segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Angola | SORTE DE GALO É AZAR DA GENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Pali ombwa, kondombolo katendi akepa: Onde está o cão, o galo de crista sangrenta não trinca os ossos. Onde estão os que criaram e construíram Angola, os que deram a liberdade e a vida pela Independência Nacional, os que sacrificaram tudo na Guerra pela Soberania e a Integridade Territorial, os novos ouvem, aprendem, fazem tudo para seguir esses exemplos de amor ao Povo Angolano. O excremento não é um rato. Se o cagalhão anda, sobe na vida, chega ao topo, alguém lhe emprestou pernas para andar e o levou ai colo até ao poder. 

Nós sabemos que na hora em que a obra está concluída, ninguém mais se lembra dos andaimes. Mas sem eles, nada seria possível. Agora temos cidadania. Temos nacionalidade, temos um país. Temos honra e dignidade. Somos livres e independentes. A obra feita está à vista. Tem defeitos? Muitos. Falta qualidade? Falta. Mas existe e é para todos. E a todos compete corrigir os defeitos e garantir mais qualidade no edifício grandioso da Pátria Angolana. Vamos à luta. Mas cuspir na cara dos construtores é um crime.  Ignorar os andaimes é uma ingratidão e grande injustiça. 

O galo de crista sangrenta até pode debicar qualquer coisa. Mas a UNITA disparou e matou por conta dos colonialistas. A UNITA virou as armas contra a Independência Nacional. Matou muitos dos que lutavam pela liberdade, nas fileiras do MPLA. A UNITA vendeu a marca aos colonialistas ricos, para imporem uma independência branca, quando o regime de Lisboa foi derrubado. Savimbi tinha orgulho em capitanear o “movimento dos brancos”. Sem se deter no caminho ignominioso da traição, alugou as armas ao regime racista de Pretória. 

Depois de proclamada a Independência Nacional, a UNITA bateu-se de armas na mão contra Angola Independente. Matou milhares de angolanos. Destruiu o nosso país. Os patriotas cerraram fileiras à volta do MPLA e derrotaram os patrões de Savimbi. O regime racista de Pretória foi destroçado pelos angolanos em armas. Na hora do Acordo de Nova Iorque, os traidores da UNITA foram escondidos debaixo do tapete. Os racistas de Pretória abandonaram os matadores de aluguer capitaneados pelo criminoso de guerra Jonas Savimbi.

Os construtores da nossa Angola, na sua infinita generosidade, estenderam a mão aos traidores. Deram aos sicários da UNITA mais uma oportunidade e até mudaram a natureza do regime, para garantirem a integração de todos. Da democracia popular e do socialismo partiram para a democracia representativa e a economia de mercado, o regime que ainda temos e se vai consolidando lenta mas seguramente, desde 1992. A UNITA passou a ser um partido legal e concorreu às primeiras eleições multipartidárias em pé de igualdade com todos os outros. Foi estrondosamente derrotada pelos eleitores.

Angola | AO ADVERSÁRIO NEM UM VOTO

Ângela Bragança, Luanda

Meus Camaradas:

Sinceramente, quando vejo o tempo que perdemos com esses “as posições dos americanos e tantos outros”, sou levada a perguntar: Foram eles que nos deram a Independência Nacional? A defesa da nossa Soberania e da Integridade Territorial? A Paz efectiva? O apoio à reconstrução nacional? Etc. Etc. Etc. 

Vi há dias que “batemos palmas” com o que disse o Embaixador Americano.

Não tenhamos ilusões porque a nossa História mostra quem teve de se bater para que tudo o que acima referi e o que o nosso Povo teve de suportar, quem sempre esteve do nosso lado. De que lado estiveram esses moralistas? A resposta é esta:

- Vamos focar-nos no nosso trabalho de mobilização e organizar a nossa participação ordeira, atenta e assertiva no processo. Mobilizar os Cabos Eleitorais, formar os Delegados de Lista e intensificar o trabalho porta a porta.

- Vamos cerrar fileiras em torno da nossa Bandeira e do nosso Candidato, camarada João Lourenço.

- Ao adversário nem um palmo de terra, trabalhemos para que todo o espaço nacional acredite nas nossas posições, nos nossos argumentos, nas nossas políticas.

- Divulguemos o nosso Programa e o Manifesto Eleitoral onde estão as nossas apostas para a continuidade no próximo mandato. Para isso precisamos da vitória ( e expressiva) do nosso Partido e do nosso Candidato-

É NISSO QUE DEVEMOS CONSUMIR O NOSSO TEMPO, QUE JÁ É CURTO.

MPLA - PAZ E DESENVOLVIMENTO

Eleições em Angola: Khoisan pedem lei de proteção de minorias

A poucos dias das eleições, membros da comunidade Khoisan, uma das várias minorias étnicas do país, denunciam abandono e discriminação. Por isso, pedem uma lei que proteja as minorias angolanas.

Fazem parte da comunidade San mais de 14 mil pessoas, espalhadas por quatro províncias angolanas. A DW percorreu mais de 80 quilómetros até à aldeia de Mbundo, uma das seis localidades na província do Cuando Cubango onde, desde 2008, vive parte da população Khoisan. O objetivo: saber como esta comunidade se está a preparar para as eleições de 24 de agosto e como tem sido a sua educação eleitoral.

A comunidade Khoisan confirma que esteve no terreno uma equipa da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) para o trabalho da sensibilização, como explica o soba Santos Kambinda: "Disseram-nos para estarmos preparados porque aproxima-se o dia das eleições e devemos estar atentos no dia do voto".

Aqui, segundo o soba, a vida é difícil: "Nós recebíamos apoio alimentar, mas, nos últimos tempos, não recebemos mais. Apenas estamos à espera de uma ajuda, porque passamos por muitas necessidades alimentares".

Domingos Dala, também membro da comunidade, fala em tratamento desigual. Acredita que quem governa não está interessado nas suas necessidades, apenas no seu voto. "Depois de votar ninguém nos liga, somos atirados ao abandono, todos eles fogem", lamenta. "Passamos fome e quando se aproximam as eleições para votarmos neles, aparecem com os sacos de fubá e arroz de comida a pedir para serem eleitos".

Descoberta do diamante "Rosa do Lulo" nada muda na vida dos angolanos

A população do leste de Angola não acredita que a descoberta do diamante batizado como "Rosa do Lulo", o maior encontrado nos últimos 300 anos, se reflita na vida dos cidadãos, que diariamente enfrentam vários problemas.

O sol no leste de Angola nasce muito cedo. Cedo acorda também Marcos José, um mototaxista que ganha a vida nas ruas de Saurimo, na Lunda Sul.

Na sua motorizada, principal meio de transporte na cidade, conta à DW a sua rotina na cidade diamantífera: "Saio às 6 horas da manhã de casa até lá para as 12, 13 horas. Volto porque já tenho alguma coisa para levar em casa."

À 6 horas da manhã, a urbe está calma. Apenas o roncar das motorizadas reduz o silêncio matinal. Marcos nunca ouviu falar do maior diamante dos últimos 300 anos descoberto numa mina em Angola pela Lucapa Diamond Company, empresa australiana que explora a zona cedida pelo Estado.

Também não sabe qual é a percentagem que o Estado atribui às províncias de exploração do "kamanga", como é conhecido o diamante em Angola. Mas de uma coisa tem a certeza: "Eu sei que a percentagem que dão é muito pouca sabendo que onde sai a riqueza é cá. Deviam aumentar a percentagem da província", defende o mototaxista.

Marcos José despede-se com um apelo ao futuro titular do poder político: "Só falamos, falamos e falamos. Quando se fala tem que se fazer. Só dizem vamos fazer até quando?"

Qual a percentagem das comunidades?

Em Angola, e no leste do país em particular, questiona-se como será dividido o "Rosa do Lulo". Quanto fica para a comunidade, para a empresa de exploração e para o Estado representado pela Indiama.    

A DW África tentou ouvir a Endiama para se saber como tudo se irá processar, mas até ao fecho desta reportagem não obteve qualquer resposta.

No entanto, o analista Agostinho Sicatu é de opinião que o Estado devia melhorar o seu mecanismo de comunicação para informar a população sobre os benefícios da exploração dos diamantes.   

"Seria justo que as comunidades fossem informadas. Para além disso, soubessem qual é a sua percentagem. Isso é para poderem reclamar", defende.

Para Sicatu, a falta de informação estende-se igualmente as zonas de exploração petrolífera como Zaire e Cabinda. "A história continua a mesma. Os cidadãos não sabem absolutamente nada. Não se informam. E como vão exigir?"

A pedra que agora levanta debate será vendida em leilões internacionais, devendo atingir um preço extremamente elevado.

Embora a "Rosa do Lulo" ainda precise de ser cortada e polida para atingir o seu valor total - um processo em que uma pedra pode perder 50% do seu peso - diamantes cor-de-rosa semelhantes atingiram preços elevadíssimos no passado. 

Por exemplo, em 2017, o diamante "Pink Star", de 59,6 quilates, foi leiloado em Hong Kong por 71,2 milhões de dólares, cerca de 70 milhões de euros, e continua a ser, até agora, o diamante mais caro da história.

Pobreza extrema continua

Mas o que mudará na vida da população do leste de Angola com esta pedra preciosa? "Quase nada", responde Agostinho Sicatu. "Nós tivemos já vários diamantes descobertos, mas os cidadãos locais continuam na indigência, continuam na pobreza extrema. A descoberta do diamante não diz absolutamente nada."

Esperava-se que com a exploração de diamantes, a região leste de Angola não tivesse tantos problemas sociais como escassez de hospitais, escolas e estradas degradadas.

David Kassueca nasceu e cresceu no município no Lukapa, província da Lunda Norte, há 36 anos. Explica que a vida aqui não é fácil.

"No dia a dia aqui estamos a passar mal. Aqui os hospitais não têm medicamentos. Os doentes dormem no chão, não têm cama", lamenta.

Manuel Luamba | Deutsche Welle

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