famílias e pessoas necessitadas; para o PSD, é preciso um programa de "emergência social" que aprofunde a lógica dos apoios do Governo no sentido de institucionalizar a caridade pública. Uns e outros secundarizam os salários e a necessidade da sua atualização face à inflação.

Quando olhamos para o reverso do estado da nação, o que vemos a influenciar o nosso futuro?

A UE - onde estamos muito dependentes - colocada como instrumento da defesa da hegemonia global dos EUA na sua luta contra o grande desafiador que é a China, será crescentemente secundarizada e acantonada, aniquilando expectativas dos povos europeus nesse projeto comum, que dava enfoque à justiça social e aos direitos humanos.

Se os governantes dos países europeus continuarem a iludir-se, repetindo que a "Europa está mais unida que nunca", mas esquecendo-se dos cidadãos que os elegem e a quem têm de responder, teremos os governos a estoirar uns atrás dos outros e os fascismos a avançar. A União Europeia (UE) terá cada vez mais "passageiros clandestinos" no seu comboio e tornar-se-á ingerível ou antidemocrática. Neste quadro, os problemas para Portugal não serão apenas preparar-se para "viver sem fundos comunitários". O nosso modelo de sociedade estará em causa, mesmo que o "projeto europeu" não descarrile totalmente.

Dois exemplos de tensão comprometedora. Primeiro, o fosso remuneratório entre trabalhadores da Administração Pública e do setor privado - para funções semelhantes - não pára de se aprofundar, destrói o SNS e a escola pública, corrói as estruturas mais profundas do Estado, desde a defesa à segurança ou à justiça. Segundo, a insistência na conceção de que os problemas do emprego se resolvem pelo lado da oferta da formação, secundarizando o facto de muitas empresas não apresentarem condições para acolher trabalhadores mais qualificados, favorece a fixação de um baixo perfil de especialização da economia, alimenta a exploração de imigrantes e a emigração, mata o sistema de relações laborais, bloqueia o desenvolvimento.

Vermos uma maioria absoluta do PS e o seu Governo arrastados na enxurrada, muito agarrados a exercícios panfletários e incapazes de definir objetivos e planificar ação, é confrangedor.

*Investigador e professor universitário

Portugal | CGTP-IN entregou pareceres contra alterações à legislação laboral

A CGTP-IN foi recebida pela Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, a quem apresentou centenas de pareceres sobre a alteração à legislação laboral enquadrada na suposta «agenda do trabalho digno».

Na AR, a CGTP-IN procedeu à entrega de muitas centenas de pareceres a rejeitar esta proposta de lei, no quadro da auscultação feita aos trabalhadores, em plenários, reuniões de comissões sindicais e órgãos das várias estruturas sindicais de todos os sectores de actividade e de todo o País.

A central sindical rejeita a proposta de lei do Governo, porque, entende, não dá resposta às reivindicações de revogação das normas gravosas da legislação laboral e vem introduzir aspectos que ainda agravam o desequilíbrio das relações laborais, mantendo o essencial de uma legislação que não serve o interesse dos trabalhadores.

A discussão em torno da Agenda do Trabalho Digno realiza-se num quadro de instabilidade e insegurança resultantes da precariedade dos vínculos de trabalho, deterioração da qualidade de vida e a impossibilidade de conciliar vida pessoal e familiar com vida profissional, em resultado da desorganização e desregulação dos horários de trabalho e das exigências de períodos de trabalho cada vez mais longos. Para a Intersindical, a estes problemas, juntam-se ainda os baixos salários, com o bloqueio patronal à negociação da contratação colectiva.

Para a central sindical, a actual situação económica e social, com a insuportável subida de preços dos bens essenciais e consequente redução do poder de compra em função dos baixos salários, está a contribuir para o agravamento das condições de vida dos trabalhadores, e as soluções necessárias não constam na proposta do Governo.

No parecer entregue, a CGTP-IN faz um conjunto de propostas que a seu ver resolveriam a dramática situação com que os trabalhadores estão confrontados, como a revogação do regime da caducidade e sobrevigência da contratação colectiva, a reposição plena do princípio do tratamento mais favorável, a redução do tempo de trabalho para as 35 horas semanais sem perda de retribuição, a revogação dos regimes de adaptabilidade e dos bancos de horas, a delimitação objectiva das actividades abrangidas pelo regime de laboração contínua, entre outras.

Em nota de imprensa divulgada, a CGTP-IN defende que trabalho digno «significa antes de tudo assegurar o princípio do direito ao trabalho com direitos com a efectivação dos direitos fundamentais dos trabalhadores plasmados na Constituição da República Portuguesa». Dá ainda conta da exigência de que, em sede da discussão na Comissão Parlamentar, sejam introduzidas as alterações que garantam a efectivação dos direitos e a valorização do trabalho e dos trabalhadores.

AbrilAbril

Imagem: António Pedro Santos / Lusa

Ler em AbrilAbril:

O «Verão dos Tesos»

Dia Minipreço: fechar lojas é pretexto para despedir centenas de trabalhadores

Luta dos trabalhadores dos EUA contra o fascismo laboral protegido pelo governo

A longa marcha dos trabalhadores da Amazon contra a repressão

Tecnologias do século XXI convivem com a exploração do século XIX. Nos Estados Unidos da América, algumas das empresas mais ricas do planeta fazem tudo para impedir a sindicalização dos trabalhadores.

«Os analistas têm de ser capazes de criar e implementar mecanismos de vigilância sofisticados adaptados a vários interesses empresariais e utilizados para monitorizar riscos futuros; tais como sindicatos, grupos activistas ou líderes políticos hostis». São os requisitos pedidos num anúncio, para duas vagas de emprego, publicado pela Amazon. O pedido de dois “Analistas de Inteligência do escritório de Operações de Segurança Global da Amazon e do Programa de Inteligência Global da empresa em Phoenix” foram apagados na web rapidamente, pouco tempo depois de terem sido denunciados pelo site Vice News. A empresa multinacional justificou-se afirmando que a «oferta não era uma descrição exacta do trabalho e que já tinha sido corrigida».

Nos Estados Unidos da América (EUA), a criação de um sindicato numa empresa é uma espécie de caminho da cruz.

No caso da primeira tentativa, falhada, de as pessoas de um armazém da Amazon, em Bessemer (BHM1), sindicalizarem-se, começou a partir de um pedido de um trabalhador que telefonou para o Sindicato de Retalhistas, Grossistas e Lojas de Departamento (RWDSU). A organização teve primeiro provar à agência federal de direito do trabalho, o Conselho Nacional de Relações Laborais (NLRB), que 30 por cento dos trabalhadores do local queriam formar uma sucursal sindical. Uma vez feito isto, e após uma difícil campanha, realiza-se um referendo.

Não basta ganhar nesse armazém, coisa que ainda por cima não sucedeu, devido à repressão e à coerção do patronato. A batalha tem que ser travada fábrica por fábrica, hipermercado por hipermercado, fast-food por fast-food: se o voto «sim» tivesse ganho no armazém da Amazon em Bessemer, isto não teria alterado a situação nos outros armazéns.

Para os trabalhadores envolvidos nestes processos, isso implica uma longa, árdua e perigosa batalha, com, em caso de derrota, represálias contra aqueles que procuraram a ajuda do sindicato - e muitas vezes o despedimento.

Não é, pois, surpreendente que apenas 6,3% dos empregados do sector privado nos EUA sejam membros de um sindicato.

[Leia mais sobre outras lutas nos EUA em links no final de página]

Reino Unido | democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais

Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia.

«Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter.

Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor».

«A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch.

«Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia.

«Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star.  

Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre».

«A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou.

O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços.

«Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady.

Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares

Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais».

O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70».

As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos.

Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia».

A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém».

Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas.

Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito.

A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras.

É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss.

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa. 

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa. --- Ler mais: siga o link-título em cima

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