sábado, 20 de agosto de 2022

Portugal | PRECARIEDADE E SOBRE-EXPLORAÇÃO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

A precariedade no trabalho é uma grave doença social, económica e cultural. Todas as dimensões da vida das pessoas/trabalhadores, e por consequência das famílias, são atingidas negativamente por ela. São imensas as áreas e temas de estudo que o comprovam.

Nos últimos 50 anos ocorreram mudanças profundas na divisão social do trabalho; alterações estruturais e organizacionais nas empresas e serviços e nas estratégias de gestão; fragmentação da produção e das tarefas inerentes a cada atividade; impactos fortes de tecnologias inovadoras; surgimento de comunicação instantânea passível de múltiplas utilizações nos processos de produção de serviços e bens; existência de novos instrumentos de trabalho; financeirização da economia e do trabalho criando a ilusão de acesso fácil ao crédito e secundarização do salário; convergência dramática entre o individualismo e o consumo. Novas formas de organização e de prestação do trabalho tiveram de ser consideradas. Todavia, a precariedade, no fundamental, não decorre de imperativos inerentes às complexidades daquelas mudanças.

Argumenta-se que as empresas agora vivem de projetos de curta duração, que tudo é volátil. Mas, há instrumentos de gestão e possibilidades de readaptação de atividades muito mais eficazes que no passado. Quanto à volatilidade do emprego, repare-se que, quer no setor privado, quer no público, são imensos os postos de trabalho permanentes por onde passam trabalhadores precários uns atrás dos outros, anos a fio.

A precariedade no trabalho é, em grande medida, um conjunto de mecanismos de sobre-exploração. Enfraquecidas as representações coletivas dos trabalhadores e bloqueada a negociação coletiva, o cutelo do arbítrio mercantil pesa sobre toda a regulamentação. A normatividade laboral é instrumentalizada. Em vez de se proibir o que é ilegal, criam-se enquadramentos jurídicos que normalizam as formas de trabalho atípico. O resultado é sempre pior retribuição do trabalho e perda ampla de direitos e formações.

Ao contrário do que se tenta impingir aos jovens, a precariedade é uma velharia que imperou durante séculos, relançada em força com o incremento do neoliberalismo nos anos 70/80 do século passado. Faz parte dos instrumentos mais requintados da "economia que mata".

Modernos são: i) o direito à segurança no emprego como princípio estruturante da universalização do direito ao trabalho e a sua consagração constitucional; ii) "o reconhecimento de que o direito ao trabalho tem uma dimensão humana, de realização pessoal e como tal subtrai-se da arbitrária disponibilidade do empregador" (Filipe Lamelas e Pedro Rita, in Trabalho Digno.colabor.pt); iii) o Direito do Trabalho, que tem por função primeira a proteção do elemento mais frágil na relação de trabalho - o trabalhador - e não a de promover políticas económica e de emprego neoliberais; iv) o objetivo do pleno emprego para, com a riqueza existente, se criarem milhões e milhões de postos de trabalho úteis e com perenidade, nomeadamente nas áreas da educação, da saúde, da recuperação ambiental; v) a Agenda do Trabalho Digno da OIT; vi) o direito dos jovens a terem salários dignos e a organizarem família.

Salvo situações excecionais, os vínculos relativos a novas formas de o organizar e prestar o trabalho, podem ser sempre estáveis ou precários. São escolhas políticas que se fazem em cada contexto. O Governo, se tem verdadeira preocupação com os impactos da precariedade, enfoque o seu esforço na promoção da segurança no emprego.

*Investigador e professor universitário

Angola | PODER LOCAL E AUTORIDADES TRADICIONAIS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A campanha eleitoral está no fim e as eleições para o Poder Local desapareceram misteriosamente das agendas dos partidos da Oposição. Fizeram apenas leves referências, como quem não quer a coisa. Adalberto da Costa Júnior apareceu mesmo sentado num “trono” com três sobas da Lunda Norte! No comício do MPLA em Benguela, estavam presentes centenas de autoridades tradicionais, todas e todos vestidos a rigor com os seus trajes, numa tribuna à parte, como sinal de respeito por um poder que em Angola tem muita força e é genuinamente democrático.

As eleições para o Poder Local têm sido usadas como arma de arremesso contra o Presidente da República e Titular do Poder Executivo. Contra o MPLA. Até hoje, ninguém explicou publicamente qual é o papel reservado às Autoridades Tradicionais nas Autarquias Locais. Ninguém explica que medidas são tomadas para evitar conflitos entre dois poderes democráticos. As autarquias e os sobados são amigas ou adversárias? Coexistem pacificamente ou vão surgir conflitos? Completam-se ou vão causar divisões? Até hoje não vi respostas cabais a estas questões.

Nos sobados do Catumbo, Cangundo, Kulo e Dambi as comunidades camponesas produziam muito café, sobretudo o valioso caturra. Todos os comerciantes do Negage andavam atrás desses “fregueses”. Mas com pouco sucesso. Porque não reconheciam nem respeitavam a soberania dos sobas. Meu Pai nunca ia a uma aldeia que não levasse um tributo para as Autoridades Tradicionais. Simples lenços da cabeça e panos para as mulheres ou um garrafão de vinho com capacete. Esse tributo era sinal de respeito e consideração pela soberania de quem foi escolhido pela comunidade para gerir os seus interesses.

Nas festas comunitárias, sobretudo as da iniciação e da morte, com a mercadoria adquirida para as festividades, seguia sempre um tributo para o soba: malas de peixe-seco, vinho e aguardente. A cerveja industrial praticamente não existia nessa época. Era um sinal de respeito e consideração pela soberania da Autoridade Tradicional.

Angola | Restos mortais de José Eduardo dos Santos chegam a Luanda

Corpo do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos chegou hoje a Luanda, vindo de Barcelona, após uma disputa entre duas fações da família sobre a guarda do corpo.

O corpo do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos chegou hoje a Luanda por volta das 19h16 (hora local), vindo de Barcelona num voo da companhia aérea angolana TAAG, após uma disputa entre duas fações da família sobre a guarda do corpo. 

O avião contendo os restos mortais aterrou no aeroporto internacional 4 de fevereiro, enquanto um outro avião transportou a família. 

De seguida, o corpo de José Eduardo dos Santos irá ser transportado para o Miramar, local da antiga residência oficial para cerimónias de âmbito estritamente familiar, segundo fonte próxima do processo. As cerimónias fúnebres deverão decorrer entre os dias 26 e 28 de agosto. 

"O ódio dos homens falou mais forte"

Nas redes sociais, Isabel dos Santos, uma das filhas do antigo Presidente reagiu prontamente neste sábado à notícia da chegada do corpo do pai à Luanda. "O ódio dos homens falou mais forte hoje. Arrancaram-te dos meus braços...", escreveu. 

José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 a 2017, morreu, em 08 de julho, com 79 anos, em Barcelona, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos.

Duas fações da família dos Santos disputavam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha, quem ficaria com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.

De um lado,Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opunham à entrega dos restos mortais à ex-primeira-dama e eram contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições de 24 de agosto para evitar aproveitamentos políticos.

Do outro, a viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que reivindicavam também o corpo e queriam que este fosse enterrado em Angola nos próximos tempos.

Na quarta-feira, o tribunal decidiu-se pela atribuição do cadáver à antiga mulher e autorizou a trasladação para Angola, depois de concluir definitivamente que José Eduardo dos Santos morreu de causas naturais.

Trasladação do corpo

A trasladação do corpo do antigo chefe de Estado angolano ocorre em pleno período de campanha para as eleições, onde o atual Presidente, João Lourenço, que sucedeu a José Eduardo dos Santos em 2017, procura a reeleição. 

Mais de 14 milhões de angolanos, incluindo residentes no estrangeiro, estão habilitados a votar em 24 de agosto, na que será a quinta eleição da história de Angola.

Os 220 membros da Assembleia Nacional angolana são eleitos por dois métodos: 130 membros de forma proporcional pelo chamado círculo nacional, e os restantes 90 assentos estão reservados para cada uma das 18 províncias de Angola, usando o método de Hondt e em que cada uma elege cinco parlamentares.

Deutsche Welle | Lusa

O POEMA DE JORGE REBELO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Para enviar uma mensagem positiva, bela e poética a todas e todos os oportunistas desta vida, sobretudo aos que devem ao MPLA tudo o que são e têm mas agora cospem no prato, um amigo enviou-me um poema belíssimo que me disse ser de Agostinho Neto. Li, reli e na verdade é uma peça que fala de todas e todos os que, por ambição desmedida e oportunismo apanharam o comboio da Revolução para encherem a bolsa e darem satisfação a ódios antigos. Mas também para apresentarem a factura do que dizem ter feito pelo Povo. 

Eu não conhecia o poema  mas fiquei feliz por passar a conhecê-lo. Ainda que admirado, porque conheço bem a obra de Agostinho Neto e nunca me tinha cruzado com tão belo poema. 

Uma amiga, assim que leu a minha crónica O Governo à Prova de Guerra disse-me que o poema não é de Agostinho Neto mas do poeta moçambicano Jorge Rebelo. Fui investigar e confirmei. O autor do poema “Do Povo Buscamos a Força” é mesmo de Jorge Rebelo, poeta moçambicano e que foi dirigente da FRELIMO. Ele é que redigiu a Constituição da República Popular da Liberdade Universal. Que agora repito. Pedindo desculpa ao autor e aos meus leitores pelo erro. Mas também dando às e aos vira-casacas, às e aos oportunistas que hoje cospem no prato, rasgam a bandeira do MPLA e traem o Povo Angolano, a oportunidade de se reverem neste espelho poético:

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós.

Dos que vieram

e connosco se aliaram

muitos traziam sombras no olhar

intenções estranhas.

Para alguns deles a razão da luta

era só ódio: um ódio antigo

centrado e surdo

como uma lança.

Para alguns outros era uma bolsa

bolsa vazia (queriam enchê-la)

queriam enchê-la

com coisas sujas

inconfessáveis.

Outros viemos. Lutar pra nós é ver aquilo

que o Povo quer

realizado.

É ter a terra onde nascemos.

É sermos livres pra trabalhar

É ter pra nós o que criamos.

Lutar pra nós é um destino

é uma ponte entre a descrença

e a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos.

Todos concordam - vamos lutar.

Lutar pra quê?

Para dar vazão ao ódio antigo?

Ou pra ganharmos a liberdade

e ter pra nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos.

Quem há-de ser o timoneiro?

Ah as tramas que eles teceram!

Ah as lutas que aí travamos!

Mantivemo-nos firmes:

 no povo buscáramos a força

e a razão.

Inexoravelmente

como uma onda que ninguém trava

vencemos.

O Povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós

Jorge Rebelo

*Jornalista

Na imagem: Jorge Rebelo (na imagem) é poeta, advogado e jornalista moçambicano de origem Goesa. Rebelo estudou Direito na Universidade de Coimbra, Portugal, e foi um destacado membro da Frelimo onde ocupou cargos no Comitê Central, Comité Executivo e foi Ministro para a Informação do primeiro governo pós independência. Poeta, editou a revista ,«Revolução de Moçambique». Embora José Craveirinha seja conhecido como "O Poeta de Moçambique", Rebelo é conhecido como «O Poeta de Revolução Moçambicana". -- in Galeria dos Goeses Ilustres

Angola |CNE diz que só MPLA pediu para ter observadores

Porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral disse hoje que partido no poder foi o único que pediu para ter observadores, adiantou que processo de credenciamento ainda decorre e garantiu que cadernos eleitorais são públicos.

De um total de 47 organizações e 33 individualidades elegíveis só falta credenciar cinco organizações e duas individualidades na observação nacional, revelou o porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola, Lucas Quilundo, que apresentou à comunicação social o local que vai funcionar como centro de divulgação dos resultados eleitorais.

No que diz respeito a observadores internacionais, a maioria das missões começou a desembarcar em Luanda entre os 15 e 16 de agosto.

O processo de credenciação dos 2.000 observadores eleitorais aprovados começou em 24 de julho e decorre até às 23:59 de 22 de agosto, informou.

Os observadores podem ser convidados pelo Presidente da República e pela CNE, que tem competência própria para o efeito, bem como o Tribunal Constitucional, Assembleia Nacional e partidos políticos por intermédio da CNE.

Quilundo disse que, ao contrário de alguma limitação do direito ao exercício de observação eleitoral, até esse momento somente o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) fez uso da sua prerrogativa de solicitar à Comissão Nacional Eleitoral que formulasse convites para observadores eleitorais junto da comissão, no conjunto dos oito concorrentes.

"Por isso podemos extrair daí as conclusões devidas", frisou.

Angola | O GOVERNO À PROVA DE GUERRA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A editora Edições QB Comunicação rejeitou sempre o difícil comércio das palavras e privilegiou a Arte Literária. Nunca rendeu um centavo ao editor (eu mesmo, Artur Queiroz) mas lançou grandes obras de enormes autores. Todos com uma característica invulgar: São meus amigos ainda que alguns não se conheçam entre eles. Foi assim que publiquei a obra poética À Luz Alfabetizada da Palavra de Domingos Florentino, pseudónimo de Marcolino Moco. 

Uma obra histórica. A capa é do escultor José Rodrigues (o meu saudoso amigo Zeca Bailundo) um dos artistas plásticos mais importantes do mundo. Angolano, primo irmão de António Jacinto e irmão da incomensurável Irene Guerra Marques.

O grafismo é de Anabela Queiroz, a minha filha do Bairro Benfica, Huambo, neta da Mamã Rosa, de Cangamba, parteira tradicional nos bairros pobres da então Nova Lisboa. São belíssimos poemas que recomendo vivamente. Foi o primeiro livro de poesia que publiquei. O segundo foi A Grande Fumarada de José Zan Andrade. Uma preciosidade da preciosa Literatura Angolana. A editora estava maia vocacionada para textos doutrinários. Mas há poemas que valem por todas as ideologias, por todas as doutrinas, por todos os ideólogos. 

Este excerto do Romance da Guarda Civil, de Lorca, é um monumento da Humanidade: “Os cavalos são negros./ Negras são as ferraduras./ Sob suas capas brilhantes/ há manchas de tinta e cera./Eles não choram/porque suas caveiras são de chumbo./ Com a alma de verniz/ Os guardas galgam a estrada./ Corcundas e sombrios/por onde passam ordenam/silêncios de borracha obscura/e medos de fina areia./ Passam por onde quiserem/escondendo na cabeça/uma vaga astronomia/de pistolas inconcretas”.

António Agostinho Neto, o bardo que escreveu este programa de saber estar no Mundo: “as mãos amparando a germinação do riso/ sobre os campos de esperança”. O poeta que escreveu Do Povo Buscamos a Força como se fosse a Constituição da República Popular da Liberdade Universal. Eis os seus ditames:

Não basta que seja pura e justa/a nossa causa/É necessário que a pureza e a justiça/
existam dentro de nós.

Dos que vieram/e connosco se aliaram/muitos traziam sombras no olhar/
intenções estranhas.

Para alguns deles a razão da luta/era só ódio: um ódio antigo/centrado e surdo/
como uma lança.

Para alguns outros era uma bolsa/bolsa vazia (queriam enchê-la)/queriam enchê-la/ com coisas sujas/ inconfessáveis.

Outros viemos. Lutar pra nós é ver aquilo/que o Povo quer/realizado./É ter a terra onde nascemos./É sermos livres pra trabalhar/É ter pra nós o que criamos./Lutar pra nós é um destino/é uma ponte entre a descrença/e a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos./Todos concordam - vamos lutar.

Lutar pra quê?/Para dar vazão ao ódio antigo?/Ou pra ganharmos a liberdade/e ter pra nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos./Quem há-de ser o timoneiro?/Ah as tramas que eles teceram!/Ah as lutas que aí travamos!

Mantivemo-nos firmes:/ no povo buscáramos a força/e a razão.

Inexoravelmente/como uma onda que ninguém trava/vencemos./
O Povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:/Não basta que seja pura e justa/a nossa causa/
É necessário que a pureza e a justiça/existam dentro de nós”

O poema acaba sem ponto final. A Constituição da Liberdade é um livro sempre aberto. Neto sabia isso melhor do que ninguém. Os seus poemas valem por toda a Literatura Universal.

Eu, editor, publiquei na QB Comunicação os poemas de Marcolino Moco. Sou o autor do livro Marcolino Moco um Governo à Prova de Guerra, publicado em 1996. Fui muito atacado por ter ousado divulgar a vida e obra de um político angolano, sem pedir licença a ninguém. Passei horas recolhendo o depoimento de Moco. 

Um dia, com lágrimas nos olhos, ele contou-me que a UNITA raptou seu irmão. Virou o mundo ao contrário para libertá-lo. Teve um encontro com Miguel Nzau Puna num armazém dos arredores do Huambo onde estacam muitos presos do MPLA ou simplesmente acusados de serem do movimento. O raptado nunca mais apareceu.

Outro dia contou-me que um comando da UNITA tentou assassiná-lo. Andou a saltar de muro em muro pela calada da noite até iludir os perseguidores. Foram os seus camaradas do MPLA que o salvaram da morte. Hoje a UNITA é ainda pior do que naquele tempo. 

Agora o meu amigo Moco está nas mãos dos sicários do Galo Negro. Meteu-se voluntariamente na boca dos mabecos. Foi meter-se no covil dos bandidos. E os primeiros a espetar-lhe a faca nas costas, na hors da derrota, vão ser o Adalberto e o Francisco Viana. Chivukuvuku faz desaparecer o corpo e o Paulo Lukamba Gato dá uma conferência de imprensa e diz que foi o MPLA que mandou dar as facadas. 

Antes que aconteça a desgraça, vamos dar um a tareia eleitoral à UNITA e seus associados. Uma porrada tão grande, que nunca mais se esquecem. Eleitores de todo o país, salvem com o voto no MPLA, o meu amigo Marcolino Moco! Entre nós não há ódios antigos, cheirando a podridão.

Como escreveu José Gomes Ferreira, outro poeta que vale por toda uma Literatura, “é do destino de quem  ama/ouvir um violino até na lama”.

*Jornalista

ACHA QUE O ABORTO É LEGAL NA GRÃ-BRETANHA? NÃO, NÃO É!

Pergunte às duas mulheres atualmente enfrentando sentenças de prisão perpétua

Charlotte Proudman* | The Guardian | opinião

O caso de Roe v Wade é horrível, mas mulheres vulneráveis ​​estão sendo presas por interromper a gravidez agora na Grã-Bretanha. É hora de legalizar o aborto

#Traduzido em português do Brasil

Como muitas pessoas na Grã-Bretanha, você provavelmente assistiu com horror a reversão da Suprema Corte dos EUA de Roe vs Wade, pensando: “Graças a Deus, as mulheres nunca poderiam ser processadas por fazer um aborto aqui”.

Mas deixe-me dizer-lhe, isso já acontece aqui, na Grã-Bretanha.

Duas mulheres estão atualmente aguardando julgamento criminal na Inglaterra por crimes relacionados ao aborto, ambas enfrentando acusações que acarretam uma sentença máxima de prisão perpétua. Pelo menos 17 mulheres foram investigadas pela polícia nos últimos oito anos por terem feito abortos.

Em Oxford, uma mãe de um filho de 25 anos está sendo julgada por supostamente tomar a droga misoprostol – uma das duas pílulas rotineiramente prescritas pelos médicos para abortar uma gravidez. Mas seu bebê nasceu vivo e ela foi posteriormente denunciada à polícia. Ela está sendo acusada de acordo com a Lei de Ofensas Contra a Pessoa, uma lei aprovada pelo parlamento em 1861, antes da invenção da lâmpada e antes que as mulheres tivessem o direito de votar. A lei afirma que uma mulher deve ser “mantida em servidão penal por toda a vida” se fizer um aborto.

Outra mulher está sendo julgada depois de tomar pílulas abortivas que obteve do Serviço Britânico de Aconselhamento sobre Gravidez (BPAS) por correio quando as regras foram relaxadas durante a pandemia para permitir isso. Ela estava supostamente grávida de 28 semanas na época e está enfrentando acusações de “destruição infantil” (observe a linguagem visceral) sob a Lei da Vida Infantil (Preservação) de 1929, que também vem com uma sentença máxima de prisão perpétua. Ela poderia passar o resto de sua vida na prisão.

Muitas vezes pensamos que a Lei do Aborto de 1967 legalizou o aborto. Mas não fez tal coisa. Descriminalizou parcialmente o aborto na Inglaterra, Escócia e País de Gales, desde que houvesse condições estritas, como a confirmação de dois médicos de que a gravidez não havia excedido 28 semanas (posteriormente reduzida para 24 semanas em 1990), ou que a interrupção era necessário para evitar lesões ou danos mentais. Qualquer aborto fora desses critérios ainda é uma ofensa criminal.

Violência política nos EUA aumenta, mas falar em guerra civil é exagerado – não é?

Chris Mcreal | The Guardian

A busca do FBI em Mar-a-Lago desencadeou a mais recente enxurrada de ameaças de violência, além de uma onda de ameaças contra funcionários eleitorais e aumento das vendas de armas

#Traduzido em português do Brasil

O Dr. Garen Wintemute costumava rir dos avisos de uma guerra civil chegando à América como “conversa maluca”. Então o médico do pronto-socorro da Califórnia viu os números das vendas de armas.

Wintemute, que fundou um centro para pesquisar a violência por armas de fogo depois de anos tratando ferimentos a bala, há muito observava que a corrida para comprar armas vinha em ondas, muitas vezes em torno de uma eleição presidencial. Sempre voltava a cair.

“Então, em janeiro de 2020, as vendas de armas decolaram. Apenas um aumento sem precedentes nas compras e esse aumento continuou”, disse ele. “Sabíamos que, ao contrário dos surtos anteriores, este não estava terminando. As pessoas ainda estão comprando armas como loucas.”

Muitos estavam comprando uma arma pela primeira vez.

Wintemute queria respostas e elas o surpreenderam. Uma pesquisa para seu Centro de Pesquisa de Violência por Armas de Fogo da Califórnia, divulgada no mês passado, mostrou que metade dos americanos espera uma guerra civil nos Estados Unidos nos próximos anos. Um em cada cinco achava que a violência política era justificada em algumas circunstâncias. Além disso, enquanto quase todos disseram que era importante para os EUA permanecerem uma democracia, cerca de 40% disseram que ter um líder forte era mais importante.

“Juntas a pesquisas anteriores, essas descobertas sugerem uma contínua alienação e desconfiança da sociedade democrática americana e de suas instituições. Substanciais minorias da população endossam a violência, incluindo a violência letal, para alcançar objetivos políticos”, concluiu o relatório.

De repente, Wintemute não achou mais tão louco falar de um conflito civil violento.

O médico é rápido em notar que um grande número de pessoas que esperam uma guerra civil dizem que é apenas “um pouco provável”. Mas metade da população, mesmo considerando tal possibilidade, reflete a falta de confiança de um grande número de americanos em um sistema de governo sob ataque de Donald Trump e boa parte do Partido Republicano.

A busca do FBI na residência de Trump em Mar-a-Lago no início deste mês por documentos confidenciais retirados da Casa Branca desencadeou a mais recente enxurrada de ameaças de violência, desta vez direcionadas a uma instituição amplamente considerada um bastião do conservadorismo do establishment.

O senador da Flórida Rick Scott comparou o FBI à Gestapo. Em Ohio, a polícia matou um veterano armado da marinha americana que atacou um escritório do FBI. Na Pensilvânia, um homem com histórico de negação de vacinas foi acusado de ameaçar “matar” agentes federais que ele descreveu como “escória do estado policial” e comparado à SS nazista e à polícia secreta soviética.

Nos dias que se seguiram às buscas em Mar-a-Lago, o FBI e o Departamento de Segurança Interna alertaram para um aumento nas ameaças de violência contra agentes federais, suas famílias e o juiz que emitiu o mandado de busca. O FBI disse que isso inclui pedidos de “guerra civil” e “ rebelião armada ”.

Isso se soma a uma onda de ameaças contra funcionários eleitorais desde que Trump alegou que sua vitória foi roubada por fraude em 2020, e um aumento acentuado na intimidação de outras pessoas no serviço público, de membros do conselho escolar a bibliotecários e políticos eleitos.

Wintemute disse que o aumento das ameaças violentas é potencializado pelo aumento das vendas de armas. “O que acontece quando você pega uma sociedade que está cada vez mais temerosa por seu futuro, cada vez mais polarizada, cada vez mais irritada consigo mesma, e joga um monte de armas na mistura?” ele disse.

Mais lidas da semana